A onda branca

Atualmente é período de férias dos alunos de graduação aqui na Unicamp. O campus está calmo, sem o típico frenesi que acompanha o período de aulas e provas. Nesse clima de paz tibetana, eis que olho pela janela do laboratório, e vejo uma cena inusitada: um grupo grande de alunos de jaleco, andando ordeiramente pelo corredor. Devo ter feito a maior cara de espanto, porque meus colegas imediatamente tomaram a iniciativa de explicar o significado daquela “onda branca”. Ela era composta por 80 alunos do ensino médio de escolas públicas da região, previamente selecionados por meio de uma redação. Esses alunos estavam ali para vivenciar a química através de palestras e experimentos nos laboratórios do Instituto de Química da Unicamp, devido ao Projeto de Extensão Química em Ação (detalhes no link). Alguém do lab tinha uma das apostilas usadas pelos alunos, que prontamente li. Os experimentos em particular merecem destaque por serem muito interessantes, baratos, simples e próximos de vivências prévias dos alunos – os reagentes são coisas como chocolate, gelatina, sabão, água tônica, óleo de cozinha, entre outros. A partir disso, são explicados conceitos complicados, como fluorescência, tensão superficial, crioscopia e condutividade, aplicando o método científico. Nenhuma surpresa que o projeto seja o sucesso que é.

Logo que soube do que se tratava aquela movimentação toda, lembrei da minha própria experiência lecionando química em caráter voluntário no Projeto Educacional Alternativa Cidadã, em Porto Alegre. Foi quando pude perceber como a química no ensino médio está distante das vivências da maioria da população. Um conhecimento que está tão intrincado a tudo que nos permeia, e que guarda tanta beleza, acaba sendo tristemente reduzido a repetições de fórmulas e regras. A consequência disso é o despertar de aversão e até mesmo ódio pela química como disciplina. Contornar esse problema, para o professor, é uma arte e um desafio. Especialmente quando laboratórios não estão disponíveis (afinal, química é uma ciência experimental).

“É muito difícil fazer os alunos compartilharem os prazeres da observação e da experimentação, momentos fundamentais na atividade da ciência, sem contar com um laboratório no qual possam ver e sentir os fenômenos, sejam eles físicos, químicos ou da esfera da Biologia, por exemplo. O laboratório permite de maneira imediata a percepção do aspecto lúdico da atividade cientifica. Ao observar os fenômenos, ou ao medir propriedades quantitativas, por exemplo, os estudantes passam a compreender que ciência não é apenas aquilo que está nos livros, já pronto, mas sim é uma atividade que se constrói com a observação e a experimentação.” As palavras, de autoria do professor Alberto Passos Guimarães, pesquisador titular do CBPF e diretor-adjunto do Instituto Ciência Hoje, foram tiradas de uma entrevista recente que pode ser acessada aqui e vale ser lida na íntegra.  Eu não sabia, mas o Instituto Ciência Hoje (que completa seus 30 anos de existência) tem um projeto interessantíssimo conhecido como Programa Ciência Hoje de Educação Científica (PCHAE). Nas palavras do professor, “o Programa atua em vários municípios brasileiros, treinando e motivando professores de Ciências para o emprego de métodos mais atraentes de ensino, baseados no uso da publicação Ciência Hoje das Crianças”. Iniciativas como o PCHAE e o Química em Ação têm o poder de mudar concretamente realidades locais para melhor por meio do estímulo à busca e transmissão de conhecimento.

Alguns dos experimentos propostos na apostila do Química em Ação poderiam ter sido apresentados (com adaptações) aos meus alunos, tranquilamente, em sala de aula. Foi o primeiro pensamento que tive ao ler o material. Ok, seria algo de caráter demonstrativo, mas já seria uma quebra na rotina das aulas que poderia fazer a química ganhar alguns corações. E todo coração ganho vale ouro, especialmente com a carência de nosso país por profissionais com formação nas áreas de exatas. Em um mundo onde a inovação tecnológica dita a força das economias, isso faz toda a diferença.

