O menor filme do mundo (até agora)

O marketing é involuntário, mas achei tão bacana que não pude evitar compartilhar aqui. A IBM lançou um filme construído a partir de cerca de 200 imagens em sequência de algumas dúzias de moléculas de monóxido de carbono em diferentes posições sobre um suporte de cobre (é um efeito semelhante ao utilizado para produzir animações feitas com massa de modelar, a famosa técnica de stop-motion animation do filme “A fuga das galinhas”). As imagens das moléculas de monóxido de carbono (cujo “aumento” é de cem milhões de vezes) e sua movimentação foram possíveis através de uma técnica chamada microscopia de tunelamento com varredura. Por causa do desenvolvimento dessa técnica, cientistas da IBM ganharam o prêmio Nobel de física de 1986.

[youtube_sc url=”http://www.youtube.com/watch?v=oSCX78-8-q0″]

Com pesquisas nessa área, a IBM busca soluções inovadoras para armazenar maiores quantidades de informação nos menores espaços possíveis. Em 2012, a IBM demonstrou como armazenar 1 bit de informação empregando apenas 12 átomos! O computador que você está usando para ler esse texto precisa de uns vários milhões de átomos para fazer a mesma coisa. O filme em si não é nada de absolutamente novo no campo da ciência, mas dá um toque divertido para o tema (um tanto quanto árido em termos técnicos) e, quem sabe, tenha arrancado um sorriso seu nesse final de feriado em homenagem ao dia do trabalho.

P.S.: Mais legal que o vídeo é o making of, vale assistir! Os 90 segundos de filme foram feitos pelos funcionários da IBM em 2 semanas, trabalhando-se 18 h por dia ….

 

 

A onda branca

Atualmente é período de férias dos alunos de graduação aqui na Unicamp. O campus está calmo, sem o típico frenesi que acompanha o período de aulas e provas. Nesse clima de paz tibetana, eis que olho pela janela do laboratório, e vejo uma cena inusitada: um grupo grande de alunos de jaleco, andando ordeiramente pelo corredor. Devo ter feito a maior cara de espanto, porque meus colegas imediatamente tomaram a iniciativa de explicar o significado daquela “onda branca”. Ela era composta por 80 alunos do ensino médio de escolas públicas da região, previamente selecionados por meio de uma redação. Esses alunos estavam ali para vivenciar a química através de palestras e experimentos nos laboratórios do Instituto de Química da Unicamp, devido ao Projeto de Extensão Química em Ação (detalhes no link). Alguém do lab tinha uma das apostilas usadas pelos alunos, que prontamente li. Os experimentos em particular merecem destaque por serem muito interessantes, baratos, simples e próximos de vivências prévias dos alunos – os reagentes são coisas como chocolate, gelatina, sabão, água tônica, óleo de cozinha, entre outros. A partir disso, são explicados conceitos complicados, como fluorescência, tensão superficial, crioscopia e condutividade, aplicando o método científico. Nenhuma surpresa que o projeto seja o sucesso que é.

Logo que soube do que se tratava aquela movimentação toda, lembrei da minha própria experiência lecionando química em caráter voluntário no Projeto Educacional Alternativa Cidadã, em Porto Alegre. Foi quando pude perceber como a química no ensino médio está distante das vivências da maioria da população. Um conhecimento que está tão intrincado a tudo que nos permeia, e que guarda tanta beleza, acaba sendo tristemente reduzido a repetições de fórmulas e regras. A consequência disso é o despertar de aversão e até mesmo ódio pela química como disciplina. Contornar esse problema, para o professor, é uma arte e um desafio. Especialmente quando laboratórios não estão disponíveis (afinal, química é uma ciência experimental).

