Síndrome de Abraão

Este é o nome que eu sugiro para o distúrbio particular exemplificado no caso da família Neumann, de Wisconsin, que preferiu ficar rezando em vez de levar a filha ao médico, o que fez a garota morre de diabete.
O casal Neumann foi considerado culpado pela morte da menina de 11 anos. O que realmente assusta nesse caso é a lógica cristalina do pai. Ao explicar por que optou pela oração, ele simplesmente afirmou que não “poderia colocar o médico à frente de Deus”.
“Biblicamente, não vejo que esta (ir a um médico) seja a forma de curar pessoas”, disse Neumann pai que, segundo a Associated Press, submeteu o júri, à guisa de defesa, a uma longa pregação da Bíblia. “Se eu vou a um médico, estou pondo o médico à frente de Deus. Eu não estaria acreditando no que Ele disse que faria”.
De novo, o assustador é que o argumento faz perfeitamente sentido. Biblicamente, quem cura é Deus e os médicos são meio inúteis — o que deviam ser mesmo, dado o estado da ciência na época: “No trigésimo nono ano de seu reinado, Asa tornou-se gotoso e sofreu violentamente. Durante sua doença, ele não procurou o apoio do Senhor, mas o dos médicos/Ele adormeceu com seus pais e morreu no quadragésimo primeiro ano de seu reinado” (2 Crônicas 16:12-13).
A exceção ao desapreço à profissão médica são alguns versos do Eclesiástico, um livro que os protestantes consideram apócrifo, mas que a Bíblia católica preserva. Ali se lê: “Honra o médico por causa da necessidade, pois foi o Altíssimo quem o criou/(Toda a medicina provém de Deus), e ele recebe presentes do rei:”, (38:1-2); “O Altíssimo deu-lhes a ciência da medicina para ser honrado em suas maravilhas/e dela se serve para acalmar as dores e curá-las; o farmacêutico faz misturas agradáveis, compõe ungüentos úteis à saúde, e seu trabalho não terminará” (38: 6-7).
Como a família Neumann é pentecostal e não católica, esses versículos laudatórios à Medicina provavelmente não valem, e a única coisa que poderia ter salvo a menina seria um anjo com uma espada de fogo (ou, o que seria melhor, com uma injeção de insulina).
Na prisão, é provável que Neumann se console com o versículo 18 do capítulo 22 do Gênese: “Juro por mim mesmo, diz o Senhor: pois que fizeste isto, e não me recusaste teu filho, teu filho único, eu te abençoarei.”

Discussão - 6 comentários

  1. Wendell disse:

    Acho meio ridículo essas argumentações ateias onde, em casos isolados, julga-se todo o cristianismo.
    Não, a argumentação do cara não estava certa, ele agiu como um fanático. Apesar da Bíblia demonstrar que Deus é capaz de curar sim, em nenhum momento tira a credibilidade do profissional médico. Aliás, havia um médico entre os discípulos de Jesus, Lucas.
    Ficar nessa birrinha cristãos vs. ateus não leva ninguém a lugar algum.

  2. Giqqs disse:

    Existe uma estória, que na realidade é piada, mas serve exatamente para explicar o ocorrido: "Um homem estava num barco prestes a afundar e começa a rezar (orar) pedindo a Deua ajuda para não morrer. Passa um barco de pesca e pergunta se ele quer carona. Ele, com fé, responde que não precisa, pois Deus irá salvá-lo. Passa um veleiro e oferece ajuda e ele responde a mesma coisa. Passa um cargueiro e homem, firme em sua fé de que Deus irá ajudá-lo. Ele morre e quando chega ao Deus questiona Deus: Por que o Senhor não me ajudou? Quando Deus responde: "Como não? Te enviei três barcos e vc não aceitou nenhum deles!"
    Moral da estória: Aceitar ajuda terrena não é ser contrário à religião, pois para quem acredita em Deus, este criou tudo o que terreno.
    É muito triste ver até o fundamentalismo religioso pode levar uma pessoa a fazer...

  3. Anônimo, nos aponte então uma apologia à medicina proferida por Jesus ou por algum de seus discípulos.
    Poderia ter havido até um cientista entre os apóstolos, mas, se na bíblia ele não teve seu ofício exaltado por Jesus ou algum outro personagem, não adianta nada pra cristã(o)s que ele tenha sido cientista.

  4. Venceslau disse:

    @Wendell, estes são os cristãos verdadeiros, o resto todo são falsos e hipócritas. Eles abraçam qualquer coisa que faça sentido na cabecinha deles, seja tirado da bíblia ou de qualquer outro livro de simpatias.
    Um cristão verdadeiro segue exatamente o que está escrito na bíblia cristã, qualquer que seja a versão dela, e nenhum outro livro tem impacto em suas vidas, já que outros livros foram escritos pelo demônio encarnado ou não.
    Cristãos falsos acreditam em qualquer coisa, medicina, med. alternativa, macumba, oração, sacrifícios para outros deuses ou semi-deuses, etc.
    Eles também tem uma dificuldade crônica em entender textos, interpretando-os de acordo com o que eles acham que é certo pela visão deles. Já os cristãos verdadeiros interpretam literalmente tudo.
    Abraços.

  5. Claudio disse:

    pera lá wendell, todos nós ateistas não... eu sou ateu e também não gosto de ler essas opiniões em blogs pessoais. a internet é publica e não sou obrigado a ler isso.
    esse tipo de coisa é uma perda de tempo, em vez de ir fazer algo realmente util pra humanidade, matar a fome da africa, curar o cancer, erradicar a guerra e a intolerancia... não... preferem ficar criticando a imbecilidade alheia.

  6. gabriel-dom disse:

    ser util nao é necessáriamente erradicar os porblemas do mundo. alguns comentarios aqui foram muito uteis a mim, me fazendo pensar sobre minhas convicçoes e com isso impulsionando um crescimento minimo pessoal. o pai da criança está certo e errado. poucas sao as pessoas com determinaçao suficientes para fazerem aquilo que acreditam(éraro ver uma pessoa que acredita que ser util é acabar com a fome na afrca enviando mensalmente quantias de comida a um afilhado africano). eu por exemplo acredito em deus, mas quando era cristao, me recusava a acreditar em uma só palavra da biblia catolica. eu nao seguia. ele está errado perante a lei da sociedade em que ele vive. mas mesmo assim se ele nao a matou nem poderia ter evitado a doença que matou a filha dele, porque lhe foi atribuida a responsabilidade de procurar o tratamento? o estado nao lhe confere o direito de seguir qualquer religiao? entao por que o proprio estado o condena por seguir a religiao? sendo assim seria condenavel a nao doaçao de orgaos. os familiares que nao autorizassem a doaçao seriam condenados pois estariam impedindo que uma pessoa tivesse a chance de ser salva ou tivesse uma vida saudavel. é bem condenável o ato de condenar aquilo que por constituiçao se permite ao condenado. está aí um belo exemplo de imbecilidade ateista. um ateu chamo um cristao de burro assim como um engenheiro chama um pintor de burro. burro no caso é quem nao percebe que inteligencia é mais que uma série de convicçoes.

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