Pedras pelo caminho

Hoje me acordei pensando em uma pedra numa rua de Calcutá. Numa determinada pedra numa rua de Calcutá. Solta. Sozinha. Quem repara nela? Só eu, que nunca fui lá. Só eu, deste lado do mundo, te mando agora esse pensamento… Minha pedra de Calcutá!

(Mário Quintana)

“Nano Graveyard” – Steven Herron, Stanford University

Olhe bem para a imagem acima. Seriam mesmo pedras de Calcutá pelo caminho? Nem de Calcutá, e nem mesmo pedras… . São apenas singelas nanoestruturas cuja imagem foi obtida por uma técnica conhecida como microscopia eletrônica de varredura. As cores ficam por conta do gosto do “artista”, que as inseriu depois, empregando um programa de imagem.

Mais uma bela obra do concurso Science as Art (2011), promovido pela Materials Research Society.

Dot

Acabo de receber esse vídeo por email, dica do Kentaro Mori:



Eis aí a menor personagem de animação stop-motion do mundo feita num Nokia N8, empregando um dispositivo chamado CellScope, que contém um microscópio acoplado e inicialmente foi concebido para aplicação médica pela equipe do professor Daniel Fletcher.
Nas palavras do Kentaro, “não chega a ser nano, mas é mili… talvez micro”. Lindinho, né?
crédito: SumoScience e Aardman.
originalmente visto no Design You Trust.

Da arte clássica à arte quântica

Levante a mão aí quem nunca recebeu um spam sobre física quântica, a la “Quem somos nós”. Pois é, não é só nanotecnologia que está na moda, física quântica também está. Conceitos difíceis, como o princípio da incerteza de Heisenberg, são falaciosamente deturpados para convencer o leitor de que ele é capaz de modificar o universo – nada mais óbvio, não? Se o observador influencia o objeto observado, e estamos todos inseridos no Universo, influenciamos o Universo! Sem entrar no mérito se influenciamos ou não o Universo (ou pelo menos o quanto nosso quarto permanece arrumado ao longo de uma semana), é uma tremenda sacanagem usar o princípio da incerteza como base para essa argumentação, porque o princípio da incerteza é válido para dimensões no máximo da ordem de alguns poucos nanometros (e olhe lá…)!! Levante a mão aí quem tem um tamanho total menor que alguns nanometros (update 10-07-2010, vide comentário 2) e está próximo do zero absoluto.
Pois bem, essa digressão feroz foi só uma digressão, mesmo. O que queria mostrar a você hoje é o uso não-falacioso do termo quântico ligado a algo que enleva o espírito: a arte. Sim, arte quântica. Em 2007, Ee Jin Teo (National University of Singapore) criou uma réplica fotoluminescente 500 x 500 micrometros do quadro “The Ancient of Days”, de William Blake. A “tela” consistiu de silício poroso, e o “pincel” foi um feixe de helio, com subsequente impressão eletroquímica em ácido fluorídrico. Devido ao efeito de confinamento quântico, emissão de luz visível é observada a partir do esqueleto de silício de dimensão nanométrica criado após a impressão. A pré-irradiação com um feixe de hélio é capaz de mudar a resistividade local do silício e o comprimento de onda de emissão da luz do silício poroso formado. Quanto maior a dose do feixe, mais para o vermelho o comprimento de onda da fotoluminescência é deslocado dentro do espectro de luz (que na faixa do visível vai do azul arroxeado, passando pelo verde, amarelo, laranja, até o vermelho). Altíssimas doses deslocam tanto o comprimento de onda que ele sai da faixa do visível, resultando nas partes da imagem que percebemos como preto. A obra de arte quântica rendeu a Teo o primeiro lugar no prêmio de 2007 “Science as Art”, da MRS, empatado com outras obras também sensacionais (uma delas já apresentada aqui).
ancient of days.jpg
PS.: de acordo com o princípio da incerteza, não é possível determinar ao mesmo tempo, com alto grau de precisão, a posição e o momento de uma partícula porque, para observa-la, é preciso fazer incidir sobre ela um raio de luz. Esse raio de luz afeta a partícula: 1) se ele for pouco energético (com comprimento de onda longo), perturbará menos a partícula e conseguiremos determinar sua velocidade, mas não será possível determinar a sua posição com precisão maior do que a distância entre cristas de onda sucessivas; 2) se o raio de luz for muito energético (com comprimento de onda curto), será possível determinar a posição da partícula com maior precisão, mas isso afetará bastante sua velocidade.
outro PS.: 500 micrometros é o mesmo que meio milímetro.

