Química e risadas em 140 caracteres

Estranhou o título?
Sim, é possível aliar química e risadas em 140 caracteres! E também física, matemática, biologia, informática …..
Ivan Baroni, Luiz Fernando Giolo e Paulo Pourrat são os responsáveis pelo perfil @PiadasNerds no microblog Twitter. Lá é possível encontrar piadinhas rápidas, hilárias, nerds. Eu sigo. E me divirto!
O perfil fez tanto sucesso (hoje tem mais de 82 mil seguidores!), que transformar a iniciativa em livro seria uma questão de tempo. Nesse glorioso primeiro de abril de 2011, as melhores livrarias do país passaram a comercializar o livro Piadas Nerds, o qual está organizado por capítulos (Matemática, Ciências Humanas, Química, Física, Biologia, Informática, Cultura Nerd e Séries). Cada capítulo tem uma breve apresentação, escrita por convidados muito especiais: Marcos Castro, Carol Zoccoli, adivinhem…. eu (hehehe), Dulcídio Braz Jr., Átila Iamarino, Henrique Fedorowicz e Fernando Caruso, com apresentação geral de Luis Brudna e ilustrações de Carlos Ruas.
Adorei participar, e me diverti demais escrevendo a apresentação do capítulo de química. Aí vai um trecho dela (se quiser ler tudo, amigo, compre o livro – custa menos de vinte mangos):

“Alguns dizem que para identificar um químico, é só reparar no indefectível jaleco sujo, manchado e furado. Outros afirmam que basta você observar se ele lava as mãos ANTES de ir ao banheiro. Bem, uma coisa é certa, o químico sempre tem programa para a sexta à noite: terminar aquele experimento importantíssimo no laboratório. No fundo, o químico é um ser incompreendido pela sociedade. Se, para o resto do mundo, o que está naquela folha que o químico chacoalha por aí cheio de orgulho são só umas linhas completamente sem sentido, para ele são o resultado da análise daquele experimento importantíssimo, que gerou sinais capazes de desnudar aos poucos a estrutura de qualquer molécula mais tímida, despi-la completamente e… conduzir ao êxtase! É, talvez seja muito tempo no laboratório, mesmo….
E como sobreviver a tanto tempo no laboratório sem perder completamente a sanidade? Ora, apelando para muito bom-humor. O humor químico é assim: vê trocadilhos em tudo. Às vezes, nem precisa do trocadilho… Convenhamos que quando você descobre que pode chamar o 4-(prop-1-en-1-il)fenol simplesmente de anol, a piadinha infame torna-se inevitável. É nesse espírito e para nosso deleite que a turma do Piadas Nerds reuniu neste capítulo o melhor do humor químico expresso em 140 caracteres – e é com muito orgulho que apresento-o ao caro leitor (é nox mano!).”

O lançamento oficial do livro acontecerá em Sampa, dia 16 de abril, às 16h na livraria Cultura (Loja Record) e em Campinas, dia 18 28 de abril, às 19h na FNAC do shopping Dom Pedro.