“É muito difícil fazer os alunos compartilharem os prazeres da observação e da experimentação, momentos fundamentais na atividade da ciência, sem contar com um laboratório no qual possam ver e sentir os fenômenos, sejam eles físicos, químicos ou da esfera da Biologia, por exemplo. O laboratório permite de maneira imediata a percepção do aspecto lúdico da atividade cientifica. Ao observar os fenômenos, ou ao medir propriedades quantitativas, por exemplo, os estudantes passam a compreender que ciência não é apenas aquilo que está nos livros, já pronto, mas sim é uma atividade que se constrói com a observação e a experimentação.” As palavras, de autoria do professor Alberto Passos Guimarães, pesquisador titular do CBPF e diretor-adjunto do Instituto Ciência Hoje, foram tiradas de uma entrevista recente que pode ser acessada aqui e vale ser lida na íntegra.  Eu não sabia, mas o Instituto Ciência Hoje (que completa seus 30 anos de existência) tem um projeto interessantíssimo conhecido como Programa Ciência Hoje de Educação Científica (PCHAE). Nas palavras do professor, “o Programa atua em vários municípios brasileiros, treinando e motivando professores de Ciências para o emprego de métodos mais atraentes de ensino, baseados no uso da publicação Ciência Hoje das Crianças”. Iniciativas como o PCHAE e o Química em Ação têm o poder de mudar concretamente realidades locais para melhor por meio do estímulo à busca e transmissão de conhecimento.

Alguns dos experimentos propostos na apostila do Química em Ação poderiam ter sido apresentados (com adaptações) aos meus alunos, tranquilamente, em sala de aula. Foi o primeiro pensamento que tive ao ler o material. Ok, seria algo de caráter demonstrativo, mas já seria uma quebra na rotina das aulas que poderia fazer a química ganhar alguns corações. E todo coração ganho vale ouro, especialmente com a carência de nosso país por profissionais com formação nas áreas de exatas. Em um mundo onde a inovação tecnológica dita a força das economias, isso faz toda a diferença.

A celebração de 2011

[continuação do post anterior]

A primeira aula de um curso de química no colégio sempre começa a partir de um apanhado histórico geral. A influência dos egípcios, o papel dos alquimistas, etc etc. E ironicamente, uma pergunta que eu nunca tive curiosidade de fazer durante meus tempos de colégio foi: “- mas desde QUANDO se sabe tudo isso sobre a estrutura dos átomos, sobre o que define a natureza da matéria e suas transformações?” Sim, porque quando estamos na escola estudando sobre estrutura atômica, dá a sensação de que aquele conhecimento nasceu com a humanidade.
Na verdade, faz só 100 anos que sabemos que o átomo se constitui em um núcleo positivo muito pequeno, rodeado por um grande espaço que contém elétrons de carga negativa. É curioso pensar que certos eventos, como os primeiros testes com aeroplanos motorizados ou a transmissão dos primeiros sinais de rádio através do Atlântico, são anteriores a essa descoberta. Ainda deve haver pelo mundo senhores centenários que nasceram naquele ano de 1911! Minha bisavó, por exemplo (que tive a sorte de conhecer e com a qual convivi até ano passado), nasceu só 3 anos depois. (Adendo 10 abril 2011: cabe mencionar também que tenho uma avó que nasceu só 5 anos depois de 1911, e ainda está viva e lúcida – sou ou não sou uma privilegiada?)
E por que isso é tão relevante? Ora, imagine um mundo onde não se sabe que o átomo é composto por núcleo e eletrosfera. Está percebendo a ausência de algumas coisas? Não? Pense melhor. A obtenção de novas substâncias está diretamente relacionada à capacidade do ser humano em controlar a forma como os átomos se conectam uns com os outros. E isso passa pelo entendimento de como a eletrosfera é. E então? Chegou a alguma conclusão de como seria esse mundo? Bem, tire da sua rotineira existência um monte de coisas, que vão de uma simples embalagem de pasta de dente até a aspirina que você toma. E não esqueça de tirar também algumas dezenas de anos da sua expectativa de vida, caro leitor.

Para alguns, química é a ciência que estuda a matéria e suas transformações (embora também possa ser um bairro em Barra do Piraí, RJ). Para outros, é uma ferramenta usada pelo ser humano para reinventar seu próprio mundo. Algo dessa importância precisa ser celebrado. E esse ano foi escolhido pela UNESCO justamente para isso: celebrar a química! Celebremos, pois, o Ano Internacional da Química. Tim-tim!
P.S.1: Cabe salientar que a grande inspiração para definir 2011 como o Ano Internacional da Química foi o centenário da entrega do prêmio Nobel de Química à incomparável doutora Marie Curie.
P.S.2: Se você quiser saber o que está sendo feito no Brasil e no mundo para celebrar o Ano Internacional da Química, vale passar aqui e aqui.

