IURD contra a FSP
Não há muito a dizer sobre a avalanche de processos de fiéis da Igreja Universal contra a Folha de São Paulo além do que já foi dito e notado por muita gente, exceto perguntar exatamente como o Paulo Henrique Amorim se meteu nessa e destacar, mais uma vez, o argumento central deste blog:
A noção de que alguém se dizer (ou mesmo, de fato, se sentir) ofendido por algo dá à tal parte ofendida algum tipo de direito ou reivindicação especial, para além da prerrogativa óbvia de responder à ofensa, é uma idéia cretina que vai acabar estrangulando toda e qualquer liberdade de debate e expressão.
Se alguém chama você de “feio”, responda “bobo”. Chamar a tia é sacanagem.
Taleban brasileiro em marcha
Como era mesmo aquele versinho? Primeiro pisaram nas flores, depois arrombaram a porta, no fim botaram minha mulher numa burka? O cristianismo pode não ter, em geral, um dress code tão rígido quanto o Taleban, mas o apetite pelos direitos e liberdades individuais parece bem semelhante.
Senão, vejamos duas notícias quentinhas:
APARECIDA, SP (AE) – Durante os 40 dias da Quaresma, período estipulado pela Igreja Católica entre o carnaval e a Páscoa, os bailes populares realizados em praça pública estão proibidos em Aparecida, no Vale do Paraíba (SP). A proibição partiu do prefeito José Luiz Rodrigues (DEM), mais conhecido como Zé Louquinho, que alegou ser este um período de reflexão e não de diversão. “Jesus morreu por nós, fez o maior sacrifício, então não custa nada fazer esse sacrifício por Deus.” Católico, devoto de Nossa Senhora Aparecida, Zé Louquinho afirmou não acreditar que esta medida seja impopular.
JUNDIAí, SP (BOM DIA) – Vereadores de Jundiaí se mostraram favoráveis, ontem, a proibir a distribuição gratuita das chamadas pílulas do dia seguinte nas UBS (Unidades Básicas de Saúde) do município. A posição foi demonstrada durante a segunda sessão do ano na Câmara, marcada pela presença do bispo dom Gil Antônio Moreira e pela discussão sobre a distribuição gratuita do medicamento. O bispo foi à Câmara para anunciar a Campanha da Fraternidade deste ano, que tem como tema “Fraternidade e Defesa da Vida.”
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Mais do que o total desprezo pelo mínimo de decoro que seria de se esperar de representantes de um Estado laico perante supostos “imperativos” religiosos, o que chama a atenção nesses casos é o conteúdo demagógico: em cidades de maioria católica, os políticos dançam conforme a música.
Alguém poderia até achar a coisa toda muito democrática, mas o fato é que democracia não é obediência cega à maioria (isso se chama, com mais propriedade, “coragem em números”, ou simplesmente fascismo).
Democracia significa respeito pelos direitos do indivíduo. Se a maioria tem alguma autoridade, isso ocorre porque representa uma soma de indivíduos – e, portanto, a base moral e lógica dessa autoridade desaparece no momento exato em a que a turba se volta contra as garantias individuais.
Se coisas assim não ficarem bem claras, e logo, correremos o risco de chegar a uma situação como esta, apenas com o tipo de “fundamentalismo” trocado. O Afeganistão ainda não é aqui.
Ah, sim: a imagem que ilustra esta postagem é a de um dos Budas de Bamiyan, demolidos por você-sabe-quem em 2001.
Celibato
Esta notícia me pôs a pensar no motivo por trás da recusa teimosa da igreja católica em aceitar o fim do celibato dos padres. A velha explicação medieval – para evitar a transmissão de direitos hereditários – não parece fazer muito sentido no mundo moderno, afinal.
No fim, ocorreu-me: padres casados ou serão condenados a ter 50 filhos e a matar suas mulheres de exaustão, ou precisarão usar camisinha (ou pílula, ou vasectomia, ou laqueadura, ou aborto…).
