Para formigas, o irrelevante é irrelevante

Um dos critérios normalmente usados em Teoria da Decisão para definir se uma escolha é racional ou não é a independência de opções irrelevantes. Digamos que você, sendo um homem e heterossexual (leitores de outra conformação cromossômica e/ou inclinação afetiva, por favor, usem a imaginação) tenha uma marcada queda por loiras magras. Eis que, numa balada, surgem duas garotas que parecem interessadas em sua pessoa — uma loira gorda e uma morena magra.
Pode ser um dilema, mas qualquer que seja a sua solução pra ele (Incluindo a de passar a noite sozinho), o fato de haver uma terceira menina disponível, uma ruiva rechonchuda, não deveria afetar a decisão que você vai tomar. Certo? Afinal, você não se sente atraído por ruivas e prefere não ficar com gordas, logo essa terceira moça, por mais inteligente e charmosa que seja é, para o seu gosto pessoal, irrelevante.
Curiosamente, no entanto, a mente humana não funciona desse jeito: a presença de uma alternativa irrelevante tem, frequentemente, o poder de alterar a forma como as pessoas escolhem entre as alternativas reais. Isso acontece muito em eleições: mesmo que a disputa pra valer seja entre Serra e Dilma, o fato de haver um terceiro candidato sem chances, e de esse candidato ser o Maluf ou o Gabeira, pode fazer pender a balança para um lado ou para o outro.
Nesse aspecto, o homem não é lá um animal muito racional (conte-me algo novo, dirá você). Mas as formigas, são. A constatação está no periódico científico Proceedings of the Royal Society B. Diante da oferta de dois locais razoáveis pra instalar um formigueiro, os insetos optavam por um um outro, indiferentemente. O aparecimento de um terceiro local, claramente ruim, não afetou essa distribuição.
Falando ao noticioso online Science Now, da revsita Science, um dos autores do trabalho, Stephen Pratt, especula que as formigas se comportam dessa forma porque a colônia, como um todo não conhece todas as opções disponíveis: a massa dos insetos simplesmente acompanha a opinião das formigas batedoras, que sempre rejeitam a oferta de ninho ruim e aceitam indiferentemente a primeira oferta razoável que aparece.
O que sugere que, ao menos em questões de múltipla escolha, ignorância às vezes é poder.

Discussão - 5 comentários

  1. Elvis disse:

    Eleições não parecem ser um bom exemplo de opções irrelevantes, já que não serão irrelevantes os apoios e coligações na formação do governo.
    Supondo que alguém pense nisso quando vota, claro.

  2. cretinas disse:

    Hmmm... Verdade. O candidato nanico seria irrelevante em termos abstratos (por exemplo, o cara que estava pensando em votar na Dilma decidir votar no serra só porque o Gabeira tb se lançou) , mas talvez não o seja em termos concretos (um Gabeira "cacifado" teria mais influência num governo petista que num tucano, e o eleitor teme isso).

  3. Rafael |RNAm| disse:

    Exemplos infinitos desta irracionalidade humana na escolha estão na economia. As pessoas não são racionais para aplicar na bolsa por exemplo. Por isso nenhum modelo econômico de investimentos funcionou até hoje. Funcionaria com formigas.
    Levando em consideração a intuição furda das pessoas talvez melhore os modelos.

  4. Isso varia muito nas circunstancias, nem sempre a 3º opção vai fazer o jogo se desequilibrar.
    []'s

  5. Gabriel-dom disse:

    concordo com o vonnatur. imagine uma mulher em uma loja de sapatos com apenas dois modelos disponiveis e dinheiro para comprar apenas um. a escolha é facil. essa mesma mulher com dinheiro para comprar os dois sapatos. essa mulher com dinheiro para comprar apenas um sapato em uma loja com milhoes milharees de modelos. a mulher com dinheiro para comprar todos os pares de sapatos disponiveis. com certeza o maior tempo de decisao se apresenta onde existem muitas opçoes em relaçao ao poder de escolha. mas tudo se resolve da seguinte forma: se ela nao está escolhendo um sapato para ela e a pessoa que vai ser presenteada quer um sapato verde com bolinhas brancas, o poder de escolha já nao é o principal e sim a relevancia. no caso das formigas, poder se apropriar de qualquer lugar que atender faz as opçoes irrelevantes serem irrelevantes. acho que se ouvesse um predador no local ideal as escolha seria tornar relevante o irrelevante.

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