A moda segue as tendências da ciência ….

“Por acaso, surpreendo-me no espelho:
Quem é esse que me olha e é tão mais velho que eu? (…)
Parece meu velho pai – que já morreu! (…)
Nosso olhar duro interroga:
“O que fizeste de mim?” Eu pai? Tu é que me invadiste.
Lentamente, ruga a ruga…”
Já disse um poeta romano que “começamos a morrer no momento em que nascemos”. Sentimos a seta do tempo com toda a força, tal qual o querido Mario Quintana bem retratou em seu poema “Espelho”, parcialmente transcrito logo acima.
O ser humano tem um medo terrível de envelhecer. E a indústria do marketing sabe muito bem disso. Associar um produto com a imagem de juventude vende. Se há a promessa de tornar mais jovem a aparência física do consumidor, aí vende ao cubo. E não importa se o “componente rejuvenescedor” presente no produto pode de fato cumprir a sua promessa ou se é apenas o que o pessoal do marketing chama de “conceito” – algo que está lá no produto, é chique, moderno e chama público, mas na prática não faz muita diferença na eficácia final. O que importa é que vai despertar a atenção, e isso já é meio caminho andado para efetivar a venda.
As promessas de rejuvenescimento geralmente estão associadas a produtos que contêm tecnologias de ponta. O tipo de tecnologia desenvolvida é algo que pode depender do contexto histórico: no meio científico, alguns assuntos são considerados mais quentes que outros, caracterizando uma espécie de “moda” da ciência de uma determinada época. O curioso é quando essas tendências da ciência acabam ditando moda fora do meio acadêmico. Como disse a estilista Coco Chanel, “a moda não é algo presente apenas nas roupas. A moda está no céu, nas ruas, a moda tem a ver com idéias, a forma como vivemos, o que está acontecendo.”
Bem, dizem as más línguas que nanotecnologia está na moda nos dias atuais…. E essa longa introdução é apenas para afirmar que não tenho mais como discordar de tal afirmação: uma empresa de moda lançou, na última Fashion Rio, roupas cujos tecidos contêm nanopartículas de vitaminas e óleo vegetais, com função antienvelhecimento e hidratante. De acordo com os produtores das roupas, as nanopartículas seriam liberadas do tecido, de forma a atingir camadas mais profundas da pele durante o uso da vestimenta. Além disso, as nanopartículas permaneceriam por mais de um ano nos tecidos, mesmo após várias lavagens. Parando para pensar, não haveria um paradoxo nessas duas informações? Se não há, é preciso haver concentração suficiente das substâncias ativas na pele para que os efeitos sejam sentidos. Por isso, lanço no ar a pergunta: quanto ao efeito prometido na pele, a presença de tais nanopartículas no tecido das roupas de fato faz diferença, ou é apenas um “conceito”?
P.S.: Se você ainda não está sabendo, escrever sobre moda faz parte das últimas tendências aqui do ScienceBlogs Brasil (vale ler a respeito aqui, aqui e aqui). O Bala Mágica (blog antenado, “chic” e mui modesto que é) não poderia ficar de fora, não é mesmo?

Nanotoxicologia

Já sabemos que a nanotecnologia pode trazer muitos benefícios à humanidade, mas quais são todos os seus riscos? É no contexto dessa pergunta que uma nova área da ciência, chamada nanotoxicologia, tem dado seus primeiros passos. Alguns estudos dessa área vêm apontando evidências concretas de que certos nanomateriais (tais como nanopartículas de óxidos metálicos) podem apresentar riscos toxicológicos e ambientais. Por outro lado, há trabalhos com resultados altamente questionáveis sobre o grau de toxicidade de nanoprodutos.



Um estudo recentemente publicado na Nature Nanotechnology avivou essa discussão e causou um alvoroço na mídia ao demonstrar uma situação curiosa: nanopartículas de cromo-cobalto foram capazes de danificar DNA de fibroblastos (um tipo de célula humana), sem entrar em contato direto com ele. Isso quer dizer que o fato de estarem fisicamente distantes não impediu que as nanopartículas causassem dano ao DNA. De acordo com os autores, a explicação reside na ativação de cascatas de sinalização celular.



