Meu próprio óvni!

Fiz a foto abaixo (clique no link para abrir) de dentro de um ônibus em movimento, com o celular, por volta das 11 horas da manhã de quinta-feira. Note o misterioso retângulo alienígena que se sobrepõe à nuvem, acima da extremidade esquerda do edifício alaranjado.
Veja a imagem do misterioso artefato
O que seria isso? Um estranho visitante de outra galáxia? Confesso que fiquei tentando a enviar a imagem a alguma “publicação especiallizada” em ufologia (não para o Kentaro Mori, que aí não teria graça) só para ver aonde as especulações malucas iriam parar.
Na verdade, inspeção visual direta — a foto ficou bem mal definida em comparação com o que deu pra ver a olho nu — revelou algo como um cilindro de plástico preto, cheio de ar quente ou algum gás mais leve que o ar. Não parecia um balão comum de festa junina: além do fato de ser preto, e não multicolorido, não havia mecha visível.
O meu óvni, então, é um objeto voador semi-indentificado: afinal, o que diabos um saco cilíndrico de plástico preto fazia voando por aí quinta-feira de manhã? Eram os lixeiros astronautas?
(Vinheta sinistra de filme B, por favor, maestro)

Paradoxo de sexta (30)

O da semana passada foi o Paradoxo do Compatibilismo. “Compatibilista” é o nome dado à postura filosófica de que o determinismo — a ideia de que todos os fenômenos do universo são causados por outros fenômenos, segundo leis fixas — e a noção de que agentes conscientes têm livre arbítrio são compatíveis.
Um dado curioso a respeito do compatibilismo é de a maioria das pessoas é, instintivamente, compatibilista (as pessoas acreditam que o universo segue leis, e também acreditam que são livres). Mas basta pensar um pouco no assunto para notar que existe uma contradição — ou a sugestão de uma contradição — aí. Afinal, se minha decisão de digitar a palavra “digitar” foi causada pelo movimento dos elétrons no meu cérebro, então eu não decido nada: sou um escravo dos íons em meus axônios.
A questão do compatibilismo tem várias ramificações e abordagens (recomendo fortemente Freedom Evolves, de Daniel C. Dennett), portanto vou me limitar a citar aqui apenas três pontos a favor dessa doutrina:
(a) Existe uma diferença entre causa “necessária” e causa “suficiente”. Por exemplo, pra que a rua esteja molhada é suficiente que o vizinho lave a calçada, que chova, que um caminhão-pipa vaze enquanto espera o sinal abrir, etc. O fato de que todo fenômeno tem uma causa suficiente não implica que haja causas necessárias — isto é, inescapáveis — também para tudo.
(b) O Teorema de Turing: Allan Turing demonstrou um impressionante teorema dando conta de que é impossível criar um programa de computador genérico capaz de prever à perfeição se outros programas vão rodar direito ou travar. Isso significa que até mesmo a coisa mais determinística já criada pelo homem — conjuntos de instruções precisas encadeadas de forma lógica — são, a partir de um certo grau de complexidade, imprevisíveis. Talvez pudéssemos dizer, de certa forma, livres?
(c) O que, afinal, queremos dizer com “liberdade”. Muitas vezes, a noção de livre arbítrio parece referir-se a um poder de abstração absoluto, que permitiria a uma pessoa tomar uma decisão de forma totalmente independente das circunstâncias, das emoções, das condições físicas e das consequências em jogo. Mas isso faz sentido? Afinal, a necessidade da decisão nasce, exatamente, das circunstâncias, condições físicas, emoções, consequências. O nível de desapego implícito nesse conceito de livre arbítrio simplesmente nega a possibilidade de se decidir qualquer coisa.
Para esta semana, voltamos ao reino da matemática.
É óbvio que (1/3) x 3 = 1.
Mas também é verdade que 1/3 = 0,3333333… (consulte sua calculadora, se duvida!).
Mas (0,3333….) x 3 = 0,9999999…., que é menor que 1 — só um pouco menor, claro, mas a matemática devia ser uma ciência exata, certo? Então, onde foi parar o 0,00000….9 que sumiu?

Vampiros e espelhos

Um pouco de diletantismo pseudocientífico pra o feriado: escritores de histórias de terror há tempos têm criado justificativas “científicas” pra apresentar vampiros — que podem se revelar, “na verdade”, psicopatas, pacientes de doenças raras, portadores de vírus, etc.
O filme Eu Sou A Lenda (e o livro em que se baseia, que é uma peça de ficção muito superior) segue essa linha.
O curioso dessas justificativas é que elas buscam cobrir todos pontos levantados pelo folclore: vampiros não saem durante o dia porque têm pele frágil; o vampirismo é contagioso porque se transmite por meio de um vírus; etc.
Agora, alguém consegue imaginar uma explicação biologicamente plausível para o dado de que vampiros não se refletem em espelhos e não aparecem em fotografias?