Nem o Vaticano, acho, seria capaz de engolir tanta hipocrisia.
‘Formas de saber’
Durante a Idade Média, discos de cera, chamados Agnus Dei, benzidos pelo papa, eram vistos como poderosos amuletos contra raios e trovões. Sinos de igrejas também eram abençoados para que seu repicar afastasse as tormentas.
A despeito de relíquias e sinos bentos, a torre da catedral de San Marco, em Veneza, foi destruída por relâmpagos em 1388, 1417, 1489, 1548, 1565, 1653, 1745, 1761 e 1762. O problema desapareceu em 1766, quando, 14 anos após a invenção de Benjamin Franklin, instalou-se um pára-raios no local.
Já a idéia de que a Terra gira em torno do Sol foi combatida por três papas: Paulo V e Urbano VIII, que perseguiram Galileu, e Alexandre VII, que assinou, em 1664, uma bula proibindo os católicos de ler “todos os livros ensinando o movimento da Terra e a estabilidade do Sol”. A medida só foi revogada em 1835, quase 200 anos mais tarde.
Quase 200 depois, ainda há quem apareça pedindo respeito à religião como “forma de saber”. Perguntinha besta: saber o quê?
News of the World
Para animar o fim de semana, um pout-pourri qpra confirmar mais uma das teorias de Einstein — no caso, a de que a única coisa infinita que há é a estupidez humana:
DUBAI, 14 FEV (ANSA) – A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch pediu ao rei Abdullah, da Arábia Saudita, que suspenda a execução de uma mulher condenada à morte no país, acusada de bruxaria.
“O rei Abdullah deve suspender a execução de Fawza Falih e anular sua condenação por bruxaria”, escreveu a organização humanitária em uma carta enviada ao soberano do país ultraconservador que segue rigidamente a sharia, a lei muçulmana.
A organização declarou que a polícia religiosa que prendeu e interrogou a mulher e os juízes que a julgaram “não lhe deram em nenhum momento a possibilidade de provar sua inocência contra acusações absurdas”.
Fawza foi presa em maio de 2005 e condenada à morte em abril de 2006, por “suposto crime de bruxaria, recurso ao demônio e sacrifício” de animais, segundo informou a Human Rights Watch.
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CIDADE DO VATICANO, 11 FEV (ANSA) – Para festejar os 150 anos da aparição de Lourdes, uma procissão percorreu a Via da Conciliação, que une Roma ao Vaticano, até a Basílica de São Pedro para ali depositar uma costela de Bernardette Sobirous, a garota que aos 14 anos disse ter visto e falado com a Virgem Maria na aldeia francesa de Lourdes.
A aparição, que aconteceu na gruta de Massabielle, vizinha à aldeia, transformou Lourdes no santuário mariano (dedicado à Virgem Maria) mais conhecido e freqüentado do mundo.
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POLÍCIA SAUDITA PROÍBE ROSAS VERMELHAS
RIAD – A Mutawa, polícia religiosa da Arábia Saudita, advertiu os muçulmanos para que não celebrem o Dia de São Valentim – 14 de fevereiro, festejado como Dia dos Namorados no hemisfério Norte – porque se trata de uma festa “imoral” e “não-islâmica”.
A Mutawa, cujo nome oficial é Comissão para Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, divulgou seu posicionamento em comunicado distribuído em Riad, poucos dias depois de proibir a venda de rosas vermelhas no país árabe.
A polícia religiosa tem cerca de 5.000 homens, que andam à paisana, e é muito influente no país.
