Histórias de Natal
Há alguns anos, a revista Time fez uma reportagem de capa sobre as inconsistências que existem nas duas narrativas da natividade de Jesus presentes na Bíblia. Pouca gente teria como saber disso só pelos trechos do evangelho que costumam ser lidos na missa, mas o fato é que, das quatro “biografias autorizadas” de Jesus, só duas — as atribuídas a Mateus e Lucas — narram o nascimento do messias, e o fazem de forma gritantemente auto-excludente: só com muita teologia do crioulo doido é que dá para pensar que ambas são a mesma história.
Em Mateus, o casal José-Maria é natural de Belém, mas foge para o Egito a fim de escapar da perseguição de Herodes (no caso do “massacre dos inocentes”, que nenhum historiador da época, nem mesmo os inimigos políticos de Herodes, registra) e, depois, acaba radicando-se em Nazaré. Jesus nasce na casa de José (nada de manjedoura e vaquinhas de presépio) e recebe avisita do três sábios do Oriente.
Em Lucas, a família é de Nazaré para começo de conversa, mas é forçada a viajar a Belém por conta de um censo ordenado pelos romanos e que exige que cada família seja contada na terra de sua tribo, e não no local onde vive — outro detalhe que nenhuma história registra e que, de fato, não faz sentido: afinal, para que diabos um adminsitrador precisaria saber da onde cada família se origina? o importante é saber quantas bocas a para alimentar em cada lugar (ou, talvez, quantos homens saudáveis cada cidade tem a oferecer ao exército…).
Aí entra a conversa da manjedoura. Mas neca de Egito, magos ou Herodes.
Curiosamente, essas inconsistências estão entre os fatores que levam os historiadores a supor que é provável que o mito de Jesus tenha, de fato, se inspirado em uma pessoa real: ambos os autores se dão a um bocado de trabalho para explicar como um sujeito conhecido pela alcunha de “Nazareno” poderia ter nascido em Belém — o que é algo como um cara nascido em Porto Alegre acabar ficando famoso como “Alagoano”.
A idéia geral é que o Jesus histórico provavelmente era de Nazaré, mas que o mito judaico exigia que o messias fosse nascido em Belém, daí a embromação.
Sempre que penso nessa história, fico com pena de Herodes. O cara estava longe de ser uma flor, ma não era essencialmente pior que a média dos monarcas da época, com a queda usual para intriga palaciana, paranóia e assassinato político de parentes e amigos. Mas acabou entrando para a consciência coletiva como um monstro sanguinário.
Discussão - 4 comentários
Seja lá qual for a historia verdadeira nao é incrivel que todo mundo a conta faz 2009 anos??
De qq forma, Feliz Natal! 🙂
na verdade, só começaram a fazer a conta um bom tempo depois... Mas, que diabo: feliz natal, yule, newtal, chanukkah, samhain... E um ótimo ano-novo!
Aqui é 3174 YOLD. Só no ocidente com esse calendário gregoriano que será 2009...
De qualquer forma, feliz feriados religiosos.
"teologia do crioulo doido " foi muito engraçado...