Quando o computador pifa, ignore-o
Imagine que você está pilotando um veículo aéreo que nunca foi usado antes, sobrevoando um território onde nenhuma outra pessoa jamais pisou, dependendo de pistas visuais — a posição do sol, detalhes de relevo que você só conhece de fotos e mapas — para se orientar, com uma linha de comunicação com sua base que volta e meia falha, o combustível acabando e, por cima disso tudo, o computador de bordo começa a piscar luzes de alerta e a dar uma mensagem de erro que você nunca viu antes.
Se imaginar isso, você estará imaginando a situação de Neil Armstrong durante a descida do módulo lunar Águia à superfície da Lua.
Da transcrição oficial da Nasa (os números são o tempo da missão, em horas, minutos e segundos; a Águia vai tocar a superfície da Lua em 102:45:40; Armstrong dirá “A Águia pousou” em 102:45:58; “Duke” é o cara em Houston):
102:38:26 Armstrong: (With the slightest touch of urgency) Program Alarm.
102:38:28 Duke: It’s looking good to us. Over.
102:38:30 Armstrong: (To Houston) It’s a 1202.
102:38:32 Aldrin: 1202. (Pause)
“1202” é o código de erro do programa. O fato é que nenhum dos astronautas havia visto esse código durante os treinamentos e simulações do pouso realizados na Terra. Neste momento, eles não fazem a menor ideia do que está acontecendo, e em menos de 10 minutos vão estar alunissando. Neste momento, a altitude da Águia é 33 mil pés, ou 10 km.
Na Nasa, um técnico, Steve Bales, determinou qe o código representava “data overflow”, ou excesso de dados: simplesmente, havia informação demais para processar. Bales e sua equipe determinaram que era seguro prosseguir com o pouso, e que se dane o computador. E o resto, como dizem, entrou para a história.
Discussão - 3 comentários
Resta saber o que – naquela altura do campeonato – dava para fazer diferente... Mal comparando: um barco está indo para a praia; de repente, o leme para de funcionar. Fazer mais o que?... (isso não é especulação: embarcações militares de desembarque funcionam assim...)
Por isso que eles são astronautas (e pilotos experientes) e eu deixei de dirigir.
Gostei de "alunissar". Sutil, muito sutil.
João, na verdade havia a opção "abort", que levaria os astronautas de volta ao módulo de comando em órbita e cancelaria o pouso lunar.