Um banco público para estimular a inovação no Brasil

O Brasil é um grande exportador de commodities, a ponto de já ter sido chamado de celeiro do mundo. No entanto, o mesmo não pode ser dito quando consideramos ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Obviamente, há setores que são exceção. Mas, num panorama geral, o que vemos é uma grande aversão do setor privado ao risco associado a investimentos em CT&I. A maioria das iniciativas nesse sentido ainda é realizada dentro dos muros das universidades. Além disso, há toda a burocracia e morosidade nacionais quando a questão envolve desenvolvimento tecnológico e patentes.
As empresas estão erradas em temer investimentos de risco? Ora, uma empresa visa prioritariamente o lucro. É por isso que o desenvolvimento estratégico do país passa pela criação de soluções que tornem investimentos em CT&I mais atraentes. Confesso que, quando soube que Aloizio Mercadante seria o novo Ministro de Ciência e Tecnologia, fiquei com um pé um pouco atrás. Porém, vejo com bons olhos uma novidade apresentada em Brasília na semana que passou: a FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), uma agência de fomento ligada ao MCT, recebeu carta patente do Banco Central para se transformar em um banco público de fomento à inovação, nos moldes do BNDES. Isso ocorrerá em até 3 anos, e tornará possível uma maior liberdade na captação de recursos que aquela existente hoje, atrelada ao FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Essa mudança se traduz em ampliação de incentivos fiscais para inovação, criação de fundos setoriais, e um estímulo ao desenvolvimento de tecnologia de ponta no setor privado brasileiro. Sejamos exportadores de commodities, sim. Mas sem esquecer que o PIB de um país também está diretamente ligado ao acúmulo de conhecimento passível de ser aplicado em processos produtivos. E a detenção desse conhecimento não só é estratégica, como também pode significar uma maior soberania nacional.

A celebração de 2011

[continuação do post anterior]

A primeira aula de um curso de química no colégio sempre começa a partir de um apanhado histórico geral. A influência dos egípcios, o papel dos alquimistas, etc etc. E ironicamente, uma pergunta que eu nunca tive curiosidade de fazer durante meus tempos de colégio foi: “- mas desde QUANDO se sabe tudo isso sobre a estrutura dos átomos, sobre o que define a natureza da matéria e suas transformações?” Sim, porque quando estamos na escola estudando sobre estrutura atômica, dá a sensação de que aquele conhecimento nasceu com a humanidade.
Na verdade, faz só 100 anos que sabemos que o átomo se constitui em um núcleo positivo muito pequeno, rodeado por um grande espaço que contém elétrons de carga negativa. É curioso pensar que certos eventos, como os primeiros testes com aeroplanos motorizados ou a transmissão dos primeiros sinais de rádio através do Atlântico, são anteriores a essa descoberta. Ainda deve haver pelo mundo senhores centenários que nasceram naquele ano de 1911! Minha bisavó, por exemplo (que tive a sorte de conhecer e com a qual convivi até ano passado), nasceu só 3 anos depois. (Adendo 10 abril 2011: cabe mencionar também que tenho uma avó que nasceu só 5 anos depois de 1911, e ainda está viva e lúcida – sou ou não sou uma privilegiada?)
E por que isso é tão relevante? Ora, imagine um mundo onde não se sabe que o átomo é composto por núcleo e eletrosfera. Está percebendo a ausência de algumas coisas? Não? Pense melhor. A obtenção de novas substâncias está diretamente relacionada à capacidade do ser humano em controlar a forma como os átomos se conectam uns com os outros. E isso passa pelo entendimento de como a eletrosfera é. E então? Chegou a alguma conclusão de como seria esse mundo? Bem, tire da sua rotineira existência um monte de coisas, que vão de uma simples embalagem de pasta de dente até a aspirina que você toma. E não esqueça de tirar também algumas dezenas de anos da sua expectativa de vida, caro leitor.

