RIP George Carlin

QI alto leva ao ateísmo!

Peralá, não é bem assim: uma pesquisa que compara nível de religiosidade com o QI médio de vários países conclui que há uma correlação entre baixa crença em Deus e altainteligência média da população.
O que se conclui disso? Muito pouco, acho.
Por mais que seja um resultado divertido e um fait divers interessante para mencionar na happy-hour e ajudar a conquistar gatinhas(os) — se você e a gatinha forem ateus, claro — aqui cabem todos os caveats usuais: correlação não é causação, pesquisas que usam médias amplas não dizem nada sobre casos individuais, e ninguém sabe lá muito bem o que próprio teste de QI está medindo, afinal. Somando-se a tudo isso, vem o fato de que o principal autor do estudo, Richard Lynn, é uma figura um tanto quanto polêmica.
Mas esse comentário me parece perto do alvo:
De acordo com o professor de psicologia da London School of Economics, Andy Wells, vários estudos já demonstraram que pessoas com níveis de QI altos tendem a ter níveis de educação mais altos. “E quanto mais educação as pessoas têm, é mais provável que elas tenham acesso a teorias alternativas de criação do mundo, por exemplo”, afirma Wells.

Os leigos sao melhores que seus líderes

(Uma distinção inicial: “leigo” é o membro de uma religião que não faz parte da hierarquia, como um cidadãos católico, em oposição a um padre ou bispo. Não se deve confundir “leigo” com “laico”…)
Feito o alerta, a boa notícia: a maioria dos cidadãos dos EUA acredita que não existe um único caminho para a salvação. Em outras palavras, na opinião da maior parte da população da maior potência da Terra, nenhuma religião é essencialmente mais verdadeira que outra. Os dados são da Pesquisa Pew.
(Será que um dia vão concluir que todas são igualmente falsas? Ah, esperança…)
O que há de interessante nesses dados é o fato de que essa crença contradiz tudo o que as hierarquias religiosas pregam ou, nas palavras de Jesus: “Ninguém vem ao Pai senão por mim”. A questão de qual o “verdadeiro caminho”, aliás, é a principal pedra no sapato das igrejas protestantes no que diz respeito à igreja católica, que insiste em se arrogar como a única igreja cristã de verdade.
A questão, aqui, é que como já argumentei antes, igrejas são levadas, por pressão evolutiva, a se tornar psicopatas: religiões que não desprezam virulentamente as outras acabam desaparecendo. Vejam o caso do zoroastrismo, a fé dualista primitiva da Pérsia e provável fonte de todos os monoteísmos atuais.
Trata-se de uma religião que, em sua forma atual, basicamente só pede que as pessoas sejam decentes umas com as outras. Ponto. Não prega nenhum tipo de xenofobia (como nas clássicas, e sangrentas, oposições de cristão/pagão, judeus/góim, muçulmano/infiel) e diz que está tudo bem se o fiel mudar de crença — desde que, no geral, continue a ser uma pessoa decente.
De acordo com a reportagem do New York Times que pode ser acessada no link dois parágrafos acima, essa postura de abertura e tolerância está levando a crença à extinção.
A questão que fica, obviamente, é como alguém pode continuar a ser membro de uma religião mesmo depois de abandonar um princípio tão básico quanto a reivindicação do monopólio da verdade. Imagino que pressão de grupo, conformismo, preferência estética e força do hábito tenham algo a ver com isso. E dissonância cognitiva — que será assunto de uma postagem futura.

A marca da fé

Um professor criacionista nos EUA resolveu marcar seus alunos com a cruz. Teve gente que ficou escandalizada com isso. Por quê? Ele apenas estava, bolas, seguindo a parábola do Bom Pastor e cuidando do “rebanho”…
(Ok, a marca feita pelo professor era temporária, mas não pude perder a piada, sorry).

Papa quer ir à Terra Santa. Por que não vai?

É incrível como têm pouca fé as pessoas que vivem da fé alheia. No Evangelho de Marcos, Jesus promete que seus seguidores terão o poder de manusear serpentes, expulsar demônios e beber veneno sem passar mal. Bolas, o que é um mero conflitozinho árabe-israelense em comparação a isso?
O pensamento me ocorre diante da notícia de que Bento XVI gostaria de visitar a Terra Santa, e das renovadas tentativas de limpar o nome de Pio XII, por conta de sua omissão perante o Holocausto (sem falar na concordata entre Berlim e o Vaticano onde, basicamente, a Igreja concordava em não falar mal de Hitler desde que pudesse continua a cobrar impostos e a doutrinar criancinhas nas escolas).
A defesa geral que se oferece de Pio XII é de que ele foi forçado pelas circunstâncias a agir dessa maneira, e que na verdade socorreu vítimas do Holocausto, embora tenha sido forçado a agir de forma extremamente discreta.
Pô, mas o cara não tem Deus do seu lado?
(A imagem ao lado é da morte de Simão Mago; para lembrar o tempo em que papas faziam milagres em público e, melhor, quando ainda vivos…)

