Humanos em manadas

Estudo da Universidade de Leeds mostra que 5% dos compnenetes de uma multidão são capazes de determinar a direção do movimento da massa — o restante das pessoas segue sem se dar conta. Artigo comentando o trabalho, publicado no Science Daily, sugere o uso desse dado no controle de multidões durante desastres.
Eu, confessando-me culpado do pecado intelectual de — possivelmente — generalizar um resultado científico para além do universo estudado, me pergunto que conseqüências esse efeito pode ter em, digamos, filas de coleta de templos religiosos ou grandes missas campais…

E viva a Wikipedia! (em inglês)

Cortesia é uma coisa engraçada: começa sendo um gesto espontâneo de quem a oferece, algo inesperado que quem recebe tem, de certa forma, a obrigação de agradecer. De repente, vira (ou parece virar) direito adquirido.
Caso em tela: a pressão de fiéis islâmicos pela supressão das imagens de maomé do verbete correspondente na Wikipedia em inglês.
Uma das manifestações diz que “ninguém tem o direito de ofender milhões de muçulmanos”. Não vou nem entrar no mérito de se é verdade que “milhões de muçulmanos” se ofendem com a apresentação de ícones do profeta. O que realmente chama a atenção é o “ninguém tem o direito de ofender…”. Então, tá. O Alcorão diz que Jesus não foi crucificado, que foi um “laranja” quem morreu na cruz. Isso é, suponho, ofensivo para milhões de cristãos.
Como ninguém tem o direito de ofender milhões de {{insira aqui seu grupo demográfico preferido}}, concluímos que é preciso editar o Alcorão. Ou talvez queimar todos os exemplares.
Dizer que uma pessoa/grupo tem uma queixa legítima só porque algo a/o ofende pode ser algo que até começou com a melhor das intenções, como forma de coibir humilhações racistas e coisas do gênero, mas olha aonde o precedente nos trouxe.
“Ofender o próximo” deveria virar um direito humano.

Pelo menos, ele não pecou usando camisinha…

FORT WORTH, Texas – Um padre acusado de abusar sexualmente de crianças em dois Estados americanos é HIV positivo, disseram autoridades da diocese católica de Fort Worth. (AP)

Em um complemento irônico, temos ainda:

INDAIATUBA, SP – O cardeal d. Cláudio Hummes, prefeito da Congregação para o Clero, um dos principais órgãos da Cúria Romana, afirmou ontem que os problemas de desvios e abusos na conduta moral-sexual, especialmente “o mais grave deles, o da pedofilia”, são superdimensionados pela mídia, pois atingem uma parcela mínima de padres (…) – José Maria Mayrink, Estadão

(O que D. Claúdio convenientemente “esquece” de comentar são os sucessivos casos de acobertamento de abusos sexuais cometidos por padres pela hierarquia, a complacência com que os clérigos crimonosos são tratados, a tendência a criminalizar as vítimas… Aliás, se, como o próprio D. Cláudio diz, a proporção de padres pedófilos “não chegam a 1%” e há 18 mil padres no Brasil, onde estão presos os cerca de 180 padres criminosos brasileiros? Ou estarão à solta?)

Wikipédia pt: saudações?

A Wikipédia em português decidiu eliminar o verbete sobre a ONG Brasil para Todos (BpT). A organização, que conta com vários apoios de peso e um ativismo invejável, defende a retirada de símbolos religiosos de tribunais e demais repartições públicas.

A eliminação está repercutindo em vários fóruns online de debate do racionalismo e da separação entre igreja e estado, além de trazer à tona manifestações inconformadas de entusiastas e simpatiantes do BpT. Mas é preciso pôr a questão, creio, em perspectiva.

O fato principal disso é que quem perde, com a eliminação, não é o BpT (que continua com site próprio no ar, acessível via Google) mas os usuários da Wikipédia. Concorde-se ou não com a proposta da ONG, o fato é que ela fez um barulho razoável nas cortes de Justiça recentemente, e quem se sentir curioso a respeito não encontrará informações na enciclopédia em português. Uma falha (da enciclopédia).

Quem mais perde, em segundo lugar, são os opositores da causa da separação, que poderiam apresentar seus argumentos dentro do verbete — que, ao contrário do site oficial da ONG, tenderia naturalmente a desenvolver uma posição neutra sobre o assunto.

E quem mais perde, em terceiro lugar, é a própria Wikipédia.pt, que deixa de servir ao usuário como deveria e, pior, põe sua reputação — como fonte/filtro, de informação e como seguidora do “espírito wiki” — em jogo.

Sociedades civis imaturas tendem a ver seus canais de participação pública “colonizados” por panelinhas e grupos de interesse organizados (militantes de esquerda em conselhos municipais de saúde e orçamento, católicos fervorosos em conselhos de bioética, criacionsitas em conselhos de educação).

Faz parte da dinâmica: os setores até então desorganizados da sociedade que se ressentem dessa colonização tendem a se organizar e contra-atacar. Quando isso não ocorre, ou quando a panelinha original segue incólume, a tendência passa a ser a de a instância dominada tornar-se irrelevante — mais ou menos como um grupo de escritores que não publica nada, mas que só trocam elogios entre si.