Sobre o IX Encontro da SBPMat e o ouro colonial

Redigido em 28/10/2010, a uns 10 000 pés de altitude

“No momento em que estou escrevendo essas linhas, caro leitor, estou saindo de um mergulho ao passado. Mais exatamente, à Vila Rica das Minas Gerais do séc. XVIII. Acabei de embarcar em um avião que partiu de Belo Horizonte, com destino a Porto Alegre. Nesses últimos dias, participei do IX Encontro da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat), que ocorreu em Ouro Preto/MG. Nunca tinha estado em Minas, e fiquei encantada com o que vi. As cidades são lindas, o povo é absurdamente amável e o estado todo guarda um valioso patrimônio histórico. Sem contar que o sotaque mineiro é delicioso de ouvir (como já mencionei no twitter, eu não tenho sotaque, quem tem sotaque são os outros….). No entanto, embora eu tenha mergulhado ao passado, a palavra que ressoou nos últimos dias nesse lugar foi inovação.
Como diria Kentaro Mori, quais seriam os nexos?
Quem já esteve em Ouro Preto há de concordar que é impossível não se maravilhar com as belezas locais. E também é impossível não se sentir arrasado ao tomar consciência do trabalho escravo envolvido na construção do que foi um dos grandes pólos econômicos do Brasil colonial. O ouro brasileiro sustentou Portugal, que por sua vez, financiou o desenvolvimento e crescimento da manufatura em larga escala na Inglaterra, e com isso, o advento da Revolução Industrial. E essa mudança na lógica socioeconômica foi fundamental para o estabelecimento do capitalismo moderno.
Neste nosso séc. XXI, como uma das consequências desse processo, estamos inseridos num mundo onde é preciso inovar para fazer a economia girar. Nesse contexto, a riqueza das nações é medida em grande parte pelo seu domínio de tecnologias estratégicas. É por isso que conhecimento é valor e quem inova sai na frente. Nesse contexto, a nanotecnologia é área portadora de futuro pelo seu grande potencial em soluções inovadoras nos campos da medicina, agronomia, computação, entre outros. Neste congresso (um dos maiores do país sobre pesquisa de materiais), não pude deixar de notar o alto número de trabalhos de nanociência e nanotecnologia envolvendo prata e carbono inorgânico. O crescente interesse científico e tecnológico por tais materiais pode ser um indicativo de que o Brasil não está perdendo o bonde da história. E por falar em história, é curioso pensar como o ouro brasileiro extraído há mais de 200 anos pelos escravos, indiretamente, acabou contribuindo para o estabelecimento da cultura da inovação que tomou conta do mundo. Inovar e sair na frente, meus caros compatriotas, não é só questão de estratégia, é uma dívida histórica.”

Alguns dias entre físicos no Rio

Instigantes e agradabilíssimos. Assim foram meus dias no início dessa semana na cidade maravilhosa. Como o leitor já sabe, tive o privilégio de participar de uma mesa-redonda sobre “a prática da divulgação científica através de novas mídias” juntamente com os professores Leandro Tessler e Dulcídio Braz Jr., durante a VIII Escola do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF/MCT). Gostaria de agradecer a todos do CBPF, em especial à Dayse Lima e ao prof. Luiz Sampaio, pela recepção calorosa e pela oportunidade de participar desse evento.
Antes de discorrer sobre a mesa-redonda, cabem parênteses sobre dois momentos prévios que achei marcantes. O primeiro foi a entrega do Prêmio CBPF de Física de 2010 ao prof. Vanderlei Bagnato durante a cerimônia de abertura da Escola. Os primeiros minutos da fala do professor não foram sobre o tema de seu trabalho (turbulências quânticas em condensados de bose-einstein), mas sim sobre a relevância da pesquisa científica para o crescimento e o desenvolvimento de um país. De acordo com o prof. Bagnato, uma nação competitiva é aquela que estimula a prática científica. Ouvi-lo foi emocionante. (UPDATE 02/08/2010: o vídeo pode ser conferido aqui). O segundo momento foi assistir à palestra do prof. Dulcídio para a turma do PROFCEM (Programa de Formação Continuada de Professores do Ensino Médio), onde ele demonstrou como o blog pode ser uma extensão da sala de aula com muito sucesso. Ouvir o prof. Dulcídio fez com que eu percebesse que a física pode mesmo ser pop – e que isso ocorre quando o estudante é estimulado a pensar.
Ambos os momentos, na minha concepção, estão relacionados a coisas muito próximas uma mesma coisa: a necessidade de valorização de uma cultura científica no nosso país. Interessante notar que, no fundo, nosso debate na mesa-redonda também acabou tendo essa mensagem. E para que a ciência faça parte da cultura, ela deve vencer algumas barreiras há muito levantadas. Urge desmistificar os temas de ciência (em especial aqueles mais polêmicos) e a figura do cientista. A web 2.0 pode ser uma ferramenta valiosa para isso por ser acessível, relativamente barata e permitir uma comunicação direta. Aproximar as pessoas das coisas da ciência deve ser um compromisso do cientista. Por outro lado, compreender o que é divulgado sobre CT&I e as implicações de seus avanços será um privilégio de poucos se a prática da educação científica não for estimulada desde a primeira infância. Pensar cientificamente não é coisa para poucos eleitos geniais, é algo que pode ser aprendido por qualquer um que tenha curiosidade sobre como o mundo funciona. E curiosidade é característica inerente ao ser humano.
Pê-esses…
P.S.1: Uma pena que o espaço aqui não tenha o tamanho das cerca de 2h de discussão, para poder transcrevê-la em detalhes… quando o vídeo da mesa-redonda estiver no ar, informarei o link. As impressões dos demais debatedores podem ser encontradas aqui (D.B.) e aqui (L.T.).
P.S.2: Merece destaque o fato de que o CBPF foi agraciado com o Prêmio José Reis de Divulgação Científica de 2006 (modalidade instituição), pelo “envolvimento e o interesse da instituição na divulgação de temas científicos para sensibilização da sociedade, (..) o histórico da instituição, [e] a qualidade e a penetração do material produzido.” Recebi gentilmente materiais interessantíssimos produzidos e/ou promovidos pelo CBPF nessa linha de divulgação, que merecem um post à parte.
P.S.3: Um bônus dessa viagem foi conhecer a redação da Ciência Hoje, rever o pessoal de lá que é bacaníssimo, e conhecer o físico e jornalista Cássio Leite Vieira (que talvez não saiba, mas me ensinou quase tudo que sei sobre textos de divulgação científica através de seu pequeno [grande] manual).
P.S.4: Ter convivido nesses poucos dias com pessoas cujo trabalho admiro, tais como o prof. Alberto Passos Guimarães Filho, não tem preço.

