O teste nuclear norte-coreano
Se há algo que marca a encruzilhada entre ciência e política, na consciência mundial, é a aplicação bélica da tecnologia nuclear. Cientistas conceberam a bomba; cientistas convenceram o governo dos EUA a construí-la; cientistas construíram-na; cientistas vêm, desde então, tentando convencer os governos a desistir desse tipo de armamento… com muito pouco sucesso.
(A ficção científica também tem alguma culpa, já que a primeira descrição de uma explosão nuclear apareceu num livro de H.G. Wells, e o mecanismo de ativação de um artefato nuclear foi descrito, em detalhes picantes, num pulp de ficção, enquanto o Projeto Manhattan ia a pleno vapor. )
É bem interessante, portanto, o relatório especial do Boletim dos Cientistas Atômicos sobre o teste nuclear norte-coreano da última semana.
Segundo os dados levantados para o Boletim, os relatos iniciais do sucesso do teste e da potência da bomba foram amplamente exagerados.
Bombas nucleares do estilo usado na 2ª Guerra Mundial — e que parecem ser os únicos modelos que países como a Coreia do Norte têm capacidade de fazer — funcionam de uma forma bastante simples: uma explosão convencional é usada para impulsionar massas de material físsil — urânio ou plutônio — em direção umas das outras, gerando uma massa crítica que sustenta a reação nuclear explosiva.
No caso de uma bomba de urânio, esse processo é realmente tão simples quanto a teoria prevê: basta ter uma “pistola” que dispare uma das massas subcríticas em direção à outra, e BUM!, lá se vai sua cidade favorita pelos ares.
A bomba de plutônio, no entanto, é mais chatinha que isso. Por conta de impurezas que se acumulam no plutônio produzido como lixo nuclear em usinas atômicas — e que é a matéria-prima das bombas — a massa crítica tem que ser formada de um modo bastante preciso e específico.
O design “Fat Man” (“Gorducho”) criado pelos americanos para a bomba de Nagasáqui requer uma esfera de plutônio que é encolhida subitamente por uma série de detonações convencionais simultâneas. Essas explosões reduzem o raio da esfera e aumentam sua densidade até um nível crítico. “Simultâneas” é a palavra chave aqui: uma diferença de algumas dezenas de microssegundos representa a diferença entre uma arma nuclear de 20 megatons e um chabu nuclear.
Esse chabu ainda seria uma “bomba suja”, capaz de espalhar material mutagênico e cancerígeno por uma boa área mas, até aí, o que você quer é vaporizar o inimigo, certo?
Ao que tudo indica, o que a Coreia do Norte busca é um modelo estilo “Fat Man” (um motivo seria fato de que bombas de urânio são tão simples que realmente não precisam ser testadas). E, também ao que tudo indica, o teste e 2009 foi outro chabu, embora menos retumbante que o de 2006.
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