Marte, quando?

Hoje em dia ninguém se lembra, mas em 1989 o então presidente dos EUA George H. Bush apresentou um ambicioso plano para o envio de astronautas a Marte até 2020. Chamado de Iniciativa de Exploração Espacial (SEI, em inglês) o plano foi rapidamente engavetado depois que a Nasa apresentou um orçamento da ordem de US$ 500 bilhões para entregar o serviço.
A reação à escala extravagante do orçamento da SEI — como disse um crítico, praticamente todos os departamentos da Nasa que tinham algum plano precisado de dinheiro deram um jeito de incluí-lo no programa marciano — levou à formulação do plano Mars Direct, que hoje é a menina dos olhos da Mars Society.
Esse peque no balanço histórico vem por conta da notícia divulgada pela Associated Press de que a Nasa e a Agência Espacial Eurpeia estão preparando uma iniciativa conjunta para Marte.
A ESA tem seu próprio plano de conquista do espaço, o Programa Aurora, que já falou algo sobre mandar gente a Marte por volta de 2030, inclusive com um lindo pôster sobre o assunto.
Historicamente, a competição fez mais pela exploração do espaço que a cooperação — a corrida espacial nos deu o Sputnik, Gagárin, o homem na Lua; a cooperação, a ISS, que é basicamente um lugar para o ônibus espacial ir (e o ônibus espacial, algo necessário para se chegar à ISS) — mas os tempos são outros, e a adaptação costuma ser uma virtude.
Eu realmente só queria estar vivo para publicar neste blog as primeiras fotos do homem (ou mulher!) em Marte. Acho que minha melhor chance de conseguir isso é cortando o colesterol, fazendo exercícios, entrando num curso de meditação e controle do estresse e marcando a consulta do proctologista. Quem sabe assim chego aos 120.

A falácia do ‘verdadeiro torcedor’

Houve tempo em que os editoriais do jornal ‘O Estado e S. Paulo’, concordasse-se ou não com as premissas assumidas pelo redator, eram exemplos cristalinos de bom discurso e boa lógica. Não mais, infelizmente.
Ao comentar a recente morte de um torcedor após um jogo entre Corinthians e Vasco, o texto opinativo do vetusto diário se sai com a frase gritantemente falaciosa “(…)selvageria, estranha ao esporte e aos verdadeiros torcedores(…)“.
A falácia está em redefinir um termo que deveria ter significado específico (“torcedores”) de acordo com um critério irrelevante para a definição específica (não-selvagens).
Ou, como exemplifica o filósofo Anthony Flew: imagine que um escocês ouça a história de um inglês molestador de criancinhas; ele se enche de orgulho patriótico e diz, “nenhum escocês jamais faria isso”. Ao ser confrontado com o caso de um escocês pedófilo, sai-se com essa: “Não era um verdadeiro escocês”.
Bolas, o que define um escocês não são suas preferências sexuais, e sim o lugar onde nasceu; da mesma forma, o que define um torcedor é o fato de torcer para um time, não seu comportamento, violento ou não.
Essa “falácia do falso escocês” (ou, “do falso torcedor”) é usada para desculpar muita coisa: assassinos suicidas islâmicos não seriam “verdadeiros muçulmanos”; cientistas que fraudam suas pesquisas não seriam “verdadeiros cientistas”; cristãos que cometem atentados contra clínicas de aborto não seriam “cristãos de verdade”; padres pedófilos não são “verdadeiros sacerdotes”.
Seria muito mais produtivo que cada segmento reconhecesse e fizesse algo a respeito dos psicopatas em seu meio, em vez de simplesmente redefinir as fronteiras do grupo a cada nova inconveniência.

