Sexo: a fronteira final?
Me pergunto por que certos pais se preocupam tanto com a vida exual dos filhos. Óquei, existe o risco de doenças e, claro, basta uma noitada adolescente irresponsável para o sujeito virar avô (ou avó) com uma ou mais boquinhas para sustentar.
Mas grupos como estes pais espanhóis, ou os americanos que pregam o voto de virgindade vão muito além da mera preocupação com os aspectos sanitários, econômicos ou (vá lá) psicológico-emocionais do sexo.
Uma leitura atenta do noticiário a respeito revela um aspecto perverso nessa história toda, encoberto (não muito bem encoberto, é verdade, já que até eu consegui notar) por toda a conversa sobre “valores” e “família”: controle.
Um dos fatos mais interessantes sobre a assim chamada civilização ocidental é a constante redução do poder dos pais sobre os filhos: séculos atrás estava nas mãos do pai decidir a religião, a educação, a profissão, a opção sexual e o(a) parceiro(a) de cada filho(a).
Esse domínio total vem se corroendo, graças aos avanços do liberalismo, do laicismo e da sociedade de consumo (é, ela faz coisas legais de vez em quando).
Claro, quem como eu já teve de fazer uma viagem de duas horas de ônibus ao lado de uma menininha de cinco anos que berrava a plenos pulmões o repertório da Xuxa, para aplauso extasiado da mãe boçalizada, sabe que até a liberdade da juventude tem lá seus pontos negativos, mas não é disso que estou falando: os pais continuam a ter o dever de civilizar os filhos.
O que ocorre é que o poder que acompanhava esse dever vem sendo corroído. Nesse aspecto, a luta pelo controle da educação sexual parece ser uma espécie de última trincheira da velha visão do filho como um reflexo e produto do pai, em oposição a um ser humano ainda não autônomo, mas capaz de autonomia.
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