Grandes personalidades da nanociência e nanotecnologia: Sumio Iijima

Sumio Iijima, o descobridor dos nanotubos de carbono

Dez anos depois de Norio Taniguchi cunhar o termo “nanotecnologia”, nossa percepção sobre o papel dessa área do conhecimento para a humanidade sofreria um profundo impacto. Foi em 1991 que o físico japonês Sumio Iijima, do NEC Corp. Fundamental Research Laboratory, descreveu moléculas de carbono cilíndricas e ocas com novas propriedades – tais como alta resistência e alta eficiência em conduzir calor – em um artigo que se tornou um clássico da área, intitulado Helical microtubules of graphite carbon (Nature 354, p. 56-58, 1991 – doi:10.1038/354056a0).

Esses fios nanométricos foram denominados NANOTUBOS DE CARBONO. Desde então ocorreu um boom sobre o assunto. As propriedades especiais dos nanotubos de carbono são causadas pela sua gigantesca relação entre comprimento e largura (de mais de 28 000 000 nm : 1 nm), a ponto de alguns cientistas se referirem a esse material como condutor unidimensional de calor.

certas controvérsias quanto ao fato de Sumio Iijima ser ou não o verdadeiro “pai” dos nanotubos de carbono – alguns químicos afirmam que já haviam publicado artigos descrevendo filamentos de carbono nanométricos, mas que estes só haviam sido lidos por outros químicos e por isso não tiveram tanta repercussão. Brigas de paternidade à parte, é inegável que Sumio Iijima foi o responsável pela tremenda divulgação do assunto e por descrever as potencialidades dos nanotubos de carbono, cujas possíveis aplicações vêm sendo pesquisadas até hoje, em áreas tão díspares quanto a engenharia espacial e a medicina.

Esporte sem suor e esforço? Nem tanto, mas pode ser sem cheiro….

Imagine a cena: você passou na academia, fez toda a sua série de exercícios, suou pra caramba e aí aparece AQUELA pessoa que nunca te deu bola. Mas hoje ela vem falar com você. Ela se aproxima e…. você está cheirando pior que galinha molhada. Putz! E agora? Sai correndo? Mantém uma distância “segura”? Confia que cheiro de homem suado é sexy? (se você for homem, sinto muito, não é…).

Esse problema não te pertenceria se sua roupa contivesse nanopartículas de prata. O ser humano tem dois tipos de glândulas que produzem suor: as glândulas ecrinas, que produzem apenas líquido refrescante para o corpo, e as glândulas apocrinas, cuja secreção transporta gorduras e proteínas das células para o exterior do corpo. Essas gorduras e proteínas produzidas pelas glândulas apocrinas são alimento para as bactérias que estão na superfície da pele, que por sua vez produzem substâncias responsáveis pelo cheiro desagradável do suor. Logo, se as bactérias são eliminadas ou reduzidas consideravelmente, acaba o mau cheiro, certo?

As nanopartículas de prata impedem o crescimento de microrganismos e, dessa forma, poderiam ser úteis se aplicadas a tecidos de roupas esportivas. Só que a produção de nanopartículas de prata por métodos químicos usuais envolve também a formação de resíduos tóxicos, o que agride o meio ambiente.

Um grupo de pesquisadores da Unicamp (Oswaldo L. Alves, Nelson Durán e Priscyla Marcato) e da Universidade de Mogi das Cruzes (Gabriel Souza e Elisa Esposito), em São Paulo, deu um jeito de contornar esse problema produzindo nanopartículas de prata através da biotecnologia. Eles adicionaram nitrato de prata (um sal) a um tipo de fungo, o Fusarium oxysporum. O fungo tem uma enzima que converte o íon prata (do nitrato de prata) em prata metálica, produzindo nanopartículas desse metal com tamanho de cerca de 1,6 nm. Os pesquisadores impregnaram um tecido de algodão com essas nanopartículas e fizeram testes com a bactéria Staphylococcus aureus. O crescimento desse microrganismo não ocorreu no tecido preparado com a prata.

O potencial de roupas feitas de tecidos contendo nanopartículas de prata vai além do esportivo. Essas roupas poderiam ser usadas para produzir uniformes hospitalares, o que contribuiria para a redução dos índices de infecção hospitalar. Outra ótima aplicação para esses tecidos é na fabricação de meias bactericidas. Achou engraçado? Pois saiba que isso já existe e pode ser comprado nos Estados Unidos: meias anti-chulé!