Patton e o Dia D

Sábado passado foram celebrados os 65 anos do Dia D, o épico desembarque de tropas aliadas no norte da França que garantiu a abertura do segundo front contra Hitler e a virada da Segunda Guerra Mundial.
Um detalhe pouco conhecido sobre esse evento colossal da história do século passado é o fato de que, na véspera do dia fatídico, o general George Patton fez um discurso para os soldados americanos. A fala de Patton seria considerada politicamente incorreta ao extremo hoje em dia — o que lhe dá a virtude da sinceridade, ao menos — mas, lá pelas tantas, o general cita uma estatítstca:
“You are not all going to die. Only two percent of you right here today would die in a major battle.”
(Tradução: Vocês não vão todos morrer. Só dois por cento de vocês aqui, hoje, morrerão numa grande batalha).
Há várias coisas a comentar a respeito desse trecho — uma delas, o sangue frio de olhar para uma multidão de jovens acreditando que dois de cada cem não viverão para ver a próxima semana; outra, o pouco conforto que a estatística traz (como prever quem vai ou não estar nos 2% de defuntos?) — mas o que me interessa no momento é, como Patton chegou a esse número?
Talvez ele estivesse de posse de um dado do tipo, só 2% de todos os soldados morrem em batalhas importantes, em média. Se realmente tinha esse dado, ele estava certo no que falou, exceto por três pontos:
(a) A estatística poderia muito bem se referir ao total de soldados em uma guerra que morrem em grandes batalhas, não ao dado relevante para o caso, que é o de participantes de grandes batalhas que morrem em grandes batalhas: tipo, entre os 98% de sobreviventes podem estar incluídos os sargentos de instrução que ficaram nos EUA para treinar recrutas (e que tecnicamente são soldados da guerra, embora não travem batalha nenhuma).
(b) Mesmo descontando o ponto (a), nada garantiria que o Dia D seria uma batalha importante “média” (na verdade, morreram ou feriram-se 9 mil homens de uma força de 150 mil no primeiro dia de combates, o que dá uma taxa de baixas da ordem de 6%).
(c) Desconsiderva a taxa de mortalidade em batalhas menos importantes. O cara poderia muito bem sobreviver ao Dia D e morrer um mês depois, numa escaramuça qualquer…
Outro detalhe da guerra: as agências internacionais de notícias divulgaram, no fim de semana, a foto de um senhor britânico de 113 anos, que é o mais velho veterano da 1ª Guerra Mundial e o único sobrevivente do RNAS, um braço da Marinha inglesa que depois daria origem à RAF (“Nunca tantos deveram tanto a tão poucos…”).
Gente assim não devia ter permissão para morrer. Devia ser congelada, e ressuscitada a cada trinta ou quarenta anos para contar as memórias às novas gerações.

Paradoxo de sexta (29 1/2)

Bom, como eu já havia confessado, o da semana passada não tem uma solução clara. Aparentemente, parece óbvio que o lógico é pegar apenas a caixa com R$ 1 milhão. O computador teria previsto isso, e tudo bem. Mas: (a) não há garantias de que o computador é infalível (ele pode ser apenas muito bom); e (b) se já há R$ 1 milhão garantido numa caixa, por que não pegar ambas?
Por outro lado, se ele previu que você pegaria ambas e você pegar só uma, você caba com um sapato velho e mais nada!
Mais do que um paradoxo da previsão, esse parece ser um paradoxo da causação reversa — como se a decisão que você vai tomar agora pudesse causar algo nos sistemas do computador, uma semana atrás.
Se não há causação reversa, não há como a decisão que você vai tomar agora afetar o que o computador previu. Na verdade, o que ele previu é independente da sua decisão. Logo, o melhor é pegar as duas caixas.
Supor que, em vez de um computador, a prêmio tenha sido definido por um ser sobrenatural perfeitamente onisciente muda alguma coisa? A onisciência parece substituir a causação reversa por causação futura — você não tem escolha a não ser ser como o ser onsiciente previu (do contrário, ele deixará de ser onisciente). Mas esse tipo de causação estrita nega a possibilidade de livre arbítrio. Ou não?
E aqui fica o paradoxo desta semana (que chamei de 29 1/2 porque ele deriva do da semana passada), o Paradoxo do Compatibilsimo: Se o estado do universo neste instante é uma consequência do — isto é, foi causado pelo — estado do universo no instante anterior, como pode existir liberdade?

