(nano-) Casulos de Dragão

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Tailândia, Indonésia, Filipinas, Coréia do Sul, Vietnã, China. Por alguma razão que não sei explicar muito bem, se me perguntassem que país eu gostaria de conhecer primeiro (ainda não tive a oportunidade de sair do Brasil), citaria um destes países asiáticos, sem pestanejar. Talvez o mais fascinante de todos seja a China. Na província de Yunnan, sudoeste da China (perto de Laos e Vietnã), é fabricado um tipo muito peculiar de chá que, ironicamente, faz muito mais sucesso no seu vizinho Japão – cujos nativos são notórios pelo bom-gosto estético. Esse chá é preparado da seguinte maneira: ainda úmidas, as folhas de Camellia sinensis (nome científico do chá) são arranjadas como uma bola, contendo uma flor dentro de si. Após passar pelo processo de secagem, oxidação e cozimento, o resultado é uma espécie de casulo que, quando submerso em água fervente, expande-se lentamente simulando o desabrochar de uma flor. Durante esse processo, que pode levar de 1 a 10 minutos, substâncias presentes no casulo difundem para a água, que se converte no delicioso chá. Devido ao seu formato, essas bolas de chá são conhecidas na China como Casulos de Dragão.




Legal, né? Sabia que temos algo parecido ao Casulo de Dragão no nano(bio)mundo?
Não, não é delírio de uma mente insana. Para explicar essa improvável similaridade, permita-me um parênteses. Já ouviu falar em óxido nítrico? Ele é um gás produzido naturalmente pelo corpo, capaz de aumentar a resposta imunológica contra infecções, estimular a cura de feridas e aumentar o fluxo de sangue através da dilatação das veias. O problema do óxido nítrico é que ele é um gás com vida curta no organismo. Para tirar o máximo proveito dele, o ideal seria construir um dispositivo capaz de armazená-lo e de liberá-lo num ponto desejado do organismo aos poucos, para um efeito mais duradouro.
Aí é que entram os “nano-casulos de dragão”.* Pesquisadores do Albert Einstein College of Medicine (New York, USA) desenvolveram nanopartículas capazes de carregar óxido nítrico e liberá-lo de uma maneira que lembra as famosas bolas de chá chinesas. Quando aplicadas na pele, essas nanopartículas absorvem água, incham e começam a liberar o óxido nítrico de forma sustentada no local desejado.
E os resultados são muito promissores! Por quatro dias, ratos com abscessos causados por bactérias resistentes a antibióticos foram tratados com nanopartículas contendo óxido nítrico, nanopartículas “vazias” (sem óxido nítrico) ou placebo. Apenas o grupo de ratos tratados com nanopartículas contendo óxido nítrico apresentou melhora significativa dos abscessos – ou seja, eles ficaram livres da infecção e suas feridas cicatrizaram.**
Além de ser uma futura possibilidade de tratamento para infecções de bactérias resistentes a antibióticos (hoje o único tratamento nesses casos consiste em drenagem cirúrgica), as nanopartículas contendo óxido nítrico também poderiam ser utilizadas como tratamento tópico para disfunção erétil, já que óxido nítrico aumenta o fluxo sanguíneo dos tecidos. Será que o famoso azulzinho está com os dias contados?
P.S. (sempre tem um…):
* Embora as nanopartículas inchem tal qual um casulo de dragão em contato com a água, o termo “nano-casulos de dragão”, esse sim, saiu da mente insana desta blogueira e, em nenhum momento, foi sugerido pelos autores do estudo.
**É importante salientar que este é um estudo feito em animais, ainda há um longo caminho para algo assim chegar ao mercado e estar disponível para a população.
Fonte:

Han G, Martinez LR, Mihu MR, Friedman AJ, Friedman JM, & Nosanchuk JD (2009). Nitric oxide releasing nanoparticles are therapeutic for Staphylococcus aureus abscesses in a murine model of infection. PloS one, 4 (11) PMID: 19915659

Discussão - 6 comentários

  1. dra_luluzita disse:

    ah eu sempre curto seus nano-posts, ainda mais quando tem com minha area né? eu acho q as nanocoisas são o futuro da medicina mesmo, e só do q eu uso de prata nanocristalina e o resultado q eu vejo hoje... ahhh fã numero 1 da FER!!!

  2. Igor Santos disse:

    Parece com a ação externa da água oxigenada, não? (Exceto que envolve muito mais tecnologia.)
    Será que vai sair barato quando estive pronto?
    Supondo que o povo que inventou esse chá e o nomeou não possuia uma chaleira transparente, me admira bastante sua capacidade de abstração para imaginar a flor desabrochando longe dos olhos de observadores.

  3. Lila disse:

    legall! adorei o post
    saudade Fe!
    bjão

  4. Giovana disse:

    Amiga!!!
    Simplesmente sensacional!!!!
    Beijos, Gio

  5. Nath disse:

    Como sempre é um deleite ler esse blog! E olhe que eu estava meio tristinha por causa de uma situação hoje mas lê esse post me faz enxergar o quanto as vezes as chateações da vida são realmente 'nano' comparada as maravilhas da ciência!
    Beijão!
    😉

  6. Muito bom esse post. Também torço por uma oportunidade de conhecer a China, sou fascinada por sua cultura milenar. Quanto ao chá, adoraria ter essas bolinhas no meu desjejum, já que incorporei na rotina o uso do chá verde (camelia sinensis), mas não em formato de flor...

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