Blogs de ciência podem estimular o engajamento público em temas de C&T?

Há pouco mais de um ano, percebi que havia uma grande lacuna no conhecimento das pessoas em geral sobre nanobiotecnologia e seus impactos. E as pessoas têm o direito de saber sobre esse assunto, sem histrionismos ou falácias, já que esta tecnologia estará cada vez mais presente no dia-a-dia de todos. Não sou jornalista, não sou dona de revista ou jornal, nem sequer faço parte do corpo docente de alguma universidade (ainda sou aprendiz, com todas as vicissitudes de tal condição). No entanto, tenho um computador e acesso à internet, além de ideias… e um gosto especial pela escrita. Daí a usar um weblog como ferramenta para divulgar o tema Nanobiotecnologia, que é meu foco de estudo offline, foi um pulo. Mas qual meu objetivo, no final das contas? Informar? Ensinar? Criticar? Intercalar a função de arauto da boa-nova com a de advogada-do-diabo frente a um suposto milagre? Talvez tudo isso junto. Engraçado como às vezes só refletimos mais profundamente sobre nossas práticas quando há um estímulo pontual para que isso aconteça. O meu foi um convite muito especial que recebi há alguns meses: participar de uma mesa-redonda intitulada “A prática da divulgação científica e as novas mídias sociais”, que ocorrerá durante a VIII Escola do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF/MCT). O tema é novo e ainda se falará muito dele: como (e porque) weblogs e redes sociais podem ser agentes difusores do conhecimento científico e gatilhos para o engajamento público nos temas de C&T. No entanto, é difícil entender o novo sem conhecer aquilo que o precedeu. Por isso, olhar para trás foi meu primeiro movimento para tentar clarear algumas ideias que vêm rondando meus pensamentos desde que o Bala Mágica foi lançado.
Antes do século XVII, não havia uma distinção clara entre ciência e filosofia. A partir do século XVII, alguns pensadores, como o italiano Galileu Galilei (1564-1642), o francês René Descartes (1596-1650) e o inglês Isaac Newton (1642-1727), quebraram paradigmas ao defender o uso da experimentação, do método, da matemática e a exclusão do misticismo para entender os fenômenos naturais. Não é a toa que os historiadores chamam esse período de Revolução Científica. Logicamente, o ambiente social daquela época propiciou tal revolução. Dentre os acontecimentos que favoreceram a Revolução Científica cabe destacar a invenção da prensa móvel pelo alemão Johannes Gutenberg (1398-1468), que por si só já iniciou outra revolução, a da Imprensa. Eis a primeira reflexão: comunicação sempre foi uma peça-chave para o estabelecimento e a propagação da ciência.
O advento da imprensa tirou as amarras impostas por um conjunto de clérigos sobre o que é a Verdade, já que a produção de material escrito não era mais privilégio de alguns sacerdotes enclausurados em seus mosteiros. Estava dada a largada para a disseminação do livre-pensamento. Pelo menos na teoria e pelo menos para os “incluídos”, capazes de ler. Desde então, o número de alfabetizados aumentou, e o custo para adquirir livros, revistas, jornais, etc foi se tornando mais acessível. De lá para cá, a ciência evoluiu e, com ela, cresceram as esperanças de que as descobertas científicas contribuiriam para tornar o mundo um lugar melhor. Começou a surgir a noção de que era preciso “educar o povo” nas coisas de ciência, por meio da transmissão do conhecimento do especialista para o leigo, de forma verticalizada. No entanto, o acúmulo de informação não significa a compreensão dessa informação. E a informação fora de um contexto socioeconômico raramente desperta interesse público. Isso é particularmente importante no caso de assuntos científicos, porque a ciência gera muito mais perguntas que respostas, e jamais será capaz de oferecer uma Verdade, mas apenas modelos e aproximações. Essa ideia de transmissão verticalizada da informação passou a ser questionada, e estratégias dialógicas foram (e ainda são) propostas para substituí-la. Passou-se a falar em dar uma chance ao diálogo entre cientistas e leigos. E um diálogo é feito de perguntas e respostas. Eis a segunda reflexão: talvez a comunicação científica deva cada vez mais incluir as perguntas, e não só oferecer as respostas. A comunicação de ciência não pode mais ser uma via de mão única. Afinal, cabe à sociedade debater quais perguntas são mais importantes/urgentes, pois é esta sociedade quem sentirá as implicações dos avanços da C&T. Mais que informar sobre as últimas novidades dos periódicos científicos, a divulgação científica deve fomentar o exercício da cidadania.
Será que a internet, com seu efeito de rede e alto poder de disseminação de informações, pode fazer diferença nesse processo? Quais seriam as consequências disso e os desafios a serrem enfrentados, hoje e no futuro? Essas perguntas suscitaram mais reflexões, que reservo para o debate com os professores Dulcidio Braz Júnior (do blog Física na Veia!) e Leandro Tessler (IFGW/UNICAMP, do blog Cultura Científica), com moderação do professor Marcelo Knobel (IFGW/UNICAMP), nessa terça-feira (20/07), que ocorrerá às 18h30min no CBPF.