Para alguns, química é a ciência que estuda a matéria e suas transformações (embora também possa ser um bairro em Barra do Piraí, RJ). Para outros, é uma ferramenta usada pelo ser humano para reinventar seu próprio mundo. Algo dessa importância precisa ser celebrado. E esse ano foi escolhido pela UNESCO justamente para isso: celebrar a química! Celebremos, pois, o Ano Internacional da Química. Tim-tim!
P.S.1: Cabe salientar que a grande inspiração para definir 2011 como o Ano Internacional da Química foi o centenário da entrega do prêmio Nobel de Química à incomparável doutora Marie Curie.
P.S.2: Se você quiser saber o que está sendo feito no Brasil e no mundo para celebrar o Ano Internacional da Química, vale passar aqui e aqui.

Adeus, 2010!


DA FELICIDADE
Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!
(Mário Quintana)

Do desenvolvimento de uma vacina para o H1N1 até as experiências envolvendo o Grande Colisor de Hadrons no CERN (apresentado a nós in loco pelo professor Dulcídio), passando por bactérias sob holofotes, pode-se dizer que 2010 foi um ano agitado no mundo científico. No meio disso tudo, algo que achei particularmente interessante foi a demonstração de efeitos quânticos em um objeto visível (um ressonador super-resfriado que “vibrou” e “não vibrou” ao mesmo tempo!!), cujos resultados foram publicados em abril por pesquisadores dos Estados Unidos. No entanto, nem tudo são flores…. Cabe lembrar que 2010 também foi marcado pelo incêndio de proporções escandalosas (no sentido real e no figurado também) ocorrido no Instituto Butantã, cujas perdas foram inestimáveis. Além disso, o ano termina com uma proposta de corte de R$ 610 milhões no orçamento de 2011 para a ciência e tecnologia do Brasil, o que não deixa de causar certa apreensão. E se essas coisas causam desânimo, não se pode deixar de ter a esperança renovada ao ler a conclusão de artigo científico mais sensacional do ano, cuja pesquisa foi elaborada por uma turminha com idade entre 8 e 10 anos e publicada em uma revista de alto impacto pela qualidade de seu conteúdo científico (mais detalhes aqui e aqui): “Science is cool and fun because you get to do stuff that no one has ever done before” (Ciência é legal e divertida porque você faz coisas que ninguém nunca fez antes).
Imaginávamos, nos primeiros dias de 2010, que essas e outras coisas aconteceriam no decorrer do ano? Muitas delas, certamente que não (inclusive a posição que no fim das contas coube ao Grêmio no Brasileirão, admito….). Nessas horas vemos que um ano-novo de verdade é muito mais que um evento cronológico, é algo que construímos a cada dia dos 365 que temos. Como já escreveu Drummond (“Jornal do Brasil”, Dezembro/1997), “(..) não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar de arrependido pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar que por decreto da esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver. Para ganhar um ano-novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo (…) É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.”
Encerrando esse post do mesmo jeito que comecei – no embalo das palavras do meu querido Mário Quintana -, desejo a você, leitor, que encontre seus óculos na ponta do nariz nesse ano de 2011… Até lá …

Abaixo-assinado em apoio ao Ministro da Educação Fernando Haddad

Desde 2009 estou envolvida com um projeto de educação popular ligado à minha universidade, onde leciono química em caráter voluntário. Dedico 4h30min do meu tempo por semana a esta atividade por acreditar que todos merecem uma chance real de acesso à universidade pública, e também como forma de retribuir à sociedade (pelo menos um pouco) todas as oportunidades que tive e tenho no que se refere à formação acadêmica. Por consequência disso, acabo vivenciando ainda hoje o dia-a-dia de quem passa pelo processo longo e penoso (e muitas vezes ingrato) que é o vestibular.
O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) surgiu como uma ferramenta para “democratizar as oportunidades de acesso às vagas federais de ensino superior, possibilitar a mobilidade acadêmica e induzir a reestruturação dos currículos do ensino médio“. Já estava mesmo na hora de algo assim surgir no Brasil. O ENEM foi criado em 1998, e de lá para cá sofreu várias modificações e o número de inscritos aumentou de forma significativa. Na edição de 2010, foram mais de 4 milhões de inscritos e, como o leitor já deve ter visto na mídia, problemas ocorreram nas provas de cerca de 1800 estudantes. Os prejudicados estão sendo identificados e poderão realizar nova prova, se assim desejarem.
O acontecimento mais triste nesse episódio foi a sua escandalização oportunista como forma de fragilizar a figura do Ministro da Educação Fernando Haddad, um dos mais bem avaliados ministros do atual governo. Recebi há pouco por email um link para um abaixo-assinado online em apoio ao ministro Haddad. Neste, os signatários afirmam sua confiança na capacidade de gestão do ministro. Eu já assinei (#850). Se você pensa da mesma forma, por favor assine-o também.
clique aqui para assinar o abaixo-assinado – basta informar seu nome e email.

