Mesmo transformada, ela sempre ressurge
Na quinta-feira, o concurso de fotomicrografia Nikon Small World divulgou seus vencedores e, como sói acontecer, entre eles há uma espiral logarítmica:
No caso, a ampliação o ovário de um peixe.
Essa espiral tem a propriedade de manter a forma em qualquer escala, mesmo com o espaço compreendido entre sucessivas voltas aumentando sempre; e o ângulo formado entre linhas radiais e tangentes a ela é sempre o mesmo, em todos os pontos. Possivelmente por causa dessas características, ela é uma forma comum na natureza, aparecendo em ciclones, galáxias e seres vivos (daí sua abundância nas várias edições do concurso da Nikon).
Uma ave de rapina aproximando-se da presa ou um inseto voando para colidir com uma lâmpada descrevem espirais logaritmicas. Os insetos evoluíram um mecanismo que os leva a buscar manter um ângulo constante com a principal fonte de luz da vizinhança durante o voo — se essa fonte é o sol ou a lua, o resultado é uma linha reta; como quando um pessoa tenta viaja para o norte mantendo o sol à sua direita, durante a manhã.
Se a fonte estiver muito mais próxima (e, para piorar, irradiar luz em 360º), surge a espiral letal.
Essa espiral foi muito estudada pelo matemático Jakob Bernoulli, que a chamou de spira mirabilis (espiral maravilhosa) e insipriou-se nela para criar o próprio epitáfio, Eadem mutata resurgo (Mesmo transformado, ressurjo).
Infelizmente , o artesão que gravou a lápide de Bernoulli fez o favor de pôr lá a espiral errada — no caso, a forma muito mais simples e fácil de construir da Espiral de Arquimedes.
A lápide de Bernoulli, acima; a espiral aparece no pé da imagem.
Paradoxo de sexta (46)
O de sexta passada, o da Onipotência (na versão de Mackie) suscitou várias pontos interessantes de discussão, mas eu destaco dois que me pareceram os mais pertinentes à questão imediata:
1. Tudo depende de como se define onipotência.
É aí que reside a solução clássica de Tomás de Aquino, que redefine onipotência como a capacidade de fazer tudo que não seja logicamente impossível. Esse resultado parece satisfazer muita gente — o próprio Mackie, que escreveu um calhamaço de argumentos contra a existência de Deus, considerava-o aceitável — mas a mim, pelo menos, ele me parece capcioso, muito parecido com a Falácia do Verdadeiro Escocês (“Nenhum escocês é pedófilo!” “Ei, mas o McCloud foi preso ontem em flagrante com uma menina de oito anos!” “Ah, ninguém que faça uma barbaridade dessas é um verdadeiro escocês no coração!”).
Enfim: se é preciso redefinir um termo para excluir explicitamente os absurdos, isso, a meu ver, só reforça a ideia de que o termo em si é absurdo. Ao definir “quadrado”, por exemplo, não é preciso acrescentar a ressalva de que “esta definição exclui os círculos”.
(Aliás, essa é uma sensação que a maioria dos argumentos teístas me dá, a de que as definições são postas numa câmara de tortura e espancadas, esticadas, amputadas e marcadas a ferro quente até que digam o que o argumentador queria ouvir. A Suma Teológica é bem assim…)
2. O paradoxo fala de um ser onipotente genérico, não em Deus
Essa pode parecer uma distinção irrelevante, mas não é. Na verdade, o paradoxo é muito mais danoso à ideia judaico-critã-islâmica de deus (onipotente, onisciente, onibenevolente, criador do Universo, fonte das obrigações morais, merecedor de adoração, colecionador de prepúcios, adversários dos contraceptivos, coletor de dízimos, recompensador de homens-bomba, etc, etc) do que, digamos, a Zog, a criatura onipotente do Planeta W.