‘Mystery Mongers’

Como todo escritor de romance policial (e telenovela!) sabe, melhor que solucionar um mistério é esticá-lo. Como estratégia em narrativas de ficção, a manobra é perfeitamente válida, mas quando vira truque jornalístico, a coisa acaba se transformando em algo tipo A Montanha dos Sete Abutres.
Veja, por exemplo, a cobertura do caso da “casa que jorra sangue”, localizada num bairro com o improvável nome de Jardim Bizarro, em Jundiaí (SP).
Em vez de aguardar o laudo pericial da polícia, ou de conduzir uma investigação própria, foram correndo ouvir o Padre Quevedo. Que, claro, veio com as pataquadas de sempre sobre “telergia” – embora também tenha oferecido uma explicação alternativa que, sendo um pouco mais plausível, foi devidamente jogada, pelo jornalista, para o rodapé da história.
Resumindo: houve um tempo em que jornalistas buscavam descobrir, e retratar, a verdade. Hoje, parecem se satisfazer em fazer onda pra vender jornal.

Igreja quer mandar no governo, não ser o governo


Da agência de notícias Reuters, via Portal Estadão: A Igreja Católica tem um papel vital em formar políticas sociais, mas não quer usurpar as autoridades seculares, disse neste sábado o papa Bento XVI.E mais adiante, na mesma nota:Um dia pós passear pelos Jardins do Vaticano com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, com quem se alinha em muitos assuntos morais, o papa disse que a Igreja tinha o papel de “apoiar (os governos) em seu trabalho e sempre propor cooperar com eles para o bem de todos”.
 
 

Não vou nem entrar no mérito de discutir o que diabo (ops!) Sua Santidade entende como “o bem de todos” (condenar homossexuais a uma vida de castidade forçada, por exemplo?), mas alguém aí se lembra da Inquisição? Naquela época a Igreja também não governava, apenas aconselhava: quem queimava as bruxas na estaca era o “braço temporal”, i.e., “as autoridades seculares”.
Deesculpe, moço, mas esse tipo de apoio a gente dispensa.

Toda crença merece respeito…

Vamos começar, então, com essa aqui: curandeiros da Tanzânia acreditam que pedaços do corpo de albinos têm propriedades mágicas. O que está levando a assassinatos em série de albinos africanos. “Trata-se de uma crueladade sem sentido”, disse o presidente da Tanzânia, Jakaya Kikwete.

O outro lado da mesma – hedionda – moeda são as ondas de histeria de caça às bruxas que sacodem a África de tempos em tempos e que atingiram novos picosde crueldade com a chegada o continente de, adivinhe só, pastores evangélicos.

É preciso notar, porém, que a idéia de linchar “feiticeiros” ou “suspeitos de feitiçaria” não é uma inovação cristã imposta aos povos africanos pelo imperialismo das crendices ocidentais. A África do Sul, por exemplo, conta com uma rica tradição pagã de farejadoras de bruxas.

Esse tipo de coisa torna difícil saber o que é pior quando dois sistemas de irracionalidade se encontram: se ochoque, que pode levar a guerras religiosas, ou se a assimiliação e o reforço mútuo, que desemboca me coisas como pastores matando criancinhas na Nigéria ou ao papel de prelados católicos nos masacres de Ruanda.

Interpretando a Bíblia

Olha que fofura: bispos católicos preocupados com interpretações literais da Bíblia. Isso é uma coisa que sempre me pareceu meio engraçada; digo, quando Jesus faz, no que para qualquer leitor um pouco mais ajuizado parece uma metáfora, comparando o pão à sua carne, a Igreja Católica vem e diz que não, ele estava falando ao pé da letra e instituindo um importante ritual de canibalismo.

Já quando, no Velho Testamento, o nosso amigo IHWH, o pai do homem, aparece, em pessoa, mandando rei Saul cometer genocídio contra os amalecitas, isso tem de ser entendido no contexto da época, requer interpretação, pô, peraí, não é bem assim.

Elaborando um pouco o post de ontem…

A impressão é a de que pessoas são capazes de fazer sacrifícios, mas as instituições que as pessoas criam, não. Um exemplo óbvio que me ocorre é o do comportamento de diversos católicos durante a 2ª Guerra Mundial, que correram riscos para salvar vítimas do nazismo, em oposição à atitude, abjetamente invertebrada, da Igreja.

Mas essa dicotomia não é só católicos/catolicismo. Ela aparece em diversos contextos e em diversos lugares: indivíduos morrem para não trair seus princípios. Instituições – igrejas, Estados, empresas, fundações, partidos, etc. – criadas para defender princípios preferem vê-los morrer a deixar de existir.

Suponho que haja uma razão darwiniana para isso. Digo, ums instituição disposta a dar a “vida” por uma causa cedo ou tarde acaba dando mesmo, enquanto outra, disposta a fazer tudo para continuar existindo, continua existindo.

Da onde se conclui que a instituição mais eficiente de todas é a que tem por objetivo a própria perpetuação. Isso é memética, por acaso?

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