O olhar de Michelangelo e a divulgação de ciência

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“David, de Michelangelo”
Michelangelo era uma figura cercada por lendas… Uma delas diz que o artista, após ser interrogado sobre sua inspiração ao esculpir David a partir de um bloco maciço de mármore de carrara, respondeu que simplesmente tirou o “excesso” de mármore do bloco – a escultura em todo o seu esplendor já estava lá, e o que ele fez foi apenas torná-la explícita. Algo semelhante ocorre com o cientista que divulga ciência. Artigos científicos em geral são pesados, difíceis; é preciso ter os olhos de Michelangelo – ou seja, do especialista – para processar as informações ali presentes e perceber toda a sua potencialidade no meio de tanta aridez. Não é a toa que 73 % dos brasileiros (dados do MCT, de 2007) se informam pouco ou nada sobre ciência e tecnologia, embora 41 % tenham MUITO interesse pelo tema. O motivo? Não entendem.
Aí entra a divulgação científica bem feita, como agente transformador da sociedade por facilitar o acesso do público ao conhecimento gerado pela ciência. É como esculpir o bloco de mármore, para que todos possam admirar o David escondido nele. Isso abre caminho para que as pessoas exerçam sua cidadania científica (sim, esse termo existe!), ao inseri-las nos debates que, em última instância, definem as políticas de ciência e tecnologia de um país.

Cidadania científica: É a capacidade para participar das decisões públicas que envolvem assuntos relacionados a ciência e tecnologia. Não podemos esquecer que a ciência está inserida num contexto social, e a percepção pública sobre temas científicos e tecnológicos pode tanto impulsioná-los quanto derrubá-los completamente.

Os cientistas (ainda!) são atores tímidos desse processo. Historicamente, a ciência sempre foi algo hermético, para poucos iniciados. Dividi-la com as pessoas “comuns” não era visto com bons olhos pelos pares acadêmicos. Ainda bem que essa concepção está mudando – rapida e radicalmente. Além de iniciativas de estímulo do próprio governo à comunicação científica visando o público leigo, uma nova ferramenta surgiu para simplificar as coisas e aproximar cientistas e leigos: o weblog. É sobre isso e otras cositas mas que falarei amanhã, na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, em Tapes/RS, na palestra “Divulgação científica através de novas mídias: esculpindo textos, formando opiniões”, para uma das turmas de Gestão Ambiental.

“Em cada bloco de mármore vejo uma estátua; vejo-a tão claramente como se estivesse na minha frente, moldada e perfeita na pose e no efeito. Tenho apenas de desbastar as paredes brutas que aprisionam a adorável aparição para revelá-la a outros olhos, como os meus já a vêem.”
(Michelangelo di Ludovico Buonarroti Simoni, 1475-1564)

Dispersando: podcast de estréia do ScienceBlogs Brasil

O Igor já deu o anúncio no 42.

O primeiro podcast do ScienceBlogs Brasil ja está disponível, com participação de Rafael (RNAm) e do nosso ilustre editor-chefe, Igor (42) – além de euzinha aqui, com o maior sotaque gaudério (nem sabia que tinha um, hehehe). Compõem este primeiro podcast discussões que vão da eterna dicotomia entre donos de gatos e de cachorros (e o quão inteligentes eles supostamente são) até o conceito de verdade em ciência e porque não é absurdo um cientista mudar de opinião, passando por algumas críticas sobre como a mídia divulga alguns estudos científicos (Update 22/04/2010: informações sobre a evolução de hábitos alimentares a partir de obras de arte feitas em diferentes épocas ) .
Eis o link: Dispersando Podcast Vol.1. Enjoy!

