Porto Alegre me faz tão sentimental …..

Porto Alegre, 30 de abril de 2012. 

(por volta das 19h15min)

Enquanto escrevo essas linhas, na zona de embarque do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, estou naquele estado de espírito insólito em que felicidade e tristeza convivem de forma estranhamente harmoniosa. São meus últimos momentos como moradora dessa cidade, após um período marcante que durou cerca de 10 anos. Citando o escritor romano Plutarco, navegar é preciso. Após minha defesa da tese, que contou com a avaliação de uma banca elegante, propositiva e exigente (me invejem, foi uma banca excelente), chegou o momento de agradecer, refletir, relembrar e … mudar.

Nasci numa cidade do norte do RS chamada Passo Fundo, e lá vivi até os 19 anos. Num belo dia, nasceu aquela vontade de ir por mares nunca antes navegados, e parti para Porto Alegre. Meus planos consistiam em terminar a faculdade de Farmácia e logo em seguida voar para mais longe. Porto Alegre, na minha visão de adolescente, era um lugar cinzento povoado por seres estranhos de sotaque metido a besta. Não fazia parte dos planos fazer grandes amizades ou criar vínculos duradouros, mas sim apenas atingir metas acadêmicas e ir embora. Era minha forma tosca de lidar com a experiência do desconhecido. Acontece que Porto Alegre me trucou. E bonito.

Lembro bem do dia da primeira matrícula na faculdade, e dos sentimentos de excitação e medo pelo que estava por vir. Lembro das primeiras vezes em que saí pelos bares da Cidade Baixa, ainda deslumbrada com um novo mundo que se abria. Da primeira vez em que passeei pela Redenção, impressionada com o fato de um parque daquele tamanho estar cravado no meio de tanta urbanidade. Lembro de quando comecei minha primeira iniciação científica na área de tecnologia farmacêutica e da minha primeira apresentação em um Salão de Iniciação Científica da UFRGS (que acabou definindo alguns rumos da minha vida, mas deixo essa pra contar em outro momento).

Lembro dos queridos amigos que fiz ao longo desses anos, das pequenas loucuras que vivemos juntos e da cumplicidade que tornou essas amizades tão especiais. Lembro da solidão e da saudade. Dos amores e das decepções. Das escolhas erradas e das superações. Lembro de um momento de profunda tristeza que vivi, e de tantos momentos de profunda alegria que guardarei com carinho. Lembro de quando minha irmã veio morar comigo, e foi um sol na minha vida (aqui pode agradecer também pelas cervejas, rsrsrsrs). Lembro dos meus pais, da minha família, das milhares de ausências minhas porque sempre havia algo no lab para fazer. E do quanto eles me apoiaram sempre.

Lembro de tudo o que aprendi durante o mestrado, a bolsa DTI e o doutorado. Do quanto sou grata às professoras Sílvia e Adriana, que me receberam em seu grupo e sempre acreditaram no meu trabalho. E lembro também dos colegas sensacionais desse grupo, que contribuíram para tornar tão ricas minhas vivências ali. E, claro, como esquecer daqueles que me fizeram enxergar mais longe, meus queridos colegas, alunos e amigos do PEAC? E do maravilhoso e inesperado “presente” que ganhei de tabela ao participar desse projeto? (né, Fabiano?)

Porto Alegre me dói … ainda mais agora, nesses minutos de despedida. Se estou chorando? Estou, embaraçosamente. Em Porto Alegre vivi, cresci, caí, me levantei. Estou indo a um novo lugar, para começar uma nova vida há muito ansiada. Não há como não ficar extremamente feliz. Mas ao mesmo tempo bate uma tristeza, sabe? É que Porto Alegre me tem / não leve a mal /Obrigada, cidade querida, por tudo. Estarás sempre no meu coração.

“- última chamada para o vôo AD 4062 …”

Ok, hora de enxugar as lágrimas e sorrir. Campinas, estou chegando … para contigo também construir uma linda história … .

Discussão - 3 comentários

  1. Natália disse:

    Fer, lindo teu post!
    Campinas vai ser tua próxima Porto Alegre, e esta última vai sempre estar de braços abertos pra te receber novamente 🙂
    Um beijo, estou torcendo muito por ti!!

  2. Parabéns, doutora. Pena q com mulher a piada do "doutor mais fresco" não role. : )

    Vai se encontrar com o Tessler então?

    []s,

    Roberto Takata

  3. Selma Clemes Kulkamp disse:

    Estimada Doutora Fernanda!
    A respeito da tua jornada bem sucedida, só posso repetir as palavras de um antigo provérbio:
    "Observaste o homem que é destro na sua obra? É perante reis que ele se postará; não se postará diante de homens comuns". (Provérbios 22:29)
    Parabéns!

    Selma Clemes Kulkamp

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