Sobre o IX Encontro da SBPMat e o ouro colonial

Redigido em 28/10/2010, a uns 10 000 pés de altitude

“No momento em que estou escrevendo essas linhas, caro leitor, estou saindo de um mergulho ao passado. Mais exatamente, à Vila Rica das Minas Gerais do séc. XVIII. Acabei de embarcar em um avião que partiu de Belo Horizonte, com destino a Porto Alegre. Nesses últimos dias, participei do IX Encontro da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat), que ocorreu em Ouro Preto/MG. Nunca tinha estado em Minas, e fiquei encantada com o que vi. As cidades são lindas, o povo é absurdamente amável e o estado todo guarda um valioso patrimônio histórico. Sem contar que o sotaque mineiro é delicioso de ouvir (como já mencionei no twitter, eu não tenho sotaque, quem tem sotaque são os outros….). No entanto, embora eu tenha mergulhado ao passado, a palavra que ressoou nos últimos dias nesse lugar foi inovação.
Como diria Kentaro Mori, quais seriam os nexos?
Quem já esteve em Ouro Preto há de concordar que é impossível não se maravilhar com as belezas locais. E também é impossível não se sentir arrasado ao tomar consciência do trabalho escravo envolvido na construção do que foi um dos grandes pólos econômicos do Brasil colonial. O ouro brasileiro sustentou Portugal, que por sua vez, financiou o desenvolvimento e crescimento da manufatura em larga escala na Inglaterra, e com isso, o advento da Revolução Industrial. E essa mudança na lógica socioeconômica foi fundamental para o estabelecimento do capitalismo moderno.
Neste nosso séc. XXI, como uma das consequências desse processo, estamos inseridos num mundo onde é preciso inovar para fazer a economia girar. Nesse contexto, a riqueza das nações é medida em grande parte pelo seu domínio de tecnologias estratégicas. É por isso que conhecimento é valor e quem inova sai na frente. Nesse contexto, a nanotecnologia é área portadora de futuro pelo seu grande potencial em soluções inovadoras nos campos da medicina, agronomia, computação, entre outros. Neste congresso (um dos maiores do país sobre pesquisa de materiais), não pude deixar de notar o alto número de trabalhos de nanociência e nanotecnologia envolvendo prata e carbono inorgânico. O crescente interesse científico e tecnológico por tais materiais pode ser um indicativo de que o Brasil não está perdendo o bonde da história. E por falar em história, é curioso pensar como o ouro brasileiro extraído há mais de 200 anos pelos escravos, indiretamente, acabou contribuindo para o estabelecimento da cultura da inovação que tomou conta do mundo. Inovar e sair na frente, meus caros compatriotas, não é só questão de estratégia, é uma dívida histórica.”

Marcos regulatórios para produtos nanotecnológicos: o que há de novo no front brasileiro