PS 1.: O problema é que as nanopartículas podem sair do tecido das meias após algumas lavagens e acabar parando nos mananciais, o que geraria um problema ecológico que merece atenção ….

PS 2.:
1. nada mais eficaz para reduzir a infecção hospitalar que lavar as mãos com freqüência e usar luvas descartáveis nos procedimentos médicos, e
2. não sair para almoçar/ir ao banco/tomar um café/etc de jaleco só para mostrar que é “doutor” é demonstrar noções mínimas de microbiologia e parasitologia e respeito pela vida alheia.

Dia nacional do voluntariado

O Dia Nacional do Voluntariado no Brasil foi instituído no dia 28 de agosto de 1985, através da Lei Nº. 7.352. Desde então, ele é comemorado anualmente. Mas não é só para parabenizar os voluntários brasileiros que escrevo esse post.

O voluntariado é um exercício de cidadania, uma forma de fazer diferença. E é também um ato de amor. E não se engane, porque não é só um ato de amor ao próximo – é incrível como a gente acaba ganhando mais do que dá.

Que diferença você faz?

Hummm, quer fazer a diferença e não sabe como? Pense numa competência que você tenha.

Sabe dar aulas? Sabe construir pipas? Sabe jogar basquete? Projetos que envolvam escolas podem ser uma boa escolha.
Sabe cozinhar? Costurar? Trabalhar com madeira? Você seria muito importante para projetos que buscam resgatar pessoas e até comunidades inteiras para o mercado de trabalho.
Sabe ouvir e conversar? Há locais, como casas de repouso, hospitais e orfanatos, onde você pode tornar a vida das pessoas mais leve e agradável.
Você acha que não sabe nada útil para alguém e por isso não pode ajudar? Pois saiba que em muitas comunidades carentes as pessoas mal sabem quais são as noções básicas de higiene, e você poderia ensiná-las na forma de palestrinhas e atividades práticas.
Gosta de plantas e animais? Há muitas iniciativas de proteção ao meio ambiente nas quais se vincular.
Gosta de organizar as coisas e arrumar, mas não gosta muito de ficar em contato intenso com pessoas? Procure a biblioteca pública da sua cidade e ajude a restaurar livros.
Sabe organizar eventos? Saiba que essa é uma das maneiras de arrecadar fundos para causas sociais, e quanto mais gente ajuda, melhor.

Qualquer pessoa pode ser voluntária. Não é preciso ser especialista em nada, não…. Basta querer participar e contribuir. Basta decidir e fazer.


O que você não sabia sobre o Edward Cullen da série Crepúsculo

(não, não é o Orkut do Robert Pattinson)

Há uns dias atrás terminei de ler o livro Crepúsculo (Twilight), estimulada pela enxurrada de gente que já havia lido e a-ma-do. A historia é a seguinte: uma moça humana (Bella Swan) e um vampiro (Edward Cullen) se apaixonam e a partir daí começam os conflitos e as tensões, porque apesar de apaixonado, o vampiro tem sede pelo sangue da moça – o que é um perigo mortal para ela. Tudo bem que a autora criou um vampiro que é o cara perfeito, além de sex symbol bonitão… mas há algo que eu achei bizarro nele. Perdoe o spoiler quem ainda não leu o livro, mas sob a luz do sol ele brilha intensamente – o que justificaria sua preferência pela penumbra, já que ninguém gostaria de chamar tanta atenção, não é ? (tá, quase ninguém)