Vai ver, desejar que a Wikipédia.pt pulasse essa fase fosse, mesmo, querer demais.

Base de Kourou

Lula podia aproveitar sua visita à Guiana Francesa e, além de pedir a Nicholas Sarkozy que lhe recomende um bom alfaiate, tentar aprender como se faz um programa espacial de gente grande.

A imagem acima é do centro espacial de Kourou, a mais avançada base de lançamentos da América do Sul, e fica lá na Guiana, embora o território brasileiro tenha vantagens geográficas muito maiores para esse tipo de atividade.

De Kourou vai partir o ATV, um novo tipo de cargueiro espacial projetado pela Agência Espacial Européia (ESA) para complementar as naves russas Progress que abastecem a Estação Espacial Internacional.

Enquanto isso, em Alcântara…

E viva a Dinamarca!

Merece aplauso a notícia de que os principais jornais dinamarqueses republicaram um cartum de Maomé, em resposta à descoberta um um plano para assassinar o autor do desenho. É bom ver que ainda há animais vertebrados no mundo ocidental, apesar de tudo.

Comentei, numa postagem anterior, que é errado imaginar que uma religião (ou, vá lá, uma cultura) tenha direitos.

Explicitando um pouco o argumento: todo “direito” dado a uma cultura só pode ser exercido contra os indivíduos que fazem parte dela — o direito dos aborígenes siberianos de acreditar que o canto de um passarinho cura dor de dente, digamos, só pode ser pereservado mantendo-se boa parte dessa população aborígene com sérios problemas odontológicos — ou contra seus críticos, externos ou internos; o que caracteriza censura.

Expandindo um pouco o lema deste blog: pessoas têm direitos; culturas, não.

Observando Marte

Deixando o obscurantismo um pouco de lado, só para variar:

A Universidade do Arizona criou um sistema online com todas as imagens de Marte já dipsonibilizadas ao público, desde os tempos das sondas Viking. O site é este aqui: http://global-data.mars.asu.edu/ .

A imagem acima veio de lá e é, se não me engano, Olympus Mons, o maior vulcão do sistema solar. Foi feita pela minha xará Moc – no caso, Mars Orbiter Camera.

Back to the Middle Ages…

O inferno é um lugar real e não está vazio, diz Bento XVI, melando uma tentativa de João Paulo II de sofisticar um pouco o conceito. O pontífice falecido afirmara que inforno era uma “condição” e não um “lugar”.

Nem vou comentar a facilidade com que teólogos em geral trafegam entre a metáfora eo sentido literal das palavras, numa contínua de prestidigitação retórica que lhes permite afirmar qualquer coisa e seu posto e não serem acusados de contradição.

Às vezes isso parece uma mistura de desonestidade intelectual com covardia pura e simples (teólogos que faziam afirmações categóricas, como Santo Agostinho, que negava, com base nas Escrituras, a possibilidade de haver vida humana no lado da Terra oposto à Palestina, saíram de moda por razões óbvias) mas dizem-me que , na verdade, o discurso teológico contemporâneo é feito de sutilezas que escapam a espíritos mesquinhos como o meu.

Que seja…

Cartões corporativos do governo

Óquei, óquei, sei que política não é o assunto principal deste blog, mas não dá para deixar de comentar a idéia, que circulou no governo, de acabar com o acesso dos ministros aos cartões de crédito cujas despesas são debitadas no erário.

Questão: não seria mais fácil nomear ministros honestos?

Sharia britânica

Mal o mês começou, eis o Prêmio Idéia Cretina de fevereiro: a adoção de partes da sharia, ou lei tradicional islâmica, para resolução de disputas entre muçulmanos no Reino Unido — proposta, nada mais e nada menos, pelo arcebispo de Canterbury, Rowan Williams.

O arcebispo, que ficou famoso (ou infame) no mundo não-anglicano ao meter os pés pelas mãos para tentar explicar como um “deus bom” poderia ter permitido o grande tsunami de 2004 na Ásia, se apressou em dizer que não está sugerindo uma importação de normas como a lapidação de adúlteras ou a flagelação de homossexuais, mas apenas que cidadãos britânicos de origem islâmica possam resolver seus problemas de acordo com normas (para eles) tradicionais.

Agora, é fato que nada, obviamente, impede que dois muçulmanos que tenham uma pendenga entre si decidam, de comum acordo, arbitrar a diferença pela sharia em vez de procurar os tribunais (a menos, claro, que a solução envolva uma violação da lei do Estado); então, o que Williams está propondo, exatamente? Que muçulmanos sejam impedidos de recorrer aos tribunais seculares, caso uma dsputa seja arbitrada pelo emir/mulá/ancião/ulemá/whatever?

A coisa toda soa como mais um ataque racista disfarçado de multiculturalismo: vamos deixar os bárbaros cuidar das coisas deles lá do jeito deles, e pronto.

Mas há algo ainda mais insidioso na proposta: a idéia de que religiões têm direitos. De que a comunidade islâmica (anglicana, católica, budista, tc.) teria o direito de impor suas normas a indivíduos que tenham nascido dentro dela. De que, de algum modo, a religião é proprietária legítima dos filhos e filhas de seus fiéis.

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