Paradoxo de sexta (25)

O da semana pasada (“por que todo corvo é negro” funciona como sentença para um teste por indução e “todo não negro é um não corvo” não, se as sentenças são logicamente equivalentes?) atraiu poucos comentários, mas de alta qualidade! Até Nelson Goodman e seu paradoxo de “grue” e “bleen” foi citado.
(“Grue” e “Bleen” é uma situação pradoxal que requer algumas várias páginas para ser descrita… É improvável que um dia você venha a vê-la tratada em detalhes neste blog. Mas dá para começar por aqui).
A questão de por que frases logicamente equivalentes podem não ser indutivamente equivalentes tem várias propostas de solução. A minha favorita é a que duistingue entre fatos e enunciados. A indução lida com fatos, a lógica, com enunciados. Na prática essas duas coisas muitas vezes são intercambiáveis, mas nem sempre. Assim, é sempre preciso desconfiar quando alguém tenta provar um fato simplesmente manipulando enunciados (como a famigerada prova ontológica da existência de deus) ou quando alguém tenta provar enunciados manipulando fatos.
para ficar no clima, o desta semana será exatamente a supracitada prova ontológica. Ela tem várias formulações, mas a clássica é esta:
Imagine um ser dotado de todas as perfeições em seu grau máximo. Chame esse ser de deus.
Esse ser existe na sua imaginação.
Mas existir na realidade é um grau de perfeição superior a existir apenas na imaginação.
Logo, se o ser que você imaginou tem todas as perfeições num grau máximo, então Deus existe na realidade.
O argumento ontológico é curioso porque quanto mais se pensa nele, mais tolo ele parece — e mais difícil fica determinar exatamente onde a tolice está. Este é o paradoxo deste feriado.
E, por falar no feriado:
De pé, ó vítimas da fome!
De pé, famélicos da terra!
Da ideia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra.

(Não. não sou comunista, mas gosto da Internacional. Um dia ainda vou fazer uma postagem sobre a crítica de Popper ao marxismo, que deveria ter posto toda a ideia de “socialismo científico” a nocaute há muito, muito tempo…)

Discussão - 3 comentários

  1. Cleber disse:

    O problema desse argumento é que é possível inferir a existência de qualquer coisa maximamente perfeita simplesmente por se conceber tal coisa. A resposta do Monge Gaunilo ao Santo Anselmo é mais ou menos essa. É possível inferir a existência da ilha mais perfeita começando por "imagine a ilha maximamente perfeita", ou inferir a existência de um unicórnio com um "imagine o unicórnio maximamente perfeito", etc.
    Um abraço.

  2. Tene Cheba disse:

    Apenas um fragmento da luz.
    Fé, ente complexo ou simples da nossa evolução.
    A fé que a a comunidade cientifica tem em encontrar outras vidas em outros lugares do Universo.Mesmo que a estatística diga-lhe o que a probabilidader repete sem cansar. A fé, pode ser definida, na forma simples, algo sobre o qual não podemos ponderar. E vejo, aliás me canso de ver, esta estressante fé, na vida alienígena, a fé, fanática em que absurdos se repetem, mesmo que a luz impossibilite esta informação. Buscam, nem que seja, apenas um primitivo ser unicelular, para com este mostrar que Deus não existe.
    Todas as civilizações, de todos os tempos e eras, criaram, amaram seu Deus, a anomalia presente em todas as tribos.Precisamos então, esclarecer, ou ao menos repensar o conceito de "anomalias", ou continuamos fingindo que somos lógicos, quase exatos.
    Outro planetinha azul, só tendo muita fé.

  3. Kitagawa disse:

    Mas tambem existe uma fé DA ciência, a fé de que tudo no fundo tem explicação, tem lógica, que as regras existem, são perfeitas e prescindem da intervenção de um ente superior, é só questão de ir lá e aferir e conseguir desvendar os padrões que estão por trás de todos os fenoemnos observáveis.

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