O paradoxo do eleitor
Com as eleições municipais se aproximando, resolvi fazer uma série de postagens sobre os vários “paradoxos de votação”, ou os diversos problemas lógicos que emergem quando se adota um sistema eleitoral do tipo “um homem, um voto” (Ou, pra ser mais preciso, um homem, uma mulher, um adolescente, um voto).
Começo pelo que talvez seja o mais polêmico de todos, porque entra em choque com toda a propaganda bem-intencionada de que o “voto é a arma do cidadão”. Trata-se do Paradoxo do Eleitor, que afirma, pura e simplesmente, que numa sociedade racional o índice de abstenção deveria ser de 100%.
Por quê? Ora bolas, porque o voto indivudual é irrelevante. Se o seu candidato predileto está na frente da disputa, ele vai ganhar mesmo se você ficar em casa. Se ele está atrás, vai perder, não importa o que você faça. Logo, sair para votar é perda de tempo.
Para ilustrar com números: imagine uma cidade de 100 mil eleitores, com apens dois candidatos fortes, onde um tem 45,9% das intenções de voto e o outro, 45,8%, os cerca de 10% restantes estando com candidatos menos expressivos. Parece uma corrida apertada, mas que diferença um voto individual faz? 1/100.000 = 0,001%. Seu voto não chega sequer a registrar como algarismo significativonas pesquisas. Então, pa quê perder tempo?
Mas se todas as pessoas raciocinarem desta forma, então ninguém aparecerá para votar.
Como muitos paradoxos envolvendo previsão de comportamento humano, este aqui se complica por conta da recursividade: se só uma pessoa aparecer para votar, esse voto único será decisivo. Logo, é racional ir votar se você acredita que ninguém mais irá. Só que, se todo mundo raciocinar dessa forma, todos irão votar, e o voto individual voltará a serr irrelevante, então é melhor não ir votar. E assim por diante, ciclicamente.
Discussão - 7 comentários
Hmmm... Cuidado com a falácia de “se todo o mundo”... É tão falsa quanto o “Asno de Buridan”. “Se todo o mundo achasse que não vale a pena discutir idéias, ninguém publicaria um Blog”...
Mas, aproveitando a deixa, eu gostaria de fazer uma "modesta proposição": torne o voto facultativo; e, usando seu exemplo de uma cidade com 100 mil eleitores, só permita que candidatos com um mínimo de 5.000 votos possam exercer um mandato tipo proporcional... E torne o voto dos representantes eleitos proporcional ao número de eleitores que representam. (lhe garanto que, no máximo na terceira eleição, o absentismo iria cair muito).
Não sendo proibido o candidato votar em si mesmo, e nem todos os eleitores com votos comprados(adeptos), este paradoxo torna-se inaplicável.
Alguém sempre irá votar, um partido sempre contará com seus afilhados (parônimo proposital), e a propaganda eleitoral gratuita sempre contará com os palhaços de sempre tentando assediar seu público.
Para um cargo como o de prefeito, o paradoxo funciona direito... Mas, para outros cargos, como o de vereador, a figura muda bastante, não?
Não achei tão paradoxal.
Não seria suficiente a experiência que temos de que isso não ocorre?
Oi, Igor!
O que torna a situação paradoxal é exatamente o fato de que isso não acontece. Isso sugere que ou o conceito de racionalidade que baseia a suposição está furado, ou as pessoas não são agentes racionais ao tomar esse tipo de decisão... ou que o motivo que leva uma pessoa a votar não é idêntico à simples vontade de ver um candidato vencer (pode ser ter a sensação de exercer a cidadania, tomar parte num evento cívico, etc).
estou fazendo um t
rabalho do final de curso de licenciatura em jornalismo em moçambique e o tema do trabalho é o paradoxo do voto ajudem me por favor ......valeu
Olá, Matias!
Olha, vc encontra algumas referências interessantes sobre o assunto na wikipedia, e recentemente saiu um bom livro sobre o assunto (nos EUA) chamado "Gaming the Vote". Além da série de paradoxos resumidos neste blog, v pode pesquisar também o Paradoxo de Condorcet. E acho que é isso...