Espaço Aberto Ciência & Tecnologia: uma batida e uma assoprada

Acabo de assistir ao mais recente programa Espaço Aberto: Ciência & Tecnologia, do canal de TV a cabo Globo News. O tema? Adivinhe lendo o título – Nanotecnologia nos alimentos: você sabe o que está comendo? Pois bem, como dizem as avós desse mundo, dessa vez vou bater e assoprar.
A matéria inicia com o jornalista fazendo a seguinte comparação: quem consome cigarros está ciente dos riscos associados a eles, mas quem consome alimentos nanotecnológicos não está. Eu entendo aonde o jornalista quer chegar com essa comparação, mas não posso deixar de apontar o quão infeliz ela foi. Sim, infeliz porque acaba dando margem para extrapolações e conclusões falaciosas, do tipo “cigarro e alimentos nanotecnológicos são tóxicos e perigosos, a diferença é que no primeiro caso quem consome sabe disso”.
Ora, se tem algo que me incomoda é quando o assunto nanotecnologia é abordado na mídia com tons alarmistas e como algo único, estanque e homogêneo. Já foi anteriormente discutido aqui neste blog que o universo de nanopartículas para uso biológico é vasto e diversificado, e que seus efeitos (benéficos e maléficos) no organismo e no ambiente estão intrinsecamente relacionados com sua composição, formato, tamanho e características de superfície. É excessivamente simplista e até contraproducente juntar tudo no mesmo balaio de gatos, pois isso não esclarece o assunto e estimula a criação de preconceitos difíceis de serem quebrados.
Como mencionei que assopraria depois de bater, não posso deixar de apontar que o tom foi mudando no decorrer da reportagem. Essa questão da complexidade e diversidade de nanomateriais e seus efeitos acabou sendo abordada pelos entrevistados de forma bastante clara e razoável. Andrew Maynard é físico, diretor do University of Michigan Risk Science Center e ex-conselheiro chefe de ciências do PEN (Project on Emerging Nanotechnologies) – além de blogueiro e tuiteiro. Em sua entrevista para a reportagem da Globo News, Maynard mencionou que, embora a ciência esteja no caminho certo, ainda há um grande grau de incerteza quanto aos riscos de tecnologias emergentes. Ele está certo. Mas isso não quer dizer que produtos nanotecnológicos sejam necessariamente inseguros, de acordo com o próprio Maynard. William Waissmann, cientista da Fiocruz também entrevistado pela equipe de reportagem, afirmou que a nanotecnologia “é um mundo novo do ponto de vista toxicológico”. Um exemplo mencionado na reportagem foi a prata que, na sua forma macroscópica, não oferece grandes riscos. No entanto, nanopartículas de prata vem sendo usadas nos mais diversos produtos ao redor do mundo, de potes plásticos para armazenar comida a máquinas de lavar roupas (e sua presença, às vezes, é completamente desnecessária). A redução do tamanho da prata à escala nanométrica muda suas propriedades. Isso pode causar que riscos toxicológicos e ambientais? Em que situações vale a pena utilizá-la? Tais perguntas são fundamentais, e para respondê-las, urgem pesquisas de impacto toxicológico e ambiental dos produtos contendo nanotecnologia, em especial daqueles com nanopartículas ditas insolúveis. Nesse sentido, faço coro com Maynard. A nanotoxicologia é uma área que precisa de expansão-relâmpago.
A regulamentação dos nanoprodutos também ainda é incerta. De acordo com Maynard, não existe lei que exija que o consumidor seja informado de que há materiais nanotecnológicos no produto consumido. É fundamental dar ao consumidor o direito de escolher e, dessa forma, exercer sua cidadania. E para isso, ele precisa não só saber o que um produto contém. Ele precisa estar (bem) informado a respeito da nanotecnologia, suas vantagens, seus riscos e suas complexidades. Durante sua entrevista, Waissmann comentou sobre um estudo americano curioso que aponta que o público se baseia menos em informações científicas e mais em seu contexto cultural para construir opiniões. Eu torço sinceramente para que você, leitor, conte por aí sobre informações científicas que vem aprendendo a respeito da nanotecnologia a partir de fontes REALMENTE confiáveis. Mas não conte apenas para um amigo ou dois. Conte a um bando de gente, incluindo pai, mãe, tia, avó, primo, vizinho. Quem sabe assim, nosso contexto cultural mude um pouquinho, e sejamos uma nação menos assombrada pelos demônios.
P.S.: Dessa vez, o pessoal da Globo lembrou de mencionar pesquisas brasileiras de excelência na área, tais como a língua eletrônica e a nanopelícula à base de proteína de milho para ajudar a conservar frutas, ambas ligadas à Embrapa Instrumentação Agropecuária (São Carlos, SP). A reportagem também usou imagens da Nanoarte criada pela equipe do prof. Élson Longo (UNESP), made in Brazil e internacionalmente reconhecida! Quanto a esse aspecto, mais que uma assoprada da blogueira, fica a apreciação da telespectadora – e a expectativa de que a lembrança se repita nas próximas.

