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Museu de História Natural de Berlim, uma experiência inesquecível!

Toda pessoa que tem um mínimo de curiosidade sobre algum tema relacionado à História, Natureza e Ciências em geral tem um lugar certo onde pode se divertir: museu. Museu não é coisa para “nerd” não, muito menos exclusivo para pessoas envolvidas no meio acadêmico. Museu é lugar para gente curiosa! E os museus mundo a fora (aqueles que recebem um mínimo de incentivo financeiro, claro) hoje em dia estão cada vez mais interativos e mais diversos, com exposições dinâmicas e itinerantes, sempre se renovando para o público não visitar somente uma vez, mas sim querer voltar a cada temporada para ver coisas novas.

Em 2015 tive a oportunidade que eu achei que não teria tão cedo: visitar o Museu de História Natural de Berlim (Museum für Naturkunde Berlin). Jamais vou esquecer a emoção ao entrar (sozinha) pelo salão principal e ver as gigantescas ossadas de braquiossauros, aqueles pescoçudos, sabe? O guarda da entrada riu de mim, pois eu fiquei tão abestada ao ver tudo aquilo que chorei.

Museu de História Natural de Berlim
Braquiossauros no saguão principal

O Museu de História Natural de Berlim surgiu em meados de 1810, resultante da fusão de 3 museus: de Anatomia,  Zoologia e Mineralógico. A coleção, que hoje conta com mais de 30 milhões de itens, foi adquirida através de doações, compra e coleta em expedições. Inclusive conta com muitos fósseis brasileiros, como peixes e invertebrados do Araripe (cuja procedência não será aqui discutida para não quebrar o encanto da matéria).

Em 1889, o imperador Wilhelm II inaugurou oficialmente o museu no local onde se encontra até hoje. Durante o período da Segunda Guerra Mundial, uma parte do museu foi destruída, perdendo-se 25% da coleção, permanecendo fechado ao público até 1945, quando então foi reinaugurado. Depois da queda do Muro de Berlim e reunificação em 1989-1990, o museu foi reestruturado, foram criados novos laboratórios e foi dividido em três institutos: Paleontologia, Mineralogia e Zoologia Sistemática.

Em 2006, novamente foi reestruturado, criando-se departamentos de pesquisa, de coleções, exposição e de Educação. Foi considerado uma fundação de direito público em 2009, devido a sua grande importância na região. Em 2010 completou 200 anos e desde 2012 seu pessoal têm colocado em prática a missão de auxiliar na compreensão pública da Ciência, tornando seu conteúdo científico e pesquisas mais acessíveis para o público em geral, bem como vêm tendo uma crescente participação em eventos de Educação.

Felicidade é tirar selfie com o Archaeopterix!

Com sua integração à Instituição Leibniz para a Evolução e Ciência da Biodiversidade, o Museu de História Natural de Berlim se tornou uma das instituições de pesquisa na área de evolução biológica, geológica e de biodiversidade mais importantes do mundo, alcançando um público de mais de 500.000 visitantes por ano.

Enfim, os esforços de toda sua equipe valeram muito a pena! A visita ao Museu de História Natural de Berlim é uma atividade muito mais que recomendada, não só para professores e estudantes, mas para todas as pessoas que tiverem a chance de passear por Berlim. Só não chore aos pés do pescoçudo e vire piada como eu!

Para saber mais:

https://www.naturkundemuseum.berlin/

 

 

FÓSSEIS MAIS PRÓXIMOS DE NÓS, OU SEJA, DO ESTADO DE SÃO PAULO

Capítulo 2: Quem eram os paulistas da Era Mesozoica?

Como já havia comentado na minha estreia neste Blog, a minha intenção é fazer um resumo para expor relatos acerca da diversidade fóssil do nosso entorno. Assim, vou primeiro fazer um resumo bem geral acerca dos milhões de anos de diversidade que ocorrem ao nosso redor, para depois ir detalhando essas ocorrências. Então estou retomando para fechar o intervalo de tempo entre 252 e 65 milhões de anos da vida no estado de São Paulo (Figura 1).

Fósseis de SP
Fósseis da Formação Botucatu e do Grupo Bauru. 1 e 2 pegada de dinossauro carnívoro (Teropode) nas dunas da Fm Botucatu. 3 dente de Teropode; 4 Molusco bivalve; 5, 6 e 7 Fósseis de jacarés; 3 a 7 fósseis do Grupo Bauru.

