Química, um convite para uma piscina fria
Sou químico.
Algumas vezes vejo a química como uma piscina com água fria. Todos que entram percebem que a água está mais fria do que o desejável. Para não ficarem como trouxas solitários, acabam convidando mais pessoas dizendo que a água está bem boa.
Falo isto em relação à divulgação da química, aquela química que você sentiria prazer em ler em um final de semana. São poucas as fontes deste tipo de apreciação. Poucos livros, raros documentários e esparsos websites.
A piscina dos físicos e biólogos é bem mais agradável e divertida. Parece que até os matemáticos encontraram modos de tornar tudo mais interessante.
Não sei a fórmula da melhor divulgação da química. O repertório de reações coloridas e explosivas não é interminável e logo satura. Não vou mentir. A água não é convidativa. Talvez não seja congelante, mas longe de justificar um convite sincero.
Discussão - 11 comentários
Gostei da comparação com a piscina de água fria, mas seguindo essa imagem, depois de um tempo a água aparentemente fica agradável para os que estão ali dentro. E é nesse estado que estou hoje, também como químico.
Um possível caminho para a questão levantada é utilizar essa paixão que sentimos pela química (após um tempo na água), para mostrar como estamos vivos e como as coisas funcionam através da química.
Por exemplo, como moléculas específicas para ferro, os sideróforos, são essenciais pra sobrevivência de bactérias, ….
Inclusive, falar abertamente que a maioria das coisas realmente não são coloridas e nem explodem hehehe.
Espero poder contribuir pra essa divulgação em breve, com ideias.
Abraço
Luis, a medicina tem 598 mil exemplos de como a quimica pode ser interessante (pelo menos pros médicos, hehe).
Eu mesmo tenho um interesse intrínseco pelo equilibrio acido-base e até publiquei umas coisas. Serei honrado em postar uns companion post sobre assuntos correlatos.
Abraço
@Karl – A química pode ser bem interessante.
Estou aprendendo isto aos poucos. Catando relações, exemplos e amadurecendo meu conhecimento na área.
Fiquei anos congelado no submundo da neurose pela estequiometria e apenas-conceitos-definições-enciclopedismo que entopem o mundo da química (não que sejam inúteis). É difícil visualizar o brilho.
Luis, será que essa “piscina fria” não tem muito a ver com esse post? —> http://migre.me/75H2M – no caso, os próprios químicos é que a resfriam…
@Sibele – Concordo. Entre os químicos não vejo o mesmo entusiasmo pela ciência. Talvez a opção pela física naturalmente atraia os apaixonados pela ciência. E talvez os químicos estejam mais interessados na parte profissional, de trabalhar e ir para casa. Não tendo o mesmo envolvimento de paixão pelo assunto (comparado com físicos e biólogos).
estou surpresa com isso dos químicos não serem entusiasmados com a ciência. passei o ano escrevendo na Pesquisa FAPESP sobre palestras do Ano Internacional da Química. não só senti uma grande empolgação da parte dos palestrantes como fiquei contagiada – assim como um monte de estudantes de uma escola técnica que foram ao ciclo inteiro.
será que essa sua percepção é mesmo generalizada? será que é questão mesmo de tempo de carreira, como diz o anderson arndt?
@maria – Esperava mais do Ano Internacional da Química. Palestras? Costumo achar que as palestras são um pouco restritas e localizadas. Tem a sua força naquele momento, mas depois evaporam. Podem deixar o entusiasmo em quem participou, mas parece pouco.
Acho que estou pedindo demais. Pedindo algo que eu mesmo não sei responder. :-/
claro, palestra é pouco. por isso o esforço de escrever reportagens sobre elas, fazer vídeos, contar no podcast. assim fica registrado, quem sabe dura mais. mas faz diferença? não sei. como você, não sei o que faz diferença.
Luis, um bom exemplo de como fazer isso está na clássica obra do Faraday, A História Química de uma Vela. Provavelmente você já leu, e ali vemos o entusiasmo do Faraday em cada descoberta que ele apresenta à sua plateia. É realmente muito entusiasmante. Eu tb não sei a resposta, mas chutaria que poderia começar mostrando as maravilhas das descobertas que é possível fazer, usando química. Algo assim.
Não desanime, Luís! 🙂
[…] Uma reflexão melancólica sobre a divulgação científica da química. Eu concordo com muito dali, mas sou mais otimista, […]