Alguns dias entre físicos no Rio

Instigantes e agradabilíssimos. Assim foram meus dias no início dessa semana na cidade maravilhosa. Como o leitor já sabe, tive o privilégio de participar de uma mesa-redonda sobre “a prática da divulgação científica através de novas mídias” juntamente com os professores Leandro Tessler e Dulcídio Braz Jr., durante a VIII Escola do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF/MCT). Gostaria de agradecer a todos do CBPF, em especial à Dayse Lima e ao prof. Luiz Sampaio, pela recepção calorosa e pela oportunidade de participar desse evento.
Antes de discorrer sobre a mesa-redonda, cabem parênteses sobre dois momentos prévios que achei marcantes. O primeiro foi a entrega do Prêmio CBPF de Física de 2010 ao prof. Vanderlei Bagnato durante a cerimônia de abertura da Escola. Os primeiros minutos da fala do professor não foram sobre o tema de seu trabalho (turbulências quânticas em condensados de bose-einstein), mas sim sobre a relevância da pesquisa científica para o crescimento e o desenvolvimento de um país. De acordo com o prof. Bagnato, uma nação competitiva é aquela que estimula a prática científica. Ouvi-lo foi emocionante. (UPDATE 02/08/2010: o vídeo pode ser conferido aqui). O segundo momento foi assistir à palestra do prof. Dulcídio para a turma do PROFCEM (Programa de Formação Continuada de Professores do Ensino Médio), onde ele demonstrou como o blog pode ser uma extensão da sala de aula com muito sucesso. Ouvir o prof. Dulcídio fez com que eu percebesse que a física pode mesmo ser pop – e que isso ocorre quando o estudante é estimulado a pensar.
Ambos os momentos, na minha concepção, estão relacionados a coisas muito próximas uma mesma coisa: a necessidade de valorização de uma cultura científica no nosso país. Interessante notar que, no fundo, nosso debate na mesa-redonda também acabou tendo essa mensagem. E para que a ciência faça parte da cultura, ela deve vencer algumas barreiras há muito levantadas. Urge desmistificar os temas de ciência (em especial aqueles mais polêmicos) e a figura do cientista. A web 2.0 pode ser uma ferramenta valiosa para isso por ser acessível, relativamente barata e permitir uma comunicação direta. Aproximar as pessoas das coisas da ciência deve ser um compromisso do cientista. Por outro lado, compreender o que é divulgado sobre CT&I e as implicações de seus avanços será um privilégio de poucos se a prática da educação científica não for estimulada desde a primeira infância. Pensar cientificamente não é coisa para poucos eleitos geniais, é algo que pode ser aprendido por qualquer um que tenha curiosidade sobre como o mundo funciona. E curiosidade é característica inerente ao ser humano.
Pê-esses…
P.S.1: Uma pena que o espaço aqui não tenha o tamanho das cerca de 2h de discussão, para poder transcrevê-la em detalhes… quando o vídeo da mesa-redonda estiver no ar, informarei o link. As impressões dos demais debatedores podem ser encontradas aqui (D.B.) e aqui (L.T.).
P.S.2: Merece destaque o fato de que o CBPF foi agraciado com o Prêmio José Reis de Divulgação Científica de 2006 (modalidade instituição), pelo “envolvimento e o interesse da instituição na divulgação de temas científicos para sensibilização da sociedade, (..) o histórico da instituição, [e] a qualidade e a penetração do material produzido.” Recebi gentilmente materiais interessantíssimos produzidos e/ou promovidos pelo CBPF nessa linha de divulgação, que merecem um post à parte.
P.S.3: Um bônus dessa viagem foi conhecer a redação da Ciência Hoje, rever o pessoal de lá que é bacaníssimo, e conhecer o físico e jornalista Cássio Leite Vieira (que talvez não saiba, mas me ensinou quase tudo que sei sobre textos de divulgação científica através de seu pequeno [grande] manual).
P.S.4: Ter convivido nesses poucos dias com pessoas cujo trabalho admiro, tais como o prof. Alberto Passos Guimarães Filho, não tem preço.

Blogs de ciência podem estimular o engajamento público em temas de C&T?