Na Era Mesozoica, durante os períodos Triássico (252 a 201 milhões de anos) e Jurássico (201 a 145 milhões de anos), uma grande porção do estado estava coberta por um deserto formado por grandes dunas de areia e onde os registros fósseis são escassos. Contudo, já no final do Jurássico e no Cretáceo, essa condição se reverteu e extensos depósitos ricos em fósseis revelam uma variada fauna (p.ex. Araraquara, Monte Alto, Marília) com invertebrados moluscos, artrópodes, etc, além de peixes, raros anuros (sapos), cágados (tartarugas de água doce) e arcossauros (dinossauros, crocodilos e afins) e bem poucos vegetais (São Carlos). Todos esses animais habitaram à beira de um dos maiores desertos que existiram e cujas rochas hoje em dia formam um dos grandes reservatórios subterrâneos de água doce do planeta, o Aquífero Guarani. Nas dunas da Formação Botucatu, em Araraquara existe um verdadeiro paraíso de rastros e pegadas fósseis ou, como são conhecidos esse tipo de preservação na paleontologia, de icnofósseis (do grego icnos = marcas). Entre os icnofósseis já foram identificadas trilhas de invertebrados semelhantes a escorpiões. Dos vertebrados, a diversidade de pegadas indica que por lá transitavam dinossauros carnívoros ou Teropodes, herbívoros (Sauropodes) e também mamíferos, que andavam, possivelmente, pulando como os atuais cangurus, mas que foram bem menores. Com relação às evidências mais palpáveis de vertebrados (entre eles os dinossauros) nas rochas do Grupo Bauru, localizadas a seguir no tempo geológico e espacialmente na metade ocidental do estado, há uma grande quantidade de esqueletos preservados, como peixes pulmonados que teriam habitado rios ou lagoas pouco profundas e que durante os intervalos de seca mergulhavam na lama e ficavam enterrados até o retorno das chuvas. De anfíbios, ou seja, sapos que, embora com poucos fósseis provenientes da região de Marília, atestam para a presença de locais mais úmidos, embora o clima regional fosse predominantemente seco.
Com relação aos quelônios, ou neste caso os cágados, existem bastantes registros e ao todo foram descritas até agora quatro espécies. Entre as lagartixas, ou squamata, embora sejam fósseis raros, existem alguns descritos a partir dessas rochas. Agora, com relação aos jacarés, tanto aquáticos como terrestres, esses são os vertebrados mais diversificados e comuns do Grupo Bauru, e relacionados com eles foram encontrados até abundantes ninhos cheios de ovos.
Já de dinossauros sauropodes, frequentemente são desenterrados ossos de titanossaurideos de “pequeno” e “médio” porte (entre 8 e 20 metros). Ossos de dinossauros carnívoros, ou teropodes, são menos abundantes, embora seus dentes associados outros ossos sejam bem mais frequentes.
Outro evento, embora não da vida, mais relacionado com as mudanças na configuração dos continentes que aconteceu durante a Era Mesozoica, entre o final do Jurássico e o início do Cretáceo, foi a separação entre a África e a América do Sul e, por consequência, a abertura do oceano Atlântico do Sul. No estado esse evento foi o que depositou os extensos derrames de basalto, que deram origem à chamada “terra roxa” no interior do estado. Essa mudança na configuração dos continentes vai produzir também alterações nas biotas terrestres e, claro, no clima que vai se tornar mais úmido e paulatinamente mais frio no decorrer dos próximos 64 milhões de anos. Também o nosso planeta vai pouco a pouco adquirindo uma geografia similar àquela dos dias de hoje. Para a Era Cenozoica, o registro fóssil é bastante abundante tanto em fauna (p.ex. Taubaté) como em flora, e mostra o isolamento da América do Sul após a fragmentação do Gondwana. Por fim, para o Quaternário o registro é muito rico em florestas (p.ex. Taubaté) e mamíferos (p.ex. Iporanga) até o Holoceno. Mas desses registros comentarei mais no próximo texto.
Por fim, constatamos que o registro fóssil paulista abarca muitos dos principais eventos da vida, e seu estudo permite reconstruir a evolução biológica e geológica do planeta.