Nanotecnologia não é apenas um tema da moda. É uma área considerada estratégica pelo governo brasileiro, ganhando destaque na Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP). Em 23 de novembro de 2009, representantes do governo, do setor privado e da academia reuniram-se para a primeira reunião do Fórum de Competitividade de Nanotecnologia, iniciativa do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Quatro Grupos de Trabalho (GT) foram formados, com o objetivo de discutir a inserção da nanotecnologia em 4 temáticas de interesse nacional: Mercado, Marco Regulatório, Cooperação Internacional e Formação de Recursos Humanos. O resultado dessas discussões, onde se identificaram gargalos, oportunidades e desafios da nanotecnologia (cujos planos de trabalho estão disponíveis na página do MDIC), pode vir a ser materializado na forma de novas Políticas Públicas com foco nessa área. Isso é de importância vital, visto que já temos produtos com nanotecnologia sendo comercializados no país, e até o momento mais de 90 empresas de base nanotecnológica foram identificadas em território nacional (MCT, MIC, ABDI). E uma das áreas de maior interesse para a população, sem dúvida, é a regulação específica desses produtos, ainda inexistente.
Pois bem, recentemente foi publicada a proposta do GT Marco Regulatório, que sistematizou todas as informações levantadas nas reuniões deste grupo. Neste documento, encontram-se definições e respostas a questionamentos relevantes, como o que é nanotecnologia, qual o cenário brasileiro e mundial para regulação de produtos nanotecnológicos, quais os desafios e gargalos para definir marcos regulatórios específicos para a nanotecnologia, entre outros. No final, está a parte que considero mais interessante: uma proposta de algoritmo para classificar produtos nanotecnológicos. Como já havia sido comentado nesse blog, é preciso considerar não só o tamanho e a composição, mas também as novas propriedades dos nanomateriais para tornar mais claro o seu grau de risco. Este algoritmo proposto pelo GT Marco Regulatório segue exatamente essa premissa, e coloca o Brasil na vanguarda do tema.
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PS.: às vezes recebo questionamentos sobre o fato de que proteínas e material genético são nanométricos e por isso deveriam ser considerados nanotecnológicos. Nesse contexto, reproduzo aqui um trecho do relatório (pg. 8/14) que determina a diferença entre nanomaterial e material com dimensões nanométricas (sim, há diferença!)

Cabe salientar a diferença de conceitos entre um nanomaterial e um material nanoscópico (ou material nanométrico). O algoritmo apresentado se refere à classificação de um nanomaterial e não de materiais nanométricos. Um nanomaterial deve seguir o conceito apresentado acima (ISO TC229). Por outro lado, um material nanométrico é aquele que se encaixa em dimensão na faixa de 1 a 1000 nm, mas não apresenta novas propriedades ou aplicações quando comparados com a substância na sua forma molecular ou bulk (uma porção da matéria).

Nem sempre ser nanométrico significa ser nanotecnológico……….

