Lança-perfume homeopático, por que não?

Saiu — ainda que discretamente, no pé da página — a notícia de que Anvisa autorizou a circulação de um remédio homeopático “para os sintomas da dengue” (provavelmente, os reguladores devem achar que a expressão “para os sintomas” é um hedge suficiente para a catástrofe de saúde pública potencial embutida na decisão; e de certa forma é: água com açúcar, por exemplo, alivia os sintomas de praticamente tudo).
Há tantas coisas erradas com a homeopatia, cientificamente falando, que uma lista certamente extrapolaria os limites de uma postagem de blog. Mas, à maioria das objeções científicas, os defensores da prática costumam responder: “Bolas, e daí? o fato é que funciona”.
Isso geralmente tende a desencadear um segundo debate teórico, sobre o que significa “funcionar” — no caso, ter testemunhos favoráveis (abundantes) versus uma análise científica e estatísitica adequada (inexistente) — mas, desta vez, vou citar apenas uma objeção, muito prática, direta, nada teórica, puramente testemunhal: se a homeopatia funciona, por que os narcotraficantes não a usam?
Digo, a ideia básica da homeopatia é que, quanto mais diluída uma solução, maiores os efeitos gerados pelo soluto. À objeção de que, se isso fosse verdade, bastaria um coliforme fecal solitário no caudaloso Amazonas para matar toda a população da Região Norte de cólera, a resposta costuma ser de que não basta diluir, é preciso potencializar – i.e., chacoalhar a solução do jeito certo. Da onde se vê que o vodka matini de James Bond, shaken, not stirred, também tem algo de homeopático. Ou, se você balançar o copo do jeito certo, o seu uísque vai ficar mais forte à medida que o gelo derete!
Bom, voltando aos narcotraficantes: parece-me que andam perdendo dinheiro, já que um mero grão de cocaína, se diluído e chacoalhado corretamente em água destilada, poderia ter o mesmo efeito que uma dose normal. A preços da ordem de US$ 80 o grama (no Reino Unido, segundo a Wikipedia) a capacidade de esticar um grama até o infinito, vendendo um grão de cada vez, tem vantagens econômicas evidentes.
E, no entanto, isso não é feito. Na verdade, os traficantes preferem, na hora de aumentar espuriamente o volume de produto, “cortar” a droga com outras drogas mais baratas, como metanfetaminas.
Por quê, ea solução homeopática (com o perdão do trocadilho) está aí, à mão? Hoemopatas podem ser, no geral, pessoas muito sérias e éticas, mas bastaria meia dúzia de “maçãs podres” a serviço dos cartéis para pôr o esquema em andamento!
Eu tenho a impressão de que existe um “paper” em algum lugar sobre o uso da homeopatia na produção de drogas “recreativas”, mas o Google está de mau humor hoje e não consigo encontrá-lo… Pena.

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