Clone do cientista maligno
O cientista e empresário americano Samuel Wood criou um clone embrionário de si mesmo e — em vez de usá-lo como back-up em algum plano de dominação mundial — simplesmente o destruiu, na preparação de um experimento para extração de células-tronco.
Para muita gente, o que Wood fez foi uma enormidade, começando com “brincar de Deus” (clonar-se) e culminando com assassinato (destruir o embrião). A idéia é de que, uma vez fecundado o óvulo, o que resulta (uma bolota de dezenas de células) já é um ser humano dotado de diretos.
Há quem afirme isso a despeito do fato de que, seguindo um critério muito parecido, mais “seres humanos” são mortos cada vez que você corta o dedo tentando descascar uma laranja; a despeito, ainda, do fato de que de todos os óvulos fecundados “naturalmente”, no bom e velho esquema do pecado original, pelo menos 50% deixarão de fixar-se ao útero, e serão eliminados sem que ninguém note; e dos que se fixarem, 30% acabarão vítimas de abortos espontâneos.
Resumindo: se o óvulo fertilizado é um ser humano, então cerca de 70% da população da Terra morre antes mesmo de nascer.
O plano de Deus é realmente misterioso.
Hoje em dia, aceita-se que a morte vem quando o cérebro pára de funcionar: mesmo que o coração continue batendo, a morte cerebral basta para que, por exemplo, um doador tenha os órgãos extraídos para uso em transplante. Se o fim do cérebro marca a morte, como se pode falar em vida, antes mesmo que o cérebro tenha começado a surgir?
Um argumento muito usado é o de que o embrião tem o potencial de se tornar uma nova pessoa, enquanto que o corpo com morte cerebral não tem mais potencial nenhum. Mas é estranho usar o conceito de potenciais para determinar direitos: por exemplo, como brasileiro nato, tenho o potencial de ser presidente da República. Isso não me dá, porém, o direito de viajar amanhã para Paris no Aerolula, nem de contar com a proteção da Polícia Federal toda vez que saio na rua.
O que é uma pena, mas estou começando a me conformar…
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