Puxa, vampiros no meu imaginário derretem, queimam ou evaporam sob a luz do sol. Mas simplesmente brilhar e mais nada? Doido. Para brilhar intensamente daquele jeito descrito no livro, só se a pele dele fosse feita de nanocristais como aqueles sintetizados pela equipe do professor Todd Krauss, da Universidade de Rochester (USA). Em geral os objetos absorvem a energia do sol e a reemitem como calor. Não é o caso dos tais nanocristais, que devido às suas características estruturais não deixam as partículas de luz ser transformadas em calor – elas batem no nanocristal e são logo refletidas como num espelho nanoscópico. Mas luz de que cor? A pergunta faz sentido porque, mudando o tamanho dos nanocristais, é possível mudar a cor da luz que eles emitem. E convenhamos, mais estranho que um vampiro brilhante é um vampiro brilhante e colorido. Tal fenômeno acontece porque mais de 70 % dos átomos que compõem um nanocristal estão na sua superfície (coisas que só a nanotecnologia faz por você). Essa característica faz com que os elétrons se afastem e se aproximem dos núcleos dos átomos de uma forma particular quando a luz bate neles, influenciando na energia da luz que é reemitida – e por consequencia, na sua cor (quanto mais azulada a luz, mais energética ela é, e quanto mais avermelhada, menos energética).

Peles feitas de nanocristais brilhantes não poderiam existir mesmo num mundo com vampiros porque não são moléculas orgânicas, mas sim materiais inorgânicos semi-condutores? Está bem…. não poderiam ser componentes da pele, mas poderiam ser componentes do que vai em cima dela (sejamos criativos!): já imaginou celebridades como a Britney Spears ou a Madonna vestindo uma roupitcha feita desses nanocristais e que brilha pra caramba sob os holofotes, tal qual um laser ambulante? (sim, é possível construir lasers com esses nanocristais na vida real…)

Imaginou? É, pode haver coisas mais bizarras que um vampiro que brilha sob o sol…

Você estava procurando informações sobre o livro Crepúsculo, seus principais personagens, Orkut, algum sex symbol ou as últimas da Britney ou da Madonna e acabou caindo aqui? Pois saiba que esse post faz parte da blogagem coletiva “Cientista também caça paraquedista“, do Science Blogs Brasil. Se gostou, volte sempre!!!

Proposta de marcos regulatórios para nanocosméticos no Brasil

Tenho percebido que há um interesse constante a respeito do assunto nanocosméticos por parte de vários internautas que acabam caindo aqui no Bala Mágica. Uma das páginas mais visitadas deste blog até o momento é aquela em que tratei sobre o que nanocosméticos podem ou não fazer de fato (aqui).

Esse interesse todo nos nanocosméticos não é a toa: este é um dos setores onde a transformação de uma ideia em produto nanotecnológico vem ocorrendo em maior proporção. É natural e justo que as pessoas queiram saber o que estão efetivamente consumindo e quais seus riscos para a saúde. Mas será que há uma regulamentação específica no Brasil, para produtos contendo nanopartículas, que proteja o consumidor de danos causados pela nanotecnologia?

Infelizmente, nem no Brasil nem em outras partes do mundo. Isso ocorre porque o uso das nanotecnologias em grande escala ainda é recente e as propriedades e riscos variam muito conforme o tipo de produto nanotecnológico analisado (como previamente discutido neste blog aqui e aqui), tornando difícil fazer generalizações como aquelas exigidas em textos de caráter regulatório.

No entanto, marcos regulatórios são, SIM, necessários, apesar da complexidade do assunto. Algumas propostas ao redor do mundo têm surgido, tais como o relatório denominado “Opinião preliminar sobre a segurança de nanomateriais em produtos cosméticos”, publicado pela Comissão Europeia em 19 de junho de 2007. O Brasil não ficou para trás nesse sentido: no mesmo período foi publicado em terras tupiniquins o livro “Nanocosméticos: em direção ao estabelecimento de marcos regulatórios”, que traz uma proposta de classificação de nanocosméticos baseada tanto na composição quanto no tamanho médio das nanopartículas, semelhante à da Comissão Europeia. De acordo com os autores, o tamanho e a distribuição de tamanho das nanoestruturas são elementos-chave para o estabelecimento do grau de risco de nanocosméticos.

Com o intuito de divulgar a proposta (e inclusive aproveitando o embalo do post anterior), pedi uma cópia desse livro a duas das autoras – as professoras Sílvia Guterres e Adriana Pohlmann, da UFRGS -, que gentilmente cederam o arquivo pdf para publicação no Bala Mágica. Ei-lo abaixo.

(OBS.: Agradecimento às professoras por ceder o material.


Dúvida sobre a segurança das nanopartículas: Nature News

Saiu na Nature News do dia 18 de agosto uma matéria sobre evidências de toxicidade de nanopartículas, cujo link foi passado via twitter pelo meu conterrâneo L. Felipe A., do blog O Amigo de Wigner (valeu pela dica, patrício!).