Primeiro, porque ele revela uma incompatibilidade entre um criador onipotente e o livre-arbítrio das criaturas. Mackie tentou contornar isso pressupondo dois tipos de onipotência, sendo a de Tipo I a capacidade infinita de agir, e a de Tipo II, a capacidade infinita de determinar as ações dos outros e as próprias. Ele poderia então, valer-se da onipotência Tipo II para abster-se de exercer controle sobre suas criaturas.
O argumento, no entanto, fica bem convoluto a partir desse ponto, e no fim a coisa acaba gerando inconsistências. De novo.
Outro ponto é que a própria solução de Aquino é insatisfatória, quando aplicada a uma divindade criadora do Universo: bolas, se o cara criou tudo que existe, ele também criou as leis da lógica. Como pode ser limitado por elas? A menos que as leis da lógica sejam anteriores a ele e ele tenha de se submeter a elas. Mas, então, elas (a) seriam mais poderosas que Deus e, (b) teriam de ter sido criadas antes dele. Por quem?
De volta à câmara de tortura…
Bom, vamos ao desta semana. Desta vez não trarei um paradoxo, mas um enigma leve, adaptado do mais recente livro de Ian Stewart:
Suponha que você é um ladrão que invadiu uma casa e achou uma cômoda com seis gavetas. No escuro, começa a esvaziá-las, tentando, pelo tato e pelo feixe estreito de sua lanterna, encontrar algo de valor. De repente ouve um ruído. O dono da casa voltou!
Sendo um ladrão romântico, na tradição cavalheiresca e não-violenta, você prefere fugir a confrontar sua vítima. Rapidamente, antes de voltar à janela, você retorna o conteúdo às gavetas — você havia feito seis pilhas no chão, uma para cada compartimento. Na pressa, no entanto, você simplesmente enfia uma pilha de conteúdo em cada gaveta ao acaso, sem se preocupar em devolver cada uma à origem.
Saltando pela janela no instante em que as luzes se acendem no corredor, você se vê pensando em qual a chance de ter acertado, por pura sorte, a distribuição das pilhas entre as gavetas. E faz a si mesmo a seguinte pergunta: qual a probabilidade de eu ter errado uma gaveta só?
Ajude nosso amigo ladrão a sanar esta dúvida cruel!
Você acredita em qualia?
A discussão de uma postagem anterior, sobre a Desigualdade de Bell, fez surgir um comentário interessante: à minha peremptória afirmação de que uma árvore que cai na floresta faz barulho, mesmo sem ninguém para ouvir, o Osame contrapôs que, afinal, “barulho” é um efeito subjetivo — uma alteração no cérebro causada por ondas sonoras — e que, logo, não há “barulho”.
Acho que essa objeção pode ser contornada com uma visita ao Houaiss, que define “barulho”, na primeira acepção, como “som estrepitoso; rumor; estrondo”; ou seja, a palavra também se refere ao som em si (segunda acepção de “som”: “vibração que se propaga num meio elástico com uma frequência entre 20 e 20.000 Hz, capaz de ser percebida pelo ouvido humano”), não apenas à impressão no córtex auditivo.
Mas a questão levantada abre espaço para uma especulação diferente: você, leitor, acredita em qualia? (plural latino; singular, “quale”). Os (ou seria “as”?) qualia são, na forma como a palavra é usada por filósofos, o que há de irredutivelmente subjetivo numa experiência. São a resposta a questões como “o que é ver o vermelho?”, “o que é ‘doce’?” ou “qual a sensação de estar lendo isto?”
Não se trata, apenas, de dizer que existe uma distância entre descrição e experiência, mas uma afirmação sobre a natureza dos conteúdos mentais: seria impossível saber que o “vermelho” que você vê é o mesmo “vermelho” que eu vejo; seria impossível saber se a sensação gustativa a que eu atribuo o nome “doce” é a mesma a que você dá o mesmo nome. E assim por diante.