VIII Escola do CBPF/MCT está com as inscrições abertas!

… e esta blogueira que vos escreve estará lá, participando da mesa redonda “A prática da divulgação científica e as novas mídias sociais”, juntamente com os professores Dulcidio Braz Júnior (do blog Física na Veia!) e Leandro Tessler (IFGW/UNICAMP, do blog Cultura Científica), com moderação do professor Marcelo Knobel (IFGW/UNICAMP). A ideia é discutir sobre o papel dos blogs de ciência na divulgação e educação científica, e sobre como as novas mídias podem aumentar a participação da sociedade na discussão de temas de ciência.
Alguma informações a respeito da Escola, retiradas da mais recente comunicação por e-mail que recebi da equipe organizadora:
“A programação principal da Escola do CBPF terá 18 cursos voltados para estudantes de graduação e 9, para estudantes da pós, além de incluir outras atividades e palestras, abertas a todos e ao público em geral. “A Escola do CBPF é um evento voltado integralmente para a formação dos estudantes de Física e áreas afins, por isso enfatiza não apenas os temas consagrados ou de fronteira, mas também os aspectos mais peculiares da física e os tópicos que sejam de interesse ou tragam impacto para a sociedade”, afirma o coordenador do evento, Luiz Sampaio, que lembra ainda que, além dos cursos e atividades tradicionais, a Escola este ano traz uma variada programação satélite, “que enriquece e amplia o seu âmbito de ação”. Nesta programação, estão previstos a primeira edição do Programa de Formação Continuada de Professores de Ensino Médio em Física (PROFCEM), de 12 a 23 de julho, o Encontro Nacional dos Estudantes de Pós-graduação em Física (ENAF), de 2 a 4 de agosto, ambos no CBPF, no Rio de Janeiro, e a edição especial da Escola em Nanociência e Nanotecnologia, na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém.
Também sendo lançado nesta segunda, uma outra novidade é o Blog da VIII Escola do CBPF que vai acompanhar a preparação e a realização do evento (http://www.escoladocbpf.blogspot.com). “Este ano tivemos a preocupação de promover um maior envolvimento dos estudantes do CBPF e dos visitantes com as atividades da Escola, e por isso criamos um espaço que pudesse reflletir e reproduzir essa dinâmica”, explica Luiz Sampaio. O blog vai apresentar dados sobre o CBPF e sobre a programação principal da Escola e de cada evento satélite, além de muitos conteúdos pontuais e úteis aos alunos, como as notas de aula preparadas pelos professores, ou os posts e vídeos, que pretendem destacar o ambiente de ensino diferenciado do CBPF.”
Com a tradição de ser um dos principais eventos de Física do país, a VIII Escola do CBPF pretende reunir em julho, cerca de 500 estudantes na sede do instituto, no Rio. As inscrições para o evento ficam abertas até 10 de junho, para aqueles estudantes que pretendem pedir auxílio de participação, ou 30 de junho, para os demais.”

