Onde está a vida?

A mesma história, de dois ângulos diferentes: primeiro, a justiça italiana autorizou a remoção dos tubos de alimentação e hidratação de uma mulher que se encontra em estado vegetativo há mais de uma década. Segundo: a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara de Deputados rejeitou o projeto de lei de descriminaliza o aborto.
Por quê, a mesma história? Porque ambas as notícias tratam da forma como cada sociedade reage ao fato de que sem mente, não há ser humano. “Vida humana”, até as raízes de meus cabelos têm; agora, para ter “existência humana”, é preciso um cérebro funcional.
A decisão italiana representa um reconhecimento parcial do fato. Parcial porque não houve autorização para a eutanásia, e sim para suspensão de alimentação, gerando o seguinte absurdo: é um crime dar a Eulana Englaro uma morte rápida, mas é Ok deixá-la morrer lentamente, de fome e sede.
No caso dos deputados em Brasília, como sempre é difícil saber o que é fruto de convicções pessoais e o que é puro comodismo (quem vai querer afrontar a igreja católica em ano eleiroral?).
Mas o mais engraçado, mesmo, é ver ressurgirem argumentos do tipo, “se o aborto fosse liberado, você talvez não estivesse aqui”. Será que quem diz isso não percebe que está reduzindo o amor materno a medo de ir pra cadeia?

Jesus, o plágio?

Um dos vários non-sequiturs usados por cristãos para defender suas crenças de críticas diretas (tipo, falta de evidência, contradições internas, etc) é o da originalidade: nunca antes na história deste país… desculpe, deste planeta… houve idéias, filosofias e histórias assim.
A alegação já nasce furada, uma vez que boa parte dos ditos “orginais” de Jesus já estava em outras fontes: um caso clássico é o”amai-vos uns aos outros”, que aparece, cuspido e escarrado, no Levítico (cap. 19, v. 18).
Nem mesmo as histórias do filho de um deus com uma mortal, ou do filho de um deus que morre e ressuscita, são novas (e as versões de Héracles e Hórus são bem mais divertidas que qualquer coisa na Bíblia); pô, até o filósofo Apolônio de Tiana parece ter conseguido algo parecido.
E se formos levar os Evangelhos a sério (o que podemos fazer, mas só por alguns instantes), a própria idéia de voltar dos mortos já era moeda corrente na época de Jesus — até Herodes fala na ressurreição de João Batista!
Agora, mais um buraco no barco: aparentemente, a noção de “ressurreição após três dias” era tida como prova da “originalidade” do relato evangélico (três dias! quem poderia ter pensado nisso? só deus, claro)… Mas eis que surge evidência em contrário.
Advertência: a questão ainda é polêmica, como mostra este artigo. E, claro, mesmo que a idéia dos três dias não seja original, isso não prova nada, contra ou a favor. Do mesmo modo que a originalidade, se confirmada, também não provaria.

Há uma lição aqui, em algum lugar.

Fraude é uma coisa relativa

Grigory Grabovoi foi condenado pela justiça moscovita por prometer ressuscitar crianças, e cobrar, para tanto, uma módica taxa de 40 mil rublos, ou cerca de R$ 2 mil. Bolas, diversas igrejas cristãs prometem ressuscitar todo mundo, e os corpos ressuscitados terão mais superpoderes que todo o “cast” da DC Comics, cobrando para isso coisas como devoção, obediência e 10% da sua renda, e ninguém faz nada a respeito!
Trata-se de uma questão, imagino, de antigüidade e de contingente: engane meia dúzia em dois meses e você é um estelionatário; engane milhões ao longo de séculos, e as pessoas começarão a lhe perguntar se pôr o pipi no popó tem repercussões metafísicas.
Na mesma linha: o sempre brilhante Skpetics Dictionary está estreando novos verbetes, incluindo um sobre Lourdes (a foto desta postagem, caso você esteja se perguntando, é de Bernadette Soubirous, a inventora da coisa toda). De Joe Nickell a Richard Dawkins, a fantástica falta de substância das lendas ligadas ao santuário — e sua notável ineficácia sob todos os aspectos, exceto como ímã para turistas — já foi exposta inúmeras vezes, mas o verbete oferece um bom resumo e diversas conexões interessantes.

Rubinho, ou o poder da persistência.

