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Fazer Ciência no Brasil: a que será que se destina?

Fazer Ciência no Brasil nunca foi fácil.

No entanto, sem Ciência o Brasil não existiria. Como pensar o país que temos e queremos sem Ciência?

CIENCIA E DESCOBRIMENTO
Jean (ou Nicole) D`Oresme, provando, no seculo XII,que a Terra era redonda…

Sem os avanços tecnológicos do fim da Idade Média, por exemplo, a expansão europeia não aconteceria. Com a introdução da bússola e da pólvora (invenções chinesas) e sem o avanço técnico da navegação jamais Cabral aportaria aqui.

E não só isso: sem os grandes cartógrafos e matemáticos, como Jean de Oresme e outros, Colombo não saberia que a terra era redonda. Ficaria lá na sua Gênova natal dando milho aos pombos(aliás, nem milho, porque o milho é americano..). O mundo jamais poderia ser cartografado, como o fez Mercator.

CIÊNCIA E COLONIZAÇÃO
Os métodos de pesquisa de minerais seguiam os preceitos da alquimia e da astrologia, alem da procura dos sinais da natureza. ilustração do De Re metellica (1556) de Georgius Agricola (1494 – 1555)

Os avanços da maquinaria durante o Renascimento é que permitiram a instalação dos primeiros engenhos de cana que fizeram a riqueza nos primeiros anos de Brasil. Sem os conhecimentos técnicos de mineração, tanto europeus quanto indígenas, as jazidas de ouro e prata das Américas jamais teriam sido riquezas.  Para isso foram importantes o conhecimento de pessoas como Georgius Agricola, Martine de BertereauBartolomeu de Medina, entre outros.

No século XIX os solos de São Paulo foram exaustivamente pesquisados para melhor acolher as lavouras de café. A Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, liderada por Orville Derby pesquisou exaustivamente os rios e cachoeiras paulistas para determinar seu potencial para a produção de energia elétrica. Ciência para alavancar a agricultura e a indústria.

CIÊNCIA E DESENVOLVIMENTO

Inúmeras pesquisas foram feitas para achar carvão mineral no Brasil. Nosso carvão era (ainda é) pouco e ruim. É o que temos para hoje. Mas isso não é culpa de Wagoner, Francisco de Paula Guimarães e outros que o pesquisaram. Nosso ferro foi trabalhado com carvão vegetal, com custos ambientais muito maiores e com eficiência menor. Graças aos esforços de homens com Varnhagen, Bloem, e Mursa  no século XIX, temos uma produção siderúrgica respeitável.

No século XX o Brasil se industrializou. Para isso foi necessário construir estradas, ferrovias, melhorar os portos. Nossa engenharia foi convocada e deu conta do recado. Ainda falta muito a se fazer, mas não é por culpa da Ciência ou da Técnica.

SER CIENTISTA NO BRASIL
Orville Derby, ainda moço, quando veio ao Brasil pela primeira vez; depois, comandaria a Comissão Geografia e Geologia que desbravou e fez o reconhecimento cientifico do interior paulista requerido pela pujante cafeicultura.

O cientista brasileiro sempre foi um ser bizarro e raro. Na Colônia e no Império, os poucos que entre nós haviam estavam sempre sobrecarregados. Além de seu trabalho de pesquisar, estudar e ensinar, também tinham que cuidar dos serviços públicos, do governo e até da aplicação das leis.

Além de ser um Filósofo Natural importante na Minas Gerais dos Setecentos, Simão Sardinha foi encarregado também de prender o célebre facínora Cabeça de ferro (dá pra colocar isso no Lattes?). Desviados de sua atividade científica para os necessários labores do país que então se fazia temos nomes ilustres, como José Bonifácio e o Barão de Capanema, entre tantos outros.

UMA CIÊNCIA NACIONAL?

Ao longo do século XX esta Comunidade Cientifica brasileira cresceu e se especializou. Somos um grupo importante da Ciência Mundial. Mas fazer Ciência no Brasil não é fácil. Temos os nossos problemas, as nossas deficiências. Mas estamos aí, trabalhando duro, fazendo muito com pouco, fazendo Ciência e formando gente qualificada.

Uma Ciência Nacional, pensando os interesses do Brasil foi responsável, entre outras coisas, pela erradicação das doenças tropicais no século XX, com Vital Brasil e Oswaldo Cruz, Carlos Chagas . A ciência no Brasil sempre foi, ao contrario do que se pensa,  uma Ciência aplicada, de resultados. Nossa realidade nunca nos permitiu torres de marfim.

Contudo, temos as maiores safras agrícolas do mundo, conquistando solos que seriam impensáveis há poucos anos, por causa de nossa pesquisa agropecuária, com destaque para a Embrapa. No início do século XX, por outro lado,  conseguimos alcançar as jazidas de petróleo em grande profundidade, graças aos esforços dos geólogos da Petrobrás, liderados por Guilherme Estrella.

FAZER CIÊNCIA NO BRASIL

A Ciência Brasileira contribuiu enormemente para que o país crescesse tivesse o destaque que teve. Alguém vai dizer que termos uma ciência pobre, subdesenvolvida. Claro que é. É possível uma ciência desenvolvida num país subdesenvolvido?

