Paradoxo de sexta (31)

O da semana passada, claro, desmorona assim que aparece ma demonstração de que 0,9999… é, de fato, igual a 1. O próprio enunciado do paradoxo já era uma demonstração do tipo, inclusive (e anotem o recurso retórico: apresentar a prova inquestionável de um fato para questionar o fato. Tipo, “o senador Fulano teria de ser um rematado canalha para ter feito isso”. QED?).
Outra demonstração, que envolve a prova de que 9x(0,9999…) = 9, foi apresentada nos comentários.
Vamos voltar aos paradoxos mais filosóficos. Este aqui é uma demonstração de que a existência é impossível. Trata-se do Paradoxo do Niilismo.
Começamos com o fato óbvio de que tudo que existe tem de existir por algum tempo. Digo, duração é uma característica necessária da existência.
O tempo, por sua vez, divide-se em presente, passado e futuro.
Agora: as coisas que estão no passado não existem mais. Isso é por definição; isso é o que significa estar no passado.
Da mesma forma, as coisas que estão no futuro não existem ainda. De novo, por definição.
O que resta, portanto, é o presente. Mas qual a duração do presente? Comecei a digitar esta linha no passado, e vou terminá-la no futuro. O presente, de fato, não se faz presente: o passado se dissolve no futuro sem um estágio intermediário. O presente não tem duração. Mas, pela primeira premissa, o que não tem duração não existe.
Se não há presente, então todas as coisas estão no passado (não existem mais), ou no futuro (ainda virão a existir). Logo, não existe nada.

Discussão - 6 comentários

  1. Igor Santos disse:

    Se as coisas existem por um período de tempo, elas tem que começar em algum ponto antes de acabar. Nem tudo que aconteceu no passado deixou de existir assim como nem tudo que irá acontecer ainda não aconteceu. Existe uma continuidade, que pode ser representada por "presente".
    Além das premissas contrariarem as observações de que estamos existindo.

  2. Na verdade não existe um passado, um presente e um futuro. Isso porque tais qualificações dependem do referencial e da velocidade a que se está em relação a esse referencial inercial. Veja a questão da simultaneidade analisada sob o prisma da relatividade estrita: dois eventos A e B podem ser simultâneos para um observador 1 postado em uma região entre os eventos A e B, A pode ocorrer antes de B para um observador 2 ou B pode ocorrer antes de A para um observador 3, a depender das velocidades que os observadores estão em relação aos pontos em que os eventos A e B ocorrem. Considerando-se que todos os pontos de vista são igualmente válidos, não existem passado, presente ou futuro de modo absoluto.
    []s,
    Roberto Takata

  3. João Carlos disse:

    De um ponto de vista meramente filosófico, a afirmação niilista é correta. Usando um pouco de "fisiquês", o que acontece é que nos deslocamos para a "frente" no tempo solidariamente com as "coisas que existem"; portanto, nossa ideia de "existência" é um fenômeno local, no qual o observador é parte essencial (a velha questão metafísica: "Se uma árvore cai na floresta e não há ninguém para escutar, se pode dizer que a queda fez barulho?")
    Até se pode estender a especulação um pouco mais: ao que parece, o universo apresenta, em tudo, algum tipo de simetria (nem que ela tenha que envolver o tempo). Ora, se isso é fato, significa que a soma total do universo é zero; portanto, o universo não existe...

  4. Outro modo de se abordar a questão é partir para noção de infinitesimais e integração.
    Tanto isso quanto a abordagem einsteniana implicam em um *contínuo* do espaço-tempo.
    []s,
    Roberto Takata

  5. Peter disse:

    O presente "existe" sim:
    "La física cuántica proporciona, sin embargo, un consuelo a quienes se lamentarían de la desaparición del presente: ninguna duración puede ser inferior al «tiempo de Planck», que dura 5,4.10-44 segundos. Así pues, en buena lógica, es lícito decir «soy» durante este lapso; pero hay que decirlo muy deprisa."
    Albert Jacquard

  6. Juninho disse:

    "O presente não tem duração. "
    A duração do presente é igual a {0,1^infinito} segundos.
    =D

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