Uma longa viagem….
Devo desculpas ao leitor pela longa ausência. Muitas coisas ocorreram nesse último mês, e o pobre Bala Mágica ficou um tanto quanto abandonado. Aliás, gostaria de agradecer aos leitores que, nesse período, escreveram-me perguntando sobre novos posts, enviando palavras de estímulo e apreço, pedindo-me para não desistir. Foi muito bom receber esse feedback, inesperado e gratificante demais. Saibam que este blog, que sempre acaba me surpreendendo, é “indesistível”! 😉
Não sei você, caro leitor, mas eu converso muito com meus botões…, e nesse período ausente do blog abusei ainda mais da paciência deles. Agora que estou cá de volta, vou contar um pouco sobre essas conversas (e abusar da SUA paciência, logicamente). Nos próximos posts prometo que volto ao tema corrente deste espaço: nanocoisas e seus diversos impactos. Bem, vamos lá…
Para que serve fazer ciência? E por que o cientista acaba seguindo esse caminho?
A dúvida é justa, e pode ser motivo de angústia durante certos períodos da trajetória de um cientista, pois a dedicação necessária para trabalhar com pesquisa científica é alta e algo para toda a vida. Nesse processo, muitas vezes é preciso abdicar de certas coisas muito mais do que se gostaria…. Pode até mesmo ser preciso ir para bem longe, do outro lado do globo, deixando sua cultura, sua língua e pessoas queridas para encontrar novos horizontes. E o pesquisador vai em frente, mesmo assim. Que compensação paga tudo isso? O que o move de forma tão profunda?
Um desejo imenso de mudar o mundo? Basta começar nesse caminho para saber que mesmo um único paradigma científico é dificílimo de mudar, que se dirá o mundo! Para encontrar formas de melhorar o dia-a-dia das pessoas? Pode ser, mas nem sempre a ciência é transformada em desenvolvimento tecnológico (e nem todo desenvolvimento tecnológico é oriundo da ciência).
Talvez a resposta seja, no fundo, simplesmente sede de conhecimento. Estranho ler isso? Ora, o avanço do conhecimento por si só é algo de valor inestimável. É por causa disso que hoje podemos dizer com convicção que relâmpagos não são divindades, mas sim descargas de energia elétrica. É por causa do avanço do conhecimento que sabemos que o planeta Terra é só mais um entre infinitos outros, num universo gigantesco. E que estarmos neste pálido ponto azul divagando sobre tais coisas é um milagre na acepção mais esplêndida dessa palavra. Carl Sagan dizia: Nós somos uma maneira do Cosmos conhecer a si mesmo. Nada mais lúcido, nada mais simples, nada mais belo. Patrimônio da humanidade não é só arte e cultura. Ciência também é. E, justamente por isso, sempre valerá a pena construí-la.
(Para Fabiano, que fará uma longa viagem…)
Para que serve fazer ciência? E por que o cientista acaba seguindo esse caminho?
A dúvida é justa, e pode ser motivo de angústia durante certos períodos da trajetória de um cientista, pois a dedicação necessária para trabalhar com pesquisa científica é alta e algo para toda a vida. Nesse processo, muitas vezes é preciso abdicar de certas coisas muito mais do que se gostaria…. Pode até mesmo ser preciso ir para bem longe, do outro lado do globo, deixando sua cultura, sua língua e pessoas queridas para encontrar novos horizontes. E o pesquisador vai em frente, mesmo assim. Que compensação paga tudo isso? O que o move de forma tão profunda?
Um desejo imenso de mudar o mundo? Basta começar nesse caminho para saber que mesmo um único paradigma científico é dificílimo de mudar, que se dirá o mundo! Para encontrar formas de melhorar o dia-a-dia das pessoas? Pode ser, mas nem sempre a ciência é transformada em desenvolvimento tecnológico (e nem todo desenvolvimento tecnológico é oriundo da ciência).
Talvez a resposta seja, no fundo, simplesmente sede de conhecimento. Estranho ler isso? Ora, o avanço do conhecimento por si só é algo de valor inestimável. É por causa disso que hoje podemos dizer com convicção que relâmpagos não são divindades, mas sim descargas de energia elétrica. É por causa do avanço do conhecimento que sabemos que o planeta Terra é só mais um entre infinitos outros, num universo gigantesco. E que estarmos neste pálido ponto azul divagando sobre tais coisas é um milagre na acepção mais esplêndida dessa palavra. Carl Sagan dizia: Nós somos uma maneira do Cosmos conhecer a si mesmo. Nada mais lúcido, nada mais simples, nada mais belo. Patrimônio da humanidade não é só arte e cultura. Ciência também é. E, justamente por isso, sempre valerá a pena construí-la.
