Capítulo 2: Quem eram os paulistas da Era Mesozoica?
Como já havia comentado na minha estreia neste Blog, a minha intenção é fazer um resumo para expor relatos acerca da diversidade fóssil do nosso entorno. Assim, vou primeiro fazer um resumo bem geral acerca dos milhões de anos de diversidade que ocorrem ao nosso redor, para depois ir detalhando essas ocorrências. Então estou retomando para fechar o intervalo de tempo entre 252 e 65 milhões de anos da vida no estado de São Paulo (Figura 1).
Na Era Mesozoica, durante os períodos Triássico (252 a 201 milhões de anos) e Jurássico (201 a 145 milhões de anos), uma grande porção do estado estava coberta por um deserto formado por grandes dunas de areia e onde os registros fósseis são escassos. Contudo, já no final do Jurássico e no Cretáceo, essa condição se reverteu e extensos depósitos ricos em fósseis revelam uma variada fauna (p.ex. Araraquara, Monte Alto, Marília) com invertebrados moluscos, artrópodes, etc, além de peixes, raros anuros (sapos), cágados (tartarugas de água doce) e arcossauros (dinossauros, crocodilos e afins) e bem poucos vegetais (São Carlos). Todos esses animais habitaram à beira de um dos maiores desertos que existiram e cujas rochas hoje em dia formam um dos grandes reservatórios subterrâneos de água doce do planeta, o Aquífero Guarani. Nas dunas da Formação Botucatu, em Araraquara existe um verdadeiro paraíso de rastros e pegadas fósseis ou, como são conhecidos esse tipo de preservação na paleontologia, de icnofósseis (do grego icnos = marcas). Entre os icnofósseis já foram identificadas trilhas de invertebrados semelhantes a escorpiões. Dos vertebrados, a diversidade de pegadas indica que por lá transitavam dinossauros carnívoros ou Teropodes, herbívoros (Sauropodes) e também mamíferos, que andavam, possivelmente, pulando como os atuais cangurus, mas que foram bem menores. Com relação às evidências mais palpáveis de vertebrados (entre eles os dinossauros) nas rochas do Grupo Bauru, localizadas a seguir no tempo geológico e espacialmente na metade ocidental do estado, há uma grande quantidade de esqueletos preservados, como peixes pulmonados que teriam habitado rios ou lagoas pouco profundas e que durante os intervalos de seca mergulhavam na lama e ficavam enterrados até o retorno das chuvas. De anfíbios, ou seja, sapos que, embora com poucos fósseis provenientes da região de Marília, atestam para a presença de locais mais úmidos, embora o clima regional fosse predominantemente seco.
Com relação aos quelônios, ou neste caso os cágados, existem bastantes registros e ao todo foram descritas até agora quatro espécies. Entre as lagartixas, ou squamata, embora sejam fósseis raros, existem alguns descritos a partir dessas rochas. Agora, com relação aos jacarés, tanto aquáticos como terrestres, esses são os vertebrados mais diversificados e comuns do Grupo Bauru, e relacionados com eles foram encontrados até abundantes ninhos cheios de ovos.
Já de dinossauros sauropodes, frequentemente são desenterrados ossos de titanossaurideos de “pequeno” e “médio” porte (entre 8 e 20 metros). Ossos de dinossauros carnívoros, ou teropodes, são menos abundantes, embora seus dentes associados outros ossos sejam bem mais frequentes.
Outro evento, embora não da vida, mais relacionado com as mudanças na configuração dos continentes que aconteceu durante a Era Mesozoica, entre o final do Jurássico e o início do Cretáceo, foi a separação entre a África e a América do Sul e, por consequência, a abertura do oceano Atlântico do Sul. No estado esse evento foi o que depositou os extensos derrames de basalto, que deram origem à chamada “terra roxa” no interior do estado. Essa mudança na configuração dos continentes vai produzir também alterações nas biotas terrestres e, claro, no clima que vai se tornar mais úmido e paulatinamente mais frio no decorrer dos próximos 64 milhões de anos. Também o nosso planeta vai pouco a pouco adquirindo uma geografia similar àquela dos dias de hoje. Para a Era Cenozoica, o registro fóssil é bastante abundante tanto em fauna (p.ex. Taubaté) como em flora, e mostra o isolamento da América do Sul após a fragmentação do Gondwana. Por fim, para o Quaternário o registro é muito rico em florestas (p.ex. Taubaté) e mamíferos (p.ex. Iporanga) até o Holoceno. Mas desses registros comentarei mais no próximo texto.
Por fim, constatamos que o registro fóssil paulista abarca muitos dos principais eventos da vida, e seu estudo permite reconstruir a evolução biológica e geológica do planeta.
Queria eu ter obtido uma descrição tão interessante do nosso estado quando criança, teria adiantado muito minhas buscas por fósseis!
Um grande abraço do seu ex-aluno,
Luiz Eduardo Del Bem
Oi Luiz Eduardo
Mas sempre é tempo de procurar por fósseis.
Muito interessante esta síntese, obrigado!
Há museus ou afins (uma reserva ou parque talvez) em que possamos ver estes fósseis da região?
Abraço e obrigado,
André
OI André,
Tem vários museus para ver fauna mesozoica no estado, como o Museu de Marília, Museu de Monte Alto, Museu em São Carlos, entre outros . Eu pensei em fazer uma matéria a respeito dos museus e sítios paleontológicos e geológicos de SP após terminar o resumo da vida em SP.
Obrigada pelo interesse.