Pedras pelo caminho

Hoje me acordei pensando em uma pedra numa rua de Calcutá. Numa determinada pedra numa rua de Calcutá. Solta. Sozinha. Quem repara nela? Só eu, que nunca fui lá. Só eu, deste lado do mundo, te mando agora esse pensamento… Minha pedra de Calcutá!

(Mário Quintana)

“Nano Graveyard” – Steven Herron, Stanford University

Olhe bem para a imagem acima. Seriam mesmo pedras de Calcutá pelo caminho? Nem de Calcutá, e nem mesmo pedras… . São apenas singelas nanoestruturas cuja imagem foi obtida por uma técnica conhecida como microscopia eletrônica de varredura. As cores ficam por conta do gosto do “artista”, que as inseriu depois, empregando um programa de imagem.

Mais uma bela obra do concurso Science as Art (2011), promovido pela Materials Research Society.

Porto Alegre me faz tão sentimental …..

Porto Alegre, 30 de abril de 2012. 

(por volta das 19h15min)

Enquanto escrevo essas linhas, na zona de embarque do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, estou naquele estado de espírito insólito em que felicidade e tristeza convivem de forma estranhamente harmoniosa. São meus últimos momentos como moradora dessa cidade, após um período marcante que durou cerca de 10 anos. Citando o escritor romano Plutarco, navegar é preciso. Após minha defesa da tese, que contou com a avaliação de uma banca elegante, propositiva e exigente (me invejem, foi uma banca excelente), chegou o momento de agradecer, refletir, relembrar e … mudar.

Nasci numa cidade do norte do RS chamada Passo Fundo, e lá vivi até os 19 anos. Num belo dia, nasceu aquela vontade de ir por mares nunca antes navegados, e parti para Porto Alegre. Meus planos consistiam em terminar a faculdade de Farmácia e logo em seguida voar para mais longe. Porto Alegre, na minha visão de adolescente, era um lugar cinzento povoado por seres estranhos de sotaque metido a besta. Não fazia parte dos planos fazer grandes amizades ou criar vínculos duradouros, mas sim apenas atingir metas acadêmicas e ir embora. Era minha forma tosca de lidar com a experiência do desconhecido. Acontece que Porto Alegre me trucou. E bonito.

Lembro bem do dia da primeira matrícula na faculdade, e dos sentimentos de excitação e medo pelo que estava por vir. Lembro das primeiras vezes em que saí pelos bares da Cidade Baixa, ainda deslumbrada com um novo mundo que se abria. Da primeira vez em que passeei pela Redenção, impressionada com o fato de um parque daquele tamanho estar cravado no meio de tanta urbanidade. Lembro de quando comecei minha primeira iniciação científica na área de tecnologia farmacêutica e da minha primeira apresentação em um Salão de Iniciação Científica da UFRGS (que acabou definindo alguns rumos da minha vida, mas deixo essa pra contar em outro momento).

Lembro dos queridos amigos que fiz ao longo desses anos, das pequenas loucuras que vivemos juntos e da cumplicidade que tornou essas amizades tão especiais. Lembro da solidão e da saudade. Dos amores e das decepções. Das escolhas erradas e das superações. Lembro de um momento de profunda tristeza que vivi, e de tantos momentos de profunda alegria que guardarei com carinho. Lembro de quando minha irmã veio morar comigo, e foi um sol na minha vida (aqui pode agradecer também pelas cervejas, rsrsrsrs). Lembro dos meus pais, da minha família, das milhares de ausências minhas porque sempre havia algo no lab para fazer. E do quanto eles me apoiaram sempre.

Lembro de tudo o que aprendi durante o mestrado, a bolsa DTI e o doutorado. Do quanto sou grata às professoras Sílvia e Adriana, que me receberam em seu grupo e sempre acreditaram no meu trabalho. E lembro também dos colegas sensacionais desse grupo, que contribuíram para tornar tão ricas minhas vivências ali. E, claro, como esquecer daqueles que me fizeram enxergar mais longe, meus queridos colegas, alunos e amigos do PEAC? E do maravilhoso e inesperado “presente” que ganhei de tabela ao participar desse projeto? (né, Fabiano?)

