E depois do Hubble?

Os astronautas a bordo do Atlantis estão arriscando o pescoço para consertar o Telescópio Espacial Hubble. Eu diria que há motivos piores para arriscar o pescoço, e se há uma missão espacial tripulada que vale o perigo e o custo é esta, a STS-125.
O problema é: e todas as outras? Para que precisamos de astronautas, afinal? Trata-se de uma pergunta incômoda, especialmente para mim, entusiasta da exploração espacial “humana” (adjetivo aqui usado para contrastar com “robótica”).
Meu primeiro impulso é responder: tá, e para quê precisamos de pilotos de fórmula 1? Esses caras também arriscam a vida sem um propósito claro, a bordo de equipamentos caríssimos. O problema, óbvio, é que a fórmula 1 não faz isso sugando parte do (minguado) orçamento da ciência.
O que aponta para a ideia de tornar a exploração espacial humana “presencial” uma atividade econômica que ande com as próprias pernas. Deixe que as grandes corporações extraiam titânio da Lua e logo teremos metrópoles dentro das crateras, com a vantagem de que teremos menos crateras de mineração aqui na Terra.
Não vai surpreender a ninguém o fato de que, nos Estados Unidos, existe toda uma subcultura dedicada a promover exatamente esse ponto de vista, que ganhou impulso nos clima intelectual de ultra-mega-hiper liberismo econômico do governo Reagan, murchou um bocado desde então, mas nunca desapareceu.
Talvez o primeiro plano de negócio para colonização espacial tenha sido o de Gerard O’Neil, com seu visionário livro de 1976, The High Frontier. Mais recentemente, o geólogo, ex-astronauta, ex-senador republicano e único cientista a pisar na Lua (todos os outros astronautas do programa apollo eram militares ou ex-militares), Harrison Schmitt publicou Return to the Moon, um plano de negócios para a reconquista da Lua que pede, logo de cara, a revogação dos tratados internacionais que proíbem a posse de corpos celestes — afinal, quem vai investir num terreno do qual não se é dono?
Menos radical, a Planetary Society (PS) apresentou, no fim do ano passado, seu plano para exploração espacial no século 21, que começa tímido, pedindo viagens tripuladas a asteroides antes de um retorno à Lua. A matriz do plano da PS se baseia num esforço estatal e intergovernamental, não apostando numa nova era de hipercapitalismo extraplanetário.
Enquanto isso, o governo Obama ainda não nomeou um novo diretor para Nasa, e pôs o plano de estabelecimento de bases lunares do governo Bush em revisão.
Pessoalmente, creio que o espaço terá de desempenhar um papel importante nas discussões sobre a sustentabilidade da civilização humana. E não se trata da velha estratégia do gafanhoto — vamos sugar a Terra e depois partir para outra (mesmo porque não há outra) — mas, sim, de complementaridade: vamos trocar Carajás por um asteroide de ferro, produzir energia solar em órbita (onde não há nuvens e o sol brilha o tempo todo) e não em termelétricas ou hidrelétricas, dar às pessoas em busca de oportunidade econômica a opção de desbravar a Lua ou Marte, e não a floresta amazônica ou o hábitat dos gorilas do Congo.
É óbvio que isso tudo custaria caro pra burro, e sendo a humanidade o que é, o tal custo só vai ser encarado quando for — mesmo — inevitável e — talvez — tarde demais.

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