Páscoa tem chocolate, coelhos e …. Mickey!

Diga lá qual é o maior clichê científico da Páscoa. Sim, os benefícios do chocolate, sua história que remonta aos povos nativos da América Central, etc etc. Se não for isso, algo com coelhos (claro!), como é sua vida e seu comportamento, ou sobre ovos, sei lá. Embora já tenham me dito que adoro um clichê, evitarei tratar desses temas. Nesta Páscoa de 2010 escreverei sobre ratos. Isso mesmo, você leu certo. Mais especificamente, sobre o personagem Mickey. E, para não perder o costume, não é qualquer Mickey dando tchauzinho na Disney – é um Mickey nanométrico (um não, vários!).
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A equipe do professor Oswaldo L. Alves, da Unicamp, ao realizar experimentos para a obtenção de nanofios de vanadato de prata para uso em tecidos bactericidas, deparou-se com algo curioso: sobre os fios, formaram-se nanopartículas de prata com um formato que lembra o Mickey. De orelha a orelha, cada nano-Mickey tem um comprimento de 40 nanometros.
O mais interessante é que tais nano-Mickeys não foram obtidos ao acaso, de forma aleatória – o experimento foi reprodutível, pois foi possível obter as nanopartículas com o padrão morfológico tipo Mickey todas as vezes em que o experimento foi feito. Esse é um belo exemplo de auto-organização. Isso parece estranho à primeira vista – como é possível obter espontaneamente estruturas tão ordenadas a partir da completa desordem? A resposta não é simples, mas faz parte de uma teoria belíssima, já tratada aqui anteriormente. Em primeiro lugar, o sistema precisa estar longe do seu equilíbrio termodinâmico, e ser aberto (ou seja, deve ser capaz de trocar matéria e energia com o ambiente externo). Além disso, dentre outros aspectos (não citarei todos para não cansar o leitor) deve apresentar emergência – ou seja, o todo é maior do que a soma das partes e o todo exibe padrões e estruturas que surgem espontaneamente do comportamento das partes -, grande número de componentes independentes – resultando em muitas conexões, interações e laços de feedback entre as partes do sistema, e efeitos em múltiplas escalas – as interações em pequena escala resultam em estruturas específicas na grande escala, que por sua vez, modificam a atividade da pequena escala (dá um nó na cabeça, não?)
Vi os nano-Mickeys na Info Online, dica do Takata.
OBS.: O sistema que contém os nano-Mickeys é parte da tese de doutorado de Raphael Dias Holtz (Unicamp), com a participação do Prof. Antonio Gomes de Souza Filho (Universidade Federal do Ceará).

(nano-) Casulos de Dragão

ResearchBlogging.org
Tailândia, Indonésia, Filipinas, Coréia do Sul, Vietnã, China. Por alguma razão que não sei explicar muito bem, se me perguntassem que país eu gostaria de conhecer primeiro (ainda não tive a oportunidade de sair do Brasil), citaria um destes países asiáticos, sem pestanejar. Talvez o mais fascinante de todos seja a China. Na província de Yunnan, sudoeste da China (perto de Laos e Vietnã), é fabricado um tipo muito peculiar de chá que, ironicamente, faz muito mais sucesso no seu vizinho Japão – cujos nativos são notórios pelo bom-gosto estético. Esse chá é preparado da seguinte maneira: ainda úmidas, as folhas de Camellia sinensis (nome científico do chá) são arranjadas como uma bola, contendo uma flor dentro de si. Após passar pelo processo de secagem, oxidação e cozimento, o resultado é uma espécie de casulo que, quando submerso em água fervente, expande-se lentamente simulando o desabrochar de uma flor. Durante esse processo, que pode levar de 1 a 10 minutos, substâncias presentes no casulo difundem para a água, que se converte no delicioso chá. Devido ao seu formato, essas bolas de chá são conhecidas na China como Casulos de Dragão.