Há pouco mais de um ano, percebi que havia uma grande lacuna no conhecimento das pessoas em geral sobre nanobiotecnologia e seus impactos. E as pessoas têm o direito de saber sobre esse assunto, sem histrionismos ou falácias, já que esta tecnologia estará cada vez mais presente no dia-a-dia de todos. Não sou jornalista, não sou dona de revista ou jornal, nem sequer faço parte do corpo docente de alguma universidade (ainda sou aprendiz, com todas as vicissitudes de tal condição). No entanto, tenho um computador e acesso à internet, além de ideias… e um gosto especial pela escrita. Daí a usar um weblog como ferramenta para divulgar o tema Nanobiotecnologia, que é meu foco de estudo offline, foi um pulo. Mas qual meu objetivo, no final das contas? Informar? Ensinar? Criticar? Intercalar a função de arauto da boa-nova com a de advogada-do-diabo frente a um suposto milagre? Talvez tudo isso junto. Engraçado como às vezes só refletimos mais profundamente sobre nossas práticas quando há um estímulo pontual para que isso aconteça. O meu foi um convite muito especial que recebi há alguns meses: participar de uma mesa-redonda intitulada “A prática da divulgação científica e as novas mídias sociais”, que ocorrerá durante a VIII Escola do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF/MCT). O tema é novo e ainda se falará muito dele: como (e porque) weblogs e redes sociais podem ser agentes difusores do conhecimento científico e gatilhos para o engajamento público nos temas de C&T. No entanto, é difícil entender o novo sem conhecer aquilo que o precedeu. Por isso, olhar para trás foi meu primeiro movimento para tentar clarear algumas ideias que vêm rondando meus pensamentos desde que o Bala Mágica foi lançado.
Antes do século XVII, não havia uma distinção clara entre ciência e filosofia. A partir do século XVII, alguns pensadores, como o italiano Galileu Galilei (1564-1642), o francês René Descartes (1596-1650) e o inglês Isaac Newton (1642-1727), quebraram paradigmas ao defender o uso da experimentação, do método, da matemática e a exclusão do misticismo para entender os fenômenos naturais. Não é a toa que os historiadores chamam esse período de Revolução Científica. Logicamente, o ambiente social daquela época propiciou tal revolução. Dentre os acontecimentos que favoreceram a Revolução Científica cabe destacar a invenção da prensa móvel pelo alemão Johannes Gutenberg (1398-1468), que por si só já iniciou outra revolução, a da Imprensa. Eis a primeira reflexão: comunicação sempre foi uma peça-chave para o estabelecimento e a propagação da ciência.
O advento da imprensa tirou as amarras impostas por um conjunto de clérigos sobre o que é a Verdade, já que a produção de material escrito não era mais privilégio de alguns sacerdotes enclausurados em seus mosteiros. Estava dada a largada para a disseminação do livre-pensamento. Pelo menos na teoria e pelo menos para os “incluídos”, capazes de ler. Desde então, o número de alfabetizados aumentou, e o custo para adquirir livros, revistas, jornais, etc foi se tornando mais acessível. De lá para cá, a ciência evoluiu e, com ela, cresceram as esperanças de que as descobertas científicas contribuiriam para tornar o mundo um lugar melhor. Começou a surgir a noção de que era preciso “educar o povo” nas coisas de ciência, por meio da transmissão do conhecimento do especialista para o leigo, de forma verticalizada. No entanto, o acúmulo de informação não significa a compreensão dessa informação. E a informação fora de um contexto socioeconômico raramente desperta interesse público. Isso é particularmente importante no caso de assuntos científicos, porque a ciência gera muito mais perguntas que respostas, e jamais será capaz de oferecer uma Verdade, mas apenas modelos e aproximações. Essa ideia de transmissão verticalizada da informação passou a ser questionada, e estratégias dialógicas foram (e ainda são) propostas para substituí-la. Passou-se a falar em dar uma chance ao diálogo entre cientistas e leigos. E um diálogo é feito de perguntas e respostas. Eis a segunda reflexão: talvez a comunicação científica deva cada vez mais incluir as perguntas, e não só oferecer as respostas. A comunicação de ciência não pode mais ser uma via de mão única. Afinal, cabe à sociedade debater quais perguntas são mais importantes/urgentes, pois é esta sociedade quem sentirá as implicações dos avanços da C&T. Mais que informar sobre as últimas novidades dos periódicos científicos, a divulgação científica deve fomentar o exercício da cidadania.
Será que a internet, com seu efeito de rede e alto poder de disseminação de informações, pode fazer diferença nesse processo? Quais seriam as consequências disso e os desafios a serrem enfrentados, hoje e no futuro? Essas perguntas suscitaram mais reflexões, que reservo para o debate com os professores Dulcidio Braz Júnior (do blog Física na Veia!) e Leandro Tessler (IFGW/UNICAMP, do blog Cultura Científica), com moderação do professor Marcelo Knobel (IFGW/UNICAMP), nessa terça-feira (20/07), que ocorrerá às 18h30min no CBPF.