(Para Fabiano, que fará uma longa viagem…)
Dispersando: podcast de estréia do ScienceBlogs Brasil
O Igor já deu o anúncio no 42.
O primeiro podcast do ScienceBlogs Brasil ja está disponível, com participação de Rafael (RNAm) e do nosso ilustre editor-chefe, Igor (42) – além de euzinha aqui, com o maior sotaque gaudério (nem sabia que tinha um, hehehe). Compõem este primeiro podcast discussões que vão da eterna dicotomia entre donos de gatos e de cachorros (e o quão inteligentes eles supostamente são) até o conceito de verdade em ciência e porque não é absurdo um cientista mudar de opinião, passando por algumas críticas sobre como a mídia divulga alguns estudos científicos (Update 22/04/2010: informações sobre a evolução de hábitos alimentares a partir de obras de arte feitas em diferentes épocas ) .
Eis o link: Dispersando Podcast Vol.1. Enjoy!
Eis o link: Dispersando Podcast Vol.1. Enjoy!
Você foi vítima de um plano maquiavélico
Este blog, dedicado à nanobiotecnologia e afins, tem tratado também de temas diversos como teoria do caos, segunda lei da termodinâmica e seta do tempo. E você, leitor, deve ter se perguntado:
“- Ora bolas, o que essas coisas têm a ver com a temática do Bala Mágica?”
Pois agora revelarei: tudo isso foi maquiavelicamente arquitetado como uma grande introdução a …. este post fatídico! Há meses estou enrolando para responder uma pergunta feita aqui no Bala Mágica pelo Joao, do Crónica da Ciência. O motivo? Muito simples. Eu precisei estudar a respeito.
Eis a pergunta que deu início a tudo:
(Joao) “O que achas disto: http://www.newscientist.com/article/dn2572-second-law-of-thermodynamics-broken.html, as implicações para a nanotecnologia são realmente novas?”
Depois de ler essa pergunta, passar os olhos pela referência científica original, babar por alguns segundos olhando para a tela do computador num estado semi-catatônico e lembrar daquela célebre frase de Sócrates (o filósofo, não o jogador de futebol), comecei a destrinchar a teoria e formular uma resposta. E consegui, finalmente! Você poderá conferi-la no próximo post (com direito a medaglia!). Aguarde e confie.
[continua….]
“- Ora bolas, o que essas coisas têm a ver com a temática do Bala Mágica?”
Pois agora revelarei: tudo isso foi maquiavelicamente arquitetado como uma grande introdução a …. este post fatídico! Há meses estou enrolando para responder uma pergunta feita aqui no Bala Mágica pelo Joao, do Crónica da Ciência. O motivo? Muito simples. Eu precisei estudar a respeito.
Eis a pergunta que deu início a tudo:
(Joao) “O que achas disto: http://www.newscientist.com/article/dn2572-second-law-of-thermodynamics-broken.html, as implicações para a nanotecnologia são realmente novas?”
Depois de ler essa pergunta, passar os olhos pela referência científica original, babar por alguns segundos olhando para a tela do computador num estado semi-catatônico e lembrar daquela célebre frase de Sócrates (o filósofo, não o jogador de futebol), comecei a destrinchar a teoria e formular uma resposta. E consegui, finalmente! Você poderá conferi-la no próximo post (com direito a medaglia!). Aguarde e confie.
[continua….]
A teoria do caos e o que você tem a ver com isso
Você está cansado depois de um dia exaustivo de trabalho, mas ainda não está na hora de ir para casa. Aí você pega um lápis e começa a brincar com ele, para distrair. Coloca o lápis em cima da mesa e dá um peteleco. O lápis se move até uma nova região da mesa, fica oscilando um pouco e para. Pode não parecer, mas há uma teoria muito interessante que explica tudo o que aconteceu com esse lápis. Pode-se dizer que o lápis parado está em equilíbrio termodinâmico e o lápis em movimento está fora do equilíbrio. Equilíbrio é um estado do sistema (que nesse caso é sua mesa contendo o lápis) onde não se observam mudanças ao longo do tempo – um lápis parado está sempre no mesmo lugar, do mesmo jeito. Logicamente, estados fora do equilíbrio mudam ao longo do tempo. O interessante é que esses estados fora do equilíbrio podem ser divididos em dois grupos. Observe que quando você dá o peteleco no lápis, ocorrem duas situações diferentes em sequência: primeiro ele muda de posição até chegar a uma nova região da mesa, depois ele fica oscilando até chegar no seu estado de equilíbrio. A primeira situação corresponde a um estado longe do equilíbrio, e a segunda situação é um estado próximo do equilíbrio. O peteleco que você deu nada mais é que uma força externa atuando no seu lápis, o que acaba causando sua movimentação. A mudança gerada por essa força é uma flutuação em relação ao estado de equilíbrio. Onde quero chegar com tudo isso? Elementar, meu caro Watson. O mundo em que vivemos não está em equilíbrio termodinâmico.
