De quem é a vida, afinal?

O filme de 1981, com Richard Dreyfuss, no qual um escultor tetraplégico luta para conseguir o direito ao suicídio assistido continua atual, como atestam os casos de Craig Ewert, um dos chamados “suicide tourists” que procuram clínicas suíças para pôr fim à vida, e da italiana Eluana, cuja família, mesmo de posse de uma sentença judicial autorizando o coete da alimentação/hidratação da paciente, não encontraum hospital disposto a executar o procedimento (inclua aqui seu “rant” favorito contra obscurantismo católico e seus efeitos deletérios na cultura italiana).
O título do filme de Dreyfuss (na verdade, do diretor John Badham) vai direto ao cerne da questão: de quem é a vida? A posição liberal clássica é a de que o ser humano é, antes de tudo, proprietário de si mesmo — todos os outros direitos emanam desse fato.
Nesse caso, a rejeição ao suicídio assistido é uma violação da própria base do conceito de direito humano, uma porta perigosamente aberta ao totalitarismo. Se a coletividade pode privar uma pessoa da escolha de como morrer, o que a impede de privá-la de decidir como viver, em que religião acreditar, quais livros ler…?
Mas é óbvio que a perspectiva liberal não é a única. Existe a idéiade qu a vida não é propriedade da pessoa, mas algo que ela tem em sua custódia. A identidade do verdadeiro dono da vida varia dependendo da concepção que se adota — deus, o Estado, a família, a humanidade como um todo — mas o princípio geral é de que cada indivíduo tem o dever de usar a vida para o engrandecimento do verdadeiro dono.
Pessoalmente eu prefiro a visão liberal, mas isso não me impede de reconhecer que a perspectiva da vida como “dávida” ou “empréstimo” possa ser mais eficiente no longo prazo, darwinianamente falando.
Abaixo, trecho de um documentário sobre a morte de Ewert:

Discussão - 2 comentários

  1. Felipe disse:

    A minha vida é um presente dos meus pais para eles mesmos, comemorar seu sucesso como casal.
    Minha vida pertenceu ao estado até os 18 anos, quando é o estado que determina como meus pais deveriam me tratar. Se me tratassem mal, perdem a tutela.
    Aos 18 anos minha vida passou a pertencer aos militares, quando me alistei, jurei morrer defendendo meu país. Morto pelos que fizeram o mesmo em suas respectivas nações.
    Até (eu realmente não sei a idade, 60 anos?) serei reservista, pertencerei aos militares, e quando eles decidirem me chamar, minha vida é deles.
    Se eu decidisse me suicidar, psicologicamente sadio, e sem ter uma [forte] razão para isso, serei impedido?
    Gosto desse assunto. Junto com eutanásia, canibalismo e aborto. Quem é dono de quem?

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