E então, achou bacana? Inscreva-se!

Nanotecnologia: um debate público

O Editorial da última Nature Nanotechnology (nov. 2009) trouxe uma discussão bastante pertinente sobre como é importante que os cientistas que trabalham com nanociência e nanotecnologia comuniquem ao público leigo quais tem sido seus resultados de pesquisa e que produtos eles estão desenvolvendo. O assunto já havia sido levantado há cerca de um mês atrás, com a publicação do relatório Reconfigurando Responsabilidades – Aprofundando o Debate sobre a Nanotecnologia, de autoria de um grupo de cientistas europeus. Infelizmente, por força de alguns compromissos (eles sempre vem todos juntos!), não pude dar a devida atenção ao relatório na época, mas nem por isso esqueci do assunto.

O grande receio do pessoal da área é que a reação pública à nanotecnologia seja semelhante àquela ocorrida há alguns anos atrás com o surgimento dos organismos geneticamente modificados, onde a aversão aos riscos foi tão grande que muitas informações desencontradas e até absurdas foram tomadas como corretas por uma parcela significativa da população. Um dos grandes erros da época foi limitar o debate público sobre os alimentos geneticamente modificados. É justamente nessa linha de raciocínio que tanto o relatório europeu quanto o editorial da Nature defendem que os debates sobre riscos e benefícios da nanotecnologia não devem se restringir aos muros da academia ou das grandes corporações. Concordo plenamente com esse posicionamento.

É preciso trazer a sociedade para a esfera dos debate – afinal, é esta sociedade que sofrerá os impactos (inclusive éticos e sociais) da nanotecnologia. Mas para que o debate seja profícuo, primeiro as pessoas precisam SABER o que é nanotecnologia. E a maioria não sabe. Uma pesquisa realizada pelo PEN em 2007 mostrou que 42 % dos norte-americanos entrevistados nunca haviam ouvido falar em nanotecnologia. A mesma pesquisa demonstrou que 51 % não tinham opinião formada sobre seus riscos e benefícios. Uma pesquisa feita pelo MCT no mesmo ano mostrou que 84 % dos brasileiros entrevistados não conheciam nenhuma instituição dedicada a fazer pesquisa em nosso país. Essa mesma pesquisa demonstrou que a nanotecnologia é uma das áreas mais importantes a ser desenvolvida no Brasil nos próximos anos apenas na opinião de 3 % dos entrevistados. Além disso, a grande maioria (73 %) se informava pouco ou nada sobre ciência e tecnologia, principalmente por não entendê-las. No entanto, 41 % afirmaram ter muito interesse por ciência e tecnologia (!). Os resultados apontados por essas pesquisas demonstram o quão importante é a divulgação científica feita de forma atraente, acessível e com qualidade de conteúdo e o quanto essa demanda ainda não foi satisfeita. Nesse contexto, divulgação científica é um compromisso social de quem constrói a ciência. Um trabalho interessante tem sido feito nesse sentido pela rede Renanossoma, que une pesquisadores de todas as áreas da ciência para discutir os impactos ambientais e sociais das nanotecnologias.

Terei a oportunidade de falar sobre a divulgação da nanobiotecnologia pela mídia e de debater a respeito da divulgação científica feita com o auxílio das novas mídias, juntamente com o jornalista de ciência da Folha de São Paulo Reinaldo José Lopes e o acadêmico de ciências biológicas Luiz Felipe Benites, hoje à noite, na Unisinos. Programação aqui (se você mora na região metropolitana de Porto Alegre, ainda dá tempo de aproveitar o evento!).