Uma coisa legal sobre esportes (a única coisa legal sobre esportes, em minha opinião pessoal) é que existem estatísticas detalhadas sobre praticamente cada aspecto de cada tipo de competição, e que se prestam muito bem a brincadeiras científicas de teste de hipóteses.
Por exemplo: Rubinho Barrichello tem talento?
Vamos considerar “talento” como a capacidade de obter uma performance acima do que seria de se esperar pelo mero acaso. Rubinho tem dois recordes — é o piloto que mais disputou provas na Fórmula 1 (262) e o que mais pontos marcou na carreira (530), uma média de 2 pontos por prova. Essa é uma média significativa, ou apenas a justa recompensa por uma inabalável teimosia?
Vejamos: na Fórmula 1, pontuam os oito pilotos mais bem colocados em cada prova. As corridas costumam contar com cerca de 20 pilotos; digamos, portanto, que a chance de um piloto pontuar por pura sorte — se, por exemplo, todos os que estão na frente dele quebrarem — seja de 40%. O esquema de pontuação é, em ordem decrescente de chegada, o seguinte: 10, 8, 6, 5, 4, 3, 2, 1. A pontuação média, arredondando para cima, é 5.
Assim, a pontuação média que um piloto sem talento pode esperar, contando apenas com pura sorte, é 5 x 0,4 = 2 pontos.
Ops.
Vamos ver por outro lado: apenas os três primeiros colocados em cada prova vão ao pódio. Assim, a chance de um piloto chegar ao pódio por pura sorte é de 3/20, ou 15% por corrida. Ele conseguiu 62 em 262, ou 23%. O dobro.
Esses resultados parecem sugerir que ele tem talento para o pódio, mas não para pontuar. Como isso é possível?
Mais análises em breve…

Richard Wiseman

O psicólogo britânico Richard Wiseman tem uma carreira acadêmica sólida na área de pesquisa paranormal (nunca encontrou um fenômeno que merecesse confirmação, e já escreveu dois tratados acadêmicos sobre como testar supostos “videntes”). Mas ele também pratica uma psicologia mais “pop”, ilustrando conceitos obscuros com exemplos marcantes. Um ótimo caso é o do vídeo abaixo:

Go, Voyager, Go!

As duas Voyagers continuam a enviar dados para a Terra, mais de 30 anos após o lançamento. Esse feito em si já é notável, mas o que sempre me impressionou mais nessas duas sondas foram os discos dourados que transportam — e que serão, possivelmente, o último testamento da humanidade.

Se o homem fracassar em se espalhar pela galáxia — o que, dada a absurda falta de competência de nossa espécie, me parece extremamente provável — esses dois discos conterão praticamente toda a informação que o universo jamais terá sobre nossa existência.
Nossas transmissões de rádio e televisão, claro, também viajam pelo espaço, mas elas requerem decodificação; os discos também, mas eles levam as instruções junto.

(Há ainda as placas das Pioneers 10 e 11, mas os discos das Voyagers são muito mais vívidos e completos)

Quando o sistema solar não for nada além de cinzas e pó, os discos ainda existirão. Para além do “wishful thinking” mesquinho das religiões, essas duas máquinas do século XX são nossa única real chance de eternidade.

Varizes!

Resolvido, afinal, o Mistério da Casa que Jorrava Sangue: não era nada mais que varizes estouradas, de acordo com laudo da perícia. Gostraria de ver a cara dos “especialistas” que falaram em “alma penada” e outros quetais…
Há várias lições a tirar do caso, desde a exploração pela mídia, mais interesada em fazer onda que em esclarecer o caso — foram ouvir espíritas e o Padre Quevedo, mas não um médico ou um cientista independente — e até uma questão cultural: confrontados com o sangue, os moradores da casa foram procurar um padre.
Por quê?
De resto, continuamos a aguardar, ansiosamente, a resolução do caso da santa que chora sangue e azeite.

A pílula de Deus

Experiências místicas induzidas por psilocibina podem trazer benefícios psicológicos de longo prazo, mostra um estudo de acompanhamento de voluntários que se submeteram à droga sob condições controladas.
O principal autor do trabalho, Roland Griffiths, diz que não se trata de uma “pílula de Deus”. Seria interessante realizar um estudo mais a fundo para testar essa idéia, por exemplo, com ressonância magnética funcional, e ver se é possível distinguir uma experiência mística “legítima” de um barato psicodélico.
Aposto minha coleção de livros de E.E. Doc Smith que não se encontrará diferença alguma.

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