A pergunta da matéria, “As nanopartículas poderiam causar problemas pulmonares?”, foi motivada por um estudo recentemente publicado no European Respiratory Journal (infelizmente só tive acesso ao resumo do estudo, então só posso me basear nele e no texto da Nature…., mas vamos lá).

O estudo descreve o caso de sete mulheres com idades entre 18 e 47 anos que trabalharam em uma indústria chinesa e apresentaram granulomas (aglomerados de células do sistema imunológico que se formam quando o organismo não consegue remover um corpo estranho) na pleura (membrana que reveste o pulmão), sendo que duas delas morreram. Partículas de cerca de 30 nm foram encontradas no fluido e tecido pulmonar dessas mulheres. De acordo com o estudo, os sintomas foram causados pela inalação de fumaça produzida pelo aquecimento de um éster de poliacrilato (um tipo de plástico) a 75-100 °C. A sala onde elas trabalhavam não apresentava ventilação adequada ou tratamento do ar. Além disso, medidas de proteção individual – como o uso constante de máscara – não foram tomadas pelas mulheres.

O curioso é que dúvidas quanto às relações de causa e efeito desse estudo foram levantadas pelo toxicologista Ken Donaldson (University of Edinburgh, UK). De acordo com ele, os sintomas daquelas mulheres são típicos de exposição química, independentemente do material estar ou não nanoestruturado, pois elas foram expostas a uma concentração de éster de poliacrilato superior à concentração tóxica. Anthony Seaton, professor emérito de medicina ocupacional e ambiental na University of Aberdeen (UK) concorda com essa opinião.

Infelizmente não pude avaliar o conteúdo completo do artigo (se alguém tiver acesso a ele, por favor me envie), o que dificulta dar uma opinião crítica mais fundamentada a respeito. Porém, algumas coisas chamaram a minha atenção: 1) nanopartículas foram encontradas nos pulmões dessas mulheres, o que está de acordo com a opinião geral de que a via inalatória é uma das mais propícias para a contaminação de trabalhadores com materiais particulados (é só lembrar dos casos de silicose apresentados por mineradores); 2) em altas concentrações até água é tóxica, e é impressionante que os revisores do artigo tenham deixado passar algo tão básico da área médica; 3) sete é um número pequeno para tirar conclusões definitivas sobre a toxicidade de um material; 4) como o assunto nanotecnologia está na moda, causar polêmica sobre seus riscos é uma forma relativamente rápida de ganhar visibilidade.

É verdade que não sabemos todas as consequências do uso de nanomateriais em larga escala, por isso é necessário seguir o princípio da precaução, intensificar os estudos de nanotoxicologia e definir com urgência os marcos regulatórios de produção e consumo de nanopartículas para proteger a população (tanto os trabalhadores quanto os consumidores).

Trarei mais sobre marcos regulatórios para nanopartículas (e porque é complicado defini-los) no próximo post.

P.S.: Agradecimento ao L. Felipe A. por lembrar do Bala Mágica ao ler essa notícia 🙂

O espaço… a fronteira final.

Estas são as viagens da nave estelar Enterprise. Sua missão de cinco anos: explorar novos e estranhos mundos, procurar novas formas de vida, novas civilizações, audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve …

Sim, sou nerd e gosto de Star Treck. O capitão Kirk era meio canastrão, mas o Dr. McCoy era impagável! E, claro, tinha o Spock. Quando vi a imagem aí em cima, juro que pensei naquela musiquinha de abertura da série antiga.
E você, acha que a foto acima é de algum objeto estelar? Há! Não é não! Tudo bem, você já deve estar descolado e não se deixou enganar, não é mesmo? A imagem foi obtida por microscopia eletrônica e nada mais é que pólen revestido por dióxido de titânio (que é a mesma substância que compõe protetores solares para a pele e está presente em várias maquiagens).
O tamanho do pólen está muito longe das dimensões planetárias – é de apenas 200 micrometros (o que equivale à espessura de uns 2 fios de cabelo juntos). A cor e os efeitos de luz ficam por conta do programa de imagem usado pelo “artista”, Samuel Shian, do Georgia Insitute of Technology.