Legal, né? Sabia que temos algo parecido ao Casulo de Dragão no nano(bio)mundo?
Não, não é delírio de uma mente insana. Para explicar essa improvável similaridade, permita-me um parênteses. Já ouviu falar em óxido nítrico? Ele é um gás produzido naturalmente pelo corpo, capaz de aumentar a resposta imunológica contra infecções, estimular a cura de feridas e aumentar o fluxo de sangue através da dilatação das veias. O problema do óxido nítrico é que ele é um gás com vida curta no organismo. Para tirar o máximo proveito dele, o ideal seria construir um dispositivo capaz de armazená-lo e de liberá-lo num ponto desejado do organismo aos poucos, para um efeito mais duradouro.
Aí é que entram os “nano-casulos de dragão”.* Pesquisadores do Albert Einstein College of Medicine (New York, USA) desenvolveram nanopartículas capazes de carregar óxido nítrico e liberá-lo de uma maneira que lembra as famosas bolas de chá chinesas. Quando aplicadas na pele, essas nanopartículas absorvem água, incham e começam a liberar o óxido nítrico de forma sustentada no local desejado.
E os resultados são muito promissores! Por quatro dias, ratos com abscessos causados por bactérias resistentes a antibióticos foram tratados com nanopartículas contendo óxido nítrico, nanopartículas “vazias” (sem óxido nítrico) ou placebo. Apenas o grupo de ratos tratados com nanopartículas contendo óxido nítrico apresentou melhora significativa dos abscessos – ou seja, eles ficaram livres da infecção e suas feridas cicatrizaram.**
Além de ser uma futura possibilidade de tratamento para infecções de bactérias resistentes a antibióticos (hoje o único tratamento nesses casos consiste em drenagem cirúrgica), as nanopartículas contendo óxido nítrico também poderiam ser utilizadas como tratamento tópico para disfunção erétil, já que óxido nítrico aumenta o fluxo sanguíneo dos tecidos. Será que o famoso azulzinho está com os dias contados?
P.S. (sempre tem um…):
* Embora as nanopartículas inchem tal qual um casulo de dragão em contato com a água, o termo “nano-casulos de dragão”, esse sim, saiu da mente insana desta blogueira e, em nenhum momento, foi sugerido pelos autores do estudo.
**É importante salientar que este é um estudo feito em animais, ainda há um longo caminho para algo assim chegar ao mercado e estar disponível para a população.
Fonte:

Han G, Martinez LR, Mihu MR, Friedman AJ, Friedman JM, & Nosanchuk JD (2009). Nitric oxide releasing nanoparticles are therapeutic for Staphylococcus aureus abscesses in a murine model of infection. PloS one, 4 (11) PMID: 19915659

Research Blogging Awards 2010

Deu empate, galera!



Research Blogging Awards 2010 Winner!



Bala Mágica e Brontossauros (parabéns, Carlos Hotta!) são eleitos os melhores blogs do ano redigidos em português que tratam de ciência revisada por pares, ganhando o prêmio Research Blogging Awards, promovido pelo Seed Media Group. Na primeira etapa, qualquer pessoa cadastrada no Research Blogging poderia indicar blogs para a final. Os indicados foram selecionados por um júri e o vencedor seria selecionado através de votação e divulgado hoje.
Imagine a minha surpresa há cinco minutos da redação deste post ao saber desse resultado… não só pela importância do prêmio, mas especialmente pela qualidade dos demais blogs indicados: Evolucionismo, Química Viva, Psiquiatria e Toxicodependencia, Ecce Medicus, Psiquiatria e Sociedade (visite-os, vale a pena).
Sinto-me extremamente honrada. Obrigada \o/
P.S.: O Takata promoveu uma votação popular paralela, não-oficial, no Gene Repórter. Fiquei muito feliz com a lembrança que recebi dos seus leitores, Takata!