Criaturas desprovidas de qualia seriam, também no jargão filosófico, “zumbis”: perfeitamente capazes de se passar por seres humanos, mas que na verdade estariam apenas rodando algoritmos (“ao morder algo contendo moléculas do tipo açúcar numa concentração acima de x%, sorria e diga: ‘Hmmmm…. lá se vai minha dieta!’), mas vazios por dentro.
O status ontológico dos qualia — se são coisas “em si”, se são apenas uma metáfora útil ou meros construtos teóricos — no entanto, é uma questão disputada.
É possível, por exemplo, que sejamos todos “zumbis”, e que o que o que vemos como qualia sejam apenas o ruído das engrenagens dos algoritmos rodando. Que “ver a cor vermelho” não seja a sensação subjetiva de ter um certo tipo de atividade no córtex cerebral, mas sim que seja a própria atividade de certa parte do córtex cerebral.
Ou: se os eletrodos forem ligados aos neurônios corretos, todos vemos o vermelho da mesma forma.
Pessoalmente, sinto-me mais inclinado a encarar os qualia como o tiquetaque do relógio algorítmico do que como sinais inefáveis da presença de uma alma sensível. Muita gente acha que isso é um rebaixamento da experiência humana, mas discordo: a experiência, afinal, está aí, e não é melhor ou pior por causa do que pensamos dela. E os bons relógios tiquetaqueiam de um modo muito agradável.
Conhecimento, ética e dever
O caso da menina australiana morta porque o pai insistiu em tratá-la com homeopatia gerou um rico debate aqui o SbB entre o Kentaro, do 100Nexos, e o Karl, o Ecce Medicus.
Eu dei um ou dois pitacos tímidos, mas fiquei, basicamente, como espectador. Ao fim e ao cabo, a discussão toda me provocou a seguinte indagação: até que ponto o que se sabe afeta o que se deve? Ou: conhecimento gera obrigação moral?
Parece pacífico que o conhecimento pessoal certamente que sim: se eu sei que armas de fogo disparam projéteis potencialmente letais, eu tenho a obrigação de não apontá-las para outras pessoas.
Já o conhecimento socialmente disponível é uma questão mais complexa. Ninguém, por exemplo, culparia um marciano que de repente apareça na Terra e que nunca viu uma arma de fogo que puxasse o gatilho de um revólver por engano.
No entanto, não há muitos marcianos à solta por aí; é concebível que a sociedade tenha uma expectativa mínima de conhecimento em relação a seus membros (ao menos, os maiores de idade, emancipados, responsáveis por seus atos perante a lei): que todos os cidadãos de uma civilização onde motores a combustão interna são comuns saibam, por exemplo, que trancar uma pessoa na garagem com o carro ligado é potencialmente letal.
Nenhum motorista pode se isentar de um acidente alegando desconhecer as normas de segurança no trânsito — mesmo que, de fato, as desconheça.
A coisa fica ainda mais complicada quando existe um choque entre crença pessoal e conhecimento socialmente disponível. Digamos que eu acredite piamente, com toda a sinceridade, que criancinhas são anjos capazes de voar; e que essa crença me impeça de salvar uma menina de quatro anos pendurada no parapeito do décimo-segundo andar.
A lei a gravidade e o fato de que crianças não voam são, claro, conhecimentos socialmente disponíveis.
Serei culpado, se a menina cair e morrer? Existe uma obrigação ética de submeter minha crença ao conhecimento socialmente disponível? Uma crença que contrarie esse tipo de conhecimento é imoral em si?
Cartas para a redação (ou comentários ao blog…)
Paradoxo de sexta (45)
Como bem notado, o da semana passada se resolve simplesmente imaginando um outro monge subindo o morro da mesma forma que o original (ou, para quem gosta de ficção científica, o monge original, depois de chegar no topo, volta ao passado e começa a descer no mesmo instante em que ele mesmo começa a subir).
O curioso é que a demonstração sequer depende do fato de que os dois monges comecem o percurso na mesma hora: supondo que o monge “do futuro” só comece a descer a montanha, digamos, às 15h, ele ainda assim vai se encontrar no caminho com seu duplo “do passado”, que começou às 8h da manhã.
