Paradoxo de sexta (23)

O da semana passada se resolve quando notamos que o raciocínio dos apostadores assimila uma contradição: é como se cada um estivesse imaginado que a gravata que tem é, ao mesmo tempo, a mais cara E a mais barata. O que, claro, não faz sentido.
Nesta semana, vou sugerir um paradoxo mais open-ended, no sentido de que não tem uma solução lógica rigorosamente correta como, digamos, têm as “provas” de que 1=2 ou de que 0=1. Mas ele oferece uma boa margem para reflexão.
É paradoxo conhecido como paradoxo da oração ou, em versão secular, paradoxo do pensamento positivo.
Como “da oração”, ele talvez tenha tido sua formulação mais clara com Voltaire: O que acontece se eu e meu vizinho, ambos igualmente merecedores e igualmente necessitados, rezarmos, com igual fervor, um pedindo sol e o outro, chuva?
Como “do pensamento positivo”, é assim: o que acontece quando dois homens igualmente preparados e motivados, escolados nos mesmos gurus da eficiência, da ética corporativa e da neurolínguística, procuram o mesmo emprego ao mesmo tempo?
Tchan-tchan-tchan…

Discussão - 2 comentários

  1. João Carlos disse:

    Como sempre se resolve o dilema do "Asno de Buridan": tertius gaudet... 😉

  2. Kitagawa disse:

    É por isso que todas essas palestras motivacionais atoladas de gente me soam inconsistentes. Todos saem de lá crentes que ficarão ricos, mas o fato é que não há "vagas" pra todo mundo. No capitalismo pra alguém ganhar outros tem que perder. O sistema vende a ilusão de que o indivíduo só depende dele mesmo para "vencer na vida", que se ele se esforçar consegue tudo o que quer. O paradoxo mesmo reside no fato do individuo TER mesmo que se iludir dessa maneira para que de fato consiga vencer na vida. Mas não depende só dele, depende do fracasso dos outros.
    Há pessoas que usam esse argumento até mesmo se referindo a pobres e miseráveis justificando sua contrariedade para com programas de inclusão social e açoés afirmativas. Eles podem até citar o exemplo de fulano de tal - "que nasceu pobre mas conseguir, etc, etc," - mas invariavelmente é a exceção que confirma a regra. Enfim, racionalmente a questão deve ser encarada na sua maior amplitude, é um problema politico, que depende da ação do governo, da macroeconomia, etc..

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