A luz das flores de Pandora

“E reparem no cravo o escravo da rosa / Que flor mais cheirosa / De enfeite sutil”
(Rancho das flores, Vinícius de Moraes)
E põe sutil nisso. Mais que sutil, nanoscopicamente pequeno.
nanoflower_pandora.jpg
Como você já sacou desde o início, a imagem acima é de nanocoisas. Mais especificamente, nanoestruturas de óxido de zinco, visualizadas por microscopia eletrônica de varredura e posteriormente colorizadas em programa de imagem. A semelhança com cravos é impressionante, não? O autor dessa nano-obra de arte chama-se Jian Shi (University of Wisconsin), e não é a toa que a fotomicrografia acima arrebatou o primeiro prêmio do concurso “SCIENCE AS ART” de 2010, promovido pela Materials Research Society.
E o que o título do post tem a ver com isso? Ora, o título da obra é “Self-illuminating flowers of Pandora” (algo como “flores de Pandora com luz própria”). Nada mais justo que manter essa referência também aqui no blog … e afinal, os “nanocravos” se parecem mesmo com as flores luminosas do universo mágico criado por James Cameron no filme Avatar, não é?

Mundo, vasto mundo

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
(Carlos Drummond De Andrade, ” Poema de sete faces”)
Adoro esse trecho do “Poema de sete faces”, do Drummond. Por alguma razão qualquer, tenho pensado muito nele nos últimos tempos … Coincidência ou não, hoje me deparei com uma leitura capaz de ultrapassar a licença poética e a abstração desses lindos versos, até (pasme) seu significado literal.
ResearchBlogging.orgO pessoal da IBM construiu um mapa 3D da Terra tão pequeno que 1000 deles juntos caberiam num espaço equivalente a um único grão de sal de cozinha. Isso corresponde a um globo terrestre com 22 micrometros de circunferência no equador. Nessa escala, uma elevação de 8 nanometros equivale a 1000 metros de altitude. Tal mapa é composto de 500000 pixels, cada um com 20 nanometros quadrados, e foi esculpido na superfície de um polímero derivado de ftalaldeído sensível ao calor, por meio de microscopia de força atômica. Adivinhe quanto tempo levou para construi-lo? Míseros 2 min e 23 s !!!!
Obviamente, esta não foi das mais fáceis tarefas – um novo equipamento foi construído para concretizar esse projeto. Uma das grandes sacadas foi aquecer a ponta do cantilever do microscópio de forma que, por onde ele passasse, fosse gerando sulcos por causar uma despolimerização pontual na superfície do “micro-bloco de polímero”. É como ter um bloco de gelo e ir modelando-o com uma ferramenta aquecida na ponta e bem fininha, para alcançar um alto nível de detalhamento. A diferença é que nessa nossa escultura de gelo imaginária, apenas mudamos o estado físico da água (não há rompimento de ligações entre os átomos de hidrogênio e oxigênio que formam a molécula de água) – já no caso do micro-globo terrestre, a “ferramenta aquecida” (entenda-se a ponta do cantilever) foi capaz de romper ligações covalentes do polímero (ou seja, rompeu as ligações que unem os átomos).
Uma curiosidade: quando os autores do trabalho mencionaram aquecimento, eles não estavam brincando – utilizou-se uma temperatura de 700 graus Celsius para modelar o mapa 3D…
IBM 3D map.jpg
(A) Topografia do globo terrestre em 3D (observe a escala!); nos detalhes (B e C), é possível ver os Alpes, o Mar Negro, as montanhas do Cáucaso e o Himalaia.
A imagem D corresponde à seção transversal indicada pela linha pontilhada branca no mapa maior (imagem A), com sua correspondência de escalas (nanometro x kilometro quanto à altura, e micrometro x kilometro, quanto à distância).

Referência:
Knoll, A., Pires, D., Coulembier, O., Dubois, P., Hedrick, J., Frommer, J., & Duerig, U. (2010). Probe-Based 3-D Nanolithography Using Self-Amplified Depolymerization Polymers Advanced Materials DOI: 10.1002/adma.200904386

A menor Enterprise do mundo (até agora…)

É isso aí, eis a menor Enterprise do mundo, caro trekker!
nanotreck.jpg
Origem da imagem aqui
Autores: Takayuki Hoshino e Shinji Matsui (Himeji Institute of Technology)
Quem enviou o link para essa imagem (via twitter) foi Carlos Hotta, com uma ressalva interessante: “ainda não é nano”!
Realmente, essa versão em miniatura da Enterprise NCC-1701D de Star Trek tem 8,8 micrometros de comprimento (quase nove mil vezes maior que 1 nanometro). Mesmo que não esteja na escala nano, a Enterprise da imagem (que é cerca de seis vezes menor que a espessura de um fio de cabelo) é pequena o suficiente para que o papel da força de gravidade não seja mais tão significativo como é para nós, que estamos na escala macro. Na escala micrométrica, o que conta mesmo são as forças de van der Waals – responsáveis, por exemplo, pela capacidade de lagartas e insetos andarem pelas paredes. As forças de van der Waals também são responsáveis pelo “grude” de muitos adesivos sintéticos, como a nossa velha conhecida cola branca, dos trabalhos escolares.
Essas imagens do mundo-tão-pequeno-que-nossos-olhos-não-vêem dá margem a vôos da imaginação… @k_psicum acha que a Enterprise em miniatura poderia ser também uma nano-tomada. Eu acho que poderia ser também o banco de um monociclo. E você, o que acha?