Nesta semana vamos a um paradoxo lógico-teológico, o Paradoxo da Onipotência. Sua formulação mais recente deve-se ao filósofo australiano J.L. Mackie, e pode ser parafraseada assim:
Um ser onipotente pode criar agentes genuinamente livres?
Se a resposta é “não”, então o ser não é onipotente, porque há algo que ele é incapaz de fazer; se “sim”, então ele também não é onipotente porque, ao criar um agente genuinamente livre, ele está criando algo que não tem o poder de controlar.
Certo?
Desigualdade de Bell
Mecânica quântica é um domínio especialmente frustrante para o jornalismo científico: não importa o quanto os resultados desse campo sejam relevantes, fundamentais ou universais (o funcionamento da tela do seu computador, por exemplo, é um fenômeno quântico), dificilmente haverá espaço suficiente no jornal para explicar a coisa toda direito.
Somando-se isso às vastas hordas de charlatães que se aproveitam de distorções dos conceitos desse campo para faturar alto, o resultado é desolador. Não é de se estranhar, portanto, que um resultado recente da física quântica, importante tanto conceitual quanto tecnologicamente, tenha passado quase em branco: a detecção de uma violação da desigualdade de Bell num circuito macroscópico.
Desembaraçando os polissílabos, isso quer dizer que uma daquelas propriedades malucas dos fenômenos quânticos (tipo, o resultado da medição depender da forma como a observação é realizada) foi comprovada num sistema grande o bastante para ser visto a olho nu.
Isso é importante porque representa (mais) uma prova de conceito de que os computadores quânticos podem ser viáveis na prática (afinal, você não vai querer na sua casa um computador que só pode ser consertado se o técnico tiver um microscópio de elétrons, certo?).
O resultado está na Nature de 24 de setembro.
Mas a alma da coisa, ao menos para mim, não é a possibilidade tecnológica, e sim a tal da violação da Desigualdade de Bell. Essa violação representa um choque filosófico tão grande quanto foram a Relatividade ou os Teoremas de Gödel, mas recebeu muito menos atenção do público em geral.
A desigualdade em si é bem simples, e representa uma afirmação bastante corriqueira sobre propriedades de conjuntos.
Imagine o conjunto de todos os blogueiros do Science Blogs Brasil. Agora, divida-o em três subconjuntos não mutuamente excludentes (digamos, os blogueiros com mais de 60 quilos, os blogueiros vegetarianos e os blogueiros do sexo feminino).
Agora, vamos chamar o primeiro conjunto de Q, o segundo de V, e o terceiro, F. E vamos adotar a convenção de que “()” significam “número de”. Assim, (Q) significa “o número de blogueiros com mais de 60 quilos”. E “~” significa a ausência de uma propriedade. Assim, V ~F representa o conjunto de blogueiros vegetarianos que não são mulheres.
Ainda comigo?
O que a Desigualdade de Bell diz é que:
(Q ~V)+(V ~F) >= (Q ~F).
Ou: o total de blogueiros com mais de 60 quilos de ambos os sexos, excluindo-se os vegetarianos, mais o total de blogueiros vegetarianos, menos as mulheres que porventura mantenham esse tipo de dieta, é maior ou igual que o total de blogueiros com mais de 60 quilos que não são mulheres.
Isso pode não parecer, assim, lá muito autoevidente, mas se você pensar um pouco vai concluir que a relação expressa na desigualdade é uma verdade lógica tão necessária quanto, digamos, A ou ~A.
Pior: que é válida para qualquer sistema de três subconjuntos não mutuamente excludentes de um conjunto maior. No conjunto dos brasileiros, por exemplo, Q, V e F poderiam ser o total de eleitores do Lula, o total de torcedores do Náutico e o total de loiros de olhos azuis, respectivamente.
Na mecânica quântica, no entanto, a desigualdade é consistentemente violada.
