O menor filme do mundo (até agora)
O marketing é involuntário, mas achei tão bacana que não pude evitar compartilhar aqui. A IBM lançou um filme construído a partir de cerca de 200 imagens em sequência de algumas dúzias de moléculas de monóxido de carbono em diferentes posições sobre um suporte de cobre (é um efeito semelhante ao utilizado para produzir animações feitas com massa de modelar, a famosa técnica de stop-motion animation do filme “A fuga das galinhas”). As imagens das moléculas de monóxido de carbono (cujo “aumento” é de cem milhões de vezes) e sua movimentação foram possíveis através de uma técnica chamada microscopia de tunelamento com varredura. Por causa do desenvolvimento dessa técnica, cientistas da IBM ganharam o prêmio Nobel de física de 1986.
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Com pesquisas nessa área, a IBM busca soluções inovadoras para armazenar maiores quantidades de informação nos menores espaços possíveis. Em 2012, a IBM demonstrou como armazenar 1 bit de informação empregando apenas 12 átomos! O computador que você está usando para ler esse texto precisa de uns vários milhões de átomos para fazer a mesma coisa. O filme em si não é nada de absolutamente novo no campo da ciência, mas dá um toque divertido para o tema (um tanto quanto árido em termos técnicos) e, quem sabe, tenha arrancado um sorriso seu nesse final de feriado em homenagem ao dia do trabalho.
P.S.: Mais legal que o vídeo é o making of, vale assistir! Os 90 segundos de filme foram feitos pelos funcionários da IBM em 2 semanas, trabalhando-se 18 h por dia ….
Pedras pelo caminho
Hoje me acordei pensando em uma pedra numa rua de Calcutá. Numa determinada pedra numa rua de Calcutá. Solta. Sozinha. Quem repara nela? Só eu, que nunca fui lá. Só eu, deste lado do mundo, te mando agora esse pensamento… Minha pedra de Calcutá!
(Mário Quintana)
Olhe bem para a imagem acima. Seriam mesmo pedras de Calcutá pelo caminho? Nem de Calcutá, e nem mesmo pedras… . São apenas singelas nanoestruturas cuja imagem foi obtida por uma técnica conhecida como microscopia eletrônica de varredura. As cores ficam por conta do gosto do “artista”, que as inseriu depois, empregando um programa de imagem.
Mais uma bela obra do concurso Science as Art (2011), promovido pela Materials Research Society.
Da arte clássica à arte quântica
Pois bem, essa digressão feroz foi só uma digressão, mesmo. O que queria mostrar a você hoje é o uso não-falacioso do termo quântico ligado a algo que enleva o espírito: a arte. Sim, arte quântica. Em 2007, Ee Jin Teo (National University of Singapore) criou uma réplica fotoluminescente 500 x 500 micrometros do quadro “The Ancient of Days”, de William Blake. A “tela” consistiu de silício poroso, e o “pincel” foi um feixe de helio, com subsequente impressão eletroquímica em ácido fluorídrico. Devido ao efeito de confinamento quântico, emissão de luz visível é observada a partir do esqueleto de silício de dimensão nanométrica criado após a impressão. A pré-irradiação com um feixe de hélio é capaz de mudar a resistividade local do silício e o comprimento de onda de emissão da luz do silício poroso formado. Quanto maior a dose do feixe, mais para o vermelho o comprimento de onda da fotoluminescência é deslocado dentro do espectro de luz (que na faixa do visível vai do azul arroxeado, passando pelo verde, amarelo, laranja, até o vermelho). Altíssimas doses deslocam tanto o comprimento de onda que ele sai da faixa do visível, resultando nas partes da imagem que percebemos como preto. A obra de arte quântica rendeu a Teo o primeiro lugar no prêmio de 2007 “Science as Art”, da MRS, empatado com outras obras também sensacionais (uma delas já apresentada aqui).
outro PS.: 500 micrometros é o mesmo que meio milímetro.
A luz das flores de Pandora
(Rancho das flores, Vinícius de Moraes)
Como você já sacou desde o início, a imagem acima é de nanocoisas. Mais especificamente, nanoestruturas de óxido de zinco, visualizadas por microscopia eletrônica de varredura e posteriormente colorizadas em programa de imagem. A semelhança com cravos é impressionante, não? O autor dessa nano-obra de arte chama-se Jian Shi (University of Wisconsin), e não é a toa que a fotomicrografia acima arrebatou o primeiro prêmio do concurso “SCIENCE AS ART” de 2010, promovido pela Materials Research Society.
E o que o título do post tem a ver com isso? Ora, o título da obra é “Self-illuminating flowers of Pandora” (algo como “flores de Pandora com luz própria”). Nada mais justo que manter essa referência também aqui no blog … e afinal, os “nanocravos” se parecem mesmo com as flores luminosas do universo mágico criado por James Cameron no filme Avatar, não é?
Mundo, vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
(Carlos Drummond De Andrade, ” Poema de sete faces”)
O pessoal da IBM construiu um mapa 3D da Terra tão pequeno que 1000 deles juntos caberiam num espaço equivalente a um único grão de sal de cozinha. Isso corresponde a um globo terrestre com 22 micrometros de circunferência no equador. Nessa escala, uma elevação de 8 nanometros equivale a 1000 metros de altitude. Tal mapa é composto de 500000 pixels, cada um com 20 nanometros quadrados, e foi esculpido na superfície de um polímero derivado de ftalaldeído sensível ao calor, por meio de microscopia de força atômica. Adivinhe quanto tempo levou para construi-lo? Míseros 2 min e 23 s !!!!
Obviamente, esta não foi das mais fáceis tarefas – um novo equipamento foi construído para concretizar esse projeto. Uma das grandes sacadas foi aquecer a ponta do cantilever do microscópio de forma que, por onde ele passasse, fosse gerando sulcos por causar uma despolimerização pontual na superfície do “micro-bloco de polímero”. É como ter um bloco de gelo e ir modelando-o com uma ferramenta aquecida na ponta e bem fininha, para alcançar um alto nível de detalhamento. A diferença é que nessa nossa escultura de gelo imaginária, apenas mudamos o estado físico da água (não há rompimento de ligações entre os átomos de hidrogênio e oxigênio que formam a molécula de água) – já no caso do micro-globo terrestre, a “ferramenta aquecida” (entenda-se a ponta do cantilever) foi capaz de romper ligações covalentes do polímero (ou seja, rompeu as ligações que unem os átomos).
Uma curiosidade: quando os autores do trabalho mencionaram aquecimento, eles não estavam brincando – utilizou-se uma temperatura de 700 graus Celsius para modelar o mapa 3D…
(A) Topografia do globo terrestre em 3D (observe a escala!); nos detalhes (B e C), é possível ver os Alpes, o Mar Negro, as montanhas do Cáucaso e o Himalaia.
A imagem D corresponde à seção transversal indicada pela linha pontilhada branca no mapa maior (imagem A), com sua correspondência de escalas (nanometro x kilometro quanto à altura, e micrometro x kilometro, quanto à distância).
Referência:
Knoll, A., Pires, D., Coulembier, O., Dubois, P., Hedrick, J., Frommer, J., & Duerig, U. (2010). Probe-Based 3-D Nanolithography Using Self-Amplified Depolymerization Polymers Advanced Materials DOI: 10.1002/adma.200904386
Que bela divulgação científica!
Eis uma forma inegavelmente linda de divulgar a ciência, você não acha? Há imagens fabulosas lá, recomendo a visita!
Micro e macro, em clima de Natal
E tudo ao som de Adeste Fideles, para entrar no clima de Natal….
Créditos: Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos.
Nanoarte