Vou aproveitar o fato de estar participando de um congresso em outro continente (sim, escrevo este post diretamente da África!) para falar um pouco dos motivos que me levaram a participar deste evento, e que, em minha opinião, são bastante importantes na compreensão das relações que paleontólogos e geólogos estão acostumados a trabalhar no dia-a-dia.
A Table Mountain, atualmente, ponto turístico de alto relevância para quem visita a cidade do Cabo, na África do Sul, tem esse nome basicamente pelo seu formato (de mesa); e apesar de, hoje, ser um lugar em que é preciso subir cerca de 1.100 metros acima do nível do mar para atingir o seu topo (e caminhar sobre ele), há cerca de 460 M.a. (milhões de anos atrás) era uma bacia sendo preenchida por sedimentos sucessivamente marinhos e deltaicos/fluviais. Esta bacia era imensa e abrangia o Brasil também. Não havia, neste tempo, o oceano Atlântico entre a África e a América do Sul (!). E ambos os continentes (junto com a Índia, Antártica e Austrália) formavam um único continente austral, o Gondwana.
Isso tudo também significa que não é a primeira vez que eu vejo essas rochas na minha vida… apesar de ser a primeira vez que visito a África. Você está conseguindo seguir meu raciocínio? As mesmas rochas que temos em Table Mountain também estão atualmente expostas no Brasil! Não é o máximo?
Vim pra cá para, além de participar de um evento, conhecer as rochas e fósseis que ocorrem por aqui. Apesar de serem as mesmas com as quais trabalho no Brasil, as variações ocorrem e tentar compreender estas variações e suas causas, fazem parte de meu trabalho como pesquisadora.
Quais são, então, as relações que mencionei no primeiro parágrafo?
- tempo profundo,
- mudanças (paleo)ambientais,
- tectônica de placas/deriva continental
Voltar ao passado e imaginar os ambientes de deposição dos sedimentos que formam estas (atuais) rochas… estas são algumas das formas de estudo de um geocientista.
No meu próximo texto vou falar sobre a contingência do registro fossilífero… mas nas próximas semanas teremos mais posts da Profa. Frésia e da doutoranda Flávia, não deixem de acompanhar; toda terça, um novo paleopost.