Nanotoxicologia

Já sabemos que a nanotecnologia pode trazer muitos benefícios à humanidade, mas quais são todos os seus riscos? É no contexto dessa pergunta que uma nova área da ciência, chamada nanotoxicologia, tem dado seus primeiros passos. Alguns estudos dessa área vêm apontando evidências concretas de que certos nanomateriais (tais como nanopartículas de óxidos metálicos) podem apresentar riscos toxicológicos e ambientais. Por outro lado, há trabalhos com resultados altamente questionáveis sobre o grau de toxicidade de nanoprodutos.



Um estudo recentemente publicado na Nature Nanotechnology avivou essa discussão e causou um alvoroço na mídia ao demonstrar uma situação curiosa: nanopartículas de cromo-cobalto foram capazes de danificar DNA de fibroblastos (um tipo de célula humana), sem entrar em contato direto com ele. Isso quer dizer que o fato de estarem fisicamente distantes não impediu que as nanopartículas causassem dano ao DNA. De acordo com os autores, a explicação reside na ativação de cascatas de sinalização celular.



Duas perguntas podem estar ocorrendo ao leitor nesse momento:
1) Como seria o comportamento dessas nanopartículas no nosso corpo, considerando membranas como a placenta?
2) Todas as nanopartículas oferecem o mesmo risco?
No que se refere à primeira pergunta, nem sempre é possível fazer esse tipo de extrapolação, e testes in vivo acabam sendo necessários. Além disso, é preciso considerar que as concentrações de cromo e cobalto utilizadas foram altas o suficiente para causar prejuízos sérios à saúde, independentemente dos mesmos estarem ou não na nanoescala. Uma exposição a cromo e cobalto nas concentrações do estudo é algo altamente improvável (ufa!). Quanto à segunda pergunta, cabe lembrar que nanopartícula não é tudo igual! É complicado extrapolar o resultado desse estudo para outras nanopartículas porque os efeitos biológicos variam muito conforme o tipo de nanomaterial – quem garante que os mesmos mecanismos de sinalização celular serão ativados na presença de um material nanométrico de composição e/ou tamanho diferentes? Pode ser que alguma mudança na estrutura ou composição da nanopartícula faça toda a diferença (tanto para melhor quanto para pior em termos de toxicidade).
(para entender o quanto as cascatas bioquímicas do nosso corpo são complexas, vale conferir o último post do Gabriel Cunha no RNAm)
Nesse sentido, é preciso olhar esses estudos com atenção e cautela. Como mencionado acima, a nanotoxicologia ainda é uma área bastante recente. Propostas de classificação de nanopartículas para fins regulatórios têm sido baseadas principalmente na biodegradabilidade dos seus componentes, no tamanho médio das partículas e nas características da sua superfície. Porém, enquanto não encontrarmos uma forma definitiva de generalizar o comportamento biológico das nanopartículas com base em suas características estruturais, os seus riscos precisarão ser avaliados caso a caso.

Discussão - 8 comentários

  1. Moacyr Godoy Moreira disse:

    Oi Fernanda, muito interessante seu blog. Faço pós-graduação em Medicina do Trabalho, na Santa Casa de São Paulo, e ontem tivemos justamente uma aula sobre nanotoxicologia, os riscos nas mais diversas áreas de trabalho causados por nanopartículas. Vc conhece trabalhos/site em que eu possa ler mais a respeito? Muito obrigado, Moacyr

  2. Fernanda Poletto disse:

    Olá, Moacyr
    Você pode começar por um material organizado em 2004 pela Royal Society, denominado "Nanoscience and nanotechnologies: opportunities and uncertainties".
    Artigos científicos de revistas renomadas, de cunho geral como este, da Science, ou específicas da área de nano, como este, do Journal of Nanoscience and Nanotechnology, também têm informações interessantes.
    Além disso, o site do CBEN (The Center for Biological and Environmental Nanotechnology), da Rice University, contém uma série de notícias sobre nanotecnologia e toxicologia que podem interessá-lo.
    Essas são sugestões para um primeiro contato com o tema. Infelizmente, (ainda) não temos muitas fontes em português sobre o assunto.
    Obrigada pela visita!

  3. Ana Leticia disse:

    Ola Fernanda, parabens pelo blog.
    Bom gostaria de manter contato com vc a respeito desta nova area da ciencia. A nanotoxicologia. Sou aluna de mestrado da engenharia ambiental da UFSC e estou inciando minha pesquisa a respeito da nanotoxicologia.
    Um forte abraco.
    Ana Leticia

  4. Fernanda Poletto disse:

    Oi, Ana Leticia
    Obrigada pela visita! Há muito a ser investigado nessa área. Parabéns pela escolha do tema. Fique à vontade para entrar em contato quando quiser.
    Abraço,
    Fernanda

  5. Suelly Lima Natal disse:

    Olá Fernanda,
    Parabéns pelo seu blog!
    Tenho muito interesse por essa área. Gostaria de fazer Mestrado em Nanotoxicologia focando a área de Cosméticos (se que é possível).
    Você pode indicar qual Universidade aqui em São Paulo tem essa área de pesquisa?
    Trabalhei em Toxicologia por muitos anos, Toxicologia Ocupacional (12 anos), Controle da Dopagem nos esportes enquanto era estudante de Farmácia na USP.
    Trabalho atualmente nas Faculdades Oswaldo Cruz (Curso de Farmácia), como responsável pelos laboratórios. Preciso fazer o mestrado e me veio a idéia de juntar duas áreas que gosto muito que é Toxicologia e Cosméticos. Será possível?
    Fiquei realmente encantada quando achei esse espaço criado por você na internet!
    Obrigada pela atenção, e mais uma vez parabéns!

  6. Roberta disse:

    Olá Fernanda,
    Estou terminando a graduação em farmácia e tenho interesse em fazer mestrado - achei bem interessante o tópico de nanotoxicologia!
    Gostaria de manter contato!!! (tenho muitas dúvidas).
    abraço 🙂

  7. Caroline Oliveira disse:

    Oi Fernanda,me interesso muito nessa area tambem.Faço quimica na UFRGS e gostaria muito de poder trabalhar nesse ramo tao promissor.Se voce puder me dar alguma dica,muito obrigada
    Sucesso pra voce.

  8. Fernanda Poletto disse:

    Oi, Caroline
    Fique à vontade para passar no meu lab qq hora (K204).
    Abraços

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