Levantai-vos, famélicos da Terra…
Já critiquei as religiões, e o cristianismo em particular, por transformar a crença cega em virtude, mas não dá pra deixar de dizer, também, que foi o marxismo quem deu o passo seguinte no entronizamento do irracional, ao proclamar a supremacia da ideologia.
Foi mais ou menos assim: com o fracasso do projeto marxista de criar uma teoria científica da história — mais ou menos como, digamos, o Modelo Padrão é uma teoria científica das partículas elementares — decidiu-se decretar que uma interpretação objetiva da realidade é impossível.
Quem acredita estar olhando para o mundo a olho nu não passa de um coitado, segundo essa versão; um coitado que ignora o calidoscópio grudado na própria cara.
Só que, em vez de tratar essa constatação como advertência — um aviso para que se tome cuidado com preconceitos e distorções, com as pressões do grupo e subjetivismos, algo que poderia levar a uma (re)descoberta do método científico — o que os marxistas fizeram equivaleu a uma rendição epistemológica: Ok, tudo é ideologia, objetividade é impossível, então posso ver o mundo como eu quiser. Daí a se chegar à convicção de que existe uma ideologia dos mocinhos (esquerdista) e uma dos bandidos (de direita) foi um pulo.
Ou: frente a uma estrada esburacada, optou-se não por dirigir com cuidado, mas por escolher um buraco confortável e deixar-se cair nele.
(Quem acha que estou fazendo uma caricatura cruel do pensamento marxista, po favor, tente cursar uma carreira de humanidades na USP e depois me conte).
Claro, como todo relativismo radical, essa visão de que “tudo é ideologia” cai na velha armadilha da autonegação: se tudo é ideologia, então “tudo é ideologia” também não é verdade, pois não passa de uma ideologia, portanto…
Discussão - 2 comentários
Só acho importante reforçar que nem todos das Humanidades da Usp sõa "esquerdista xiita"... Ao contrário, acredito que a maioria simplesmente se sinta intimidada naquele ambiente... Qualquer crítica ao terrorismo islâmico e você já pode ser rotulado como reacionário. Posso dizer com conhecimento de causa, pois me formei na FFLCH.
Sim, sim. Existe um senso de "tchurma" marxista nos escalões mais altos da carreira acadêmica, que funciona como uma espécie e rede social informal e poda as vozes dissonantes.Pelo menos, foi a impressão que tive na ECA.