Alguns dias entre físicos no Rio

Instigantes e agradabilíssimos. Assim foram meus dias no início dessa semana na cidade maravilhosa. Como o leitor já sabe, tive o privilégio de participar de uma mesa-redonda sobre “a prática da divulgação científica através de novas mídias” juntamente com os professores Leandro Tessler e Dulcídio Braz Jr., durante a VIII Escola do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF/MCT). Gostaria de agradecer a todos do CBPF, em especial à Dayse Lima e ao prof. Luiz Sampaio, pela recepção calorosa e pela oportunidade de participar desse evento.
Antes de discorrer sobre a mesa-redonda, cabem parênteses sobre dois momentos prévios que achei marcantes. O primeiro foi a entrega do Prêmio CBPF de Física de 2010 ao prof. Vanderlei Bagnato durante a cerimônia de abertura da Escola. Os primeiros minutos da fala do professor não foram sobre o tema de seu trabalho (turbulências quânticas em condensados de bose-einstein), mas sim sobre a relevância da pesquisa científica para o crescimento e o desenvolvimento de um país. De acordo com o prof. Bagnato, uma nação competitiva é aquela que estimula a prática científica. Ouvi-lo foi emocionante. (UPDATE 02/08/2010: o vídeo pode ser conferido aqui). O segundo momento foi assistir à palestra do prof. Dulcídio para a turma do PROFCEM (Programa de Formação Continuada de Professores do Ensino Médio), onde ele demonstrou como o blog pode ser uma extensão da sala de aula com muito sucesso. Ouvir o prof. Dulcídio fez com que eu percebesse que a física pode mesmo ser pop – e que isso ocorre quando o estudante é estimulado a pensar.
Ambos os momentos, na minha concepção, estão relacionados a coisas muito próximas uma mesma coisa: a necessidade de valorização de uma cultura científica no nosso país. Interessante notar que, no fundo, nosso debate na mesa-redonda também acabou tendo essa mensagem. E para que a ciência faça parte da cultura, ela deve vencer algumas barreiras há muito levantadas. Urge desmistificar os temas de ciência (em especial aqueles mais polêmicos) e a figura do cientista. A web 2.0 pode ser uma ferramenta valiosa para isso por ser acessível, relativamente barata e permitir uma comunicação direta. Aproximar as pessoas das coisas da ciência deve ser um compromisso do cientista. Por outro lado, compreender o que é divulgado sobre CT&I e as implicações de seus avanços será um privilégio de poucos se a prática da educação científica não for estimulada desde a primeira infância. Pensar cientificamente não é coisa para poucos eleitos geniais, é algo que pode ser aprendido por qualquer um que tenha curiosidade sobre como o mundo funciona. E curiosidade é característica inerente ao ser humano.
Pê-esses…
P.S.1: Uma pena que o espaço aqui não tenha o tamanho das cerca de 2h de discussão, para poder transcrevê-la em detalhes… quando o vídeo da mesa-redonda estiver no ar, informarei o link. As impressões dos demais debatedores podem ser encontradas aqui (D.B.) e aqui (L.T.).
P.S.2: Merece destaque o fato de que o CBPF foi agraciado com o Prêmio José Reis de Divulgação Científica de 2006 (modalidade instituição), pelo “envolvimento e o interesse da instituição na divulgação de temas científicos para sensibilização da sociedade, (..) o histórico da instituição, [e] a qualidade e a penetração do material produzido.” Recebi gentilmente materiais interessantíssimos produzidos e/ou promovidos pelo CBPF nessa linha de divulgação, que merecem um post à parte.
P.S.3: Um bônus dessa viagem foi conhecer a redação da Ciência Hoje, rever o pessoal de lá que é bacaníssimo, e conhecer o físico e jornalista Cássio Leite Vieira (que talvez não saiba, mas me ensinou quase tudo que sei sobre textos de divulgação científica através de seu pequeno [grande] manual).
P.S.4: Ter convivido nesses poucos dias com pessoas cujo trabalho admiro, tais como o prof. Alberto Passos Guimarães Filho, não tem preço.

Blogs de ciência podem estimular o engajamento público em temas de C&T?