A menor Enterprise do mundo (até agora…)

É isso aí, eis a menor Enterprise do mundo, caro trekker!
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Origem da imagem aqui
Autores: Takayuki Hoshino e Shinji Matsui (Himeji Institute of Technology)
Quem enviou o link para essa imagem (via twitter) foi Carlos Hotta, com uma ressalva interessante: “ainda não é nano”!
Realmente, essa versão em miniatura da Enterprise NCC-1701D de Star Trek tem 8,8 micrometros de comprimento (quase nove mil vezes maior que 1 nanometro). Mesmo que não esteja na escala nano, a Enterprise da imagem (que é cerca de seis vezes menor que a espessura de um fio de cabelo) é pequena o suficiente para que o papel da força de gravidade não seja mais tão significativo como é para nós, que estamos na escala macro. Na escala micrométrica, o que conta mesmo são as forças de van der Waals – responsáveis, por exemplo, pela capacidade de lagartas e insetos andarem pelas paredes. As forças de van der Waals também são responsáveis pelo “grude” de muitos adesivos sintéticos, como a nossa velha conhecida cola branca, dos trabalhos escolares.
Essas imagens do mundo-tão-pequeno-que-nossos-olhos-não-vêem dá margem a vôos da imaginação… @k_psicum acha que a Enterprise em miniatura poderia ser também uma nano-tomada. Eu acho que poderia ser também o banco de um monociclo. E você, o que acha?

Feiúra, beleza e gratidão

Há um tempo li (ou melhor, me deleitei com) Ensaio sobre a Feiúra, do italiano Umberto Eco. É curioso pensar que o bizarro e o feio podem ser fascinantes. E acaba sendo inevitável concluir que a beleza e o prazer que ela evoca podem ser encontrados nos lugares mais improváveis. Talvez soe estranho ao leitor leigo, mas há muita beleza na vida de um cientista – mesmo em equações matemáticas intrincadas, seres vivos repulsivos e reações químicas fedorentas. Às vezes, colegas de laboratório comentam comigo sobre alguns de seus resultados e as conclusões obtidas a partir deles. Quando todos os dados se encaixam harmoniosamente numa teoria, não consigo evitar que escape um “– puxa, que bonito…“. A fascinação causada por uma descoberta científica, por menor que seja, deve ser muito semelhante ao prazer de descobrir o mundo, típico de uma criança nos seus primeiros anos de vida. Sem dúvida, isso é um privilégio.
Se eu tivesse nascido algumas gerações atrás, participar do mundo acadêmico seria um sonho praticamente impossível de ser realizado. Por isso, nesse Dia Internacional da Mulher, eu gostaria de agradecer àquelas mulheres que, direta ou indiretamente, contribuíram para que eu e tantas outras pudéssemos trilhar esse caminho, sejam elas famosas e reconhecidas como Marie Curie, injustiçadas (ainda!) como Rosalind Franklin, brasileiras de coração como Johanna Döbereiner ou aquelas tantas anônimas ao redor do mundo que fazem a diferença onde estão. Entre elas, Denise Sain Poletto, minha mãe, que me ensinou que mulheres são tão capazes quanto homens (nunca acredite quando disserem o contrário para você). Porque, como já citei antes aqui neste blog, “mulher é desdobrável”. Nós somos.
“A objeção que eu fazia a mim mesma era não ser o ensino profissão de mulher, que ela deve permanecer calada, escutar e aprender, sem demonstrar o que sabe, que publicar uma obra está por cima de sua condição; que habitualmente isso não contribui à sua
boa reputação, pois os homens desprezam e desaprovam sempre o produto da mente feminina… Estava persuadida, por outro lado, de não ser a primeira a pôr alguma coisa no prelo, que a mente não tem sexo, que se a das mulheres fosse cultivada como a dos homens e se se empregassem tanto tempo e meios em instruí-las poderiam igualá-los.”

