Dúvida sobre a segurança das nanopartículas: Nature News

Saiu na Nature News do dia 18 de agosto uma matéria sobre evidências de toxicidade de nanopartículas, cujo link foi passado via twitter pelo meu conterrâneo L. Felipe A., do blog O Amigo de Wigner (valeu pela dica, patrício!).

A pergunta da matéria, “As nanopartículas poderiam causar problemas pulmonares?”, foi motivada por um estudo recentemente publicado no European Respiratory Journal (infelizmente só tive acesso ao resumo do estudo, então só posso me basear nele e no texto da Nature…., mas vamos lá).

O estudo descreve o caso de sete mulheres com idades entre 18 e 47 anos que trabalharam em uma indústria chinesa e apresentaram granulomas (aglomerados de células do sistema imunológico que se formam quando o organismo não consegue remover um corpo estranho) na pleura (membrana que reveste o pulmão), sendo que duas delas morreram. Partículas de cerca de 30 nm foram encontradas no fluido e tecido pulmonar dessas mulheres. De acordo com o estudo, os sintomas foram causados pela inalação de fumaça produzida pelo aquecimento de um éster de poliacrilato (um tipo de plástico) a 75-100 °C. A sala onde elas trabalhavam não apresentava ventilação adequada ou tratamento do ar. Além disso, medidas de proteção individual – como o uso constante de máscara – não foram tomadas pelas mulheres.

O curioso é que dúvidas quanto às relações de causa e efeito desse estudo foram levantadas pelo toxicologista Ken Donaldson (University of Edinburgh, UK). De acordo com ele, os sintomas daquelas mulheres são típicos de exposição química, independentemente do material estar ou não nanoestruturado, pois elas foram expostas a uma concentração de éster de poliacrilato superior à concentração tóxica. Anthony Seaton, professor emérito de medicina ocupacional e ambiental na University of Aberdeen (UK) concorda com essa opinião.

Infelizmente não pude avaliar o conteúdo completo do artigo (se alguém tiver acesso a ele, por favor me envie), o que dificulta dar uma opinião crítica mais fundamentada a respeito. Porém, algumas coisas chamaram a minha atenção: 1) nanopartículas foram encontradas nos pulmões dessas mulheres, o que está de acordo com a opinião geral de que a via inalatória é uma das mais propícias para a contaminação de trabalhadores com materiais particulados (é só lembrar dos casos de silicose apresentados por mineradores); 2) em altas concentrações até água é tóxica, e é impressionante que os revisores do artigo tenham deixado passar algo tão básico da área médica; 3) sete é um número pequeno para tirar conclusões definitivas sobre a toxicidade de um material; 4) como o assunto nanotecnologia está na moda, causar polêmica sobre seus riscos é uma forma relativamente rápida de ganhar visibilidade.

É verdade que não sabemos todas as consequências do uso de nanomateriais em larga escala, por isso é necessário seguir o princípio da precaução, intensificar os estudos de nanotoxicologia e definir com urgência os marcos regulatórios de produção e consumo de nanopartículas para proteger a população (tanto os trabalhadores quanto os consumidores).

Trarei mais sobre marcos regulatórios para nanopartículas (e porque é complicado defini-los) no próximo post.

P.S.: Agradecimento ao L. Felipe A. por lembrar do Bala Mágica ao ler essa notícia 🙂

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