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O ANIVERSÁRIO DE ALFRED WEGENER E A FLORA DE GLOSSOPTERIS: IDEIAS QUE LITERALMENTE MUDAM O PLANETA.

Sob a denominação de Flora de Glossopteris, ou Província Florística do Gondwana, são reunidos todos os registros de plantas, sejam eles folhas, caules, sementes, lenhos, pólens, charcoals, etc. que apresentam similitudes morfológicas e aparecem no meio das rochas sedimentares de idade permiana (298 – 252 Ma) que são encontradas na porção sul da África e América do Sul, bem como na Austrália, Antartica, Nova Zelândia e a Índia. Todos esses continentes hoje se encontram separados por oceanos, mas durante muitos milhões de anos, aproximadamente de 500 até 160 Ma ficaram unidos formando um grande paleocontinente denominado como Gondwana. O nome foi inspirado no local da India onde os primeiros indícios do paleocontinente foram encontrados, entre eles a Flora de Glossopteris.

Figura 1. Comparação entre as geografias de hoje e do Permiano, com América do Sul, África, Austrália, Índia, Antártica reunidas no Gondwana

Na Figura 1 podemos observar os locais onde hoje estão localizados os registros das floresta permianas da Flora de Glossopteris. Logicamente parece meio difícil acreditar que a presença de fósseis vegetais com morfologias semelhantes em regiões tão distantes se deva somente uma coincidência. Mas sensato é pensar que possivelmente todos esses locais hoje distantes poderiam ter formado parte do mesmo continente, onde as migrações de plantas e animais foram possíveis, favorecidas por se tratar de uma mesma massa continental.

Fragmento de folha de Glossopteris, coletada na Bacia do Paraná, Brasil. Barra de escala: 5 cm.

Dentro da denominação de Flora de Glossopteris são reunidos vários grupos vegetais, entre eles samambaias e plantas com sementes, como as glossopterídeas (que só ocorrem no Gondwana e apenas durante o Permiano) e outras gimnospermas (vegetais com sementes, mas sem flores) como coníferas, ginkgoales, entre outras. A Flora de Glossopteris reúne os vários tipos de floresta que se sucederam durante o período Permiano e que experimentaram variações climáticas severas. Essas florestas surgiram em climas temperados frios e sobreviveram em climas cada vez mais quentes até semi-áridos próximos ao final do Permiano, quando desapareceram devido a uma grande extinção em massa. Assim, no início do Triássico, apesar de ainda o paleocontinente Gondwana continuar existindo, a vegetação muda bastante na sua composição.

Umas das primeiras Glosspteris conhecidas para o Brasil foi descrita por David White no ano de 1908, em fragmentos de rochas provenientes das minas de carvão de Criciúma, em Santa Catarina. Hoje sabemos que as jazidas de carvão do sul do Brasil, foram formadas graças ao acúmulo de plantas em locais próximos à costa, onde essa biomassa (o corpo das plantas) foi sendo soterrada e amadurecida até se transformar em carvão. Sabe-se também que os bosques da época formavam parte da vegetação que cobria pelo menos a porção Sul do Gondwana durante o Permiano.

Folhas de Glossopteris, coletadas na Bacia de Sidney na Austrália. Barra de escala: 5 cm

Em particular, o gênero Glossopteris reúne folhas de formato ovalado (em forma de língua), de margens retas e caracterizadas por uma venacão distinta, em formato de malha, sulcada por uma série de feixes longitudinais ou nervura central, como pode ser observado nas figuras dessas folhas.

No dia 1º de novembro deste ano, Alfred Wegener celebraria o seu 137º aniversário. Wegener, juntamente com Eduard Suess e Alexander Du Toit, formaram parte do grupo de cientistas que desde o final do século 19 vinham considerando seriamente a possibilidade dos continentes antes mencionados terem estado juntos, formando um grande paleocontinente no hemisfério Sul, e uma das evidências mais importantes dessa união são precisamente os registros das folhas de Glossopteris. A teoria de uma geografia diferente a atual, na qual os continentes estaria reunidos de forma diferente, foi publicada por Wegener em 1915, mas não teve êxito. Uma enorme quantidade de evidências vem sendo acumulada desde então a favor da existência do Gondwana, sendo hoje um fato amplamente aceito sobre a evolução do nosso planeta.

Folha de Glossopteris, ilustrada por Feistmantel na sua publicação de 1889, acerca dos fósseis da Bacia do Karoo na África do Sul.

Uma vez que no Brasil também tem aumentado o conhecimento do registro fóssil do Permiano, hoje em dia existem descritas muitas espécies de Glossopteris, não só para Santa Catarina, mas também no Rio Grande do Sul, Paraná e estado de São Paulo. Quem sabe se você já não viu uma linda folha de Glossopteris no seu quintal….

Referências

Feistmantel, O.1889. Übersichtliche Darstellung der geologisch-palaeontologischen Verhältnisse Süd-Afrikas. Th 1: die Karroo-Formation und die dieselbe unterlagernden Schichten Abh. K. Böhmischen. Ges. Wiss., 7, 1-89

Veevers, J.J. 2004. Gondwanaland from 650–500 Ma through 320 Ma merger in Pangea to 185–100 Ma breakup: supercontinental tectonics via stratigraphy and radiometric dating. Earth-Science Review, 68, 1–132.

