Esporte sem suor e esforço? Nem tanto, mas pode ser sem cheiro….

Imagine a cena: você passou na academia, fez toda a sua série de exercícios, suou pra caramba e aí aparece AQUELA pessoa que nunca te deu bola. Mas hoje ela vem falar com você. Ela se aproxima e…. você está cheirando pior que galinha molhada. Putz! E agora? Sai correndo? Mantém uma distância “segura”? Confia que cheiro de homem suado é sexy? (se você for homem, sinto muito, não é…).

Esse problema não te pertenceria se sua roupa contivesse nanopartículas de prata. O ser humano tem dois tipos de glândulas que produzem suor: as glândulas ecrinas, que produzem apenas líquido refrescante para o corpo, e as glândulas apocrinas, cuja secreção transporta gorduras e proteínas das células para o exterior do corpo. Essas gorduras e proteínas produzidas pelas glândulas apocrinas são alimento para as bactérias que estão na superfície da pele, que por sua vez produzem substâncias responsáveis pelo cheiro desagradável do suor. Logo, se as bactérias são eliminadas ou reduzidas consideravelmente, acaba o mau cheiro, certo?

As nanopartículas de prata impedem o crescimento de microrganismos e, dessa forma, poderiam ser úteis se aplicadas a tecidos de roupas esportivas. Só que a produção de nanopartículas de prata por métodos químicos usuais envolve também a formação de resíduos tóxicos, o que agride o meio ambiente.

Um grupo de pesquisadores da Unicamp (Oswaldo L. Alves, Nelson Durán e Priscyla Marcato) e da Universidade de Mogi das Cruzes (Gabriel Souza e Elisa Esposito), em São Paulo, deu um jeito de contornar esse problema produzindo nanopartículas de prata através da biotecnologia. Eles adicionaram nitrato de prata (um sal) a um tipo de fungo, o Fusarium oxysporum. O fungo tem uma enzima que converte o íon prata (do nitrato de prata) em prata metálica, produzindo nanopartículas desse metal com tamanho de cerca de 1,6 nm. Os pesquisadores impregnaram um tecido de algodão com essas nanopartículas e fizeram testes com a bactéria Staphylococcus aureus. O crescimento desse microrganismo não ocorreu no tecido preparado com a prata.

O potencial de roupas feitas de tecidos contendo nanopartículas de prata vai além do esportivo. Essas roupas poderiam ser usadas para produzir uniformes hospitalares, o que contribuiria para a redução dos índices de infecção hospitalar. Outra ótima aplicação para esses tecidos é na fabricação de meias bactericidas. Achou engraçado? Pois saiba que isso já existe e pode ser comprado nos Estados Unidos: meias anti-chulé!

PS 1.: O problema é que as nanopartículas podem sair do tecido das meias após algumas lavagens e acabar parando nos mananciais, o que geraria um problema ecológico que merece atenção ….

PS 2.:
1. nada mais eficaz para reduzir a infecção hospitalar que lavar as mãos com freqüência e usar luvas descartáveis nos procedimentos médicos, e
2. não sair para almoçar/ir ao banco/tomar um café/etc de jaleco só para mostrar que é “doutor” é demonstrar noções mínimas de microbiologia e parasitologia e respeito pela vida alheia.

Discussão - 4 comentários

  1. Roberto disse:

    Genial, Fernanda. Fiz química na Unicamp, e conheci o Oswaldo Alves e o Nelson Durán. Feras.
    Roberto

  2. Oi, Roberto
    Eles são feras mesmo! Pessoalmente, só conheço o Nelson Durán...
    Abraços
    Fernanda

  3. Ronilda Lima disse:

    Prezada Fernanda

    Permita-me a pergunta, no Brasil há produção de tecidos com nanotecnologia? Se conhecer poderia me informar?
    Grata.

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