Micróbios vão ao espaço

Como se já não bastasse o fato de eu ser velho, gordo e terceiro-mundo demais para ser o primeiro jornalista em Marte, ainda me aparece essa: saiu a lista de dez formas de vida microscópicas que foram selecionadas para o experimento Life, que vai enviar uma cápsula com seres vivos para Fobos (uma das luas marcianas) e trazê-la de volta, a fim de ver se essas criaturas são capazes de resistir aos rigores da viagem.
Os felizardos são:
Bacillus safenis: bactérias descobertas na Mars Phoenix, da Nasa, mesmo depois de todos os procedimentos de descontaminação aplicados à sonda;
Deinococcus radiodurans: também conhecida como “Conan, a Bactéria”, esse organismo é capaz de sobreviver a doses de radiação 150 vezes superior à suficiente para matar um ser humano;
Bacillus subtilis: essa é uma bactéria “genérica”. Sobreviverá sos 34 meses no espaço? Bem, é isso que queremos saber!
Haloarcula marismortui: este é um arqueano, que sobrevive em condições de salinidade obscenas.
Methanotermobacter wolfeii: outro arqueano, neste caso um que produz metano. Este é um bicho relativamente comum, e está indo a Fobos por conta da suspeita de que há micro-organismo gerando metano em Marte.
Pyrococcus furiosus: é preciso respeitar um bicho que tem “fogo” e “furioso” no nome! Este arqueano aprecia temperaturas de 70 a 100 graus Celsius.
Saccharomyces cerevisiae: lêvedo de cerveja! Não, não se trata de uma prospecção de mercado da ImBev. Ele vai a fobos como um “organismo modelo”, já que suas reações aos ambientes terrestres é bem documentada, e será fácil compará-la aos efeitos da viagem espacial.
Arabidopsis thaliana: uma planta! na verdade, uma planta bem “genérica”, e que vai ao espaço como modelo, seguindo o mesmo tipo de raciocínio do lêvedo.
Tardigrados: animais parecidos com ácaros, têm 1,5 milímetro de comprimento. São extremamente resistentes a extremos de temperatura e pressão.
Por fim, a cápsula Life levará a Fobos amostras de permafrost — no caso, de solo congelado da Sibéria. O objetivo é ver como a ecologia microbiana do permafrost reage à viagem.

O teste nuclear norte-coreano

Se há algo que marca a encruzilhada entre ciência e política, na consciência mundial, é a aplicação bélica da tecnologia nuclear. Cientistas conceberam a bomba; cientistas convenceram o governo dos EUA a construí-la; cientistas construíram-na; cientistas vêm, desde então, tentando convencer os governos a desistir desse tipo de armamento… com muito pouco sucesso.
(A ficção científica também tem alguma culpa, já que a primeira descrição de uma explosão nuclear apareceu num livro de H.G. Wells, e o mecanismo de ativação de um artefato nuclear foi descrito, em detalhes picantes, num pulp de ficção, enquanto o Projeto Manhattan ia a pleno vapor. )
É bem interessante, portanto, o relatório especial do Boletim dos Cientistas Atômicos sobre o teste nuclear norte-coreano da última semana.
Segundo os dados levantados para o Boletim, os relatos iniciais do sucesso do teste e da potência da bomba foram amplamente exagerados.
Bombas nucleares do estilo usado na 2ª Guerra Mundial — e que parecem ser os únicos modelos que países como a Coreia do Norte têm capacidade de fazer — funcionam de uma forma bastante simples: uma explosão convencional é usada para impulsionar massas de material físsil — urânio ou plutônio — em direção umas das outras, gerando uma massa crítica que sustenta a reação nuclear explosiva.
No caso de uma bomba de urânio, esse processo é realmente tão simples quanto a teoria prevê: basta ter uma “pistola” que dispare uma das massas subcríticas em direção à outra, e BUM!, lá se vai sua cidade favorita pelos ares.
A bomba de plutônio, no entanto, é mais chatinha que isso. Por conta de impurezas que se acumulam no plutônio produzido como lixo nuclear em usinas atômicas — e que é a matéria-prima das bombas — a massa crítica tem que ser formada de um modo bastante preciso e específico.
O design “Fat Man” (“Gorducho”) criado pelos americanos para a bomba de Nagasáqui requer uma esfera de plutônio que é encolhida subitamente por uma série de detonações convencionais simultâneas. Essas explosões reduzem o raio da esfera e aumentam sua densidade até um nível crítico. “Simultâneas” é a palavra chave aqui: uma diferença de algumas dezenas de microssegundos representa a diferença entre uma arma nuclear de 20 megatons e um chabu nuclear.
Esse chabu ainda seria uma “bomba suja”, capaz de espalhar material mutagênico e cancerígeno por uma boa área mas, até aí, o que você quer é vaporizar o inimigo, certo?
Ao que tudo indica, o que a Coreia do Norte busca é um modelo estilo “Fat Man” (um motivo seria fato de que bombas de urânio são tão simples que realmente não precisam ser testadas). E, também ao que tudo indica, o teste e 2009 foi outro chabu, embora menos retumbante que o de 2006.

Categorias

Sobre ScienceBlogs Brasil | Anuncie com ScienceBlogs Brasil | Política de Privacidade | Termos e Condições | Contato


ScienceBlogs por Seed Media Group. Group. ©2006-2011 Seed Media Group LLC. Todos direitos garantidos.


Páginas da Seed Media Group Seed Media Group | ScienceBlogs | SEEDMAGAZINE.COM