Mesa redonda sobre a Compreensão Pública da Ciência

Há um pouco mais de mês recebi um convite do L. Benites A., o Amigo de Wigner, para participar de uma mesa redonda sobre Compreensão Pública da Ciência, que fará parte da programação do XII RABU (Reunião Acadêmica da Biologia da Unisinos), que ocorrerá de 9 a 13 de novembro em São Leopoldo/RS. Fico muito feliz de compartilhar a mesa com o Luiz Felipe e também com o jornalista da Folha de São Paulo Reinaldo José Lopes, outro blogueiro de ciência dos bons.
Como não sou especialista em divulgação científica de forma geral, vou falar do que sei: nanobiotecnologia. Mais especificamente, a Nanobiotecnologia Pelos Olhos da Mídia (sempre fazendo o contraponto com a realidade do laboratório).

Certamente, o bate-papo acabará envolvendo também uma discussão que já foi levantada no II EWCLiPo: o papel dos cientistas e dos jornalistas na divulgação de ciência. Espero representar bem os cientistas divulgadores de ciência por lá!

As inscrições abrirão no dia 12 de outubro. Espero você lá!


As aventuras de Fernanda Balla (mágica) pelos quatro cantos do Rio de Janeiro

(sim, esse título também é uma referência ao blog da Lúcia Malla)

Sábado, fim do segundo dia do II EWCLiPo – mas a noite… essa só estava começando. Como contei no último post desse blog, o pessoal resolveu continuar a discussão, que começou pela manhã, lá no bar Saint-Tropez, na praia dos anjos. Quando cheguei, encontrei duas grandes mesas já abarrotadas de blogueiros, em conversas animadas.

Não tive dúvida, sentei numa pequena mesa ao lado e pedi uma muqueca de peixe e frutos do mar + chopp. Fantástica!!!! Quando o placar já estava 4 x 1 para a muqueca (era comida para umas 4 pessoas!), chegou um pessoal pedindo licença para sentar na mesa: era a equipe de jornalistas da Ciência Hoje, que também estavam participando do evento. Equipe, aliás, divertidíssima – dei boas risadas com essa turma. E, como bons jornalistas, encheram-me de perguntas. Uma delas foi:”-Por que você começou a fazer um blog de ciências?”

“-Você quer a resposta oficial ou a não-oficial?”
“- A não-oficial, claro!”
“-Então tá, a resposta OFICIAL é porque acredito que divulgação científica bem-feita é um compromisso social. A NÃO-OFICIAL é porque eu acho que escrever para o blog é um divertimento!” (nesse momento um silêncio se estabeleceu e o pessoal da mesa fez uma cara de pena para mim….)

Qual não foi a minha supresa quando ouvi a mesma coisa – que divulgação científica é um divertimento – da prof. Suzana Herculano-Houzel, a primeira palestrante da manhã de domingo! Suzana nos brindou com uma palestra brilhante sobre o cientista e seu papel da divulgação de ciência. Segundo ela, existe SIM mercado para livros de divulgação científica no Brasil, e cientistas podem e devem suprir essa demanda. Eu não conhecia em maiores detalhes o trabalho dela, que é apoiado por órgãos como CNPq e FAPERJ (quem disse que divulgação científica é perda de tempo, hein?) – o fato é que virei fã de carteirinha da Suzana. Na palestra seguinte, a Alessandra Carvalho fez o contraponto, mostrando para a plateia qual é o papel do jornalista na divulgação científica (muito instrutivo!).

Infelizmente, não pude assistir às demais palestras do II EWCLiPO, nem participar do encerramento, mas valeu – conheci pessoas muito receptivas e agradáveis, com objetivos em comum: tornar a ciência e o pensamento crítico parte relevante do cotidiano das pessoas, desmistificar a figura do cientista (que pode até ser meio doido, mas também é gente!) e… se divertir com tudo isso 🙂

Ainda não sei o que o pessoal decidiu sobre o EWCLiPo do próximo ano, mas seja onde for (Natal! Natal!), certamente estarei lá.

P.S.1: Na volta para o Rio, parei em Cabo Frio para almoçar bobó de camarão com chorinho ao vivo (nessa viagem de 10 dias pelo estado do RJ, só faltou a caldeirada de frutos do mar – mas como disse um amigo, não se pode ganhar todas).

Como é possível ver nas fotos, São Pedro não me sacaneou totalmente. Apesar do tempo ruim durante a semana no Rio, o sol apareceu no fim de semana. Devido a isso, tive a chance de ficar absolutamente extasiada com a beleza e com a cor do mar de Arraial (pena que as imagens abaixo não fazem jus ao que vi in loco).

