Paradoxo de sexta (7)
O da semana passada foi abatido assim que levantou a cabeça: trata-se, de fato, de uma divisão por zero. Existe toda uma coleção de “provas” matemáticas absurdas que dependem de um pouco de prestidigitação para passar uma divisão por zero por baixo do nariz das pessoas — a que apresentei nem foi a mais das mais sofisticadas (algumas, depois de introduzir a igualdade a = b, um pouco mais adiante inventam uma fração com o denominador 2a2-2ab, bem melhor que o meu tosco a-b).
Bom, como este é o último paradoxo do ano, resolvi apresentar um clássico da encruzilhada entre ética e ambientalismo, o Paradoxo das Gerações Futuras. É o seguinte:
Imagine que surja um plano econômico para, digamos, liberar geral na exploração da Amazônia. Corte-se madeira à vontade, cavem-se minas de todo tipo, espalhe-se a soja, a cana, o gado. Imagine, ainda, que fique demonstrado que esse plano trará enormes benefícios econômicos prara as próximas 5 gerações de brasileiros: desfavelização das grandes cidades (com as pessoas correndo em busca de oportunidades no Norte), crescimento desenfreado do PIB, desemprego zero, fim da miséria e da pobreza. Mas a sexta geração enfrentará um colapso ecológico sem precedentes, que causará a morte — por fome, sede, doenças — de 60 milhões de pessoas.
A questão é se as pessoas responsáveis pela adoção do plano têm algum tipo de responsabilidade moral para com as vítimas da sexta geração (e, claro, das gerações seguintes, já que o pepino será passado adiante). A resposta paradoxal é: não. Por quê? Porque, sem a grande movimentação social, a elevação de renda e as migarções geradas pelo plano, essas pessoas sequer teriam nascido. Seus pais, muito provavelmente, sequer teriam se encontrado. Não importa se vão morrer por causa do plano: elas devem a vida a ele, e portato não têm do que reclamar.
Generalizando, a geração atual não tem nenhuma obrigação para com as gerações futuras, porque todos os indivíduos do futuro devem a existência ao que é feito no presente — tanto aos erros quanto aos acertos.
Certo?
Discussão - 7 comentários
Eu não sou bom em resolver paradoxos, muito menos os que envolvam questão de ética... Mesmo assim, eu acredito que o ponto-chave é a afirmação que: essas pessoas sequer teriam nascido (...) devem a vida a ele [o tal plano]. Ou seja, são uma conseqüência previsível e inevitável do dito-cujo plano.
"Devem a vida". Você fala como se a vida fosse uma coisa boa.
Engraçado.
Ei, não sou eu quem falo, é o enunciado do paradoxo. Ou: as opiniões expressas nos paradoxos não são, necessariamente, as do blogueiro.
Acredito que a principal questão ética é a consciência do dano, ou seja, a primeira geração SABE estar causando um dano, logo tem responsabilidade sim sobre os efeitos do que faz. Quando a escolha é consciente e autônoma, ela implica em responsabilidade, logo é imputável. Seria eticamente mais aceitável se a primeira geração e as que se seguissem não fossem conscientes do dolo, embora o dano "per se" não se cancelasse. è uma questão moral.
Muitas coisas acontecem desta forma no mundo real. Basta ver a questão da contaminação química ambiental. As pessoas a ignoram e então é como se ela não existisse. Mas existe e causa danos. Tantos quantos os do clima, mas ninguém sabe, ninguém viu,...
Eu acho que a sexta geração será inevitável (a não ser que o pessoal do VHEMT consiga apoio de verdade), aconteça o que acontecer.
O problema mesmo seria da quinta (ou quarta) geração, que saberia do problema com bastante antecedência e poderia se mudar ou tentar solucionar o problema.
Os meios justificam os fins. Não é assim que corre o ditado?
Rapaz, você conseguiu ser mais eficiente, mais convincente e menos chato que o Lomborg para explicar o conceito de "taxa de desconto". E não usou nenhuma estatística, nenhuma nota de rodapé.
Mazel tov!
Uau!! Adorei esse paradoxo! E eu nao tenho resposta... Vou envia-lo para amigos ambientalistas para saber o q eles pensam sobre o assunto.
Só sei que o mundo tem sido mais ou menos assim desde q o homem surgiu, nao? Acho que a nossa geração é a primeira a se preocupar com as ditas futuras gerações...