Saúde !

ResearchBlogging.org Semana de recesso entre o Natal e o Ano Novo é sempre assim: muita comida, muita bebida, preguiça …. Por que fugir desses temas, não é mesmo? Falemos de comida e de bebida! Tenho muita curiosidade em experimentar as culinárias grega e turca (melhor ainda se fosse in loco, não?)
Os gregos e os turcos têm o costume de oferecer mezedes, que são porções de antepastos, para acompanhar uma bebida antes das refeições. As bebidas preferidas dos gregos e dos turcos nessas ocasiões são o ouzo e o raki, respectivamente. Elas são uma espécie de aguardente com essência de anis, e podem ser degustadas puras ou adicionadas de água. No último caso, a mistura adquire uma cor esbranquiçada. É por isso que o raki é conhecido como “leite de leão” lá na Turquia (sem piadinhas infames nesse momento, hein?). Isso também ocorre com outra bebida dessa parte do mundo, o arak árabe, que é conhecido como “leite de camelo” pelos mesmos motivos.
Achei um vídeo um tanto quanto tosco de japinhas felizes preparando uma dose de raki. Observe que o camarada do vídeo mistura água (incolor) ao raki puro (incolor). Nesse momento, ocorre a formação instantânea da mistura leitosa.
Em média, essas bebidas têm de 40 a 50 % de teor alcoólico, e todas contêm essência de anis, que é um óleo essencial. Quando água é adicionada à bebida, o óleo de anis (que estava solúvel na bebida) se torna insolúvel devido ao excesso de água. No entanto, como a água e o álcool se misturam, o óleo de anis se organiza na forma de gotas extremamente pequenas. O resultado é uma mistura com aspecto leitoso, devido ao espalhamento da luz pelas gotas de óleo. O processo de formação dessa mistura foi estudado e batizado de Efeito Ouzo pelo grupo de pesquisadores liderados por Joseph Katz (Johns Hopkins University Baltimore, USA), em homenagem à bebida grega (se você ouvir falar por aí em emulsificação espontânea, saiba que é a mesma coisa).
O princípio termodinâmico que explica a formação e a estabilidade dessas emulsões está relacionado com o diagrama de fases de uma mistura complexa. O álcool, a água e o óleo de anis estarão ou não solúveis de acordo com a concentração de cada um na mistura. Se um dos componentes não estiver solúvel, a mistura pode ser instável (com separação das fases, tal como óleo de soja e vinagre misturados grosseiramente) ou estável (se o tamanho das gotas de óleo for muitíssimo pequeno). O interessante do Efeito Ouzo é que ele permite não só o preparo de uma bebida para deleite de gregos, turcos e admiradores, mas também a obtenção de nanopartículas capazes de liberar fármacos no organismo. Sim, caro leitor, esse princípio é usado em laboratório para preparar nanocápsulas poliméricas: um solvente orgânico capaz de se misturar em água (ex. álcool, acetona) contendo óleo, polímero e fármaco, é vertido em água contendo um tensoativo (uma espécie de estabilizante) e… voilá! Nanocápsulas novinhas saindo!!!
Bem, depois desse papo todo a respeito de comidas, bebidas e – ok – nanocoisas, só resta desejar uma boa e preguiçosa semana. Como diriam os turcos antes de um gole de raki:
Şerefinize! Afiyet olsun!
P.S.: Eu nunca testei, mas provavelmente a brincadeira dos japinhas do vídeo possa ser feita também com absinto.

Ganachaud, F., & Katz, J. (2005). Nanoparticles and Nanocapsules Created Using the Ouzo Effect: Spontaneous Emulsification as an Alternative to Ultrasonic and High-Shear Devices ChemPhysChem, 6 (2), 209-216 DOI: 10.1002/cphc.200400527
Vitale, S., & Katz, J. (2003). Liquid Droplet Dispersions Formed by Homogeneous Liquid−Liquid Nucleation: “The Ouzo Effect” Langmuir, 19 (10), 4105-4110 DOI: 10.1021/la026842o