(praia dos Anjos – local do II EWCLiPo, vista do alto do Pontal do Atalaia – Arraial do Cabo, RJ)
a autoria das fotos é minha, mesmo…

P.S.2: Optei por contar a minha visão pessoal do II EWCLiPo como um diário de viagens para não chover no molhado – antes de mim, muita gente boa descreveu o evento em detalhes de forma brilhante. A compilação dos post que tratam do EWCLiPo está sendo feita pelo Takata no Gene Repórter. Confira!

UPDATE 01/10/09: A Tati Nahas fez uma “ewclipagem” das fotos lá no Ciência na Mídia. Vale a visita.

Uma Balla (mágica) pelo mundo

(sim, o título é uma referência ao blog da Lúcia Malla)

Nove horas da noite de sexta-feira. Saí da cidade maravilhosa depois de uma semana de chuva e frio. Destino: a paradisíaca Arraial do Cabo. O fim de semana prometia… Lá estava eu indo participar do II EWCLiPo (Encontro de Weblogs de Ciência em Língua Portuguesa). Um inesperado congestionamento na ponte Rio-Niterói atrasou minha chegada – que era para ser as 23h, mas só larguei minhas coisas na pousada à 1h da madrugada. Isso não me impediu de levantar cedinho no sábado, com toda a disposição do mundo… Nesse dia eu teria a chance de conhecer os rostos por trás de tantos blogs legais sobre ciência. Sim, há rostos por trás deles!

Cheguei timidamente no Hotel A Ressurgência, local onde o encontro estava acontecendo desde sexta à tarde. Lá estava o simpaticíssimo prof. Mauro Rebelo, um dos organizadores do evento, repassando os slides da sua palestra, que seria a primeira da manhã. Perguntei a ele onde estava todo mundo. O prof. Mauro abriu um sorriso e disse que a confraternização do dia anterior tinha terminado mais tarde que o previsto. Depois de cerca de meia hora, aos poucos as pessoas foram chegando, e eu fui reconhecendo os rostos (ou parte deles, né Rafael?) das fotografias que constam nos blogs. Eu não tinha colocado referência ao Bala Mágica no meu crachá, e não tenho foto no blog, então foi inusitado algumas pessoas me reconhecerem também: “- Ahh, essa é a bala mágica!”. Vejam que ganhei um nickname e fiquei me achando com essa, hahaha…

Na qualidade de organizador, o prof. Mauro chamou o pessoal a entrar no auditório (blogueiros de ciência, quando se juntam, começam a discutir sobre a vida, o universo e tudo mais, e não páram sem a ação de uma força externa). Uma atmosfera de discussão e troca profícua de ideias tomou conta do ambiente e permeou todo o evento. A palestra do prof. Mauro sobre escrita criativa foi ótima – “preguiça, ignorância e medo nunca geram ideias criativas”. Na sequencia, a prof. Sonia Rodrigues nos trouxe sua experiência com inclusão digital de jovens e adolescentes. Não pude deixar de lembrar de coisas que já vivenciei lecionando no Projeto Educacional Alternativa Cidadã. O Carlos Cardoso nos brindou com uma divertidíssima palestra sobre como ganhar dinheiro com blogs – e outras cositas mas! Se você tiver a oportunidade de assistir esse publicitário que ganha a vida como blogueiro profissional e se apresenta como nerd, assista. (Descobri, por exemplo, que os blogs de ciência estão na categoria “Personal Carl Sagan”). O Carlos Hotta e o Átila Iamarino nos apresentaram sua experiência como gerentes do ScienceBlogs Brasil, e altas discussões surgiram sobre os critérios para um blog ser incluído no SBBr (afinal, quem não quer esse selo de qualidade para seu blog?)

Depois do almoço, o prof. Osame Kinouchi nos falou sobre redes complexas e mostrou o panorama da blogosfera científica brasileira. Depois dele, o prof. Leandro Tessler trouxe à baila a discussão sobre o efeito da ciência de má qualidade (ou anti-ciência) divulgada pela mídia na opinião pública, e mencionou a questão da hierarquização da informação na rede (ou a falta dela). E se você acha que só blogueiros de ciência estavam presentes no EWCLiPo, surpreenda-se com o palestrante seguinte: O Bernardo Esteves, editor da Ciência Hoje Online, veio com uma equipe e nos mostrou qual o papel de jornalistas e cientistas na divulgação da ciência.