Dispersando

O que você conversa numa mesa de bar com amigos? Futebol, mulher (ou homem, ora bolas), as últimas da TV? Tem gente que é tão doida, mas tão doida, que conversa até sobre ciência… sem perder o bom-humor!



É mais ou menos isso que você vai encontrar no Dispersando, o podcast oficial do ScienceBlogs Brasil: uma conversa informal entre amigos (que nem por isso concordam uns com os outros o tempo todo), sobre ciência e tudo o que gira ao redor dela.



Agora com página própria (http://scienceblogs.com.br/dispersando), o Dispersando terá periodicidade mensal. Participe do papo, deixe seu comentário por lá! E, claro, divirta-se!



P.S.: Se você quiser, pode receber o conteúdo do Dispersando via Feed.


VIII Escola do CBPF/MCT está com as inscrições abertas!

… e esta blogueira que vos escreve estará lá, participando da mesa redonda “A prática da divulgação científica e as novas mídias sociais”, juntamente com os professores Dulcidio Braz Júnior (do blog Física na Veia!) e Leandro Tessler (IFGW/UNICAMP, do blog Cultura Científica), com moderação do professor Marcelo Knobel (IFGW/UNICAMP). A ideia é discutir sobre o papel dos blogs de ciência na divulgação e educação científica, e sobre como as novas mídias podem aumentar a participação da sociedade na discussão de temas de ciência.
Alguma informações a respeito da Escola, retiradas da mais recente comunicação por e-mail que recebi da equipe organizadora:
“A programação principal da Escola do CBPF terá 18 cursos voltados para estudantes de graduação e 9, para estudantes da pós, além de incluir outras atividades e palestras, abertas a todos e ao público em geral. “A Escola do CBPF é um evento voltado integralmente para a formação dos estudantes de Física e áreas afins, por isso enfatiza não apenas os temas consagrados ou de fronteira, mas também os aspectos mais peculiares da física e os tópicos que sejam de interesse ou tragam impacto para a sociedade”, afirma o coordenador do evento, Luiz Sampaio, que lembra ainda que, além dos cursos e atividades tradicionais, a Escola este ano traz uma variada programação satélite, “que enriquece e amplia o seu âmbito de ação”. Nesta programação, estão previstos a primeira edição do Programa de Formação Continuada de Professores de Ensino Médio em Física (PROFCEM), de 12 a 23 de julho, o Encontro Nacional dos Estudantes de Pós-graduação em Física (ENAF), de 2 a 4 de agosto, ambos no CBPF, no Rio de Janeiro, e a edição especial da Escola em Nanociência e Nanotecnologia, na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém.
Também sendo lançado nesta segunda, uma outra novidade é o Blog da VIII Escola do CBPF que vai acompanhar a preparação e a realização do evento (http://www.escoladocbpf.blogspot.com). “Este ano tivemos a preocupação de promover um maior envolvimento dos estudantes do CBPF e dos visitantes com as atividades da Escola, e por isso criamos um espaço que pudesse reflletir e reproduzir essa dinâmica”, explica Luiz Sampaio. O blog vai apresentar dados sobre o CBPF e sobre a programação principal da Escola e de cada evento satélite, além de muitos conteúdos pontuais e úteis aos alunos, como as notas de aula preparadas pelos professores, ou os posts e vídeos, que pretendem destacar o ambiente de ensino diferenciado do CBPF.”
Com a tradição de ser um dos principais eventos de Física do país, a VIII Escola do CBPF pretende reunir em julho, cerca de 500 estudantes na sede do instituto, no Rio. As inscrições para o evento ficam abertas até 10 de junho, para aqueles estudantes que pretendem pedir auxílio de participação, ou 30 de junho, para os demais.”

E então, achou bacana? Inscreva-se!