Há pouco mais de um ano, percebi que havia uma grande lacuna no conhecimento das pessoas em geral sobre nanobiotecnologia e seus impactos. E as pessoas têm o direito de saber sobre esse assunto, sem histrionismos ou falácias, já que esta tecnologia estará cada vez mais presente no dia-a-dia de todos. Não sou jornalista, não sou dona de revista ou jornal, nem sequer faço parte do corpo docente de alguma universidade (ainda sou aprendiz, com todas as vicissitudes de tal condição). No entanto, tenho um computador e acesso à internet, além de ideias… e um gosto especial pela escrita. Daí a usar um weblog como ferramenta para divulgar o tema Nanobiotecnologia, que é meu foco de estudo offline, foi um pulo. Mas qual meu objetivo, no final das contas? Informar? Ensinar? Criticar? Intercalar a função de arauto da boa-nova com a de advogada-do-diabo frente a um suposto milagre? Talvez tudo isso junto. Engraçado como às vezes só refletimos mais profundamente sobre nossas práticas quando há um estímulo pontual para que isso aconteça. O meu foi um convite muito especial que recebi há alguns meses: participar de uma mesa-redonda intitulada “A prática da divulgação científica e as novas mídias sociais”, que ocorrerá durante a VIII Escola do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF/MCT). O tema é novo e ainda se falará muito dele: como (e porque) weblogs e redes sociais podem ser agentes difusores do conhecimento científico e gatilhos para o engajamento público nos temas de C&T. No entanto, é difícil entender o novo sem conhecer aquilo que o precedeu. Por isso, olhar para trás foi meu primeiro movimento para tentar clarear algumas ideias que vêm rondando meus pensamentos desde que o Bala Mágica foi lançado.
Antes do século XVII, não havia uma distinção clara entre ciência e filosofia. A partir do século XVII, alguns pensadores, como o italiano Galileu Galilei (1564-1642), o francês René Descartes (1596-1650) e o inglês Isaac Newton (1642-1727), quebraram paradigmas ao defender o uso da experimentação, do método, da matemática e a exclusão do misticismo para entender os fenômenos naturais. Não é a toa que os historiadores chamam esse período de Revolução Científica. Logicamente, o ambiente social daquela época propiciou tal revolução. Dentre os acontecimentos que favoreceram a Revolução Científica cabe destacar a invenção da prensa móvel pelo alemão Johannes Gutenberg (1398-1468), que por si só já iniciou outra revolução, a da Imprensa. Eis a primeira reflexão: comunicação sempre foi uma peça-chave para o estabelecimento e a propagação da ciência.
O advento da imprensa tirou as amarras impostas por um conjunto de clérigos sobre o que é a Verdade, já que a produção de material escrito não era mais privilégio de alguns sacerdotes enclausurados em seus mosteiros. Estava dada a largada para a disseminação do livre-pensamento. Pelo menos na teoria e pelo menos para os “incluídos”, capazes de ler. Desde então, o número de alfabetizados aumentou, e o custo para adquirir livros, revistas, jornais, etc foi se tornando mais acessível. De lá para cá, a ciência evoluiu e, com ela, cresceram as esperanças de que as descobertas científicas contribuiriam para tornar o mundo um lugar melhor. Começou a surgir a noção de que era preciso “educar o povo” nas coisas de ciência, por meio da transmissão do conhecimento do especialista para o leigo, de forma verticalizada. No entanto, o acúmulo de informação não significa a compreensão dessa informação. E a informação fora de um contexto socioeconômico raramente desperta interesse público. Isso é particularmente importante no caso de assuntos científicos, porque a ciência gera muito mais perguntas que respostas, e jamais será capaz de oferecer uma Verdade, mas apenas modelos e aproximações. Essa ideia de transmissão verticalizada da informação passou a ser questionada, e estratégias dialógicas foram (e ainda são) propostas para substituí-la. Passou-se a falar em dar uma chance ao diálogo entre cientistas e leigos. E um diálogo é feito de perguntas e respostas. Eis a segunda reflexão: talvez a comunicação científica deva cada vez mais incluir as perguntas, e não só oferecer as respostas. A comunicação de ciência não pode mais ser uma via de mão única. Afinal, cabe à sociedade debater quais perguntas são mais importantes/urgentes, pois é esta sociedade quem sentirá as implicações dos avanços da C&T. Mais que informar sobre as últimas novidades dos periódicos científicos, a divulgação científica deve fomentar o exercício da cidadania.
Será que a internet, com seu efeito de rede e alto poder de disseminação de informações, pode fazer diferença nesse processo? Quais seriam as consequências disso e os desafios a serrem enfrentados, hoje e no futuro? Essas perguntas suscitaram mais reflexões, que reservo para o debate com os professores Dulcidio Braz Júnior (do blog Física na Veia!) e Leandro Tessler (IFGW/UNICAMP, do blog Cultura Científica), com moderação do professor Marcelo Knobel (IFGW/UNICAMP), nessa terça-feira (20/07), que ocorrerá às 18h30min no CBPF.

Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia – 2010

Eu sei que a notícia está um poquinho atrasada, mas ainda dá tempo!
No dia 5 de abril foi lançado o Prêmio MERCOSUL de Ciência e Tecnologia 2010, com o patrocínio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação Produtiva da Argentina e a parceria da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT/Brasil), do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e do Movimento Brasil Competitivo (MBC). Podem participar candidatos vinculados ao MERCOSUL (seja pela nacionalidade, pela naturalidade ou pela residência nos países membros e associados), nas categorias “Iniciação Científica”, “Estudante Universitário”, “Jovem Pesquisador” e “Integração” (mais informações aqui).
Esse ano, o tema do prêmio é Nanotecnologia. A data-limite para envio dos trabalhos é 23 de agosto de 2010. O regulamento completo está disponível no site da UNESCO
http://eventos.unesco.org.br/premiomercosul.

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