Após as palestras, o prof. Osame anunciou os vencedores do prêmio de melhor blog científico, organizado pelo Anel de Blogs Científicos. O Bala Mágica ganhou o terceiro lugar (e um certificado!) na categoria Mente e Cérebro, Saúde e Medicina. O primeiro lugar dessa categoria foi do Ecce_Medicus. Qual a surpresa quando a Maria foi receber o prêmio? Na plateia, as pessoas se perguntavam: “- Então o Karl é menina?”. Não… o Karl é uma entidade 😉

Para variar, eu sempre pago mico nesses momentos. Estava eu posando para a foto com o certificado na mão, quando escuto de alguém da plateia:
“-Não é foto, ele está filmando!”; “-Ahhh, tá…hehehe”. Os prêmios humorísticos também foram distribuídos lá. Menção especial ao Roberto Takata, que ganhou o troféu (na verdade, um sapinho) de comentarista de destaque da blogosfera (e do II EWCLiPo também!).

Depois de um dia de altas discussões, a galera toda foi para o Saint-Tropez, para continuar o papo com cerveja. Mas como o post está longo, continuo contando o que aconteceu em Arraial amanhã.

P.S.: Optei por contar a minha visão pessoal do II EWCLiPo como um diário de viagens para não chover no molhado – antes de mim, muita gente boa descreveu o evento em detalhes de forma brilhante. A compilação dos post que tratam do EWCLiPo está sendo feita pelo Takata (o ganhador do sapinho!) no Gene Repórter. Confira!
UPDATE 29/09/09: vídeo com depoimentos de blogueiros que participaram do II EWCLiPo, na página da Ciência Hoje Online.

Relatos do ICAM 2009 – parte II

Passando pelas sessões de pôsteres do ICAM 2009, achei algumas coisas muito interessantes…. Trago aqui para o Bala Mágica dois desses trabalhos. O primeiro é de autoria de Juliana C. Cancino – uma química muito simpática que faz doutorado em física -, juntamente com outros colaboradores (T.M. Nobre, S.S. Machado e V. Zucolotto) do Instituto de Química e do Instituto de Física da USP de São Carlos. Juliana construiu um modelo no laboratório que imita a membrana das nossas células e verificou que nanotubos de carbono podem penetrar na membrana, afetando seu empacotamento (que é a forma como ela se organiza no espaço). Cabe salientar que isso aconteceu apenas para nanotubos com determinadas características (como tamanho e tipo de superfície). Nanotubos grandes demais, por exemplo, não foram capazes de se inserir na membrana. Esse tipo de resultado pode ser uma evidência do potencial de toxicidade de nanotubos de carbono e como esse potencial pode ser minimizado alterando-se algumas das suas características.

Outro trabalho legal que vi lá é do Elias Berni – um físico que faz mestrado em biofísica – e colaboradores (V. Zucolotto e C.R. de Oliveira), do Instituto de Física da USP de São Carlos e da Embrapa Instrumentação Agropecuária. Sabe-se que tanto nanopartículas de prata quanto quitosana – uma fibra originada da carapaça de crustáceos – são capazes de impedir o crescimento de bactérias. Resumindo em poucas palavras, Elias mostrou que juntar quitosana e nanopartículas de prata num filme (que é o que chamamos de nanocompósito) tem um efeito maior na prevenção do crescimento da bactéria E. coli que aquele observado para os materiais separados somados. Esse estudo é um exemplo interessante de como é possível obter materiais muito mais eficientes devido ao emprego da nanotecnologia.

Ao meio dia de segunda-feira, estava acontecendo por lá um Lunch-Box Forum sobre desafios globais na educação, como parte das atividades da conferência. Nos banners que anunciavam o fórum, logo abaixo do título e acima da descrição das temáticas e dos palestrantes, estava escrito: “All are welcome”/”Free pizza”. Irresistível não lembrar do PhDComics nesse momento…..


Fonte: PhDComics

P.S.: Depois dos relatos do ICAM 2009, vou contar o que estará acontecendo no II EWCLiPo, direto de Arraial do Cabo-RJ. Aliás, já estou com as malas prontas para pegar a estrada ainda hoje…

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