“Tomaremos todas as medidas para proteger os valores religiosos”, disse a nota
Humanos em manadas
E viva a Wikipedia! (em inglês)
Pelo menos, ele não pecou usando camisinha…
FORT WORTH, Texas – Um padre acusado de abusar sexualmente de crianças em dois Estados americanos é HIV positivo, disseram autoridades da diocese católica de Fort Worth. (AP)
Em um complemento irônico, temos ainda:
INDAIATUBA, SP – O cardeal d. Cláudio Hummes, prefeito da Congregação para o Clero, um dos principais órgãos da Cúria Romana, afirmou ontem que os problemas de desvios e abusos na conduta moral-sexual, especialmente “o mais grave deles, o da pedofilia”, são superdimensionados pela mídia, pois atingem uma parcela mínima de padres (…) – José Maria Mayrink, Estadão
(O que D. Claúdio convenientemente “esquece” de comentar são os sucessivos casos de acobertamento de abusos sexuais cometidos por padres pela hierarquia, a complacência com que os clérigos crimonosos são tratados, a tendência a criminalizar as vítimas… Aliás, se, como o próprio D. Cláudio diz, a proporção de padres pedófilos “não chegam a 1%” e há 18 mil padres no Brasil, onde estão presos os cerca de 180 padres criminosos brasileiros? Ou estarão à solta?)
Wikipédia pt: saudações?
A Wikipédia em português decidiu eliminar o verbete sobre a ONG Brasil para Todos (BpT). A organização, que conta com vários apoios de peso e um ativismo invejável, defende a retirada de símbolos religiosos de tribunais e demais repartições públicas.
A eliminação está repercutindo em vários fóruns online de debate do racionalismo e da separação entre igreja e estado, além de trazer à tona manifestações inconformadas de entusiastas e simpatiantes do BpT. Mas é preciso pôr a questão, creio, em perspectiva.
O fato principal disso é que quem perde, com a eliminação, não é o BpT (que continua com site próprio no ar, acessível via Google) mas os usuários da Wikipédia. Concorde-se ou não com a proposta da ONG, o fato é que ela fez um barulho razoável nas cortes de Justiça recentemente, e quem se sentir curioso a respeito não encontrará informações na enciclopédia em português. Uma falha (da enciclopédia).
Quem mais perde, em segundo lugar, são os opositores da causa da separação, que poderiam apresentar seus argumentos dentro do verbete — que, ao contrário do site oficial da ONG, tenderia naturalmente a desenvolver uma posição neutra sobre o assunto.
E quem mais perde, em terceiro lugar, é a própria Wikipédia.pt, que deixa de servir ao usuário como deveria e, pior, põe sua reputação — como fonte/filtro, de informação e como seguidora do “espírito wiki” — em jogo.
Sociedades civis imaturas tendem a ver seus canais de participação pública “colonizados” por panelinhas e grupos de interesse organizados (militantes de esquerda em conselhos municipais de saúde e orçamento, católicos fervorosos em conselhos de bioética, criacionsitas em conselhos de educação).
Faz parte da dinâmica: os setores até então desorganizados da sociedade que se ressentem dessa colonização tendem a se organizar e contra-atacar. Quando isso não ocorre, ou quando a panelinha original segue incólume, a tendência passa a ser a de a instância dominada tornar-se irrelevante — mais ou menos como um grupo de escritores que não publica nada, mas que só trocam elogios entre si.
Vai ver, desejar que a Wikipédia.pt pulasse essa fase fosse, mesmo, querer demais.
Base de Kourou
Lula podia aproveitar sua visita à Guiana Francesa e, além de pedir a Nicholas Sarkozy que lhe recomende um bom alfaiate, tentar aprender como se faz um programa espacial de gente grande.
A imagem acima é do centro espacial de Kourou, a mais avançada base de lançamentos da América do Sul, e fica lá na Guiana, embora o território brasileiro tenha vantagens geográficas muito maiores para esse tipo de atividade.
De Kourou vai partir o ATV, um novo tipo de cargueiro espacial projetado pela Agência Espacial Européia (ESA) para complementar as naves russas Progress que abastecem a Estação Espacial Internacional.
Enquanto isso, em Alcântara…