Marie Meurdrac (química francesa do século XVII, ao contar sobre as dúvidas e angústias que precederam a decisão de publicar seus achados científicos – os primeiros escritos por uma química mulher na história)
(O texto em itálico é uma tradução feita por Lucia Tosi. O conteúdo completo pode ser encontrado aqui)

O que você vê?

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A imagem acima é linda e intrigante, não? O que você vê?
Sinceridade, hein? Bem, eu vejo uma bolinha rosa e “dedinhos” com unhas rosa pink ao redor dela (não é não?). Mas tal como as imagens artísticas anteriores apresentadas neste blog, parece mas não é! Trata-se na verdade de uma microesfera de poliestireno (diâmetro = 2,5 micrometros) rodeada por fibras de resina epóxi (diâmetro = 250 nanometros), cuja imagem foi obtida por microscopia eletrônica de varredura e posteriormente recebeu cores em programa de computador. O autor da obra (que ganhou o primeiro lugar do prêmio “Science as Art 2008” da MRS) é Boaz Pokroy, da Harvard University (USA). A imagem foi batizada de “Nano-Grip” (algo como “Nano-Agarramento”, em inglês).
Agora… dê uma olhada nessa aqui e conte-me: o que você vê?
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Não brinca… você já tinha visto essa antes, na internet? Sim, ela rodou o mundo há uns dias atrás por ganhar um concurso promovido pela revista Science e pela National Science Foundation, dos Estados Unidos (aliás, quem me mostrou essa imagem foi a Isis, do Xis-Xis). Os artistas responsáveis pela obra são Sung Hoon Kang, Joanna Aizenberg e … o mesmo Boaz Pokroy, todos da Harvard University (USA). Sabe como essa imagem foi denominada? “Salve o nosso planeta. Vamos nos tornar verdes” (no original, “Save Our Earth. Let’s Go Green”). Simpatizou? Pois é, eu também. Você já deve ter percebido que a esfera verde é na verdade uma micropartícula e que os “bracinhos” ao redor dela são fibras com diâmetro nanométrico – e, da mesma forma que a anterior, esta imagem foi obtida por microscopia eletrônica de varredura e posteiormente colorizada para dar o tom artístico.
Por que a imagem da esfera “rosa” não rodou o mundo internético na época, se também ganhou um prêmio importante na área de imagens “artísticas” de ciência e é até mais bonita que a da esfera “verde”? Ora, marketing! Os autores poderiam ter colorizado a esfera de qualquer cor que quisessem, mas escolheram o verde, e não foi à toa. Ao colorizar a micropartícula de verde, a idéia dos autores foi chamar a atenção para a necessidade de cooperação entre pessoas de todas as áreas para lidar com questões ambientais, pois cada fibra poderia representar uma pessoa e todas estas juntas sustentariam a micropartícula verde, que corresponderia ao planeta Terra.
Marketing não é apenas vender produtos, mas também é vender ideias. Aposto que depois que você leu o nome dado à imagem da esfera “verde”, passou a achá-la mais interessante porque comprou uma mensagem de conscientização ambiental, não é? Vendemos e compramos idéias o tempo todo. Ninguém (nem eu, nem você e nem mesmo os cientistas) está imune a isso.

Dança, folia …. e células

“Berço do samba e das lindas canções/
Que vivem n’alma da gente/
És o altar dos nossos corações/
Que cantam alegremente…..”




nano_dancers.jpg
Nano Dancersvi no site do Nanoart 21.



Um ótimo (e absurdamente divertido) feriado de Carnaval !!!!
PS.: Esta blogueira que vos escreve entrará em merecido recesso de 1 semana. Comentários podem não aparecer aqui de imediato devido a isso (mas serão publicados assim que eu retornar, ok?). Até a volta !!!!

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