Não está chocado ainda?
Repetindo: um fato lógico necessário, uma propriedade intrínseca dos conjuntos, simplesmente não se aplica quando esses conjuntos representam propriedades de partículas subatômicas. Experimento após experimento, a proporção prevista por pura lógica não se confirma na prática. (Aqui há um tutorial animado sobre o assunto).
Isso é quase como dizer que foi descoberto um canto do universo onde 2+2=23.765.982.
Uma explicação possível pra a violação é que as partículas, em princípio, não pertencem a nenhum subconjunto, não até que sejam medidas. Como uma caixa onde haja, digamos, coisas quadradas, coisas vermelhas e coisas de plástico, mas onde cada objeto só assume as características de cor, forma e material quando é retirado de lá.
(Advertência: ao contrário do que o seu guru quântico favorito pode ter dito, “medição” não é o mesmo que “observação por uma entidade consciente”. O contato com um fóton pode muito bem contar como uma medição, mesmo que não haja nenhum olho na vizinhança para captar o fóton; sim, a árvore cai faz barulho ao cair, mesmo sem ninguém pra ouvi-la)
Outras explicações envolvem comunicação acima da velocidade da luz, envio de sinais para o passado ou a divisão do universo em multiversos cada vez que uma medição é feita. Ou alguma outra coisa.
Os ‘céticos’ do clima no Senado americano
Se você prestar atenção nas caixas de comentários das notícias e reportagens publicadas online sobre mudança climática, cedo ou tarde vai acabar notando uma rica fauna de opiniões um tanto quanto surpreendentes.
Os espécimes incluem desde gente que vê nisso tudo uma grande conspiração dos países ricos para brecar o desenvolvimento dos pobres ou, no extremo oposto do espectro ideológico, uma grande conspiração de burocratas e cientistas sustentados pela ONU para garantir seus empregos.
(O que, claro, ignora o fato de que o IPCC não produz ciência, apenas colige o que é publicado na literatura… mas deixa pra lá).
Recentemente, no entanto, surgiu um novo Santo Graal do negacionismo climático: o Relatório da Minoria do Senado americano, no qual cerca de 700 cientistas “dissidentes” afirmam que não existe consenso científico quanto à causa antrópica do aquecimento global.
Em outras palavras, a conclusão do mais recente relatório do IPCC, de que a mudança climática observada é, quase com certeza, efeito da ação humana, não seria opinião comum na comunidade científica.
Mais: os 700 cientistas do Senado são mais de dez vezes o número de autores do sumário executivo do relatório do IPCC, assinado por meros 59 pesquisadores.
O que dizer disso? Bom, em princípio, ciência não é uma democracia. No século 17 teria sido possível encontrar centenas de astrólogos, astrônomos e matemáticos prontos para jurar que a Terra era o centro do Universo, e só Galileu e uma meia dúzia defendendo o contrário, e a meia dúzia estaria certa.
Por outro lado, se você visita um médico e ele diz que você está com câncer e precisa extrair os testículos, e dez outros lhe dizem que é apenas uma questão de usar cuecas mais folgadas, a ideia de ir com a maioria não é assim tão má.
A chave da questão está nesse exemplo dos médicos: afinal, qual a especialidade deles? Se urologistas e oncologistas disseram que o problema são as cuecas, e quem sugeriu cortar as bolas fora foi, digamos, o otorrino, parece meio óbvio que a cueca é sua melhor aposta.
No caso dos “dissidentes”, então: quantos, afinal de contas, sabem do que estão falando?
A revista Skeptical Inquirer deu-se ao trabalho de checar as credenciais de 687 das pessoas qe assinavam o relatório da minoria até o fechamento da edição mais recente. O resultado:
15% deles tinham histórico de publicações científicas sobre o clima;
Cerca de 80% jamais publicaram nada com peer-review sobre o assunto;
Pelo menos 8% não têm nenhum tipo de credencial científica, incluindo “homens do tempo” de rádio e televisão;
Quase 4% na verdade concordam com o IPCC.
