Por que terapias fajutas parecem funcionar?
Minha postagem sobre os gastos do governo com terapias placebentas (homeopatia, acupuntura, etc) atraiu críticas, como eu esperava — se bem que em menor quantidade do que estava esperando. O que pode, até, ser um bom sinal.
Eu vinha já preparando uma resposta para as objeções que certamente surgiriam, mas eis que o Comitê de Investigação Cética resolveu disponibilizar online um artigo clássico sobre o assunto. O texto, de um importante cientista da área de psicologia e comportamento humano, diz tudo que eu gostaria de dizer, e melhor — portanto, ofereço o link aqui.
A única coisa contra o texto é que ele está em inglês, então ofereço aqui um pequeno resumo de dois de seus pontos principais:
1. Correlação não é causação: esta frase deveria ser gravada em mármore no frontispício de toda instituição de ensino da galáxia. Para dar um exemplo simples: suponha que eu diga que existe um comportamento que é compartilhado por 100% de todas as pessoas que morrem de câncer. Suponha que, depois de um intervalo adequado para gerar suspense, eu esclareça que esse comportamento é beber pelo menos um copo de água ao dia…
Sempre que surge a suspeita de uma correlação entre os fenômenos A e B, é preciso olhar para as quatro possibilidades: em que proporção dos casos A e B ocorrem juntos? E A sem B? E B sem A? E nem A e nem B?
2. Relatos anedóticos sugerem, mas não provam nada: o caso clássico é o de um médico americano que, durante uma epidemia de febre amarela no sul do país no século 19, convenceu-se de que pílulas à base de mercúrio (um metal altamente tóxico) eram a cura, porque tinha dado o tal comprimido a um ou dois pacientes e eles tinham sarado…
Como eu disse, estes parágrafos apenas resumem dois pontos de uma argumentação muito maior. Vale a pena ler a íntegra — nem que seja com o dicionário do lado.
Discussão - 2 comentários
Isso sempre me lembra a estorinha contada por Robert Heinlein (provavelmente "traditional"):
Um sujeito todo dia espiava através de uma cerca pelo espaço de uma tábua que faltava. Todo dia ele via uma vaca passando em uma direção de manhã e na oposta, à tarde.
Um dia, ele se levantou de um salto e deu um tapa na cabeça, gritando:
— É isso!... O focinho causa o rabo!...
Seria bacada uma tradução e adaptação de modo que até os mais leigos entendessem, e então uma distribuição pública gratuita.
Entender 'lógica' é complicado para algumas pessoas, então elas desistem. É aí que os parasitas aparecem.