White, D. 1908. Relatório sobre as “Coal Measures” e rochas associadas do sul do Brazil. Rio de Janeiro, p.2-300. (Relatório Final da Comissão de Estudos das Minas de Carvão de Pedra do Brazil parte I).

 

Grandes Extinções: um dia da caça, outro do caçador

 

Algumas das mas famosas vitimas das extinções, trilobitas, ammoide, nautiloide reto e bivalve.

Extinção é para sempre, como casar pela igreja … mas no último caso, os interessados combinam a hora, dia, mês e ano. Mas no caso das extinções, o processo precisa da conjunção de vários fatores e os principais envolvidos … bom… não estão assim muito felizes!

O que define uma extinção em massa? Pelo geral, o desaparecimento de pelo menos 50% das espécies continentais e marinhas conhecidas, deve se tratar de um evento cosmopolita e pode acontecer somente num pulso ou em vários estágios. Nós estamos aqui graças à última das extinções em massa, que aconteceu há 66 Ma e os nichos diurnos ficaram disponíveis aos mamíferos até então mais restritos à noite.

Nos últimos 540 Ma da história da vida no nosso planeta acredita-se, por enquanto, que aconteceram pelo menos cinco extinções em massa e 15 intervalos de extinções menores. Então extinções não são fatos isolados na história da vida! As cinco maiores aconteceram, da mais antiga à mais recente, na seguinte ordem:

– próxima do limite entre os períodos Ordoviciano-Siluriano (443 Ma). Nesse evento, segundo evidências do registro fóssil, desapareceram 85% da fauna marinha (ainda não existia vida nos continentes) especialmente invertebrados (trilobitas, graptozoários, braquiópodes, moluscos, etc.);

– final do período Devoniano (359 Ma). Aqui, 75% da vida desaparece, incluindo formas de vida marinhas e continentais;

– limite entre as eras Paleozoica e Mesozoica ou extinção do Permiano-Triássico (240 Ma). Também conhecida como mãe de todas as extinções, pois com ela 95% de todas das formas de vida desaparecem (entre eles muitos invertebrados como corais, crinoides, além de vegetais etc.). Contudo, o evento foi menos severo para os tetrápodes e como consequência os amniotas virão se tornar dominantes;

– próxima do limite Triássico- Jurássico. Acredita-se que foram vários pulsos de extinções que transcorrem durante 18 Ma;

– e por fim, o último grande evento de extinção aconteceu no limite entre as eras Mesozoica e Cenozoica, mais conhecido como extinção do Cretáceo-Paleógeno. Neste evento 70% da vida se extinguiu.

O que produz um evento de extinções em massa? Existem várias causas, entre elas vulcanismo, impacto de asteroides, mudanças climáticas drásticas, deriva continental, anoxia (falta de oxigênio) generalizada nos mares, ou todas elas juntas. Como atuam essas causas? Podemos tomar como exemplo a extinção do Cretáceo-Paleógeno, que teve como causa culminante a queda de um asteroide. Pelas evidências, quando o asteroide atingiu o planeta foi liberada uma energia equivalente a 10 bilhões de bombas como a de Hiroshima. O local da queda é hoje conhecido como a cratera de Chicxulub e fica no golfo de Yucatan, México. A cratera tem aproximadamente 200 km de diâmetro e uma profundidade de 30 km, pelo que se calcula que o asteroide teria ao redor de 15 km de diâmetro. Hoje em dia, a cratera na sua maior parte se encontra emersa e recoberta por mais de 600 m de sedimentos. A porção que se encontra em terra está recoberta por rocha calcária, mas seu contorno ainda pode ser devidamente traçado.

No final do Cretáceo o local da queda era ocupado por um mar pouco profundo e quente, rico em recifes de corais, no qual ocorria a deposição de evaporitos como o gesso – gipsita, Ca(SO4) – rico em sulfeto. Como consequência da queda, as águas desse mar foram vaporizadas e em consequência, toneladas de enxofre foram para a atmosfera, propiciando chuva ácida ao redor do planeta. Como se fosse pouco, com a liberação de semelhantes quantidades de energia também surgiram grandes ondas (tsunamis), cujos registros são atualmente encontrados em locais distantes como a costa da Venezuela. Além do impacto desse asteroide, o final do Cretáceo também foi marcado por intensas erupções vulcânicas na Índia as quais se calcula que tenham liberado de 100 a 1.000 bilhões de toneladas de cinzas, que perduraram de 100 a 1.000 anos na atmosfera superior. Também a separação entre a África e a América do Sul trouxe a abertura do oceano Atlântico Sul teve como consequência a queda no nível dos mares e, por consequência, uma mudança nas correntes oceânicas com a queda das temperaturas. Assim, a soma desses fatores “favoreceu” a extinção em massa.

No evento do Pint of Science

Minha palestra no evento Pint of Science – Campinas no dia 16/05/2017 foi relativa a esse tema. Obrigada por me convidar foi ótimo.