(essa imagem ganhou o segundo lugar no prêmio “Science as Art” de 2007 da MRS)

Além de nerd, como diria alguém, adoro um clichê. Então, nada mais justo que encerrar esse post com um:

“Vida longa e próspera!”
Hehehe, até mais 😀

Nano-kit de análises clínicas

ResearchBlogging.org

Analistas clínicos e biomédicos de todo o mundo, temei! Logo, logo a nanotecnologia invadirá os laboratórios! Que tal um kit de reação nanométrico muito mais sensível que os kits convencionais e que faz tudo praticamente sozinho?

Pois bem, foi pensando nisso que cientistas desenvolveram um método de imunoensaio por quimioluminescência para diagnosticar câncer baseado em nanotubos de carbono de múltiplas camadas contendo enzimas em sua superfície. Ufa! Parece complicado? Imagine o nanotubo com camadas tal qual uma cebola, onde enzimas estariam ligadas na superfície de cada uma das camadas. Foi mais ou menos isso que os cientistas construíram. A enzima depositada na superfície dessas camadas é chamada peroxidase (que é capaz de quebrar peróxidos, como a água oxigenada, cuja fórmula é H2O2). Em seguida, em cima disso tudo, foram depositados anticorpos (que corresponde ao Y da figura abaixo). Eis um esquema bem ilustrativo da coisa toda:

(créditos: Bi e col., 2009 – Biosensors and Bioelectronics)

Anticorpos também foram ligados na superfície de nanopartículas magnéticas. Na presença de uma proteína no soro que só existe quando a pessoa tem câncer (é o que chamamos de biomarcador), o nanotubo e a nanopartícula magnética se juntam e reações químicas passam a acontecer nesse sanduíche nanotecnológico. O nanotubo e a nanopartícula magnética são capazes de se juntar porque os anticorpos de ambos se ligam nessa proteína biomarcadora

No estudo em questão, os autores usaram como proteína marcadora a alfa-fetoproteína (AFP), que corresponde à bolinha azul no esquema acima. Quando uma mistura de H2O2, azul de bromofenol (um tipo de corante) e luminol (aquele mesmo, do seriado CSI) é adicionada ao soro do paciente com câncer e, nessa mistura, os nanotubos e as nanopartículas magnéticas são adicionados também, ocorre luminescência devido à ação da enzima peroxidase na superfície do nanotubo, que quebra a H2O2. Os produtos da quebra da H2O2 reagem com o luminol e o azul de bromofenol emitindo luz, mas só na presença de metal – no caso, a nanopartícula magnética. Se o paciente não tem câncer, seu soro não terá a proteína biomarcadora. Sem proteína biomarcadora não ocorre ligação da nanopartícula magnética com o nanotubo que contém a peroxidase. Portanto, sem proteína marcadora no soro não há emissão de luz.

Esse sanduíche nanotecnológico conseguiu detectar quantidades de proteína marcadora de câncer no soro que outros testes padrão (como o ELISA) não conseguiram. Pequeno tamanho, grande sensibilidade!

Bi, S., Zhou, H., & Zhang, S. (2009). Multilayers enzyme-coated carbon nanotubes as biolabel for ultrasensitive chemiluminescence immunoassay of cancer biomarker Biosensors and Bioelectronics, 24 (10), 2961-2966 DOI: 10.1016/j.bios.2009.03.002

Grandes personalidades da nanociência e nanotecnologia: Gerd Binnnig e Heinrich Rohrer

1981. Grande ano! Você lembra dele? Bem, eu não – minha memória não chega a tanto, pois nesse ano longínquo ocorreu justamente o meu nascimento. Como a relevância de tal fato para o resto do mundo (excluindo a minha mãe, obviamente) não é lá grande coisa, vou tratar de um acontecimento realmente impactante de 1981 que mudou a forma como a humanidade enxerga o mundo… literalmente!

Foi nesse ano que dois criativos funcionários da IBM, o suíço Heinrich Rohrer e o alemão Gerd Binning, desenvolveram uma técnica de microscopia eletrônica capaz de mostrar imagens na escala do átomo em uma superfície metálica ou semicondutora. A técnica foi batizada de microscopia eletrônica de tunelamento. Nessa técnica, uma ponta metálica de dimensões quase atômicas passa a uma distância muito próxima da superfície da amostra (como um scanner) de forma que ocorre o tunelamento de elétrons entre a ponta metálica e a amostra. A ponta metálica atua como aquela agulha dos aparelhos para escutar disco de vinil, subindo e descendo conforme a rugosidade da superfície. O resultado é uma imagem digital tridimensional da superfície, muito útil para detectar a presença de defeitos de superfície e para determinar o tamanho e conformação de moléculas e agregados ali presentes.