Duas perguntas podem estar ocorrendo ao leitor nesse momento:
1) Como seria o comportamento dessas nanopartículas no nosso corpo, considerando membranas como a placenta?
2) Todas as nanopartículas oferecem o mesmo risco?
No que se refere à primeira pergunta, nem sempre é possível fazer esse tipo de extrapolação, e testes in vivo acabam sendo necessários. Além disso, é preciso considerar que as concentrações de cromo e cobalto utilizadas foram altas o suficiente para causar prejuízos sérios à saúde, independentemente dos mesmos estarem ou não na nanoescala. Uma exposição a cromo e cobalto nas concentrações do estudo é algo altamente improvável (ufa!). Quanto à segunda pergunta, cabe lembrar que nanopartícula não é tudo igual! É complicado extrapolar o resultado desse estudo para outras nanopartículas porque os efeitos biológicos variam muito conforme o tipo de nanomaterial – quem garante que os mesmos mecanismos de sinalização celular serão ativados na presença de um material nanométrico de composição e/ou tamanho diferentes? Pode ser que alguma mudança na estrutura ou composição da nanopartícula faça toda a diferença (tanto para melhor quanto para pior em termos de toxicidade).
(para entender o quanto as cascatas bioquímicas do nosso corpo são complexas, vale conferir o último post do Gabriel Cunha no RNAm)
Nesse sentido, é preciso olhar esses estudos com atenção e cautela. Como mencionado acima, a nanotoxicologia ainda é uma área bastante recente. Propostas de classificação de nanopartículas para fins regulatórios têm sido baseadas principalmente na biodegradabilidade dos seus componentes, no tamanho médio das partículas e nas características da sua superfície. Porém, enquanto não encontrarmos uma forma definitiva de generalizar o comportamento biológico das nanopartículas com base em suas características estruturais, os seus riscos precisarão ser avaliados caso a caso.

A direção do futuro

Viradas de ano são momentos em que muitas pessoas fazem um balanço sobre suas vidas. Onde acertaram, onde erraram, quais foram seus ganhos e suas perdas no ano que passou. O futuro é vorazmente desejado, e a expectativa de que seja auspicioso embala os primeiros dias de janeiro. O tempo (e como o percebemos) vem sendo foco de discussão de filósofos e poetas desde priscas eras. Para o filósofo Santo Agostinho, somente o presente existe – o passado é memória, o futuro ainda não aconteceu.



“Que é o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem o poderá apreender, mesmo só com o pensamento, para depois nos traduzir, por palavras, o seu conceito?”
[AGOSTINHO, S. Confissões. 18a. Edição. Rio de Janeiro: Vozes, 2002.]


Newton considerava o tempo linear, infinito e completamente dissociado do conceito de espaço. Einstein abalou as estruturas da física ao demonstrar que o tempo pode ser curvado e não existe independentemente do espaço. Stephen Hawking, para completar, afirmou que o tempo teve um início e terá um fim. Os físicos podem ser mais poéticos do que imaginam…
Estava perdida nesses pensamentos filosóficos até esse instante, quando escutei um barulho na cozinha – acabaram de derrubar um copo no chão! Os cacos de vidro que resultaram dessa queda jamais voltarão espontaneamente a ser copo, porque seu grau de desordem (entropia) aumentou. A segunda lei da termodinâmica é inexorável! O universo tende a aumentar sua entropia até um máximo e não há o que possamos fazer a respeito. Um vidreiro poderia coletar os cacos de vidro e reconstruir o copo, mas o seu aumento de ordem implicaria em um aumento de desordem dos arredores (pois energia seria requerida no processo de reconstrução, a qual seria gerada pela queima de combustível – e combustível queimado tem entropia maior que combustível não-queimado).
Se a entropia do universo sempre aumenta, então logicamente a entropia de ontem é menor que a de hoje, que por sua vez é menor que a de amanhã. “O crescimento da entropia designa, pois, a direção do futuro” [Ilya Prigogine, O Fim das Certezas – Tempo, Caos e Leis da Natureza, Editora UNESP, São Paulo, p. 25, 1996]. É a famosa seta do tempo, da qual somos atores, vítimas e, muitas vezes, fugitivos frustrados. Embora a passagem do tempo seja inevitável, a forma como a percebemos pode ser cruel ou apaziguadora. Tudo depende de nosso olhar.
“Move-se a mão que escreve, e tendo escrito, segue adiante;
Nem toda a tua Piedade ou o teu Saber a atrairão de volta, para que risque sequer metade de uma linha;
Nem todas as tuas Lágrimas lavarão uma só de tuas Palavras.”
Omar Khayyam (poeta, matemático e astrônomo persa)

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