Ao contrário, todo país que se desenvolveu e se tornou um país dinâmico e complexo o fez porque tinha a sua ciência. Vejam a Alemanha e os Estados Unidos no século XIX. TAmbem são exemplos notaveis  o Japão e os demais países asiáticos no presente. Basta olhar mais de perto estas sociedades para ver se algum deles prescindiu de uma ciência forte. Vejam a China, a Coréia.  Em cada um haviam cientistas. Foram comunidades que plantaram e protegeram a planta tenra e frágil da ciência, para depois colher os frutos da grande arvore que ela depois se transformaria.

UM SALTO PARA TRÁS

No entanto, em anos recentes a Ciência Brasileira estava para dar um salto para frente. Além de crescer, aumentar seu impacto. Estávamos conseguindo nos impor no cenário mundial. Entretanto, vieram os cortes nas verbas de pesquisa. Estamos retrocedendo. A planta da Ciência Brasileira precisa de água para voltar a crescer.

Contudo, mais preocupante que isso são os discursos que dizem que não precisamos de Ciência no Brasil. Que fazemos ciência inútil. Por certo, alguns desses ignorantes devem ainda achar, contra todos os sábios medievais, que a terra é plana. Só pode ser isso. Ou que as espécies não se transformam e mudam. Ou que os continentes não se movem.

EXISTE?

Pior, alguns ignorantes dizem que não existe Ciência no Brasil. Entretanto, dizem por dizer, como sempre, levianamente a falar de suas pós-verdades. É uma gente que vira as costas para o futuro, ignorando uma pujante comunidade cientifica

que vai, aos trancos e barrancos fazendo seu papel, contra tudo e contra todos.

Nunca foi fácil fazer ciência no Brasil.

Mas pensem no que seria um país sem ciência.

 

PS – Daí porque é necessário Historia da Ciência: entender que construir uma Ciência Nacional leva seculos de esforço e luta contra as trevas e a ignorância ; essa luta não acaba nunca…. 

Fósseis mais próximos de nós, ou seja, do estado de São Paulo: de 1.700 M.a. até 250 M.a.

A minha intenção é realizar um relato sobre a variedade fóssil do nosso entorno. Assim, vou primeiro fazer um resumo bem geral acerca dos milhões de anos de biodiversidade que ocorrem ao nosso redor para depois ir detalhando essas ocorrências. Então lá vou eu…

Os registros fósseis de vida no nosso planeta datam de aproximadamente 3500 milhões de anos (M.a.**) atrás, ou da forma resumida 3,5 giga anos (G.a.*). Desde então os organismos deixaram registro da sua evolução e interação com o meio físico, dito abiótico. Essas evidências fósseis, conhecidas como registro fossilífero, são mais abundantes do que se pode imaginar.

No Estado de São Paulo, o registro fossilífero se inicia com evidências de um dos ecossistemas, mas antigos, os estromatólitos (ver post da Flávia) de Itapeva, que representam comunidades de procariontes (seres vivos formados por uma única célula que não possui núcleo) que se desenvolveram sob uma atmosfera com baixa concentração do oxigênio, ou redutora, e que habitavam o mar que cobria o estado por volta de 1.700 e 850 Ma.

Muitos milhões de anos depois encontramos fósseis da Era Paleozoica, na qual aconteceu a explosão em diversidade dos seres com mais de uma célula, devido ao incremento do oxigênio na atmosfera, e a geografia era muito diferente da atual, assim como o clima.

Figura 1. Folhas associadas às florestas riparias do início do Permiano no Município de Tietê.
Figura 1. Folhas associadas às florestas riparias do início do Permiano no Município de Tietê.

A Era Paleozoica é dividida em seis períodos dos quais temos fósseis nos dois últimos, que são conhecidos como Carbonífero e Permiano. Contudo, nosso planeta era ainda muito diferente do atual. Começando pela distribuição dos continentes que eram concentrados em dois grandes blocos: um ao norte, denominado de Laurasia; e outro ao sul, o Gondwana. Neste último se encontrava a América do Sul unida à África, junto com a Austrália, a Nova Zelândia, a Antártica, a Índia e Madagascar. Os registros fósseis do Carbonífero e do Permiano que temos no estado podem ser também encontrados em outras localidades do Gondwana e estão relacionados a um extenso período glacial e às mudanças climáticas derivadas do aquecimento posterior.

Figura 2. Lenho de gimnosperma, final do Permiano no Município de Conchas.
Figura 2. Lenho de gimnosperma, final do Permiano no Município de Conchas.

O registro fóssil do Carbonífero é caracterizado por abundantes fósseis pertencentes a vários tipos de vegetação que moravam sob um clima terrivelmente frio (p.ex. Salto, Campinas, Monte Mor), enquanto que o do Permiano, pelo registro de uma variada vegetação (figuras 1 e 2) conhecida como Flora de Glossopteris (p.ex. Taguaí, Piracicaba, Saltinho). Com relação à fauna, também podemos conhecer dos moluscos, artrópodes e vertebrados (p.ex. Rio Claro, Saltinho) que habitavam o mar que na época banhava as praias do estado. Por enquanto, vou deixar por aqui. No próximo texto vem os últimos 250 M.a. e mais fósseis.

* Giga ano, ou bilhões de anos

** Milhões de anos atrás

Texto produzido por Frésia R.S. Branco