Tunelamento eletrônico é um efeito quântico que permite que ocorra uma corrente de elétrons entre duas superfícies muito, muito próximas. O espaço entre duas superfícies é considerado uma barreira de potencial, e quanto mais fina for a espessura dessa barreira, maior é a probabilidade do elétron de atravessá-la. Quando eu me refiro a “fina”, é fina mesmo, na escala de Angstrons (ou seja, igual a 0,0000000001 m !!!!).

O primeiro microscópio desse tipo foi desenhado pelo cientista alemão Ernst Ruska. A invenção da técnica que permitiu que o mundo “visse” átomos na superfície de materiais e os manipulasse rendeu a Rohrer e Binning o prêmio Nobel de Física em 1986, e originou uma foto que se tornou lendária além dos muros da academia.

(crédito: Laboratórios de pesquisa da IBM em Almaden)

Yes, nós temos nanomedicamentos!

No início desse mês, a Tati Nahas do Ciência na Mídia me enviou um material de procedência da Veja, que tratava sobre o desenvolvimento de um medicamento inovador para hipertensão desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais. O referido medicamento, ainda em testes, emprega a nanotecnologia para regular o processo de vasodilatação, o que o tornaria mais eficaz e com menos efeitos colaterais.

O coordenador dessa pesquisa, Dr. Robson Santos, é especialista no peptídeo vasoativo que compõe esse medicamento, chamado angiotensina-1-7. Esse peptídeo está naturalmente presente no nosso organismo, mas se tentarmos ingeri-lo, ele será facilmente degradado pelas enzimas do trato gastrointestinal e não funcionará. De acordo com a reportagem da Veja, esse peptídeo seria revestido com açúcares que o protegeriam dessa degradação. Na hora não entendi como açucares poderiam servir de proteção a um peptídeo e resolvi consultar o currículo do Dr. Santos. Foi quando me deparei com a descrição de um produto com data de 2001 (Preparação de formulações de antagonistas dos receptores AT1 usando as ciclodextrinas, seus derivados e os polímeros biodegradáveis) que entendi o que o pessoal da Veja quis dizer. O açúcar ao qual eles se referem são de uma classe específica, muito interessante, denominada ciclodextrinas.

Ciclodextrinas são açucares que têm a forma de cones, como na figura abaixo:

A parte externa desses cones tem alta afinidade pela água e a parte interna não. Por isso, moléculas que caibam dentro do cone e que tenham pouca afinidade pela água (como as gorduras) podem ficar protegidas do meio externo e ainda por cima podem ter sua solubilidade “aumentada”. Ao incorporar o peptídeo angiotensina-1-7 em ciclodextrinas, é como se ele ficasse dentro de uma caixinha protetora e chegasse intacto ao seu local de ação no organismo.

Legal, né? Mas não pense que essa é a única perspectiva de nanomedicamento 100 % nacional. Em 2007, a Incrementha PD&I, empresa na época sediada no Cietec e fruto da união de esforços da Biolab e da Eurofarma, já havia anunciado o lançamento do primeiro fármaco brasileiro desenvolvido com nanotecnologia. O produto, ainda em testes, é um anestésico de uso tópico sem similares no mundo que foi desenvolvido na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), por meio de uma parceria Universidade-Empresa, no âmbito do Edital 12- 2005 do CNPq e já teve sua patente depositada. De acordo com o Diretor da Biolab Dante Alário Júnior, “investir em pesquisa é ter um futuro com garantias reais de permanência no mercado e manutenção da competitividade. Não consigo enxergar o futuro das farmacêuticas sem inovação”. É de iniciativas como essa que nosso país precisa.

Agradecimento a Tati Nahas por instigar o post.

Uma dica para quem quiser saber mais sobre ciclodextrinas: artigo de revisão muito bem escrito, publicado na Química Nova, de autoria de Cristina G. Venturini e col., aqui.

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