O pulo-do-gato que permitiu curar câncer usando remédio para artrite

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O trabalho ainda está no prelo, mas os resultados são tão bacanas que gostaria de dividir com vocês aqui no Bala Mágica. Não, essa não é uma ego trip. Os resultados são de uma colega de laboratório, a Andressa. O trabalho em questão junta gliomas (que são um tipo de câncer maligno do sistema nervoso central que atinge em geral adultos jovens e pode matar em poucos meses) e indometacina (uma molécula antiinflamatória indicada para artrite, presente em medicamentos como o Indocid). Essas duas coisas não tinham nada a ver uma com a outra in vivo. Até agora.
Já havia sido demonstrado antes que a indometacina poderia matar as células cancerosas responsáveis pelo glioma em plaquinhas no lab. No entanto, nunca se soube de ninguém que tenha tomado indometacina até hoje e tenha se curado dessa doença, que pode causar convulsões, dor de cabeça, vômitos em jato, parestesias e hemianospia.
O estudo em questão mostrou que, quando a indometacina é incorporada nessas nanocápsulas, ela adquire a capacidade de atravessar a barreira entre o sangue e o cérebro. Esse foi o pulo-do-gato. Ao chegar no cérebro de ratos, a indometacina nanoencapsulada causou uma redução no tamanho dos tumores cerebrais. A indometacina pura, ao contrário, não fez nem cócegas. O primeiro grupo de ratos, que recebeu as nanocápsulas, viveu muito mais tempo que os outros grupos. Hoje em dia, o tratamento quimioterápico de gliomas causa muito sofrimento aos pacientes e seus benefícios são mínimos. O que se faz é retirar o tumor com cirurgia para descomprimir o cérebro e aliviar a hipertensão intracraniana. O problema é que quase sempre é impossível retirar todas as células afetadas e o câncer volta. Esse estudo abre uma nova perspectiva de tratamento quimioterápico de gliomas sem efeitos colaterais mais graves (os efeitos colaterais seriam os mesmos que os de outros remédios contendo indometacina).
Parabéns aos autores pelo excelente trabalho!

P.S.: Saliento que esse é um estudo em fase pré-clínica (ou seja, em animais). Ainda há muito chão antes de um medicamento como esse chegar ao mercado.

Glossário

Parestesias: são sensações subjetivas da pele (ex., frio, calor, formigamento, pressão, etc.) que são vivenciadas espontaneamente na ausência de qualquer estímulo externo.
Hemianospia: perda da visão em metade ou um quarto do campo visual.

Referencia:

Bernardi, A., Braganhol, E., Jäger, E., Figueiró, F., Edelweiss, M., Pohlmann, A., Guterres, S., & Battastini, A. (2009). Indomethacin-loaded nanocapsules treatment reduces in vivo glioblastoma growth in a rat glioma model Cancer Letters, 281 (1), 53-63 DOI: 10.1016/j.canlet.2009.02.018

Nanopartículas expansíveis: uma forma inteligente de liberar fármacos no organismo

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Nanopartículas poliméricas vem encontrando crescente aplicação em estudos de liberação controlada de fármacos. Pesquisadores da Boston University (USA) construíram nanopartículas poliméricas capazes de se expandir centenas de vezes em relação ao seu tamanho original como resposta a mudanças de pH do meio.

Créditos: Griset, Walpole, Liu, Gaffey, Colson e Grinstaff (JACS, 131, 2469-2471, 2009)

Essas nanopartículas são compostas por um polímero que apresenta grupos protetores hidrofóbicos, que impedem a entrada de água na partícula. Quando adicionada a um meio com baixo valor de pH (tal como o suco gástrico do estômago, ou mesmo uma organela celular chamada endossoma), essas nanopartículas perdem seus grupos protetores hidrofóbicos, expondo grupos de caráter hidrofílico em sua superfície. Dessa forma, a partícula ganha a capacidade de absorver água e inchar. O resultado é um afastamento das cadeias de polímero, e o fármaco no interior da partícula escapa para o meio externo.

Glossário:

Hidrofílico: que possui afinidade por água (ex.: álcool, acetona)
Hidrofóbico: que não possui afinidade por água (ex.: óleo de cozinha, gasolina)

Referência:

Griset, A., Walpole, J., Liu, R., Gaffey, A., Colson, Y., & Grinstaff, M. (2009). Expansile Nanoparticles: Synthesis, Characterization, and Efficacy of an Acid-Responsive Polymeric Drug Delivery System
Journal of the American Chemical Society, 131 (7), 2469-2471 DOI: 10.1021/ja807416t



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