Zona aumenta a zona

Estudo publicado na Science diz que sinais evidentes de que as regras de uma comunidade estão sendo desrespeitadas — tipo, pichação nas paredes, lixo no chão — levam mais pessoas a desrespeitar essas mesmas regras.
“Um pouco de pichação não levou acrimes predatórios, mas a freqüência de atos indo de jogar lixo na rua a pequenos roubos aumentou quando as pessoas viram evidência de que os outros estavam desrespeitando as regras do bom comportamento”, informa nota da Associated Press.
Os próprios autores do trabalho reconhecem que o escopo dos experimentos realizados não foi grande — por exemplo, eles compararam a taxa de roubo de um envelope com dinheiro enfiado numa caixa postal em boas condições (13%)  pichada (27%) e com lixo ao redor (25%).
Explicações possíveis vão desde sensação de impunidade — uma caixa postal em más condições não é “de ninguém” — até a dinâmica da Teoria dos Jogos (se ele quebra as regras e eu as respeito, eu me dou mal).
No Brasil, ocorrem-me dois casos interessantes de aparentes paradoxos éticos desse tipo: o primeiro é o das carteirinhas de estudante: na sexta-feira, o Ministério da Cultura fez um apelo pra que o Congresso disciplinasse a questão, porque o tsunami de carteirinhas espúrias em circulação estaria inviabilizando os espetáculos. É um típico ciclo perde-perde, onde o preço alto do ingresso estimula a carteirinha falsa, que por sua vez leva o preço do ingresso para cima.
E, no sábado, assisti a mais um “ataque” dos ambulantes do metrô paulista — os caras que põem saquinhos de drops e balas no colo dos passageiros e depois voltam recolhendo dinheiro (ou os ditos saquinhos, caso do passageiro nao queira comprar nada).
Pensei: o que impede os passageiros de simplesmente embolsar o pacote de doce sem pagar nada? Eles são maioria (um vagão lotado contra um ambulante só) e o comércio ambulante no metrô é ilegal, logo o cara nem ia ter do que reclamar para as autoridades.
Mas, a despeito disso, quem quer a bala, paga por ela.
Por que as pessoas fraudam a meia-entrada mas não fraudam o vendedor de balas?

Discussão - 8 comentários

  1. Atila disse:

    Nesse ponto concordo com os autores do Freakonomics, a impessoalidade favorece a fraude. Enquanto vemos o vendedor de bala, a meia-entrada não dá a impressão de prejudicar ninguém.

  2. glommer disse:

    No caso das balas, há uma variável a mais a ser considerada: Ninguém em são consciência _quer_ aquelas balas (em geral, são horríveis!) Então a compra em si, tem mais de doação do que de aquisição de um produto.

  3. João Carlos disse:

    Faço coro com o Átilia: a sensação de ninguém está vendo" é o maior incentivo para atitudes anti-sociais. Aliás, é o mesmo sentimento que anima a "turba" - neste caso a proteção é o "anonimato em meio à multidão". Existe até o dito piadístico que "consciência é aquela vozinha chata que fica dizendo em seus ouvidos que alguém pode estar vendo".
    Só que existem duas motivações diferentes para a "desobediência civil": uma é a mera falta de civilidade (o exemplo tratado no post); outra é uma reação natural contra "normas" injustas (o preço absurdo das entradas de cinema cai nesse caso: roubem menos e serão menos roubados - mas, aí, eu vou entrar em uma digressão sobre os impostos e isso vai longe...)

  4. Adriana disse:

    E tem o medo de furtar as balas num vagão lotado e ser linchado como ladrão pelas pessoas que ali testemunharam, enquanto o pobre vendedor só está tentando arrecadar o pão para alimentar sua família. (tá que é cachaça e cigarro, mas ninguém pensa nisso)
    É pessoal, e no caso da entrada/carteirinha é impessoal, e é contra supostos "ricos".
    Robin Hood é um péssimo conto moral, mas as pessoas acham que se alguém é rico é porque explorou pobres, Bíblia Cristã também é um péssimo exemplo moral.

  5. Igor Santos disse:

    R.
    Medo de levar uma facada.

  6. Vinicius Rezende disse:

    Esse é exatamente o mesmo motivo que faz ninguém reclamar quando manos e minas começam a tocar músicas altíssimas nos coletivos em seus celulares modernos (eu sempre achei engraçado que essa gente paga mil reais num celular e em roupa de marca, e continua andando de ônibus).

  7. Igor Santos disse:

    HEHEHEHEHEHEHEHE

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