Ainda não assisti ao novo filme (Jurassic World), e vocês? Mas, claro, já me falaram muito bem dele.
‘Life cannot be contained. Life breaks free,
life finds a way’
Neste post aqui foi comentado sobre a (im)possibilidade de criarmos um dinossauro a partir de um genoma. Muitos vídeos na internet e muitos livros abordam o tema. Do ponto de vista paleontológico, a preservação de material genético é impossível. A molécula de DNA é uma estrutura complexa e delicada, que se destrói rapidamente (já falamos aqui sobre o processo de fossilização). Não há como manter algo assim preservado numa rocha por milhões de anos. Então todo o início da série de filmes Jurassic Park e Jurassic World não é cientificamente viável.
Mas não é por isso que histórias de ficção baseadas em conceitos científicos não nos tocam. Conheço uma geração inteira de paleontólogos (vertebradólogos, ou seja, que estudam vertebrados, dentre eles, dinos), que surgiu com o encantamento ocasionado pelo(s) filme(s). No caso da paleontologia, trazer alguns conteúdos à tela foi excepcional.
Existem inúmeros posts e livros que podemos citar que debatem as etapas impossíveis que deveriam ser ultrapassadas para criar a situação representada nos filmes, mas, vamos aos pontos positivos?
Jurassic Park trouxe…
1- …talvez pela primeira vez, dinos retratados como animais, não como meros monstros malignos (apesar de eles gostarem de matar despropositadamente, mesmo nas séries Jurassic Park e seguintes);
2- …uma representação muito acurada destes animais vivos. Eles são imensos, desafiam a imaginação de qualquer um! de seus restos criamos as lendas de dragões, deuses, e outros mitos em quase todas as culturas humanas… vê-los em tamanho real, interagindo com pessoas, numa perspectiva extremamente realista é, simplesmente, sensacional.
Uma das críticas mais comuns da exposição de bonecos de dinos que temos atualmente no instituto é o fato de não termos quase nenhum em tamanho real (com exceção do pterossauro que não faz parte da expo em si, e do banner com 3 dinos em tamanho real – mas não são bonecos, só fotos!);
3- …um pouco de ciência, no meio de muita ficção. Mas é isso que faz as pessoas se perguntarem:
- tem gente que trabalha com dinossauros? sim, o paleontólogo, geólogo ou biólogo estão aí pra isso (dentre outras funções)…
- será que é possível reconstruir um animal desses por um DNA preservado em âmbar? já vimos que não, mas…
- e se tivessem mesmo como reproduzir um animal desses, o que poderia acontecer…? por mais que a história do filme traga muitas situações críticas, refletir sobre o assunto, por si só já é interessante;
Trazer as possibilidades à tona instiga as pessoas a saberem mais sobre a ciência; isso, por si só, é muito importante. A beleza da divulgação científica está em despertar o interesse. Plantar a semente.
4- …situações críticas (ambientais, ecológicas, biológicas) num mundo -relativamente- real, com pessoas normais. Não são super-heróis que lidam com os dinossauros. Em geral, os dinossauros não são monstros com poderes infalíveis, existe um certo compromisso com conceitos científicos modernos. Essa proximidade conosco instiga nossa imaginação e desperta um efeito “wow”. É encantamento pelo grande, pelo desconhecido, pelo assutador.
Existem inúmeras maneiras de se divulgar ciência para o grande público. Investir milhões de dólares, em geral, não é algo disponível para quem tem esse objetivo e trabalha na universidade; mas uma série de filmes como Jurassic Park e Jurassic World traz a oportunidade de debate na paleontologia. Muitas coisas podem estar cientificamente erradas ali. Muitas outras têm fundamentos corretos. Quais? Como? Porquê?
Leiam, comentem, assistam, debatam!
É assim que a ciência progride.
Os filmes nos encantam, na minha opinião, porque nosso contato com a realidade é imagética. E quando um bom autor manipula essa imagem em movimento e enredo, faz-no perceber dessa ilusão que nos ampara, em dentro e fora, da consciência daquilo que somos num contexto maior, universal. Valeu pelas palavras Carolina. Melhores Considerações. Bom julho!
Sim, como animais visuais, nós, mamíferos, curtimos filmes. Obrigada por sua mensagem!