Orações pelas vítimas de padres pedófilos
Juro que não havia me ocorrido propor um Prêmio Idéia Cretina até ler esta notícia sobre a iniciativa do Vaticano, solicitando orações para ajudar as vítimas de clérigos pedófilos. O mais chocante, a meu ver, é que um ato de hipocrisia assim tão óbvio — para usar uma imagem bíblica, que clama aos céus por vingança — só pode ser, de certa forma, inocente: nenhum cínico consciente do próprio cinismo seria capaz de executar uma enormidade dessas.
Digo, foi a crença em orações que transformou as vítimas em vítimas, para começo de conversa, certo?
E, de resto, se Deus realmente existisse — e se importasse com as vítimas de Seus ministros — Ele teria tido ampla oportunidade de ajudar antes, sem precisar ser exortado a tanto por milhões de fiéis prostrados, e depois de o dano estar feito.
Isso me lembra um bom argumento do filófoso australiano J.L. Mackie: se você é capaz de impedir um crime sem sofrer nenhum dano e sem correr nenhum risco, e não o faz, então você é cúmplice. Deus é capaz de tudo e jamais corre risco nenhum. Logo…
De um ponto de vista mais prático, há o risco de as orações agravarem a situação das vítimas, como mostrou este estudo sobre prece intercessória: dos pacientes de cirurgia cardíaca que souberam que estavam recebendo orações, 59% tiveram complicações, contra 51% dos que não receberam preces.
Ou Deus não está ouvindo, ou tem um jeito muito engraçado de atender a pedidos…
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