Porto Alegre me dói … ainda mais agora, nesses minutos de despedida. Se estou chorando? Estou, embaraçosamente. Em Porto Alegre vivi, cresci, caí, me levantei. Estou indo a um novo lugar, para começar uma nova vida há muito ansiada. Não há como não ficar extremamente feliz. Mas ao mesmo tempo bate uma tristeza, sabe? É que Porto Alegre me tem / não leve a mal /Obrigada, cidade querida, por tudo. Estarás sempre no meu coração.

“- última chamada para o vôo AD 4062 …”

Ok, hora de enxugar as lágrimas e sorrir. Campinas, estou chegando … para contigo também construir uma linda história … .

Dot

Acabo de receber esse vídeo por email, dica do Kentaro Mori:



Eis aí a menor personagem de animação stop-motion do mundo feita num Nokia N8, empregando um dispositivo chamado CellScope, que contém um microscópio acoplado e inicialmente foi concebido para aplicação médica pela equipe do professor Daniel Fletcher.
Nas palavras do Kentaro, “não chega a ser nano, mas é mili… talvez micro”. Lindinho, né?
crédito: SumoScience e Aardman.
originalmente visto no Design You Trust.

A luz das flores de Pandora

“E reparem no cravo o escravo da rosa / Que flor mais cheirosa / De enfeite sutil”
(Rancho das flores, Vinícius de Moraes)
E põe sutil nisso. Mais que sutil, nanoscopicamente pequeno.
nanoflower_pandora.jpg
Como você já sacou desde o início, a imagem acima é de nanocoisas. Mais especificamente, nanoestruturas de óxido de zinco, visualizadas por microscopia eletrônica de varredura e posteriormente colorizadas em programa de imagem. A semelhança com cravos é impressionante, não? O autor dessa nano-obra de arte chama-se Jian Shi (University of Wisconsin), e não é a toa que a fotomicrografia acima arrebatou o primeiro prêmio do concurso “SCIENCE AS ART” de 2010, promovido pela Materials Research Society.
E o que o título do post tem a ver com isso? Ora, o título da obra é “Self-illuminating flowers of Pandora” (algo como “flores de Pandora com luz própria”). Nada mais justo que manter essa referência também aqui no blog … e afinal, os “nanocravos” se parecem mesmo com as flores luminosas do universo mágico criado por James Cameron no filme Avatar, não é?

Poesia numa hora dessas?

Hoje não sou eu quem irá falar de ciência. Dessa vez, passo a palavra ao grande e sábio Luis Fernando Verissimo.
———————

Quem sabe?


Diz a mecânica quântica
que as partículas atômicas
se comportam de um jeito
quando são observadas
e de outro quando estão sós
(como, aliás, todos nós).

E quem nos assegura
que o Universo que está aí
não é como aí está
quando ninguém está olhando?


E que quando os atrônomos
se viram do telescópio
para a prancheta
o Universo não faz
uma careta?

———————

Hahaha, quem sabe?

Até mais! 😀
(agradecimento ao José Humberto Martins Borges, vulgo Zé, por emprestar o livro de onde tirei essa pérola, “Poesia numa hora dessas ?!”, Verissimo L.F., Editora Objetiva)

Um campo de girassóis poético

(primeiro lugar do prêmio “Science as Art” de 2008, da MRS, de autoria de K. Hark, Chinese University of Hong Kong – “Field of Sunflowers”)

Linda foto de girassóis, não é mesmo?

Hummm, girassóis? Parece… mas não é !
Essa é mais uma daquelas imagens obtidas por microscopia eletrônica e colorizada depois com fins artísticos. Também há arte e poesia no nano(bio)mundo!

Nanofibras de óxidos de silício possuem a habilidade de se organizar de várias formas, inclusive como essa, que se assemelha de forma impressionante a girassóis. Gálio e ouro atuaram como catalisadores da reação entre silício e oxigênio que resultou nessas lindas nanofibras, cada uma com cerca de 10 nm de diâmetro.

Não acha a reação das nanofibras poética? Pois bem, para ninguém dizer que não há poesia nesse post, transcrevo abaixo um dos meus poetas favoritos, no seu melhor heterônimo (na minha humilde opinião):

“O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás…
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem…
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras…
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo…”

(Alberto Caeiro)

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