Contagem de Borda

Não, não se trata de uma técnica para medir o perímetro (ou a borda) de alguma coisa, das de um método de votação, usado, diz-me a Wkipedia, na Assembléia Nacional da Eslovênia e no Parlamento de Nauru. O sistema foi batizado com o nome do matemático francês Jean-Charles de Borda, mas surgiu independentemente em várias partes do mundo. É bem possível que esteja sendo reinventado, neste instante, numa classe de pré-primário em alguma parte do mundo.
Como funciona? Simples: cada eleitor dá pontos para os candidatos numa lista, de acordo com sua preferência pessoal: o favorito ganha um ponto, o segundo, dois, etc. No fim, quem tiver menos pontos,  ganha (dá para fazer o contrário, também: numa eleição com 5 candidatos, o favorito ganha 5 pontos, o segundo, 4, etc. Nesse caso, quem tiver mais pontos ganha).
O sistema tem a vantagem aparente de eliminar a possibilidade de haver um “spoiler” na eleição (isto é, um candidato que, sem chances de ganhar, mesmo assim tira votos de outro que poderia vencer). Numa contagem de Borda, candidato que, numa votação normal, acabaria prejudicado pelo “spoiler” geralmente acaba em segundo lugar na lista dos eleitores do “spoiler” e, graças a isso, acumula pontos suficientes para ganhar.
Assim como a maioria dos sistemas de votação, a contagem de Borda é vítima do teorema da impossibilidade, o que significa que tem lá seus problemas, comuns a processos eleitorais em geral.
Mas ela tem um defeito bem específico: a contagem de Borda pode ser manipulada por um truque chamado sepultamento. Basicamente, trata-se de um método de “voto útil” em que o eleitor “sepulta” o principal adversário de seu candidato favorito no fim da lista. Isso distorce os resultados de modo perigoso.
Por exemplo, imagine uma eleição entre Kassab, Marta e Hitler. Os eleitores de Kassab sabem que Marta é a única adversária séria de seu candidato, e vice-versa. Só uma meia-dúzia de malucos votaria em Hitler. Então, numa contagem de Borda, o melhor, se você torce por Kassab, é garantir que Marta vá para o fim da cédula. Se você é petista, o mesmo raciocínio se aplica, em relação a Kassab.
Logo, a cédula “racional” de um eleitor de Kassab é:
Kassab
Hitler
Marta
E de um eleitor de Marta:
Marta
Hitler
Kassab.
Com isso, Hitler consegue 100% de segundos lugares entre seus opositores ( e 100% de primeiros lugares entre a meia-dúzia de malucos), e nenhum último lugar. Com isso, ele tem uma boa chance de acabar eleito!

Discussão - 4 comentários

  1. João Carlos disse:

    Isso responde a meu questionamento no post anterior... 😉

  2. Carlos Hotta disse:

    Interessante este fenômeno, dessa forma é melhor dar mais pontos para os candidatos que vc escolher mas não necessariamente para todos os candidatos... assim Hitler nunca ganharia um voto... ou não.

  3. Igor Santos disse:

    Ou dar uma pontuação estilo F1, com 10 para o primeiro, 5 para o segundo, 3 para o terceiro, 2 para o quarto, ou algo assim, aumentando a distância entre o favorito e os outros.

  4. Fernando disse:

    Na contagem de borda tem um principio que os eleitores sejam em sua maioria RACIONAIS o que não é o caso da política nacional

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