O feriado e a santa de múltiplas identidades
Muita gente pensa que hoje é feriado por causa do Dia das Crianças ou do Descobrimento das Américas, mas a verdade é que se trata do dia de “Nossa” Senhora Aparecida.
(o “Nossa” vai entre aspas porque ela é senhora dos católicos; a generalização não se justifica).
Uma coisa que não entendo nesse politeísmo maldisfaçado que cerca o hábito católico de veneração dos santos é o fato de que algumas figuras, Maria principalmente, terem múltiplas identidades.
Digo, tem a Senhora Aparecida, a Senhora de Fátima, a Senhora do Bom Parto, a Senhora Desatadora de Nós, Senhora do Desterro… Bolas, não se trata de uma santa só? Por que diabos um rito, um dia, uma tradição (e, eventualmente, um feriado) para cada aspecto?
Isso me faz pensar no Sombra, que às vezes usava a identidade secreta de Kent Allard e, às vezes, a de Lamont Cranston. E que conhecia o mal que se esconde nos corações humanos.
Não sei se os heróis pulp têm santo padroeiro, mas Maria sem dúvida seria uma boa candidata.
Paradoxo de sexta (44) – a volta
Quando tirei meu pequeno sabático cardiovascular — aliás, muito obrigado a todos que enviaram mensagens de apoio… a situação realmente nunca chegou a ser grave, mas dar conta dela realmente consumiu quantidades ciclópicas de tempo — acabei deixando um paradoxo pendurado no ar.
Ele perguntava por que o arremesso de agulhas sobre um piso de tábuas poderia ser usado para estimar o valor de pi.
A solução, como havia sido proposta num comentário à postagem original, é de que a probabilidade de a agulha cruzar a linha que separa uma tábua a outra depende do ângulo com que ela cai — se a agulha cair paralela à linha a chance é obviamente zero — e ângulos, claro, podem ser medidos em radianos, que é uma unidade baseada em pi.
O desta vez é um pequeno desafio que encontrei nos livros de Martin Gardner, mas que o próprio Gardner reconhece como mais antigo:
Imagine um monge budista que decide visitar um santuário no alto de uma montanha. Só existe um caminho para o topo, e o monge começa a percorrê-lo às 6h da manhã. Ele caminha com velocidade variável, e faz várias paradas, para comer, aliviar-se, orar diante de pequenos altares erguidos ao longo do trajeto. Chega ao pico às 18h, faz suas orações, medita e dorme.
Às 6h da manhã do dia seguinte, começa a caminhada de volta, pelo mesmo caminho que subiu, de novo, anda com velocidade variável, faz paradas aqui e ali, etc.
Demonstre que, pelo menos uma vez, nessa descida, ele vai passar por um ponto do trajeto exatamente no mesmo horário em que havia passado na subida.
Impacto!
A Nasa acaba de anunciar o impacto da sonda LCROSS com ma cratera próxima ao polo sul da Lua. Todo o processo foi transmitido pela TV Nasa, e os cientistas ainda precisarão de algumas horas para ver se os dados enviados à Terra chegaram bem, fazem sentido e o que podem significar.
O objetivo dos dois impactos da missão LCROSS — o do foguete Centauro e, depois, da própria sonda — tinham como objetivo levantar o máximo possível de vapor e poeira, para que pudessem ser analisados em busca de sinais de água. Várias sondas enviadas à Lua ns últimas décadas encontraram sinais de hidrogênio na superfície, o que sugere água, mas a coisa ainda está meio incerta.
LCROSS pode eliminar a dúvida que resta — ou não. Isso é uma coisa fantástica da ciência: não importa qual a resposta, ela será fascinante.
O Hubble e outros telescópios estavam apontando para a Lua, e em breve talvez tenhamos belas imagens da pluma de vapor e poeira levantada pelos impactos.