O olhar de Michelangelo e a divulgação de ciência

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“David, de Michelangelo”
Michelangelo era uma figura cercada por lendas… Uma delas diz que o artista, após ser interrogado sobre sua inspiração ao esculpir David a partir de um bloco maciço de mármore de carrara, respondeu que simplesmente tirou o “excesso” de mármore do bloco – a escultura em todo o seu esplendor já estava lá, e o que ele fez foi apenas torná-la explícita. Algo semelhante ocorre com o cientista que divulga ciência. Artigos científicos em geral são pesados, difíceis; é preciso ter os olhos de Michelangelo – ou seja, do especialista – para processar as informações ali presentes e perceber toda a sua potencialidade no meio de tanta aridez. Não é a toa que 73 % dos brasileiros (dados do MCT, de 2007) se informam pouco ou nada sobre ciência e tecnologia, embora 41 % tenham MUITO interesse pelo tema. O motivo? Não entendem.
Aí entra a divulgação científica bem feita, como agente transformador da sociedade por facilitar o acesso do público ao conhecimento gerado pela ciência. É como esculpir o bloco de mármore, para que todos possam admirar o David escondido nele. Isso abre caminho para que as pessoas exerçam sua cidadania científica (sim, esse termo existe!), ao inseri-las nos debates que, em última instância, definem as políticas de ciência e tecnologia de um país.

Cidadania científica: É a capacidade para participar das decisões públicas que envolvem assuntos relacionados a ciência e tecnologia. Não podemos esquecer que a ciência está inserida num contexto social, e a percepção pública sobre temas científicos e tecnológicos pode tanto impulsioná-los quanto derrubá-los completamente.

Os cientistas (ainda!) são atores tímidos desse processo. Historicamente, a ciência sempre foi algo hermético, para poucos iniciados. Dividi-la com as pessoas “comuns” não era visto com bons olhos pelos pares acadêmicos. Ainda bem que essa concepção está mudando – rapida e radicalmente. Além de iniciativas de estímulo do próprio governo à comunicação científica visando o público leigo, uma nova ferramenta surgiu para simplificar as coisas e aproximar cientistas e leigos: o weblog. É sobre isso e otras cositas mas que falarei amanhã, na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, em Tapes/RS, na palestra “Divulgação científica através de novas mídias: esculpindo textos, formando opiniões”, para uma das turmas de Gestão Ambiental.

“Em cada bloco de mármore vejo uma estátua; vejo-a tão claramente como se estivesse na minha frente, moldada e perfeita na pose e no efeito. Tenho apenas de desbastar as paredes brutas que aprisionam a adorável aparição para revelá-la a outros olhos, como os meus já a vêem.”
(Michelangelo di Ludovico Buonarroti Simoni, 1475-1564)

Dispersando: podcast de estréia do ScienceBlogs Brasil

O Igor já deu o anúncio no 42.

O primeiro podcast do ScienceBlogs Brasil ja está disponível, com participação de Rafael (RNAm) e do nosso ilustre editor-chefe, Igor (42) – além de euzinha aqui, com o maior sotaque gaudério (nem sabia que tinha um, hehehe). Compõem este primeiro podcast discussões que vão da eterna dicotomia entre donos de gatos e de cachorros (e o quão inteligentes eles supostamente são) até o conceito de verdade em ciência e porque não é absurdo um cientista mudar de opinião, passando por algumas críticas sobre como a mídia divulga alguns estudos científicos (Update 22/04/2010: informações sobre a evolução de hábitos alimentares a partir de obras de arte feitas em diferentes épocas ) .
Eis o link: Dispersando Podcast Vol.1. Enjoy!