Perto do equilíbrio, as flutuações (lembra do peteleco no lápis?) tendem a se tornar cada vez menores conforme o tempo passa. Nesse caso, a resposta do sistema a uma mudança é diretamente proporcional à sua intensidade. Porém, longe do equilíbrio, as flutuações tendem a se tornar cada vez maiores e o sistema evolui para um novo estado entre numerosos possíveis. Aqui, a resposta não é mais necessariamente proporcional à intensidade da mudança e não se pode ter certeza de como exatamente o sistema irá evoluir. Pequenas causas podem gerar grandes efeitos. É por isso que sistemas longe do equilíbrio só podem ser explicados a partir de probabilidades – aí está a famosa teoria do caos. Grande parte do que observamos no universo está longe do equilíbrio.
Os novos estados que o sistema longe do equilíbrio atinge podem ser bastante organizados, formando o que os físicos chamam de estruturas dissipativas. Dessa forma, fica fácil entender que as flutuações (ainda lembra da história do lápis?) de um sistema instável são capazes de gerar ordem. É por isso que eu, você, este computador, as nuvens do céu (e claro, né…, as nanopartículas) existem. Eis, caro leitor, o que a teoria do caos tem a ver com você: o ser humano, em toda sua complexidade, é um belo exemplo de estruturas dissipativas* oriundas de flutuações – que iniciaram nos primórdios da vida na Terra.
*estruturas dissipativas – assim mesmo, no plural, porque o ser humano é mais que (apenas) uma estrutura dissipativa.
Perto do equilíbrio, as flutuações (lembra do peteleco no lápis?) tendem a se tornar cada vez menores conforme o tempo passa. Nesse caso, a resposta do sistema a uma mudança é diretamente proporcional à sua intensidade. Porém, longe do equilíbrio, as flutuações tendem a se tornar cada vez maiores e o sistema evolui para um novo estado entre numerosos possíveis. Aqui, a resposta não é mais necessariamente proporcional à intensidade da mudança e não se pode ter certeza de como exatamente o sistema irá evoluir. Pequenas causas podem gerar grandes efeitos. É por isso que sistemas longe do equilíbrio só podem ser explicados a partir de probabilidades – aí está a famosa teoria do caos. Grande parte do que observamos no universo está longe do equilíbrio.
Os novos estados que o sistema longe do equilíbrio atinge podem ser bastante organizados, formando o que os físicos chamam de estruturas dissipativas. Dessa forma, fica fácil entender que as flutuações (ainda lembra da história do lápis?) de um sistema instável são capazes de gerar ordem. É por isso que eu, você, este computador, as nuvens do céu (e claro, né…, as nanopartículas) existem. Eis, caro leitor, o que a teoria do caos tem a ver com você: o ser humano, em toda sua complexidade, é um belo exemplo de estruturas dissipativas* oriundas de flutuações – que iniciaram nos primórdios da vida na Terra.
*estruturas dissipativas – assim mesmo, no plural, porque o ser humano é mais que (apenas) uma estrutura dissipativa.
Agradecimento ao Prof. Paulo Netz, pelas contribuições e pela leitura crítica desse texto.
O pai da ideia ….
Ilya Prigogine ganhou o Prêmio Nobel em Química de 1977 pelos seus estudos sobre termodinâmica fora do equilíbrio e por propor a teoria das estruturas dissipativas. As informações desse post foram baseadas principalmente no seu livro “Termodinâmica: dos motores térmicos às estruturas dissipativas“, que utilizei como fonte de estudo ao longo desse semestre na disciplina de Físico-Química Avançada (a qual foi, sem dúvida, a maior lição de humildade que tive até o momento neste meu doutorado em química).
O pai da ideia ….
Ilya Prigogine ganhou o Prêmio Nobel em Química de 1977 pelos seus estudos sobre termodinâmica fora do equilíbrio e por propor a teoria das estruturas dissipativas. As informações desse post foram baseadas principalmente no seu livro “Termodinâmica: dos motores térmicos às estruturas dissipativas“, que utilizei como fonte de estudo ao longo desse semestre na disciplina de Físico-Química Avançada (a qual foi, sem dúvida, a maior lição de humildade que tive até o momento neste meu doutorado em química).
A ciência também segue as tendências da moda
(fonte: PhDComics)
Será que o futuro nos reserva uma “picociência” para acabar com o reinado das nanocoisas?
;-D