O que você vê?

nanogrip.jpg
A imagem acima é linda e intrigante, não? O que você vê?
Sinceridade, hein? Bem, eu vejo uma bolinha rosa e “dedinhos” com unhas rosa pink ao redor dela (não é não?). Mas tal como as imagens artísticas anteriores apresentadas neste blog, parece mas não é! Trata-se na verdade de uma microesfera de poliestireno (diâmetro = 2,5 micrometros) rodeada por fibras de resina epóxi (diâmetro = 250 nanometros), cuja imagem foi obtida por microscopia eletrônica de varredura e posteriormente recebeu cores em programa de computador. O autor da obra (que ganhou o primeiro lugar do prêmio “Science as Art 2008” da MRS) é Boaz Pokroy, da Harvard University (USA). A imagem foi batizada de “Nano-Grip” (algo como “Nano-Agarramento”, em inglês).
Agora… dê uma olhada nessa aqui e conte-me: o que você vê?
Save Our Earth.jpg
Não brinca… você já tinha visto essa antes, na internet? Sim, ela rodou o mundo há uns dias atrás por ganhar um concurso promovido pela revista Science e pela National Science Foundation, dos Estados Unidos (aliás, quem me mostrou essa imagem foi a Isis, do Xis-Xis). Os artistas responsáveis pela obra são Sung Hoon Kang, Joanna Aizenberg e … o mesmo Boaz Pokroy, todos da Harvard University (USA). Sabe como essa imagem foi denominada? “Salve o nosso planeta. Vamos nos tornar verdes” (no original, “Save Our Earth. Let’s Go Green”). Simpatizou? Pois é, eu também. Você já deve ter percebido que a esfera verde é na verdade uma micropartícula e que os “bracinhos” ao redor dela são fibras com diâmetro nanométrico – e, da mesma forma que a anterior, esta imagem foi obtida por microscopia eletrônica de varredura e posteiormente colorizada para dar o tom artístico.
Por que a imagem da esfera “rosa” não rodou o mundo internético na época, se também ganhou um prêmio importante na área de imagens “artísticas” de ciência e é até mais bonita que a da esfera “verde”? Ora, marketing! Os autores poderiam ter colorizado a esfera de qualquer cor que quisessem, mas escolheram o verde, e não foi à toa. Ao colorizar a micropartícula de verde, a idéia dos autores foi chamar a atenção para a necessidade de cooperação entre pessoas de todas as áreas para lidar com questões ambientais, pois cada fibra poderia representar uma pessoa e todas estas juntas sustentariam a micropartícula verde, que corresponderia ao planeta Terra.
Marketing não é apenas vender produtos, mas também é vender ideias. Aposto que depois que você leu o nome dado à imagem da esfera “verde”, passou a achá-la mais interessante porque comprou uma mensagem de conscientização ambiental, não é? Vendemos e compramos idéias o tempo todo. Ninguém (nem eu, nem você e nem mesmo os cientistas) está imune a isso.

Dança, folia …. e células

“Berço do samba e das lindas canções/
Que vivem n’alma da gente/
És o altar dos nossos corações/
Que cantam alegremente…..”




nano_dancers.jpg
Nano Dancersvi no site do Nanoart 21.



Um ótimo (e absurdamente divertido) feriado de Carnaval !!!!
PS.: Esta blogueira que vos escreve entrará em merecido recesso de 1 semana. Comentários podem não aparecer aqui de imediato devido a isso (mas serão publicados assim que eu retornar, ok?). Até a volta !!!!

Que bela divulgação científica!

Li no Boletim da Agência FAPESP: dia 25 de janeiro deste ano teve início a Mostra Internacional On-line de Nanoarte 2009-2010, organizada por Cris Orfescu, professor da Universidade de Nova York (Estados Unidos). Há 154 imagens na exposição, das quais 15 foram produzidas por pesquisadores ligados ao Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (post anterior sobre o CMDMC aqui), o qual é coordenado pelo professor Elson Longo, do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp).


Eis uma forma inegavelmente linda de divulgar a ciência, você não acha? Há imagens fabulosas lá, recomendo a visita!


Feliz (nano) Natal!

Esperei o ano todo para publicar essa imagem: um nano-Papai Noel com seu saco de nanotubos, descoberto passeando alegremente pela superfície de um revestimento superhidrofóbico de nanocompósito. O “flagra” é de autoria de Adam Steele, University of Illinois (USA). A imagem ganhou o segundo lugar no concurso Science as Art de 2009, promovido pela MRS.



nano santa.jpg

De quebra, recebi do @joeysalgado (via @k_psicum) um “presente de natal nerd com o nano-snowman e musiquinha brega” (nas palavras do Joey!). Enjoy… e feliz Natal!

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