Espaço Aberto Ciência & Tecnologia: uma batida e uma assoprada

Acabo de assistir ao mais recente programa Espaço Aberto: Ciência & Tecnologia, do canal de TV a cabo Globo News. O tema? Adivinhe lendo o título – Nanotecnologia nos alimentos: você sabe o que está comendo? Pois bem, como dizem as avós desse mundo, dessa vez vou bater e assoprar.
A matéria inicia com o jornalista fazendo a seguinte comparação: quem consome cigarros está ciente dos riscos associados a eles, mas quem consome alimentos nanotecnológicos não está. Eu entendo aonde o jornalista quer chegar com essa comparação, mas não posso deixar de apontar o quão infeliz ela foi. Sim, infeliz porque acaba dando margem para extrapolações e conclusões falaciosas, do tipo “cigarro e alimentos nanotecnológicos são tóxicos e perigosos, a diferença é que no primeiro caso quem consome sabe disso”.
Ora, se tem algo que me incomoda é quando o assunto nanotecnologia é abordado na mídia com tons alarmistas e como algo único, estanque e homogêneo. Já foi anteriormente discutido aqui neste blog que o universo de nanopartículas para uso biológico é vasto e diversificado, e que seus efeitos (benéficos e maléficos) no organismo e no ambiente estão intrinsecamente relacionados com sua composição, formato, tamanho e características de superfície. É excessivamente simplista e até contraproducente juntar tudo no mesmo balaio de gatos, pois isso não esclarece o assunto e estimula a criação de preconceitos difíceis de serem quebrados.
Como mencionei que assopraria depois de bater, não posso deixar de apontar que o tom foi mudando no decorrer da reportagem. Essa questão da complexidade e diversidade de nanomateriais e seus efeitos acabou sendo abordada pelos entrevistados de forma bastante clara e razoável. Andrew Maynard é físico, diretor do University of Michigan Risk Science Center e ex-conselheiro chefe de ciências do PEN (Project on Emerging Nanotechnologies) – além de blogueiro e tuiteiro. Em sua entrevista para a reportagem da Globo News, Maynard mencionou que, embora a ciência esteja no caminho certo, ainda há um grande grau de incerteza quanto aos riscos de tecnologias emergentes. Ele está certo. Mas isso não quer dizer que produtos nanotecnológicos sejam necessariamente inseguros, de acordo com o próprio Maynard. William Waissmann, cientista da Fiocruz também entrevistado pela equipe de reportagem, afirmou que a nanotecnologia “é um mundo novo do ponto de vista toxicológico”. Um exemplo mencionado na reportagem foi a prata que, na sua forma macroscópica, não oferece grandes riscos. No entanto, nanopartículas de prata vem sendo usadas nos mais diversos produtos ao redor do mundo, de potes plásticos para armazenar comida a máquinas de lavar roupas (e sua presença, às vezes, é completamente desnecessária). A redução do tamanho da prata à escala nanométrica muda suas propriedades. Isso pode causar que riscos toxicológicos e ambientais? Em que situações vale a pena utilizá-la? Tais perguntas são fundamentais, e para respondê-las, urgem pesquisas de impacto toxicológico e ambiental dos produtos contendo nanotecnologia, em especial daqueles com nanopartículas ditas insolúveis. Nesse sentido, faço coro com Maynard. A nanotoxicologia é uma área que precisa de expansão-relâmpago.
A regulamentação dos nanoprodutos também ainda é incerta. De acordo com Maynard, não existe lei que exija que o consumidor seja informado de que há materiais nanotecnológicos no produto consumido. É fundamental dar ao consumidor o direito de escolher e, dessa forma, exercer sua cidadania. E para isso, ele precisa não só saber o que um produto contém. Ele precisa estar (bem) informado a respeito da nanotecnologia, suas vantagens, seus riscos e suas complexidades. Durante sua entrevista, Waissmann comentou sobre um estudo americano curioso que aponta que o público se baseia menos em informações científicas e mais em seu contexto cultural para construir opiniões. Eu torço sinceramente para que você, leitor, conte por aí sobre informações científicas que vem aprendendo a respeito da nanotecnologia a partir de fontes REALMENTE confiáveis. Mas não conte apenas para um amigo ou dois. Conte a um bando de gente, incluindo pai, mãe, tia, avó, primo, vizinho. Quem sabe assim, nosso contexto cultural mude um pouquinho, e sejamos uma nação menos assombrada pelos demônios.
P.S.: Dessa vez, o pessoal da Globo lembrou de mencionar pesquisas brasileiras de excelência na área, tais como a língua eletrônica e a nanopelícula à base de proteína de milho para ajudar a conservar frutas, ambas ligadas à Embrapa Instrumentação Agropecuária (São Carlos, SP). A reportagem também usou imagens da Nanoarte criada pela equipe do prof. Élson Longo (UNESP), made in Brazil e internacionalmente reconhecida! Quanto a esse aspecto, mais que uma assoprada da blogueira, fica a apreciação da telespectadora – e a expectativa de que a lembrança se repita nas próximas.

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