The seven-per-cent solution
Neste romance de Nicholas Meyer, o Dr. Watson leva Sherlock Holmes a Viena, para que Sigmund Freud tente curá-lo de seu vício em cocaína. Estamos em 1891, e Freud ainda não tinha inventado a psicanálise — estava a meio caminho. A cura de Holmes vem por meio de uma combinação de hipnose (para reduzir a ânsia pela droga) e o bom e velho “cold turkey”: eliminar o acesso do viciado à droga e trancar a porta.
No fim, ficamos sabendo que Holmes sofreu um trauma profundo na juventude que, guardado em seu inconsciente, levou-o ao vício e a várias características de sua personalidade, como a misoginia e o desejo de denunciar e capturar criminosos.
Trata-se de uma boa peça de ficção policial (e científica?) mas me deixou com uma dúvida: o inconsciente freudiano, o conceito de motivações inconscientes, ainda faz sentido, psicologicamente?
Discussão - 4 comentários
Cretinas:
Sherlock Holmes anda cada vez mais descaracterizado. Já não é mais o fascinante e cerebral investigador.
Outro dia assisti uma versão não tão nova, da dupla Sherlock e Dr. Watson. Pois bem, nessa história o genio era o Watson e o Holmes um tolo.
Mostravam ali que sempre fora assim e Holmes não passava de um "laranja". Detestei a versão, somente não sei realmente se o autor foi mesmo Conan Doyle.
Quanto ao inconsciente freudiano e as motivações inconscientes, não sei comentar se ainda fazem sentido. Talvez devessemos retomar Locke ou Descartes ou mesmo Leibnitz, afinal Freud não foi tão original, o que me lembra de novo Holmes.
Pois é, coisas assim acontecem quando o personagem cai em domínio público... Todo mundo que tem uma idéia pode tirar um "casquinha", e a primeira "casquinha" em que a maioria pensa é a da "desconstrução".
Mas o livro do Meyer tem méritos, inclusive o de tratar o personagem do dignidade. Eu realmente fiquei curioso em saber se a parte psicológica da narrativa ainda se sustenta.
Essa pergunta que você fez no final é uma das maiores polêmicas nas faculdades de psicologia. Metade dos profissionais ali diriam que sim, a outra metade diria não.
De lá pra cá muitos outros teóricos inventaram seu "blábláblá" alegando serem melhores para estudar o ser humano do que a teoria de Freud. Mas na minha visão, continua sendo blábláblá, continuam partindo de teorias e cheios de conceitos subjetivos e metafísicos.
Existe uma abordagem na psicologia que trabalha a interação dos organismos com o ambiente sem utilizar conceitos metafísicos como um "inconsciente" interno causador de comportamentos, além de utilizar a metodologia científica em pesquisas de laboratórios para dar suporte à suas teorias. Esta é a abordagem da Análise do Comportamento, que de 50 anos pra cá tem sido muito criticada por estudar os comportamentos de maneira científica. No entanto, pelo menos na clínica, é a que traz resultados mais rapidamente em diversos transtornos comportamentais.
Se tiver interesse, recomendo "Compreender o Behaviorismo" de William Baum, ou "Ciência e Comportamento Humano" de B. F. Skinner!
Valeu, Felipe! Vou atrás dos livros...